Introdução
Chronos era um jogo em VR exclusivo de Oculus Rift lançado em 2016. Alguns anos depois, em 2019, era lançada sua continuação, Remnant: From the Ashes, mas desta vez para consoles, sem necessidade de aparelhos de Realidade Virtual. Este acabou sendo muito elogiado pelos críticos.
Agora, Chronos será relançado sem a necessidade de VR, ganhando o título de Chronos: Before the Ashes, um RPG de ação com combate inspirado no gênero Soulslike. Foi lançado no dia 1 de dezembro para Playstation 4 e 5, Xbox One e Series, Nintendo Switch, PC e Google Stadia. Ele é desenvolvido pela Gunfire Studios, e publicado pela THQ Nordic.
Labirintos e Dragões
A história de Chronos começa de maneira relativamente simples. Uma velha senhora conta uma história, de como os humanos de antigamente viviam em grandes prédios que alcançavam os céus, se amontoavam aos milhares em enormes cidades, até que as criaturas apareceram e dizimaram quase tudo.
Criaturas essas controladas pela vontade de um único ser maligno: O Dragão. Se ele morrer, todas as criaturas irão parar seu ataque, e a humanidade terá paz novamente. Portanto, você é o jovem escolhido para usar a pedra do mundo e viajar até o local onde o dragão se encontra e derrotá-lo.
Mas esta pedra fica ativa apenas uma vez por ano, então se você morrer, será expulso de volta para o mundo normal e só poderá tentar novamente no ano seguinte. Daí então, acompanharemos a jornada de uma vida inteira deste herói, enquanto ele explora o labirinto, viaja entre mundos, enfrenta monstros, e inevitavelmente morre.
Mas a morte aqui é apenas temporária, podendo tentar novamente no futuro. Estando mais velho, e mais habilidoso, ele continuará sua jornada até que o dragão morra, ou sua vida se acabe. Mas esta jornada não será tão simples assim, pois há segredos terríveis por trás da existência deste dragão, e nem tudo é o que parece.

Quem já jogou algum Dark Souls, reconhecerá a forma de combate de Chronos, um combate metódico e estratégico, com gerenciamento da estamina do personagem e bastante focado em primeiro se defender e evitar tomar danos do que atacar sem pensar, especialmente pela falta de opções para se curar.
Aqui, só há um item de cura a disposição, um coração de dragão, que recupera toda a sua vida, mas depois de gastos, eles só se reenergizam depois que você morrer. Fora este item, você recupera vida subindo de nível, ou utilizando a magia arcana da escuridão para roubar vida dos inimigos, mas ambas opções demoram para estarem disponíveis e não podem ser usadas livremente.

Essa dificuldade de se curar é balanceado com um combate bem menos punitivo do que um puro Dark Souls. Primeiro, que os inimigos não são tão agressivos, com golpes bem telegrafados que te dão oportunidade de esquivar ou defender, e segundo que atacar não consome sua estamina, apenas defender e esquivar, o que torna o combate bem mais dinâmico sem tanta necessidade de parar de lutar para se recuperar e te dando uma janela maior de erro antes do personagem ficar muito cansado. Em uma escala de dificuldade, Dark Souls seria o equivalente do nível “Pesadelo”, enquanto Chronos cobre as dificuldades “Fácil”, “Médio” e “Difícil”, te dando justo essas opções no começo.
Uma mecânica diferente e criativa adicionada nessa fórmula é a forma como a morte é tratada. Como dito acima, quando o personagem morre, ele envelhece um ano. Não há nenhum tipo de item a se recuperar depois que o personagem morre, um dos clichês desse gênero. Conforme envelhece, o herói também irá mudando levemente, tanto na aparência, quanto em suas habilidades de combate. Há apenas 4 atributos controlando o poder do herói: força, agilidade, arcano e vitalidade.
Força e agilidade afetam o ataque das armas que usam o respectivo atributo, vitalidade aumenta sua defesa e vida, e arcano aumenta o dano com magia. Quando sobe um nível, você recebe dois pontos para distribuir. Quando jovem, força, agilidade e vitalidade custam 1 ponto para evoluir, mas arcano precisa de 3 pontos para subir apenas um ponto. Conforme a idade avança, isso se inverte, e arcano começa a ser muito mais importante.
A cada 10 anos, o personagem ganha uma habilidade bônus, representando o como a idade traz mais sabedoria e conhecimento. Você recebe 3 opções e deve escolher uma. Essas habilidades podem ser um aumento de ataque, uma defesa melhor, uma esquiva mais eficiente. O herói começa sua aventura com 18 anos e vai até 80, quando ele para de envelhecer.
O fato de que seu personagem fica mais forte conforme morre, segue uma filosofia completamente diferente de um Soulslike, um jogo que premia bons jogadores e batalhas perfeitas, enquanto pune severamente aqueles que não atingem esse nível mínimo de habilidade. É um design que invoca uma sensação de dever cumprido para aqueles que conseguem superar seus desafios, mas que deixa de fora muitas pessoas.
É uma discussão antiga já sobre se Dark Souls deveria ter um modo fácil. O argumento em defesa da dificuldade gira em torno da conquista de seus desafios, e que um modo fácil tiraria a legitimidade deste desafio. Julgo que a solução dada por Chronos pode ser uma resposta a isso, que não tira o desafio, mas ainda dá mais chances para aqueles que tenham dificuldade.
Quem acaba por morrer muitas vezes, irá ganhar pequenos bônus que facilitam um pouco sua próxima tentativa, não retira o desafio e não o deixa trivial, mas pelo menos dá mais ferramentas ao jogador para tentar novamente. Para aqueles que querem se vangloriar do desafio, chegar no final sem abrir essas habilidades e com um personagem jovem, já serve como uma “medalha de honra” e um selo de “Pro Gamer”.
Puzzles e Explorações
Mas Chronos não se limita apenas a ter combate. Há diversos puzzles espalhados por seus cenários para serem resolvidos, cujo desafio acrescenta uma empolgação a mais na exploração desse mundo. O grande mérito destes puzzles é o fato de que eles geralmente chegam sem se anunciar, tendo você que prestar atenção para saber que existe algum por ali.
A maioria deles é obrigatório para o avanço na história, então você irá encontrá-los facilmente, mas solucioná-los não será tão fácil assim, pois a maioria envolve você encontrar algum item pela fase, ou reparar em algum detalhe que é facilmente negligenciável por um olhar menos atento. Um bom exemplo de puzzle envolve um espelho que te leva para diferentes locais dependendo da combinação de runas colocadas nela.
Fiquei perdido buscando quais runas deveria colocar, até que resolvi olhar com mais atenção nos armários trancados na biblioteca, e eis que eu finalmente vi, um pequeno espelho com uma combinação acima. E qual minha surpresa quando ao colocar as runas no espelho principal e atravessá-lo, fiquei pequenino, com os livros se agigantando diante de mim?
Há diversas surpresas como essas espalhadas pelo jogo. A solução de um puzzle geralmente te abre um caminho que você não estava esperando, como uma porta ou escada secreta, até armas podem estar protegidas por puzzles. O design dos cenários ajuda muito nessa exploração e busca de puzzles, com salas e corredores bem detalhados, e um estilo artístico que é um meio termo entre cartunesco e realista, já que as proporções das casas e personagens sendo realistas, mas com texturas não tão detalhadas e com uma aparência de desenho.
Ouzo dizer, que muito do design deste jogo se inspira em Shadow of The Colossus, especialmente no design de inimigos e bosses. Infelizmente, não há muita história contada com esses cenários, sendo ela contada através de livros e textos encontrados esparsamente, ou dos raros NPCs.

A história é meu maior problema com Chronos, pois ela tenta ser muito misteriosa e vaga, mas acaba sendo vaga demais, não dando pistas o suficiente para se ter uma ideia boa do que acontece na narrativa. Podemos teorizar, mas não há muito com o que teorizar. Muitas das perguntas levantadas aqui, acabam sendo respondidas na continuação, Remnant: From The Ashes.
Conclusão
Chronos: Before The Ashes é um jogo com um estilo artístico que lembra muito Shadow of The Colossus, apresenta diversos puzzles divertidos de se resolver, e que se inspira em Dark Souls para seu combate, mas adiciona elementos que o deixam mais acessível e pune menos os jogadores. Um ótimo jogo que consegue te desafiar de forma justa, e testa seu pensamento e seus reflexos.
*Análise realizada com chave concedida