Introdução
Yakuza: Like a Dragon é o mais novo jogo da franquia sobre a máfia japonesa, o oitavo título para ser mais preciso, que começou na era do Playstation 2. Seguindo por um caminho diferente dos outros jogos, Like a Dragon muda completamente o estilo de combate, passando de um Brawler, ou Beat ’em up, com lutas corpo-a-corpo pelas ruas de Kamurocho, e se transformando em um RPG por turno, completo com level, sistema de classes e magia.
Outra grande mudança, é que agora o protagonista passa a ser Ichiban Kasuga, que tem a árdua tarefa de reconquistar os fãs da série após Kazuma Kiryu se aposentar da vida de crimes.
Publicado pela Sega e desenvolvido pelo estúdio Ru Ga Gotoku (responsável por todos os Yakuzas), foi lançado no Japão e Ásia para Playstation 4 no dia 16 de janeiro de 2020, com lançamento mundial no dia 10 de novembro de 2020, agora para PS4, PC, Xbox One e Series. Será lançado para Playstation 5 no dia 2 de março de 2021.
Drama Criminal
A história começa em 2001, onde acompanhamos o dia do jovem Ichiban Kasuga, membro da família Arakawa, uma das famílias que servem ao clã Tojo, notório membro da Yakuza.
Ichiban (que quer dizer, literalmente, “Número Um” em japonês) é um homem bem-humorado e extremamente otimista, que, apesar de trabalhar para uma organização criminosa fazendo trabalhos sujos, como cobrar dívidas e expulsar membros de gangues rivais da região, é também uma pessoa com um coração de ouro que sempre arranja uma forma de ajudar os outros.
Em sua visão, a Yakuza deve ser uma organização honrada que deve ajudar e proteger aqueles que estão sob sua jurisdição, mesmo que isso signifique quebrar leis e usar de violência, mas só quando necessário, por exemplo, quando ele luta com um grupo de assaltantes incomodando os moradores da região.
Servir a Yakuza, porém, também significa que ele deve servir ao seu patriarca e agir de forma a proteger seu clã, e isso o leva a aceitar levar a culpa por um assassinato que ele não cometeu. O que ele faz, em nome de sua lealdade ao seu chefe, alguém que ele tanto admira.
Durante 18 anos ele ficou na prisão, sempre com a esperança de ser recebido de braços abertos pela sua família. Porém, as coisas não saem como ele esperava. Traído por aqueles em quem confiava, Ichiban então se vê abandonado e ferido nas ruas do bairro de Ijincho, longe de casa e completamente sozinho.
E para piorar, ele ainda faz um penteado que dá errado, deixando seu cabelo de uma forma bem peculiar. Porém, com a ajuda de outras pessoas que também se encontram no fundo do poço, Ichiban travará uma batalha para se reerguer, dar a volta por cima, e descobrir por quê ele foi abandonado por sua família.
No meio do caminho, ele irá se deparar com uma guerra entre facções pelo controle da região, um esquema de corrupção que já dura a décadas, e enfrentará uma conspiração de homens poderosos pelo controle do Japão, descobrindo segredos que mudarão para sempre o seu mundo.
Comédia Criminal
A história principal de Yakuza é sempre focada em temas sérios, como crimes, honra, família, sacrifício. É uma história de homens sérios, lutando por coisas sérias, e fazendo cara de sério. Porém, Yakuza também é um jogo que não tem medo de se ridicularizar, e fazer o jogador rir, especialmente agora com Ichiban sendo o protagonista.
Ele é um bobalhão, no bom sentido, um cara bem-humorado e de riso fácil, que se põe em risco para ajudar seus amigos. São diversos os momentos em que ele faz algum comentário ou careta engraçada que te fazem rir, ou dá um discurso motivacional emocionante, tornando fácil de se apaixonar por sua personalidade cativante.
Sua história mistura momentos de tensão e seriedade com cenas mais descontraídas e relaxantes, geralmente envolvendo Kasuga e seus companheiros, com provocações e comentários sarcásticos, típicos de quem já tem uma boa amizade.
As inúmeras side-quests espalhadas pela cidade, contam as mais variadas histórias que ajudam a construir este mundo e a desenvolver a personalidade de Ichiban. Essas histórias vão desde emocionantes e sensíveis, passando pelas engraçadas, e chegando nas absurdas.
Ichiban pode ajudar um ex-astro de cinema alcoólatra a largar a bebida e voltar a correr atrás de seus sonhos, viaja pela cidade distribuindo uma comida extremamente apimentada para pessoas que precisam de um estímulo, e até ajuda o Sr. Masoquista a encontrar uma mulher capaz de lhe fazer sentir dor novamente, já que muitos anos aproveitando desse fetiche fez sua pele se tornar invulnerável.
Yakuza Like a Dragon faz um trabalho fenomenal em apresentar pessoas com personalidades interessantes e motivações relativamente realistas, apesar dos perigos que eles passam nessa aventura. É fácil de se cativar pelos personagens principais dessa história, a temer por sua segurança e torcer pelo seu sucesso.
Além de Ichiban e sua atitude destemida, temos Nanba com uma personalidade mais tímida e medrosa, mas que sempre se supera pelo bem dos seus amigos, Adachi com seu forte senso de justiça misturada com uma atitude mais convencida, e Saeko, uma mulher que não leva desaforo para casa.
Você irá se emocionar, passar raiva, dar muita risada, e finalizar este jogo com lágrimas nos olhos, com uma história cheia de momentos e personagens memoráveis.
Pancadaria por turnos
Há alguns motivos do por que deste jogo ser um RPG, e não um Brawler como os anteriores. O primeiro, é que os desenvolvedores quiseram diferenciar este título dos anteriores, trazendo um ar de frescor e novidade para a série, com este título servindo como um leve reboot, servindo como porta de entrada para novos fãs também.
O segundo motivo, e o oficial dentro do universo, é que Ichiban é um cara com uma imaginação extremamente fértil e um grande fã de Dragon Quest, logo, ele enxerga todo o mundo em termos de RPG e as batalhas acontecem por turno pois é assim que ele gosta de imaginar a situação. Uma explicação que é a cara de Yakuza.
Like a Dragon é um RPG completo com classes, equipamentos, levels e habilidades para liberar, e tudo vem com uma temática moderna e urbana. Cada personagem vem com uma classe base, e libera outras ao longo da história.
Ichiban começa com a classe Freelancer, mas logo evolui para a classe Herói quando retira um taco de baseball mágico que estava enfiado na calçada. Nanba é um Mendigo com poderes mágicos, que solta um arroto inflamável e pode usar de sua catinga para dar debuffs nos oponentes. Adachi é um Detetive focado em dano e Saeko uma Bartender com habilidades que podem deixar os oponentes embriagados.
Os homens podem mudar para classes como Host, Foreman, Enorcer, Fortuneteller, Musician, Chef, Bodyguard e Breaker, enquanto as mulheres podem se tornar Hostess, Dealer, Idol e Night Queen. Cada classe vem com suas próprias habilidades, e focam em algum papel específico, como auxiliar sua equipe, ou dar muito dano com algum elemento.
Andando pelas ruas de Ijincho, você irá lutar com centenas de inimigos diferentes em batalhas por turno, que funcionam como todo RPG nesse estilo. Cada personagem tem a sua vez, com algumas habilidades exigindo que você aperte alguns botões para poder dar mais dano, e podendo reduzir a força dos golpes inimigos se apertar o botão de defesa no momento certo.
Apesar de quase todos os inimigos serem humanos, o design deles conseguiu evitar o problema de deixá-los muito parecidos, tendo uma variedade enorme de roupas, tamanhos e poses, apresentando uma galeria de personagens caricatos, bizarros e ameaçadores para enfrentar.
Cada inimigo novo que você derrota fica registrado na Sujidex, a enciclopédia dos Sujimons, uma clara paródia com Pokémon mas que aqui você irá coletar informações e catalogar todos os criminosos e degenerados que rondam estas ruas japonesas, em nome de tornar o mundo um lugar mais seguro.
Em relação à estratégia nas batalhas, eu diria que Like a Dragon peca um pouco no número de opções que você tem, sendo que na grande maioria das vezes você só precisa usar o seu golpe mais forte, sem se preocupar com buffs/debuffs ou outros efeitos, sendo isso necessário principalmente para os chefões.
Mesmo com os inimigos tendo fraquezas elementais, geralmente elas podem ser ignoradas. Outro ponto negativo no combate, é o uso frequente de chefes com muita vida, especialmente nos últimos capítulos, em que seu personagem mais forte irá tirar apenas 1% do HP do inimigo. Acabam se tornando batalhas arrastadas, e mais frustrantes do que desafiadoras.
Jogo Multigênero
Devo confessar que eu menti, Like a Dragon não é apenas um RPG, é também um jogo de gerenciamento, um jogo de Kart, de Golfe, de Cartas, Musical, Dating Simulator, Visual Novel, Perguntas e Respostas, etc. São tantas atividades que não tenho certeza que encontrei todas.
Como já é de se esperar da série, o mundo aberto do jogo é pequeno para os padrões modernos, mas abarrotado de coisas para fazer e ocupar seu tempo. Os principais minigames são o de gerenciamento, Dragon Kart e o Karaoke.
Em certo ponto da história, Ichiban é convidado a ser o presidente de uma empresa prestes a falir. Seu trabalho aqui é cuidar das finanças da empresa, contratar e treinar funcionários e comprar novos estabelecimentos e melhorá-los, para aumentar os lucros e o valor das ações da sua empresa, até ela se tornar a número um da região.
Além de gerir a empresa, é necessário também enfrentar os acionistas em reuniões periódicas, que funcionam como uma batalha em que eles reclamam de alguma coisa, e devemos convencê-los de que está tudo bem, com os acionistas tendo uma barra de “Irritação” que é reduzida com os argumentos de ataque dos funcionários. É divertido, empolgante e exagerado.
Já o Dragon Kart é uma espécie de Mario Kart, em que você deve correr e coletar armas pela pista para atrapalhar seus rivais. Há diversas copas para correr, e melhorias a se fazer no seu carro. Já o Karaokê é um clássico da série, com cada personagem cantando uma música com o próprio clipe, enquanto você aperta os botões na sequência certa, recebendo uma pontuação no final.
Fora estes, você encontrará vários locais com jogos de tabuleiro e de cartas clássicos japoneses como Mahjong, diversos caça-níqueis e outros jogos de bar. Tem até um Club Sega onde você pode jogar os arcades da publisher, como Virtua Fighter V, que está completo aqui dentro.
Memorável como um Dragão
Yakuza Like a Dragon foi o primeiro Yakuza que eu joguei. Senti que a apresentação de um novo protagonista e uma nova região, fazem deste um ótimo primeiro título para novatos da série, mesmo que existam referências a eventos e encontremos personagens dos outros jogos. Conhecer este mundo foi uma das melhores experiências com jogos que tive no ano de 2020.
Com um mapa compacto, é fácil de você acabar memorizando cada localidade desta cidade, conhecendo suas ruas melhores até do que seu bairro na vida real.
O nível de detalhes nos prédios e nas ruas é espantoso, e caminhar por aí só admirando os letreiros coloridos, as ruas cheias de gente, vendo as propagandas de comida que dão água na boca, é uma experiência muito imersiva e que te dá vontade de conhecer tudo. A trilha sonora que acompanha essa experiência é perfeita para cada ocasião, com um tema de batalha que não cansa mesmo depois de 70 horas, e músicas que conseguem tocar o coração nos momentos mais emocionantes.
Like a Dragon é com certeza um dos melhores jogos de 2020, um jogo exepcionalmente divertido, variado, engraçado e emocionante, com uma história que te prende desde o começo, com personagens para se apaixonar e um gameplay para te deixar entretido por dezenas de horas.