Lançado para PC e Switch em 2020, Liberated é um jogo de ação e aventura desenvolvido pela Atomic Wolf e L.INC e distribuído pela Walkabout, que mistura plataforming, stealth, puzzles e combates armados em um estilo único que imita uma história em quadrinhos.
Uma realidade não tão distante
Em uma realidade não tão distante, os cidadãos dos Estados Unidos vivem controlados pelos seus dados e constantemente vigiados pelas autoridades, tudo em nome da segurança.
Enquanto uns aceitam a vigilância, outros não aceitam tão facilmente ter suas vidas controladas. É desse sentimento que nasce o grupo Liberated.
Tudo começou com um incidente na escola Sta. Martha. Um incêndio aparentemente terrorista tirou a vida de muitas crianças, uma tragédia que chocou a nação.
Com isso, o ministro da defesa finalmente consegue aprovar o projeto de um programa que vigia os cidadãos 24 horas por dia e ainda consegue prever um possível crime que o vigiado possa cometer.
E num estilo bem Black Mirror, esse sistema de vigilância também veio com um sistema de recompensas! Se você atravessa a rua na faixa de pedestres, obedece às regras de trânsito e paga as contas em dia, você acumula pontos positivos.
Esses pontos podem ser trocados por descontos em diversos serviços e até mesmo por ingressos para cinema e eventos.
E claro, se você cometer qualquer tipo de infração, sua quantidade de pontos sofre uma diminuição.
Porém, ao longo da história, você vai percebendo que aquele incidente talvez não tenha sido algo tão simples assim.
Cansados de viver dentro desse sistema opressor, os Liberated organizam diversos ataques em pontos importantes do governo, demonstrando que são uma ameaça.

Uma referência aqui, outra ali
Ao olhar essa premissa, podemos pegar referências de séries como Mr. Robot e Person of Interest, que tratam sobre segurança de dados e vigilância.
Podemos ir até mais longe e pegar referências do filósofo Foucault, que já tratou das relações de poder entre o governo e a sociedade lá em 1975.
O jogo faz questão de jogar na sua cara tudo isso, deixando livre para o próprio jogador tirar suas conclusões de até onde o governo pode interferir nas nossas escolhas.
Entretanto, Liberated não vai além disso. O jogo pega essa temática, apresenta esse grupo e não aprofunda sua história. A maioria dos personagens não tem um motivo forte para estar ali.
Isso acaba impedindo o jogador de criar um vínculo maior com os personagens e com a causa deles.
E mesmo jogando com perspectivas diferentes, afinal o jogo te dá o controle de alguns personagens durante a história, ainda não é o suficiente.
Ah, e o final de Liberated é bem aberto! Deixando muitas questões pelo caminho.

Sempre em frente
Se você não gosta de ler diálogos, Liberated não é para você. Boa parte da jogabilidade envolve ler balões de diálogos enquanto se assiste imagens estáticas dos personagens.
Na hora de controlar o personagem, ou melhor, os personagens (já que você controla mais de um ao longo da história), é tudo muito linear.
Em um estilo 2D, seu caminho fica sempre claro, mas isso não significa que seja tranquilo. Depois que a história é estabelecida, você recebe uma arma com a qual vai atirar em seus inimigos.
Eles podem ser tanto humanos quanto drones que estão prontos para te matar assim que você entrar na linha de visão.
O jogo, por várias vezes, te dá duas opções de como prosseguir: uma jogabilidade mais stealth, onde você usa espaços específicos para se esconder e atacar de surpresa. Ou, você pode simplesmente seguir com a arma apontada e atirar em quem vier atrapalhar seu caminho.
O mais legal de ter esses dois jeitos de encarar os desafios é que se você, assim como eu, não curte muito stealth, o jogo não vai te punir se você escolher a opção de atirar em todos que aparecerem.
Uma pausa para os puzzles
Mas, além de atirar em pessoas o jogo também oferece alguns puzzles a serem resolvidos. Pela história se tratar de tecnologia, há momentos específicos em que você precisa hackear portas para poder prosseguir.
São puzzles simples, para rearranjar peças e conectar circuitos, mas que merecem sua devida atenção e trazem um elemento novo para a gameplay que por sua vez, pode ficar um pouco repetitiva depois de um tempo.
O único estranhamento causado pela gameplay foram as transições, isto é, quando a história chegava ao final de uma página e ia para a outra.
Foram vários momentos em que o jogo meio que ‘travava’ e você não entendia se para avançar precisava apertar algum botão ou se ele faz isso sozinho.

Das HQs direto para o seu console
O que mais chama a atenção em Liberated é o jeito que foi escolhido para contar a história: uma história em quadrinhos interativa.
Quando você começa o jogo, ele já te mostra a primeira edição da HQ, na qual você abre e conforme vai avançando na jogatina, os quadrinhos vão sendo revelados.
Ele usa balões de fala para apresentar os diálogos e até mesmo na parte de controlar o personagem, o foco fica em um dos quadrinhos.
E como uma boa HQ, a história é serializada. Quando você termina um volume, ele já vai direto para a próxima revista.
Arte gráfica
No quesito arte, Liberated entrega muito bem a sua premissa de história em quadrinhos. Ao observar cada quadro ser preenchido pela cena, o jogo realmente faz com que você sinta que está lendo uma HQ.
O jogo se preocupa até em ter uma animação de virar a página.
O design dos personagens foi todo feito no estilo de história em quadrinhos, mas por não focar tanto nos detalhes das características dos personagens, você pode acabar confundindo alguns deles.
Vale ressaltar o trabalho incrível dedicado às capas das HQs. Realmente faz com que você deseje que elas existissem fisicamente.

Trilha Sonora
Infelizmente, é um dos pontos menos memoráveis do jogo.
Há poucos momentos em que você percebe que ela está ali e ela cumpre direitinho seu papel de casar o cenário com a história. E é só isso.
Embora você não sinta a necessidade de parar para ouvir, em muitos momentos em que eu parei, as músicas lembram muito filmes de ação dos anos 2000.
O que encaixa muito bem com a história de Liberated.
Nós somos os Liberated
Liberated é um jogo divertido e com uma arte maravilhosa. Ele possui um tema incrivelmente atual que poderia virar realidade a qualquer momento.
Mesmo com pouco carisma dos personagens, o jeito escolhido para contar a história te faz querer ir até o final.
Por mais que fique repetitivo a mecânica de lutar com os inimigos, o jogo sabe bem o momento de mudar a gameplay e apresentar os puzzles.
Em suma, ele traz uma mensagem importante sobre o que é liberdade e os direitos das autoridades em relação ao poder que elas exercem sobre nós. E como indivíduos, nós talvez não tenhamos tanto poder de mudança, mas juntos somos uma ameaça a ser reconhecida.
* Chave cedida para análise
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