Introdução
Dino Hazard é um RPG cyberpunk com mecânica variada e atmosfera retrô, desenvolvido e publicado pela Bone Collectors. O lançamento aconteceu no dia 16 de novembro deste ano para Pc na plataforma Steam. O jogo está bastante elogiado, confira na página da Steam .
Conheça um pouco sobre o projeto no vídeo abaixo:
Essa entrevista foi realizada com o objetivo de criar oportunidade de outras pessoas conhecerem mais sobre esse jogo brasileiro, e também para ajudar quem tem como sonho ser desenvolvedor de jogos no Brasil.
Agradeço ao Tito e Aline por responderem nossas perguntas, e com isso permitir que este post fosse realizado.
Entrevista
Garota no Controle: O que veio primeiro, a mecânica ou temática?
Tito: A temática veio primeiro. Dino Hazard, o jogo, é baseado no universo que criamos no livro “Realidade Oculta”, lançado em 2016. As pessoas queriam uma continuação. Aline e eu queríamos começar a produzir jogos digitais. Aí, deu certo. A mecânica veio logo depois, pois nunca houve um RPG de turnos com temática de ficção-científica com dinossauros. E há muito pouco deste gênero ambientado na América do Sul.
Garota no Controle: Que jogos inspiraram Dino Hazard?
Tito: Um monte. E não só jogos, como livros e filmes, também. Com relação à temática bem geral, há uma influência dos jogos de Jurassic Park para SNES e GameBoy, da trilogia Resident Evil original (PSX), e de Dino Crisis 1 e 2 (PSX). A mecânica de batalha tem bastate influência de Earthbound, Undertale, e da série Pokemon. Ainda pretendo acrescentar elementos de Octopath Traveller e batalhas bullet hell de Undertale para algumas classes de inimigos. A arte teve uma influência de Shadowrun (Mega Drive), da série DOOM orginal(que também inspirou as mecânicas de cartão de acesso), Super Metroid, FallOut e HyperLight Drifter. O sistema de mapa andando em quadrantes teve uma forte inspiração no Super Metroid e nos Zeldas originais de GameBoy e GameBoy Collor. Existem diversos elementos de Alien: Isolation, e jogos da franquia Alien vs. Predator também, como o radarzinho piscando em labirintos escuros.
Aline: Eu amava jogar os MMORPG lá nas viradas dos anos 1990 para 2000. A mecânica de survival e crafting de jogos como Ultima online. Mais recentente, adorei as mecânicas de crafting e cozinhar de Stardew Valley e Zelda: Breath of the Wild, e quis introduzir um pouco disto dentro do universo de Dino Hazard. O que é bem incomum em RPGs de turno tradicionais.
Garota no Controle: Qual o diferencial do jogo Dino Hazard?
Tito e Aline: Quebramos várias barreiras em Dino Hazard:
- É um jogo que apresenta e une temas e mecânicas que não são convencionalmente misturados. Isto gera uma narrativa única, inclusive com experiência sensorial auditiva e visual.
- O jogo está sendo feito por um casal de paleontólogos especializados em fósseis de dinossauros. Portanto, apresentamos mais de 200 espécies de animais pré-históricos brasileiros para descobrir, batalhar e acrescentar na DinoDex. Isto é único, pois a maioria dos jogos e das mídias mostram basicamente a fauna de dinossauros dos EUA. A gente vai muito além disso, divulgando os produtos da ciência brasileira para o mundo.
- É um jogo sobre latinos, feito por latinos. O que evita vários preconceitos e esteriótipos ruins que outros povos SEMPRE fazem com a gente, seja nos jogos, filmes e mídia em geral. Isso gera uma identidade na hora com os jogadores do nosso grupo étnico.
- Mais da metade das personagens são mulheres. O que é raríssimo nos gêneros de RPG e ficção-científica. As mulheres não são retratadas hipersexualizadas e abobalhadas, como é tão reforçado em muitos jogos de RPG e survival. São mulheres realistas, de várias personalidades e origens.
- Mais da metade das personagens não são homens caucasianos. Devo ressaltar, também, a forte presença afrobrasileira no jogo, através de excelentes personagens pretos e pardos, e de muitas referências à capoeira e ao samba. Isto é raríssimo em jogos.
- Oferecemos dois caminhos: o da violência e o da não-violência. Em geral, com raras excessões, somos estimulados a usar a violência contra os dinossauros nos jogos. Neste jogo, você tem várias alternativas para contornar a situação se não quiser matar os animais, como preparar iscas, ou tentar encantá-los com algum movimento.
Garota no Controle: Qual o tamanho da equipe de vocês?
Tito: Antes éramos duas pessoas trabalhando ativamente. Agora, sou basicamente eu, pois Aline está com cargo de professora na universidade. Ela ainda contribui no tempo livre dela, sempre que possível. Mas encomendamos artes de vários artistas e códigos de programadores, brasileiros e estrangeiros. Somando todo mundo que teve alguma contribuição em Dino Hazard, já dá mais de 50 pessoas.
Garota no Controle: Quais as principais dificuldades encontradas para desenvolvimento e para conseguir que o jogo fosse publicado?
Tito: Tempo e dinheiro, basicamente. Quando você tenta dividir o tempo como GameDev e trabalhando com outras coisas, também requer uma maestria manter os gastos de maneira sustentável para manter o ritmo de produção do projeto. Depois que eu consegui o projeto no Kickante e mais uma empresa decidiu patrocinar o jogo, pude me dedicar.
Garota no Controle: Pretendem lançar outros jogos?
Aline: Sim. Eu tenho um protótipo de jogo de alguns anos atrás e que precisamos finalizar logo após o término do Acesso Antecipado do Dino Hazard.
Garota no Controle: Qual foi o maior aprendizado que você gostaria de passar para outras pessoas, sobre produzir o próprio jogo?
Tito: Requer muita determinação e capacidade auto-didata. Especialmente se você for um profissional de outra área, como nós que somos cientistas. Controle de gastos, manter alguma constância de marketing.
Garota no Controle: Sobre mulheres na área de desenvolvimento de jogos, o que você tem a comentar sobre isso?
Aline: O mercado profissional ainda é muito carente. Precisa ter mais estímulo, mais suporte, incentivo e apoio de outras desenvolvedoras. Em qualquer área de jogo, seja você gamer ou developer, ainda há muita rejeição do público.
Garota no Controle: Que mensagem você gostaria de passar para aqueles que querem desenvolver jogos no Brasil?
Tito: Pode ser possível, se você fizer uma boa campanha de marketing e fizer um projeto que possa também ser exportado para o exterior. É importante realizar um crowdfunding e/ou ter outra fonte de renda, por segurança, caso você seja iniciante.
Garota no Controle: Para vocês, é possível viver de jogos no Brasil?
Tito: Sim, mas para quem vai começar, é necessário ter uma reserva ou uma fonte extra de renda para se manter até lançar o primeiro jogo. Se você não tem esta proteção, tente editais de empresas e do governo, e crowdfunding. Um indie gamedev de primeira viagem bancar do zero tudo, sem uma fonte extra é extremamente arriscado em qualquer país.