Chegando no horizonte
Nunca fui muito fã de jogos de corrida.
Não vou negar, sempre achei compreensivo seus atrativos: Levar máquinas incríveis ao limite, admirar a íntima complexidade dos veículos ou o simples prazer de pegar um carro, ou jogar no outro.
Mas, no meu caso, para um jogo desse estilo me agradar mesmo, deveria ser menos “hummm, qual motor garante mais rotações por minuto para meu veículo?” e mais “qual nível de estrago consigo fazer antes de desfigurar completamente esse carro?”.
E se falta em sua vida a oportunidade de nivelar uma cidade enquanto aposta corrida, preencha esse vazio agora mesmo com Split/Second.
Fora que, tendo que escolher entre um jogo que permitisse acompanhar nosso Bruxeiro mais amado, Seu Geraldão da Riviera, em um invejável banho de banheira, ou um que diz: “Sabes o ato de ir do ponto A ao B? Que tal fazer isso, só que bem rápido?”, a escolha nunca seria muito difícil.
Mas as coisas mudaram um pouquinho quando joguei Forza Horizon.
O festival no horizonte
Vamos começar pelo conceito, que consegue ser, ao mesmo tempo, muito estúpido, amável e criativo: Tem um festival chamado Horizon, no qual ocorrem shows de músicas, atrações de parques de diversões e, mais importante, corridas.
Então você, sendo essa pessoa sagaz e curiosa que é, logo questiona: “onde isso tudo acontece?”, é em um estádio? São reservadas algumas ruas? Pois então, não. Simplesmente é reservado o equivalente a um Estado todo.
Todo o mundo aberto no qual o jogo se passa existe única e exclusivamente para corridas e como belíssimo pano de fundo para fotos. Qualquer pretensão que as cidades nas quais você trafega mantenham alguma forma de normalidade é arremessada pela janela no momento em que o jogo começa.
Cria-se um ambiente tão comicamente impossível e tão exagerado, mas que ao mesmo tempo se apresenta com uma sinceridade e simpatia que você não consegue evitar de apenas se deixar levar pela proposta.
É tão absurdo que até mesmo a expansão Hot Wheels, a qual adiciona um grande mundo aberto feito de pistas laranjas, loops gigantescos e versões em tamanho real dos carrinhos de plástico, tem uma explicação logística e plausível para existir no mundo “real” deles.
O clima do jogo é, do início ao fim, de festa. Porém, não é qualquer comemoração, mas sim do tipo que te faz sentir como uma pessoa sempre bem-vinda.
Caso seu desejo seja manter uma expressão séria enquanto corre diversas vezes o mesmo percurso, tentando cada vez mais cortar milésimos de seu tempo, o jogo será para você. Caso queira apostar uma corrida sem nunca tirar o pé do acelerador, pois, como todos sabem, frear é para covardes, o jogo será para você.
Mas, e se não quiser correr e apenas sentir a atmosfera de uma tarde chuvosa ao som de uma boa música enquanto passeia por onde sua vontade te levar? Pode ter certeza de que o jogo será para você.
As vitórias são comemoradas e as derrotas são recebidas com um caloroso “Poxa, não foi dessa vez, mas tenho certeza de que na próxima você consegue”.
É um tipo diferente de escapismo, não sendo baseado em uma fantasia egocêntrica, mas em acolhimento e empatia.
Pois bem, tendo já usado diversas palavras bonitas, fica a questão: Mas como você joga isso?

Correndo no horizonte
Se liberdade é o tema da atmosfera do jogo, também é o da jogabilidade. Algo que pode intimidar é o fato da franquia maior, Forza Motorsport, ser um daqueles jogos para mulheres e homens sérios, que apreciam coisas adultas como embreagem, dar sinal e não bater em coisas.
Porém, logo no início, o jogo apresenta uma vasta gama de opções para que você possa customizar a experiência como quiser.
Quer ser a pessoa mais popular do recreio de seu colégio, jogando com o maior realismo possível e fazendo uso de volantes de plástico superfaturados? Sem problemas.
Quer tunar o carro mais vagabundo que encontrar e correr por campos de golfe, usando os oponentes como paredes de segurança? Também está incluso.
Mas não é só na jogabilidade em si que o jogo brilha. O belíssimo mundo aberto do jogo dá uma aula sobre como elaborar e explorar um universo. Por ser absurdamente prazeroso, o ato de dirigir, consequentemente, faz o ato de explorar as localidades ser igualmente interessante.
O mundo nunca é tedioso, carregado de ícones e itens desnecessários. É do tamanho ideal, com objetivos que se casam perfeitamente com a proposta da obra.
Por último, e não sei como fará isso, pode ser com um bloco de notas, registrando no celular ou fazendo um corte no dedo e escrevendo com sangue, não importa como, mas faça esse favor para você: Anote as músicas do jogo.
Isso é uma garantia, você pode ter o gosto musical mais insosso imaginável, mas você irá encontrar pelo menos uma música que irá amar. As muitas rádios trazem um pouco de tudo, pecando, infelizmente, pela compreensível ausência de Falamansa. Afinal, nada é perfeito.

Bem-Vindos ao horizonte
Há muitos motivos pelos quais amar Forza Horizon.
Talvez não o maior, mas sem dúvida bem relevante, seja o fato de que, com veículos vindos dos mundos de Hot Whells, Lego, Halo, Final Fantasy e cyberpunk 2077, é o mais próximo que teremos de um Smash Bros com carros.
Por mais que foque em transmitir uma sensação de velocidade e adrenalina (o que ele faz muito bem), consegue passar também um pouco de paz e liberdade. E, veja, acredito que todos nós precisamos disso vez ou outra, não é?
Caso você possua Game Pass, por ser um dos jogos da Microsoft, Forza Horizan sempre estará disponível, estando apenas a um lampejo de curiosidade de distância. Tendo que levar consigo algo desse texto, peço que seja a possibilidade de dar uma chance, mesmo não sendo fã de jogos de corrida.
Mesmo que seja sua primeira vez com a franquia ou com um jogo deste gênero, pode ter certeza que a obra será acolhedora. E, afinal de contas, pode ser dito que essa é ideia do jogo:
Que todos sintam-se bem-vindos no Horizon.