Introdução
Cyberpunk 2077 é um RPG de ação em primeira pessoa com temática cyperpunk, desenvolvido e publicado pela CD Projekt Red. Inicialmente anunciado como um jogo de extrema liberdade e infinitas possibilidades, o título apresenta-se justamente como o oposto em muitos momentos. Apesar dos inúmeros problemas apresentados no lançamento, ainda é um título que entrega ótimas experiências quando ele não trava ou “crasha”.
Mas então, como analisar o “polêmico joguinho”? Bem, inicialmente gostaria de esclarecer que esta análise foi feita com base na versão de PC, na versão 1.06. Vale ressaltar também que no PC, o jogo apresentou bem menos problemas e imperfeições técnicas que nos consoles base. Já para servir de referência aos leitores, especifico também a potência do meu computador, que se trata de um notebook gamer de entrada, com um processador i5 (9ª geração), GTX 1650 e 8 GB de RAM.
História
A história gira em torno de V, um mercenário ou mercenária que recebe um trabalho de roubar um certo biochip da mega-corporação mais forte e influente de Night City, a Arasaka. Quando tudo dá errado no roubo e o biochip vai parar na cabeça de V, começa uma corrida contra o tempo para retirá-lo e salvar sua mente e seu corpo, que está aos poucos sendo reescrito pelo biochip para adequar-se a Johnny Silverhand, que agora, em forma de engrama ou psiquê digital, encontra-se aprisionado no biochip que foi roubado e por consequência na cabeça de V.
A partir desse ponto que pode-se dizer que o jogo começa de verdade. V começa a fazer novos contatos e conhecer novos amigos, ou tchumbas, como o próprio jogo trata seus “camaradas”. Além da história principal, o jogo conta com uma série de missões secundárias que complementam a história principal e deixam ela mais rica. Inclusive, termine o jogo sem completar as missões secundárias e você terá uma desagradável surpresa.
Apesar de bem escrita e interessante, a história deixa a desejar no quesito liberdade e impacto de escolhas. Escolher um diálogo ao invés do outro, em 90% das vezes, não muda nada. O desfecho sempre será o mesmo. O que muda? Os meios para o fim. O mesmo acontece em relação ao final do jogo. Até o momento, sabe-se que existem pelo menos 5 finais “diferentes”, mas que em essência são a mesma coisa, com o mesmo desfecho. Este foi o principal ponto que me desagradou em relação à história. Se vai acabar de uma única forma, para quê dar a opção de escolher?
Ambientação
O jogo é ambientado em Night City, uma cidade futurista do ano 2077. A proposta era de uma cidade viva, com muito o que fazer e muito o que ver, e de fato, Night City é viva! Viva, colorida e perigosa. Isso, claro, se o hardware conseguir suportar multidões e fluxo de veículos. No meu caso, deixei as especificações no médio. Apesar de estar no médio, consegui multidões de bom tamanho e uma boa quantidade de veículos nas ruas. Além disso, a cidade é simplesmente muito bonita, repleta de neons e anúncios chamativos. À noite, Night City é simplesmente um espetáculo aos olhos. Ouso dizer que Night City é a cidade mais bonita que já vi nos jogos. Isso, claro, no sentido cidade grande e moderna.
Customização e Elementos de RPG
Por mais inacreditável que seja, esses são os pontos mais fracos do jogo. Por se tratar de um RPG, esperamos inúmeras opções de customização, tanto as que você tem ao começar o jogo quanto possíveis novos itens que podem ser desbloqueados ao longo da campanha, porém isso não ocorre em Cyberpunk 2077. O que o jogo oferece então? Bem, ao iniciar o jogo pela primeira vez, o jogador pode customizar V da forma que quiser, porém de forma limitada. São poucas as opções de customização se comparadas com Nioh 2, que foi lançado no mesmo ano. Cores novas para o cabelo ou pele não podem ser criadas. Também não é possível escolher se V será gordo, magro, baixo ou alto. Além disso, não é possível fazer ajustes finos como espessura do queixo ou se as bochechas vão ser mais ou menos cheias, e demais coisas do tipo.
Ainda sobre customização, pasmem: não é possível alterar sua aparência física depois de iniciar a campanha. Se você resolveu zoar e colocar uma voz masculina em um corpo feminino, não será possível reverter isso no futuro. Mas após iniciar a campanha, o que é possível customizar? Bem, além de poder mexer na árvore de habilidades de V, também é possível fazer upgrades no corpo e “tuná-lo com cromo”. Os upgrades e modificações são todas associadas à jogabilidade, o que eu achei muito interessante e me deu uma sensação de que minha performance enquanto mercenária melhorou significativamente. Com os upgrades, é possível passar com mais facilidade por combates ou até acessar partes que eram antes inacessíveis. E, sim, essas modificações alteram levemente a aparência de V.
Mas que modificações são essas afinal? Bem, aí que entram alguns dos elementos cyberpunk. Os upgrades tratam-se de substituir partes do corpo por partes “de cromo” para melhorar a performance, como em um computador com pouca RAM em que trocamos o pente e ele funciona melhor. Todo o corpo de V é customizável, desde os ossos até a pele. Os upgrades permitem que V dê saltos duplos, saltos carregados, ganhe mais força física, desbloqueie lâminas nos braços, ganhe a capacidade de guiar balas, dentre outros mais. Nesse sentido, sim, Cyberpunk 2077 é um jogo com múltiplas possibilidades.

Combate
O combate é um dos pontos altos do jogo. É bem fluido e funciona muito bem. É possível hackear inimigos a qualquer momento, até mesmo em meio ao combate. As opções de armas são muitas, cada uma com especificações únicas que se encaixam em qualquer preferência do jogador. Além disso, é o primeiro jogo em que vejo um combate corpo a corpo em primeira pessoa que é funcional, seja “no braço” ou com o apoio de lâminas. As únicas coisas que estragam a experiência são os problemas de desempenho e a IA dos inimigos, que não é nenhum pouco inteligente e nada desafiadora.
Jogabilidade
De forma geral, o jogo se aproxima ao que seria um GTA em termos de cidade aberta, polícia, crimes e locomoção. Atropele um pedestre e a polícia te perseguirá, apesar de ser fácil de escapar. V também pode adquirir vários veículos ao longo do jogo desde que tenha o dinheiro necessário. Porém, nada de roubar, afinal você não pode ficar com carros roubados. O jogador também pode adquirir dinheiro ao completar serviços de mercenário. Alguns serviços pagam bem e outros mal, vai de contrato para contrato.
Desempenho e Qualidade Gráfica
Geralmente não gosto de fazer esse tipo de análise, afinal o mais importante não são os gráficos para mim, contudo, Cyberpunk 2077 é um caso especial, uma vez que não foi um deslize ou outro. Fora que todos os problemas aqui mencionados afetaram significantemente a minha experiência. Lembrando que deem uma olhada nas especificações do meu computador antes de vir a esta sessão.
Jogando no computador, não tive problemas associados a FPS ou resolução. Consegui jogar em 1080 de resolução e em torno de 20-30 FPS nas configurações médias. Apesar do hardware aguentar o tranco, o jogo está de fato muito mal otimizado, especialmente em relação ao consumo de RAM. Se a RAM não acompanha as exigências do jogo, o FPS começa a travar. Pude sentir isso na pele especialmente ao transitar de carro pela cidade ou em momentos em que tinha muitas pessoas em determinado local. O combate pode se tornar desastroso se forem muitos inimigos em simultâneo, porque simplesmente a RAM não aguenta. Isso lembrando que minha RAM encontra-se qualificada como requisito mínimo. Ao passar para qualidade gráfica mínima, ainda assim o jogo “engasgava” nesses momentos, o que me leva a acreditar que realmente o problema estava no polimento do jogo.
Tirando os problemas de RAM, sim, minha versão de Cyberpunk 2077 também foi agraciada com vários bugs ao longo de mais de 60 horas de gameplay. Carros que se uniam ao colidir, personagem que se teletransportam para dentro de paredes, inimigos que tropeçam no ambiente e caem, texturas de alimentos que pareciam ser de PS1, dentre outros. Nesse sentido foi um descaso gigantesco da desenvolvedora ao lançar um jogo nesse estado, o que é verdadeiramente lastimável.
Arte e Trilha Sonora
Simplesmente não tenho o que reclamar sobre esses dois pontos. Tanto a arte quanto a trilha sonora são fantásticos. A ambientação de Night City foi muito bem feita, passando a sensação de uma cidade viva, que é bela e feia ao mesmo tempo. A trilha sonora é variada e muda de acordo com as gangues que V enfrenta ao longo do jogo. Fora as músicas tema de personagens como Johnny Silverhand.









Inovação
Apesar das propostas inovadoras apresentadas em trailers e divulgações, Cyberpunk 2077 entrega poucas experiências assim, e entrega inclusive algumas mecânicas ultrapassadas e travadas como mencionado ao longo do texto. Dentre as inovações do jogo, dou destaque para o combate em primeira pessoa, especialmente o de combate corpo-a-corpo e para as mecânicas de customização do corpo, que abrem novas possibilidades de abordar o mundo e as missões.
Conclusão
Cyberpunk 2077 é um jogo com uma boa história e ótimas side quests, com um mundo vasto e vivo a ser explorado. Mas deixa muito a desejar no quesito RPG, liberdade de escolhas e customização. Além disso, os problemas de desempenho e performance deixaram o jogo injogável em certos momentos e atrapalhando profundamente a experiência com o título.
Acredito que eventualmente todos deveriam jogar Cyberpunk 2077, mas aconselho que esperem até que os desenvolvedores atualizem o jogo e finalmente estabilizem o desempenho e mecânicas que ficaram quebradas. Acredito que em um futuro próximo seja possível jogar Cyberpunk 2077 pela primeira vez e ter uma experiência boa e fluida. E também é um título que vale a pena revisitar no futuro para aproveitar toda a experiência que ele oferece em sua plenitude.