Introdução
Imaginem um cenário com ninjas em um futuro distópico cyberpunk? Além de um jogo com ninjas homenageando clássicos como Ninja Gaiden, adicione Megaman X, Contra e Castlevania na receita. Assim temos Cyber Shadow, um indie estilo retrô de ação/plataforma 2D sidescrolling.
O desenvolvedor deste título é Aarne Hunziker, dono da Mechanical Head Studios. Não só ele trouxe uma jogabilidade com uma boa carga saudosista dos grandes sucessos das eras 8 e 16 bits, como também trouxe cutscenes animadas stop-motion que marcaram esse período.
Ninja Gaiden e vários outros títulos usaram muito desse estilo de narrativa nos primórdios dos videogames. Sem dúvida criou-se um propósito mais concreto no lugar de apenas pular plataformas e destruir inimigos para passar de fase.
A distribuidora de Cyber Shadow é a Yacht Club Studios, conhecida por jogos como Shovel Knight e Pocket Dungeon. A data de lançamento aconteceu no dia 26 de Janeiro de 2020.
Disponível nas palataformas: PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox One, PC Windows/Mac/Linux e Nintendo Switch.
Conto de ninjas cyberpunk
O jogo se passa num futuro distópico, nas ruínas de uma cidade chamada Mekacity. Uma explosão de proporções nucleares arrasou com toda a região. Boa parte dos habitantes se foram e os que sobraram, foram pegos para experimentos cibernéticos.

Nesta cidade existia um clã de ninjas capazes de utilizar suas essências espirituais. Em outras palavras desenvolviam habilidades sobrehumanas através de um rigoroso treinamento de artes marciais.
O enredo no geral é o clássico conto de um organismo cibernético que ainda guarda uma essência humana.
Shadow é como nosso protagonista é chamado. Não apenas ele é um habilidoso ninja aprimorado tecnologicamente mas também um ser de grande devoção aos ensinamentos de sua mestra e seu clã.

Longo aprisionamento
Mesmo depois de perder seu corpo humano, sua mente foi mantida e inserida em seu novo corpo ciborgue. Dessa forma o ninja se vê em diversos momentos em conflito entre a realidade à sua volta e seu passado.
Seu apego a sua vida anterior o faz lembrar de companheiros de seu antigo clã ao qual pertencia. Dentre eles se encontrava sua mestra cujo guardava sentimentos além de amizade.
Surpreendentemente, na visão de jogador, Cyber Shadow mostra em sua narrativa uma profundidade que poucos jogos do estilo mostraram. Isso é realizado com alguns textos in-game e durante cutscenes feitas em artes pixeladas muito bem detalhadas.
Com certeza personagens e imagens do cenário facilmente fariam parte de algum console dos anos 80 ou 90. Entretanto, a forma com que se consegue conectar com quem joga, através das figuras envolvidas no ambiente de jogo, é simplesmente fascinante.



Acima de tudo, Shadow, que por muito pouco não foi absorvido das essências que lhe restaram, herdará as vontades de Ryu Hayabusa (Ninja Gaiden), X (Megaman X), Bill & Lance (Contra) e Simon Belmont (Castlevania).
Desse modo lutará para livrar do sofrimento seus companheiros aprisionados, encontrando suas respectivas câmaras. Recuperará a essência da linhagem de seu clã de cada um deles, para que finalmente possa ir atrás de seu arqui-inimigo Dr. Progen.
Tragédia em Mekacity
Enfim Shadow desperta de sua câmara de recuperação, com a ajuda de seu companheiro robô L-Gion. Logo descobre que sua mestra está desaparecida desde a explosão. Mesmo assim seu companheiro robô diz saber que ela está a sua espera. Nesse momento ele toma para si a missão de encontrá-la.
Sua missão será árdua, pois uma legião de organismos sintéticos, robôs e outros seres tecnológicos misteriosos virão em seu encalço para detê-lo.
A fonte de criação destes seres ameaçadores se encontra na essência dos integrantes do clã dos ninjas que estão sendo caçados, aprisionados e mortos como parte de experimentos ardilosos.
O líder destes experimentos é o ser que uma vez foi o pai biológico de sua mestra, um grande cientista em engenharia genética e robótica chamado Dr. Progen. Logo vem à tona o fato de que sua filha, a mestra de Shadow, esteve à beira da morte enquanto Shadow hibernava.
O pai, ao tentar uma maneira de curar sua filha, seu consequente fracasso causou a ele tamanha frustração que o fez mergulhar na loucura de buscar uma salvação da fragilidade corporal dos seres humanos. E essa salvação viria por meio do desenvolvimento de organismos artificiais.
Dr. Progen perdeu o controle de suas ambições. Além de se tornar uma entidade cibernética que desistiu de todo apreço pela vida, deseja o domínio do mundo pelas máquinas.
O vilão do jogo é um costurado de referências. Dr. Progen é uma espécie de amalgama Dr. Light + Dr. Willy + Sigma (Light/Willy – Megaman Clássico; Sigma – Megaman X).
Certamente o resultado é um personagem mais violento, sanguinolento e sem escrúpulos, diferente de suas fontes que são ameaças mais infantilizadas e suavizadas.

Um mashup de clássicos do passado
À primeira vista, é nítido enxergar em Cyber Shadow referências à Ninja Gaiden na forma como Shadow se movimenta. Os ataques, até alguns inimigos foram criados em lembrança ao clássico de 8-bits (incluindo aquelas malditas águias…).
Porém, ao seguir com o gameplay algo vem à tona. A sensação de estar jogando outro clássico como Megaman, mais especificamente a versão Megaman X, começa a surgir que remete aos tempos inesquecíveis, desta vez na era 16-bits.
Mas as referências terminam por aí? Não companheiras e companheiros. Estamos na metade.

Os andróides, ciborgues e robôs, aliados ou inimigos, principalmente os chefes de fase que surgem como criaturas robóticas absurdas, trazem a franquia Contra pra mistura. Além disso, algumas apresentam características biológicas, lembrando um pouco à temática biopunk, que é um dos alicerces do clássico da Konami.
Em se tratando de Konami, vamos com mais um clássico da desenvolvedora. Castlevania por incrível que pareça entra pro time em Cyber Shadow. A distribuição das fases, a estrutura interna delas, construção de cenário e distribuição de monstros valorizam muito o que esse outro clássico criou.
Como era de se esperar, a dificuldade também veio junto nesse mashup e ela progride à medida em que o gameplay avança. Quem costuma visitar este gênero com frequência encontrará um desafio à altura, porém não impossível. Novos apreciadores podem encontrar alguns obstáculos.
Sonorização também é retrô
Continuando mais um pouco na onda de referências. Citamos Megaman anteriormente, mas a versão spin-off do X. Mas agora precisamos falar das trilhas e muitos que jogaram 8-bits ainda guardam diversas melodias no coração. Neste caso, Megaman clássico assume as rédeas na referência das trilhas, quase que completamente.
Só para ilustrar, está presente nas músicas toda aquela imersão de que se está participando de uma aventura, com grande determinação para superar dificuldades incorporando um personagem altamente capacitado e focado em seu objetivo.
Tudo isso foi herdado por Cyber Shadow, de acordo com o que jogos como Megaman buscavam propor aos jogadores. Agradecimentos ao MekaHead por essa obra de arte sonora produzida com tanto carinho.
Arte ninja no controle

Shadow utiliza sua katana para derrotar as aberrações robóticas no comando principal de ataque. Possui um salto simples para alcançar as diversas plataformas presentes, saltar por cima de abismos, espinhos e poços de ácido.
Além disso, o ciberninja vai adquirindo novas habilidades à medida em que encontra seus companheiros de clã, onde estes entregam suas essências para que o protagonista supere seus adversários e ultrapasse obstáculos do cenário.
De acordo com essas habilidades, incluem: lançar shurikens, deslizar por paredes que pode ser usado como ponto de impulso para saltar e alcançar lugares mais altos.
Em seguida temos ataque de fogo ascendente para atingir alvos aéreos, investida aérea para atingir inimigos de cima e destruir plataformas frágeis que escondem caminhos. Ainda por cima há o aumento de força dos ataques básicos e o contra-ataque que lança de volta projéteis.
Por último shadow absorve a habilidade de corrida rápida. Não só ela permite pular a maiores distâncias bem como a utilização do ataque básico durante o pulo, que ganha a característica de atravessar inimigos como um relâmpago, que deixa todo o fã de Jiraya e Naruto muito satisfeito.
Todas as habilidades adquiridas ficam listadas em um menu próprio, caso o jogador queira rever os comandos para a ativação delas.
Com o propósito de divertir quem joga de uma forma atualizada, Cyber Shadow traz todos estes elementos já conhecidos em uma mesma jogabilidade. Como resultado temos um dos melhores indies já lançados do gênero plataforma 2D, onde nada se mostra saturado na forma de jogar.

Finalizando a missão
Em conclusão, podemos dizer com tranquilidade que o novo jogo da Yacht Club Studios dificilmente não ocupará seu espaço no mundo gamer atual.
É tudo tão minuciosamente construído, com tanto respeito naquilo em que se baseia. Restam apenas aplausos por algo que já pode ser considerado genuíno. Pois ninguém jamais viu uma mistura de tantas características tão usadas e “re-usadas” como essa, nos últimos anos.
Atualmente existem diversos títulos indies feitos em pixel art. Todavia não é sempre que um produto como esse surge.
Embora Cyber Shadow seja uma raridade dentro do nicho ao qual pertence, com toda a certeza não lhe falta potencial. Portanto, existe boa chance dele disputar espaço com grandes lançamentos de produtoras mundialmente conhecidas.

*Chave Cedida para análise