Seguir em frente depois de uma perda é sempre o maior desafio para quem está de luto. E When The Past Was Around é justamente sobre esta jornada que todos nós um dia já enfrentamos ou iremos enfrentar. Desenvolvido pelo Mojiken Studio e Toge Productions e distribuído pela Chorus Worldwide, foi lançado em setembro de 2020 para PC e em dezembro para os consoles.
Quando o passado estava aqui
O jogo segue a história de Eda, uma jovem que perdeu seu amado e a inspiração com a música. O jogador vai resolver puzzles enquanto navega pelas memórias de Eda e a ajuda a recuperar a inspiração para seguir em frente.
A história não é exatamente linear, o jogador fica constantemente alternando entre memórias e o presente. Mas uma presença é constante a do Coruja.
Eda o conhece em um momento complicado de sua vida e juntos, eles começam a superar obstáculos e a recuperar a inspiração pela vida.
Mas When The Past Was Around não é sobre a felicidade de estar em um relacionamento, é sobre o que fazer quando este relacionamento acaba por circunstâncias que nós não podemos controlar.
Ao navegar as memórias de Eda, percebemos que o jogo é sobre o luto de perder alguém que amamos. E tudo fica ainda mais doloroso quando essa pessoa era quem mais te inspirava em vida.
É nos pequenos detalhes como tomar café ou lavar a roupa que percebemos a falta que o Coruja faz. O jogo acerta bem ao usar recursos de narrativa de cenário.
Não existe diálogos, mas ao observar e explorar os detalhes dos ambientes, o jogador começa a juntar as peças da história do casal.
Por mais que seja um tema pesado de ser abordado, a mensagem que fica ao terminar é otimista. Perder alguém é difícil, mas não devemos deixar de seguir em frente.

Aponte-e-clique
When The Past Was Around é um jogo point-and-click de puzzles. Em cenários diversos, o jogador deverá explorar os ambientes, achar objetos e resolver os puzzles para avançar para o próximo capítulo.
A maior parte dos puzzles consiste nessa fórmula: explorar o cenário, clicar em tudo o que puder, juntar objetos que irão abrir portas ou cofres e ficar sempre de olho nas dicas que o próprio ambiente te dá.
E é nessas dicas que o jogo acaba pecando um pouco.
Em um determinado momento, ele apresenta uma série de símbolos que irão abrir uma caixa, mas não fica claro quais símbolos são os certos para abrir o objeto.
Em um outro momento, temos que abrir um cadeado com uma sequência numérica e novamente o objeto que tem a solução do puzzle não deixa claro a lógica por trás disso.
Fora essas duas situações específicas (que podem ter acontecido porque eu não seja tão brilhante assim), os puzzles são muito divertidos de resolver.
E o melhor de tudo é que não ficam na mesmice! Cada nova sala que o jogador entra possui seu próprio conjunto de puzzles que funcionam com o ambiente.
E como já dito antes, When The Past Was Around faz uso da narrativa de cenário. Quando você interage com os objetos, não encontra apenas informações para resolver os puzzles. Tudo ali é relacionado à vida de Eda.
Usando a própria gameplay, o jogo te conta diversos detalhes que não estão presentes na narrativa, mas você sabe que fazem parte, já que está explorando os ambientes que Eda viveu.

Uma nova narrativa
A história de Eda é emocionante e o jeito que o jogo a trata, com tanto carinho e gentileza, faz você se perguntar por que um jogo de puzzles possui essa narrativa.
Mas funciona.
Ao contar a história dela desse jeito, temos um jeito novo de tratar do assunto. O luto é um assunto abordado em diversos games, mas When The Past Was Around consegue inovar na hora de contar essa história.
Sem diálogos e sem ação. Apenas a interação entre o jogador e objetos, a história vai se montando.

O mesmo ritmo
A mesma música.
When The Past Was Around repete a mesma música durante toda a sua história. E quanto mais você avança, mais percebe o significado e o peso que ela carrega. Você percebe que é a mesma música, mesmo com as versões variadas que ela aparece.
Essa é a real graça da trilha sonora. Cada cenário em que essa música aparece, você sabe que foi importante para a vida da personagem. Que aquela música é importante para ela.
O jogo tem uma conexão próxima com música num geral, já que a história de Eda envolve recuperar sua paixão por ela.
Cada ambiente possui uma trilha diferente, e cada trilha nos faz nos sentir confortáveis em cada um deles. Aquele tipo de música que encaixa com uma tarde na praia ou de um simpático café no centro.
A trilha sonora, e aquela música em específico, passam a mensagem de que Eda não está sozinha e de que a vida vale a pena ser vivida, seja pela música ou pelo amor daqueles que nos deixaram.
Traços leves
Depois da trilha sonora, o que mais chama a atenção do jogador é a arte.
O estilo visual escolhido encaixa perfeitamente com o tema que o jogo quer abordar. Por ser algo mais pesado de se lidar, o estilo dos personagens e dos objetos são muito mais leves, trazendo equilíbrio.
Sabe quando um filme quer mostrar algum tipo de memória e acaba mudando a paleta de cores para algo mais suave? É assim que é feita a narrativa de When The Past Was Around.
As animações dos personagens são bem simples e estáticas e você não consegue imaginar este jogo feito de outra maneira.

Deixe o passado para trás
A mensagem que fica ao final do jogo é que devemos celebrar as boas memórias e levar para frente só aquilo que nos faz bem.
Perdas sempre existirão, mas cabe a cada um de nós a decisão de seguir em frente da melhor maneira possível.
* Chave cedida para análise