| Introdução
| Um novo herói surge
Para aqueles que não jogaram o primeiro, há uma breve recapitulação da história logo no começo. O pai de Miles é morto em um ataque dos vilões, ele é salvo pelo homem-aranha, e acaba fazendo amizade com o Peter Park, sem saber de sua identidade secreta, só para no final do jogo ele mesmo ser picado por uma aranha modificada geneticamente que também lhe dá poderes, que é quando Peter revela ser o herói de Nova York.

Nossa história começa com Miles se mudando do Brooklyn para o Harlem, com ele ainda tentando se acostumar com sua nova identidade, a lidar com seus novos poderes, e com a grande perda de seu pai. Peter está servindo de mentor para Miles, lhe ensinando todas as manhas de como usar as teias para viajar pela cidade e lutar contra o crime. Mesmo ainda aprendendo, Miles já está fazendo sua fama, pois ele pergunta casualmente para pessoas na rua o que elas acham do “novo aranha”, só para receber como resposta um “ele é legal, mas o original é melhor”. Mas ele deverá aprender rápido, pois Peter deve sair em viagem, e a cidade ficará nas mãos de Miles.
Cuidar da cidade até pareceria uma tarefa fácil, com vários dos grandes vilões derrotados no primeiro jogo, mas o surgimento de uma grande empresa de energia, a Roxxon, que quer instalar um grande reator bem no meio da cidade, e o surgimento de uma gangue de criminosos, o Underground, que quer acabar com as operações da Roxxon, acaba gerando um grande conflito, que põe em risco todos os lugares e pessoas que Miles ama. Esses desafios colocarão em prova a capacidade de Miles como o novo Homem-Aranha, protetor da cidade, e também sua capacidade de fazer o que é certo, por mais difícil que esta decisão seja.
A história de Miles Morales é muito mais intimista e pessoal do que a de Peter Parker. Desta vez, a escala do conflito é ligeiramente menor do que o primeiro jogo, e afeta muito mais diretamente nosso herói. Poucos vilões aparecem ao longo da história, mas a identidade de um dos novos antagonistas irá abalar Miles e é o que testa sua resolução como herói, tanto em habilidades, quanto em capacidade de decisão moral.
Ela também é mais curta do que o antecessor, sendo que esta história pode ser terminada em torno de 6 horas, se não fizer as side-missions. Como é algo mais pessoal, esta história foca bastante em temáticas como o valor dos amigos, da família, e da comunidade em que vivemos, indo além das problemáticas de seres divinos que estamos acostumados a acompanhar em histórias de super-herói. Miles não está tentando salvar o mundo inteiro, mas apenas o seu mundo e as pessoas que nele vivem. Ainda assim, não faltam momentos de heroismos e batalhas para Miles.

| O amigo da vizinhança
Boa parte das missões secundárias ajudam na narrativa de aprendizado e amadurecimento de Miles. Há diversas missões menores em que Miles deve resgatar pessoas com problemas pela cidade, como salvar um lavador de janelas cujo guindaste emperrou, e ele está preso na lateral de um prédio. Essas missões são curtas e ajudam a aumentar a fama deste novo Homem-Aranha. Mas há também uma missão secundária com vários capítulos em que ele deve investigar uma operação secreta de alguém que está tentando destruir os negócios em seu bairro, para forçar as pessoas a irem embora e comprar o lugar.
Essas missões são exibidas no aplicativo desenvolvido por um dos amigos de Miles, Ganke, onde pessoas podem mandar pedidos de socorro direto para o Homem-Aranha. Este aplicativo também tem uma rede social, parecida com o Twitter, que você pode acompanhar o que as pessoas estão comentando sobre seu trabalho. Os colecionáveis também ajudam na narrativa (exceto a de encontrar suprimentos de Undeground, que está lá só para estender o tempo de jogo).
Há “cápsulas do tempo” espalhadas pela cidade, com lembranças da vida de Miles e de sua melhor amiga, Phin. Também temos uma mistura de mini-game com colecionável, em que ele deve encontrar pontos na cidade para gravar sons e criar uma música, da mesma forma que seu pai e seu tio fizeram quando eram jovens, o que aprofunda o relacionamento entre ele e o tio.
O jogo faz um bom trabalho em nos dar uma história diferente da de Peter Parker, que apesar de usar a mesma cidade como cenário, consegue nos apresentar com problemas diferentes, e novos personagens que são pertinentes e importantes para a vida deste novo homem-aranha, e logo nos apegamos a Miles Morales.

| Viajando por Nova York
O balançar de teias pela cidade está ainda melhor que o primeiro, e até aqui os desenvolvedores adicionaram personalidade ao protagonista. A forma como Miles se balança nas teias, e a forma como ele realiza manobras no ar diferem da de Peter e deixam claro seu lado mais artístico. Viajar entre os prédios dessa forma é prazeroso em todos os aspectos, tanto visual e sonoramente, como em gameplay. Visualmente, a cidade é extremamente bela e cheia de vida, com belíssimos pôr-do-Sol e céu estrelado, e também está cheia de coisas para descobrir, o que é uma pena também, pois você passa a maior parte do tempo voando entre os prédios em alta velocidade, e dificilmente irá ver a quantidade de detalhes que foi colocado nessa cidade. Sugiro de vez em quando simplesmente caminhar por aí, observar os parques e as lojas, admirar os grafites e enfeites de Natal (a história se passa bem no final do ano).
O que ajuda na fantasia de ser um super-herói, são as roupas que vamos liberando no decorrer do jogo. São aproximadamente 20 trajes diferentes, liberados conforme subimos de nível ou completamos alguma missão secundária, todos bem diferentes entre si, e todas igualmente cool com destaque especial para o traje do filme Aranhaverso, em que o próprio movimento do personagem muda para imitar o estilo do filme.

A trilha sonora que embala o embalo do aranha, apesar de ser boa de se ouvir, sofre um pouco com a síndrome de trilha sonora de super-herói moderna, onde há várias trilhas que você identifica como sendo legais de se ouvir, mas nenhuma se destaca como particularmente memorável, sendo que no final do jogo, você não se recorde de nenhuma. Aqui, pelo menos, as músicas se diferenciam um pouco dos temas comuns, deixando um pouco de lado os instrumentos de música clássica para utilizar as batidas e os graves do Hip-Hop, trazendo um frescor a esses temas, mesmo que não abandone completamente o onipresente trompete, imortalizado pelo tema do Super-Homem, que toca em momentos mais heroicos.
Já as mecânicas dessa viagem é o que fazem você realmente se sentir super. Normalmente, a viagem entre missões em um jogo de mundo aberto, são pouco empolgantes, já que normalmente pegamos um carro qualquer na rua e saímos dirigindo, eventualmente desviando de um carro, mas sem muita emoção ou desafio. Por isso pontos de viagem rápida são tão usados nesses jogos.
Já aqui, o ato de se balançar pela cidade exige muito mais do jogador, se ele quiser ir realmente rápido. Para nos balançarmos e pegar velocidade, basta segurar R2 para o aranha soltar uma teia e ir balançando, e é preciso soltar e apertar o botão no mesmo ritmo que o personagem para atirar as teias pelo caminho. Mas Miles também tem um movimento de se puxar para as beiradas de prédios que lhe concede um impulso muito maior.
Então, viajar consiste em balançar nas teias com R2, e buscar pontos para fazer esse puxão, onde basta apertar R1+L1 para ele lançar teias e se puxar direto para aquele ponto, onde então ele dá um super salto para a frente. No ar, você pode realizar manobras usando o quadrado, e mergulhos apertando o analógico. Todas essas opções deixam o jogador muito mais engajado no ato de atravessar a cidade, tornando-a muito mais prazerosa de se explorar. Acho que nenhum outro jogo de mundo aberto me convenceu a ignorar os pontos de viagem rápida como este.

| Lutando por Nova York
Não seria um jogo de Super-herói sem lutas né, e Miles tem alguns truques a mais que Peter Parker nesse quesito. O combate segue a mesma linha do primeiro, em que usamos um botão para socar, outro para lançar teias, e um para desviar. Não é preciso se preocupar com mirar nos oponentes, pois é um combate bem simplificado e fácil de se realizar, mesmo que mais para frente os inimigos se tornem bem mais difíceis. Além desses golpes, Miles também tem acesso a um novo poder, a bioeletricidade, batizado de golpe Venom.
A aranha que o mordeu, além de dar os mesmos poderes de Peter Parker, deu a ele a capacidade de soltar raios pelo corpo. Em combate, isso se traduz em um golpe especial, que é carregado com cada ataque e esquiva bem-sucedido. Além da eletricidade, Miles também tem o poder da invisibilidade, que pode ser usado para surpreender os inimigos, e ajudar caso você queira derrotar alguns capangas de forma mais silenciosa, antes de partir para a briga. Para evoluir o nosso herói, temos um sistema de level e uma árvore de habilidades, onde podemos fazer upgrades em seus golpes normais, no golpe Venom e no poder de camuflagem.
Essa árvore é visualmente interessante, lembrando uma teia, mas seus upgrades não são muito interessantes, se limitando a aumentar o tempo de duração ou força de alguma habilidade. O sistema de level também não acrescenta muito ao jogo, já que você ganha level sempre que completa um capítulo da história, e eles não afetam o gameplay de forma significativa.
Um dos grandes méritos deste combate simples, é de te fazer se sentir o Espetacular Homem-Aranha, capaz dos mais mirabolantes combos, especialmente nos movimentos de finalização, onde Miles dá um golpe final em câmera lenta, e numa filmagem cinematográfica.

| Ultimate Miles Morales
| Conclusão
Miles Morales vem para já garantir um lugar entre os melhores jogos de super-heróis da atualidade, sendo talvez melhor que o Spider-Man de 2018. Seu combate intuitivo enche o jogador com uma sensação de poder e passa a fantasia de ser um super-herói. Sua história focada mais nos relacionamentos do que em salvar o mundo de grandes ameaças, facilita o trabalho de nos apresentar o personagem de Miles e de nos apegarmos a ele. Viajar com as teias pela cidade é tão divertido que torna a opção de viagem rápida desse jogo quase que negligenciável. Esta é com certeza uma boa maneira de começar a nova geração.