Introdução
Sally Face é um jogo indie de Point and Click com terror, desenvolvido em sua maior parte por uma única pessoa, Steve Gabry, também conhecido como Portable Moose. O jogo é dividido em 5 capítulos, sendo que o primeiro foi lançado na Steam em agosto de 2016, e o último episódio só foi terminado e publicado em 13 de dezembro de 2019. Durante esse tempo, angariou uma base de fãs que acompanhou seu projeto com interesse.
Terror Animado
A história acompanha a vida de Sally Face, um garoto que precisa utilizar uma máscara prostética para esconder seu rosto, pois foi vítima de um misterioso acidente que o deixou desfigurado e causou a morte de sua mãe. No primeiro capítulo, vemos Sally e seu pai se mudando para um novo apartamento no Condomínio Addison, onde se passará a maior parte do jogo.
Logo você pode explorar seus corredores, conhecer os vizinhos, cada um com uma personalidade e um passado segredo a desvendar. Larry, outro jovem morador do prédio, se torna melhor amigo de Sally, e juntos irão atrás da causa dos estranhos acontecimentos que ocorrem no prédio, incluindo um recente assassinato, e quais mistérios ele esconde.

Porém, logo nos é revelado que isso são apenas lembranças de Sally, enquanto ele narra sua história de dentro da prisão, vários anos depois. Ele aguarda julgamento por um crime terrível, e essa história é uma tentativa de trazer a verdade que ele descobriu à tona, e tentar avisar o mundo do perigo que eles correm, antes que seja tarde demais.
A história de Sally Face tem altos e baixos. O que começa como uma simples história de fantasma, logo se desenrola para envolver conspirações do governo, um culto satanista secreto, outros tipos de atividade paranormal, dimensões paralelas e Deuses Anciões ao estilo Lovecraft.
Essa grande variação de temáticas faz a história do jogo ser bastante dinâmica, onde um assunto leva a outro, mas às vezes essas ligações são bem obscuras, e parecem estar lá não por fazer sentido para a história, mas porque o desenvolvedor achou que seria legal ter esse elemento. No final, acaba virando uma salada de ideias, em que algumas são abandonadas e outras ganham mais proeminência, com ideias que não se encaixam completamente.
Outra característica que parece boa no papel, mas que na prática é problemática, é o de esconder informações cruciais para o entendimento da história atrás de puzzles obtusos e segredos, que podem ser perdidos se você avançar com a missão principal. A ideia era de recompensar com mais detalhes deste mundo, os jogadores mais atentos e engajados, porém, o que me aconteceu, foi que a história ficou com ar de incompleta e mal contada.
Os personagens principais pelo menos têm personalidades distintas. Sally Face começa mais reservado e com medo de interagir com as pessoas, por causa de sua máscara, mas logo se torna mais confiante com a ajuda de seus amigos. Larry, melhor amigo de Sally, é mais descolado e o ajuda a se abrir, até ensinando Sally a gostar de Rock. Ashley e Todd completam a turma.

Jogabilidade
Apesar de ser um Point and Click, neste jogo você não utiliza o mouse, precisando andar com o personagem para interagir com o mundo e coletar objetos. A jogabilidade geralmente gira em torno de você ter que explorar os cenários para encontrar algum item para progredir com a história, e aqui está o meu maior problema com Sally Face.
O jogo raramente deixa claro o que você precisa fazer, nem o que você está procurando, nem onde interagir. Ficar indo e voltando no cenário procurando por alguma coisa é o resumo da jogabilidade deste jogo. Isso é extremamente cansativo e desanimador, e tira toda a empolgação que o mistério da história apresenta.
A interface não ajuda nem um pouco nesse processo, sendo inconsistente com o que é ou não importante no cenário. Por exemplo, no começo, o jogo te ensina que objetos que você pode interagir estão marcados com um símbolo, mas logo você recebe uma tarefa de encontrar uma antena, que não tem nenhum símbolo de interação aparecendo. Isso acontece no jogo todo, e só fica pior quando o objeto que você precisa encontrar é pequeno ou está escondido em algum canto. Diversos momentos indo para lá e para cá sem saber o que procurar azedaram a experiência para mim
Arte e Trilha Sonora
Esta é uma área que também tenho opiniões divididas. Ao longo do jogo, somos apresentados a diversas situações bizarras e a imagens grotescas, com bastante sangue e tripas, mas o jogo também tem a boa ideia de variar o estilo artístico usado para esses momentos, especialmente aqueles que envolvem alucinações ou viagens dimensionais.
Isso se torna ainda mais explícito no capítulo 5, onde o artista realmente se diverte com os diferentes estilos. Normalmente, Sally Face tem uma arte cartunesca desenhada à mão, lembrando os cartoons dos anos 90, mas no final ele varia, apresentando uma arte estilo Tim Burton, outro parecendo um desenho da Disney, e até usando massinha com Stop Motion.

Apesar da variedade, o estilo dele é uma animação com uma cara de “amadora”, ficando evidente que aquilo veio do trabalho de uma pessoa só, com um estilo próprio. Em alguns cenários, há uma infinidade de detalhes a se observar, como referências e Easter Eggs, mas em outros não há nada de interessante a se ver. Os próprios apartamentos dos moradores do prédio são quase idênticos, exceto dos personagens principais.
A trilha sonora também é meio a meio. Consegue criar um leve clima de mistério e tensão quando necessário, mas não tem nenhuma trilha que eu me lembre depois de zerar, ou até durante a jogatina mesmo, sendo tudo bastante ambiental.
Conclusão
Sally Face é um jogo que tem uma história interessante com vários mistérios para descobrir, mas sua jogabilidade não é nada empolgante e pouco variada, sendo que você irá primariamente andar de um lado para outro tentando achar o que precisa fazer agora. Há muita tentativa e erro aqui, e errar pode significar que você irá perder alguma parte importante da história, te deixando com uma sensação de uma história mal contada.
A arte é bastante amadora, mas pelo menos ganha pontos por ser bastante criativa e bem trabalhada em alguns pontos da história. Apresenta uma trilha sonora bastante esquecível, e no geral é um jogo que parece ter sofrido com o longo tempo de desenvolvimento do seu único desenvolvedor.
No final, acho que é um jogo mais divertido se você assistir alguém que sabe onde estão todos os segredos e objetivos do jogo, assim você não fica perdido tentando encontrar a próxima pista para avançar, e nem deixa passar algum pedaço da história.
*Chave concedida para análise