Introdução
Haven é um jogo de narrativa e aventura, com algumas doses de RPG e muitas doses de amor. Foi desenvolvido pelo estúdio francês The Game Bakers, e lançado no dia 3 de dezembro para PC, Playstation, Xbox e Switch. Este é um jogo pensado em contar uma história de amor entre dois jovens que estão aprendendo a trabalharem juntos, e dar a oportunidade para casais reais aproveitarem essa aventura juntos.
Perdidamente perdidos e apaixonados
Em Haven, acompanhamos a história de dois jovens apaixonados, Kay e Yu, que acabaram de pousar em um planeta estranho. A nave sofre muitas avarias durante a aterrissagem, portante eles devem aprender a sobreviver neste mundo e arranjar uma forma de consertar sua nave. Sua aventura os levará a explorar este planeta, chamado Origem, e a desvendar os muitos segredos que ele guarda, especialmente sobre o Fluxo, uma fonte de energia usada por seu mundo natal e abundante por aqui, e a Ferrugem que está cobrindo este planeta e corrompendo seus seres vivos. Os motivos que os levaram a vir para este planeta são explicados ao longo da história, mas podemos resumir tudo no fato de que seu amor seria proibido no seu mundo natal.

O grande foco do jogo, tanto em termos de gameplay, quanto de história, é no relacionamento do casal. E antes de continuar, devo deixar um aviso: este jogo tem classificação para maiores de 16 anos, e há vários motivos para isso. A arte belíssima, com seus cenários coloridos e o estilo anime, podem até passar a ideia de que é um jogo “para toda a família”, e apesar de visualmente ele realmente não apresentar nada de mais pesado, a narrativa e interações entre o casal os levam a situações bastante sapecas, algo que considero fazer muito sentido para a proposta do jogo. São dois jovens que acabaram de fugir de casa para viverem sozinhos, e estão descobrindo um mundo maior do que eles conheciam até então, e aproveitando para se conhecerem melhor.
O gameplay em si é uma mistura de visual novel, sobrevivência, aventura e RPG. A maior parte do tempo você gastará explorando o planeta e limpando a Ferrugem. O mapa é todo dividido em pequenas ilhas, e um dos objetivos do jogo é limpar 100% cada área. Esta Ferrugem é uma sujeira vermelha que encobre boa parte do chão dos mapas, e está possuindo os animais, os tornando violentos. Limpar o mapa envolve explorá-lo para encontrar cristais vermelhos que geram a Ferrugem, e enfrentar os animais para livrá-los dessa corrupção.

Explorar os mapas é uma atividade bastante divertida, potencializada pelo movimento dos personagens, que usam botas para levitar pouco acima do chão, e que podem voar se seguir correntes de Fluxo que se erguem do chão para o céu, revelando formas de alcançar locais de difícil acesso. Essa exploração é importante para encontrar frutas e alimentar nossos pombinhos, que se aventuram na cozinha descobrindo novas receitas misturando os diferentes ingredientes encontrados.
As batalhas acontecem por turnos, mas de uma forma um pouco mais dinâmica, e dependem da coordenação entre os personagens. Há poucas ações possíveis durante a luta, eles podem usar dois golpes, explosão e impacto, e os inimigos podem ter fraqueza ou resistência a um deles, e podem se defender ou usar itens. Enquanto um personagem estiver defendendo, ele pode defender o companheiro também. Se os dois usarem o mesmo golpe, e acertarem o timing no medidor que aparece, um golpe carregado é executado. Aprender as fraquezas dos monstros, e o momento ideal de se defender, é essencial mais para o final do jogo, que começam a cobrar maior estratégia.

Todo o gameplay reforça a interação entre os dois, tanto que a evolução das habilidades dos personagens está atrelado à evolução do seu relacionamento. Ao explorar Origem, cumprir eventos e combater as criaturas afetadas pela Ferrugem, você preenche a barrinha de relacionamento deles, equivalente ao level. Quando cheia, você pode voltar para a nave, que serve de casa para o casal, e aproveitar uma cutscene em que eles discutem sobre sua situação atual e seu relacionamento, além de receber bônus aos status de batalha deles. É uma forma bastante diferente de apresentar a evolução dos personagens, já que não são apenas números crescendo em um menu, envolve uma conversa em que você aprende mais sobre eles, e ganha um andamento na história.

Paraíso Perdido
O grande foco no relacionamento entre os Kay e Yu é o maior diferencial para Haven, mas também pode ter afetado outras áreas, que não receberam tanta atenção. Há muitas cenas dos dois interagindo e conversando, especialmente dentro da nave e em acampamentos espalhados pelas regiões.
Sempre que selecionamos a opção de dormir, somos agraciados por uma cena entre os dois, cujo conteúdo varia muito. Às vezes eles conversam sobre sua situação, sobre saudades do seu planeta natal, chamado de Apiário, e de suas famílias e amigos, se perguntando se a decisão de fugir foi realmente acertada, se não estão fazendo alguma besteira. Em outros momentos, os assuntos são mais descontraídos, com brincadeirinhas entre o casal, e em outras noites são mais picantes, sem nada gráfico, ficando apenas nas insinuações em forma de texto.
Infelizmente, há um foco muito pesado nessa parte da sexualidade, chegando a ficar exagerado em alguns momentos. Em uma cena, em que os dois estavam prestes a entrar em uma área perigosa, Kay vira para Yu e fala: “Então você vai na frente. Se eu for morrer, prefiro que sua bunda seja a última coisa que eu veja”. Esse tipo de frase soa muito forçado, especialmente em um momento de tensão, e isso ocorre com uma grande frequência. Ao mesmo tempo que o amor dos dois é demonstrado em coisas pequenas, como o fato de que eles podem recuperar vida com um abraço, outros momentos soam artificiais, e muito próximos de uma “Fanfic Erótica”.
Essas interações são bem divertidas de acompanhar, mas a história não se limita a isso e tenta inserir outros assuntos para complicar as coisas, além de nos apresentar com alguns mistérios. Infelizmente, essas histórias a mais são apresentadas ao longo do jogo, mas acabam sendo abandonadas no final e ficam sem conclusão. Chegou a ser decepcionante quando cheguei no capítulo final, imaginando que ainda teriam alguns capítulos a mais para responder às questões levantadas na narrativa, só para descobrir que nada teria resolução. No final, senti que nada além do relacionamento foi explorado direito.

A performance e a arte do jogo também tem alguns problemas. Mesmo rodando em um Series S em modo de desempenho, as quedas de frame eram constantes, e aparentemente sem motivo. Aconteciam mesmo explorando uma área pequena sem muita coisa acontecendo na tela, quando durante as batalhas, que é um caso grave para um jogo que depende de timing para alguns golpes. Quanto à arte, o jogo é lindo, tanto nos retratos em anime que aparecem quando os personagens conversam, quanto nos cenários a se explorar, o problema é a falta de variação e de coisas a se descobrir.
As 40 áreas que podemos visitar são divididas em apenas 3 biomas, um de gramas azuis, outro de gramas amarelas, e um último que se assemelha a uma região vulcânica. Porém, 80% dessas áreas são compostas do bioma de grama azul. É muito tempo visitando cenários muito parecidos, que não têm grandes vistas a se encontrar, nem muitos incentivos a se explorar, além de alguns colecionáveis e do objetivo de limpar 100% de cada região. É um jogo belo, mas com poucas coisas para se apreciar.
Conclusão
Haven é um jogo que consegue entregar bem uma experiência coop que possa ser curtida por um casal. A interação entre os Kay e Yu são muito legais de acompanhar, e apresentam de forma relativamente realista como um casal se comporta, com algumas briguinhas bobas, mas com bastante companheirismo, apesar de dar um foco até exagerado na sexualidade dos dois. Apesar de ter uma arte belíssima, um combate divertido e uma trilha sonora maravilhosa, o frame rate ruim com constantes quedas, a repetição de cenários, pouca variedade na jogabilidade, e um final fraco, afetam negativamente esta experiência.
*Análise realizada com chave concedida para Xbox Series S