Introdução
Encodya é mais um jogo com temática cyberpunk, cenário futurístico, distopia e robôs. Diversos títulos contam com essa temática, e mais recentemente tivemos um impulso, principalmente por conta de Cyberpunk 2077. Desenvolvido por Nicola Piovesan, em parceria com o estúdio Chaosmonger e com data de lançamento em 26 de Janeiro de 2021., está disponível somente para PCs através das plataformas Steam e GOG.
Entretanto, diferentemente de jogos mais convencionais como RPG ou tiro em primeira pessoa, Encodya é um point-and-click de puzzles, estilo à moda antiga como Grim Fandango ou Where in the World Is Carmen Sandiego? dos anos 1990. Vale a pena frisar que o jogo não tem a língua brasileira como opção nem para áudios e nem para textos.
Então se o jogador não possui conhecimentos nas línguas disponíveis (inglês, alemão, espanhol e francês), não será possível aproveitar o jogo como um todo. Mas será que a história e a arte consegue convencer? É o que veremos a seguir.
A História de Encodya
Neo Berlin, 2062. Durante a cutscene de introdução são apresentados Tina e SAM-53, seu robô. Tina tem 9 anos e ficou órfã após a morte prematura de sua mãe, deixando-a acompanhada de seu robô-babá. SAM-53 é um robô grande e desajeitado, programado para cuidar de Tina não importa o que aconteça.
Os dois moram juntos em um barraco improvisado no topo de um prédio vivendo como podem. Tina usando roupas velhas e revirando o lixo atrás de comida e SAM acompanhando-a, sempre garantindo seu bem-estar.
Na outra ponta, você é apresentado ao prefeito Rumpf, o grande vilão da trama. Ele é uma caricatura de vários líderes mundiais mostrando sua antipatia pela população, somente mirando o seu próprio bem e riqueza. Por conta do descaso e pobreza causada pela tirania de Rumpf, as pessoas acabam juntando as poucas economias que têm para viver no mundo de Encodya.
Esse mundo de realidade virtual, chamado Encodya, é uma realidade alternativa para aqueles que querem fugir da péssima vida proporcionada por Neo Berlin e seu prefeito tirano.
Eventualmente, o jogo dá a você a tarefa de encontrar um código para que Tina consiga entrar no mundo virtual e lançar um vírus na rede. E é só isso.
As histórias paralelas que surgem ao decorrer do game são desinteressantes e adicionam muito pouco à história principal, deixando-a pobre e sem originalidade. E o pior da trama em Encodya é isso: ser clichê.
Falta de originalidade nos personagens e falta de originalidade nas situações também contribuem para a desinteressante história do jogo. O final proporciona um momento de surpresa e um momento de alegria, mas isso cabe como uma recompensa como em qualquer jogo para te trazer a sensação de dever cumprido.
Clicar e clicar muito
Muitos cliques é como defino a experiência com Encodya, como esperado de um jogo no estilo point-and-click. Uma sacada diferente que o jogo traz é poder realizar as ações com Tina e SAM.
Porém, por conta das limitações de cada personagem, você precisará usar um ou outro em situações específicas. Tina, por exemplo, é pequena e não alcança lugares mais altos e SAM não pode realizar ações que possam danificar outros robôs.
Para fazer os personagens se movimentarem, basta clicar em algum ponto do cenário e clicando duas vezes eles correm até o ponto designado.
Diferente da demonstração disponibilizada anteriormente, alguns aspectos da jogabilidade foram alterados. Onde era possível clicar e segurar para arrastar alguns itens para serem combinados ou então arrastar os itens para serem utilizados no cenário, no jogo final não é mais possível.
Seja para combinar os itens ou realizar os puzzles presentes durante toda a jogatina, o excesso de cliques acaba ficando cansativo e tornando a ação em algo chato. Os desenvolvedores poderiam ter resolvido esse problema com poucas adições principalmente se tratando das combinações de itens e interações com o cenário.

Puzzles, a maior arma do jogo
E por falar em puzzles, há muitos em Encodya. Temos os puzzles de coletar itens em outros cenários e retornar para algum personagem. Também temos os que envolvem charadas, mas uma delas foi indecifrável para mim e posteriormente vi que a resolução de fato diferia do sugerido pelas dicas dadas. Apesar desse deslize, os desafios são divertidos.
Quando você se sentir preso durante o jogo, há a possibilidade de pedir dicas ao robô babá para conseguir seguir em frente. Uma parte de suas dicas ajudam bastante se o jogador travar em alguma parte, mas em outras o robô simplesmente repete o que está no indicativo de tarefas no canto superior da tela.
E não se engane, ele não dará respostas dos puzzles abertamente em nenhum momento.
SAM também avisa que não é recomendável pedir tantas dicas, pois quando requisitadas excessivamente podem vir a fritar seu processador, mas durante minha jogatina mesmo após pedir diversas dicas nada aconteceu.
Também vale considerar que você só terá acesso às dicas se jogar no modo fácil. Se optar pelo difícil, não terá como solicitar essas dicas ao robô.
Encodya de cara com o futuro, mas nem tanto
O visual do jogo não impressiona em momento algum, seja nos modelos 3D dos personagens, seja nos cenários em baixa resolução ou ainda na interface simples até demais.
Os modelos dos personagens, apesar de bem feitos, pecam por serem “lavados” demais e por suas animações serem muito precárias.
Há poucos momentos em que SAM ou Tina realizam movimentos diferentes com os braços como girar uma manivela, na maioria das vezes os personagens simplesmente esticam o braço para realizar uma ação. Assim deixando os personagens robóticos demais, quase sem vida.
Os cenários têm seu charme por retratar a cultura futurística cyberpunk, com alguns painéis de neons, veículos voadores e robôs caminhando. No entanto, em alguns momentos é notável a baixa resolução do fundo nos cenários e a falta de polimento. Porém, um efeito visual que me surpreendeu positivamente, foi o reflexo nas poças de água em cenários com chão molhado que, apesar de ser somente rasterização, ficou muito bem detalhado.

E sua interface?
A interface é simples, tanto em sua variedade quanto em sua qualidade. Os menus não são muito bem trabalhados e não são animados. Tudo nessa interface é simples e sem muita informação. O mapa, por exemplo, só apresenta uns círculos com as localizações disponíveis no momento.

Encodya em seu melhor
Certamente o ponto mais positivo do jogo é a atuação de vozes dos atores. Como cada personagem tem sua dublagem, onde os atores conseguem passar bem a emoção através das falas, definindo bem as características de cada personagem.
As músicas originais do jogo tem uma boa qualidade e casam bem com o game dando mais imersão ao mundo distópico cyberpunk. Em contrapartida, os efeitos sonoros são simplistas e sem nada de especial.
Conclusão
Com uma abordagem mais conservadora em relação à jogabilidade, gráfico e história, Encodya não tem muito a oferecer. Afinal, estamos um momento na indústria de games em que é possível fazer jogos belíssimos com ótimas abordagens de jogabilidade. Mesmo se tratando de um point-and-click, os desenvolvedores poderiam criar puzzles mais interessantes e elaborados, simplesmente adicionando interações diferentes com o mouse.
A história também ficou no mais do mesmo, pois apresenta poucos pontos interessantes e personagens nada cativantes. Infelizmente, Encodya é um jogo com potencial desperdiçado por seguir uma receita de bolo padrão até demais.
*Chave cedida para análise