| Introdução
| Perspectiva é realidade
Todo mundo já deve ter brincado de usar perspectiva forçada para fazer com que coisas pareçam ter tamanhos diferentes do real. Observar um prédio à distância e fingir que consegue pegá-lo com os dedos, ou tirar uma foto de um boneco de dinossauro por baixo para que ele pareça um gigante. Ou então já deve ter visto na internet aqueles desenhos que só se revelam inteiros quando vistos a partir do ângulo certo.
Agora imagine que fantástico seria se as coisas realmente ficassem do tamanho que você imaginou, que o prédio fique do tamanho de um chaveiro, ou que seu boneco fique parecendo um tiranossauro real, e que os desenhos se tornem objetos quando você finalmente encontra o ponto certo para apreciá-los. Pois é essa a premissa básica de Superliminal, te fazer pensar usando perspectiva para resolver os mais diferentes puzzles.
A história do jogo é propositalmente vaga, contada através de uma voz robótica que te guia pelas salas, e por mensagens deixadas para você encontrar, feitas por um cientista misterioso. O jogo se inicia com você deitado em uma cama, assistindo a um comercial de televisão de uma empresa que promete usar seus sonhos para realizar tratamentos psicológicos. Logo em seguida, nos vemos em um corredor parecido com um hospital. Ao virar a esquina, nos deparamos com uma peça de xadrez gigante bloqueando nosso caminho, mas como diz uma nota em cima da mesa “Perspectiva é realidade”, então é aqui que começaremos a brincar com isso, pois podemos pegar essa peça e diminuir seu tamanho, só de observá-la de uma forma que tenhamos a impressão de que ela seja pequena, por exemplo, olhando em cima da mesa, de forma que ela pareça ter o tamanho de uma peça normal.
Mais à frente, em outro corredor, você se deparará com uma cena parecida, com outra peça de xadrez gigante bloqueando seu caminho. Você provavelmente irá todo confiante que já sabe como resolver esse problema, mas conforme se aproxima percebe que a peça está estranha, e vai ficando mais e mais estranha até você perceber ser apenas um desenho que vai do chão à parede. Superliminal irá te apresentar com essas pegadinhas diversas vezes, em que você será apresentado a um puzzle que parece com algo que você já fez, mas irá mudar as regras para te surpreender. Conforme você avança e mergulha mais nesse mundo, os cenários ficam cada vez mais surreais e os puzzles exigem mais da sua capacidade de pensar fora da caixa, e de tentar ver as coisas por um ângulo diferente. Alguns podem até ser frustrantes, pois a resposta é bastante “esotérica”, mas é só seguir a dica de tentar resolver de formas que você não faria normalmente, que você os resolverá.

Os cenários do jogo são de um grande primor artístico, especialmente aqueles mais ao final. Ele começa com cenários mais chatos e normais, como salas de um laboratório e armazéns, mas logo mergulha no surrealismo nos apresentando diversos cenários que dão um nó no cérebro, nos forçando a considerar ainda mais as mudanças de perspectiva, já que agora o mundo todo é uma grande ilusão de ótica. A trilha sonora também engrandece ao decorrer do jogo, começando chata para no final acompanhar a conclusão de uma forma tão grandiosa que chega a causar arrepios.
| Um sonho de jogo
Ao chegar ao final da história, e entender aonde o jogo queria chegar, me lembrei de um conceito de game design sobre tutoriais. Todo jogo precisa ensinar suas mecânicas e regras para o jogador, de forma clara e simples. Porém, sempre que possível, é sempre preferível se utilizar do próprio jogo para ensinar essas mecânicas do que entregar diversas páginas de texto para o jogador ler. Fazer na prática é uma forma muito mais eficiente de passar informações do que apenas falar para a pessoa, deixar com que ela experimente e teste as regras à sua vontade. Portanto, ao final do jogo, percebi que Superliminal não passava de um grande tutorial, em que ele estava tentando me ensinar algo, apenas me entregando diversas tarefas para que eu naturalmente aprendesse a lição por mim, sem precisar dizer uma única palavra sobre isso. No final, o jogo revela que lição é essa, mas não direi aqui, senão você não a absorverá com a mesma intensidade.

A história do jogo pode ser comparado a algo como “Stanley Parable” onde não existe uma trama, mas é um experimento narrativo utilizando de um video-game como plataforma. Assim como em Stanley, Superliminal utiliza de uma “meta-narrativa” para transmitir uma mensagem para os jogadores. A forma como é transmitida, usando apenas das mecânicas de jogos, me convenceu que a história de Superliminal pode entrar na seleta categoria de jogos cuja história não pode ser contada em outra mídia. E digo seleta, pois a grande maioria utiliza de narrativas típicas de filmes ou livros.
The Last of Us, por exemplo, tem uma história complexa e emocionante, mas ela pode ser facilmente traduzida para um seriado, sem perder seu impacto. Mas histórias como em “Stanley Parable”, “Papers, Please” e agora Superliminal, não podem ser traduzidas de forma alguma para outra mídia, sem perder completamente a essência do que os criadores estão querendo passar. A interação do jogador é imprescindível para que dê certo, e sem isso, essas histórias e jogos logo seriam esquecidos, e seu impacto minimizado. Então, sim, Superliminal, para mim, entra na lista de jogos surpreendentes e que todo mundo deveria experimentar.
| Conclusão
Superliminal é um jogo surpreendente que, apesar de curto, consegue te pegar desprevenido a todo momento, apresentando diversos puzzles com ilusões de ótica e perspectiva forçada que farão você pensar fora da caixa a todo momento. Um dos jogos desse gênero mais surpreendentes e criativos que já tive o prazer de jogar.