Introdução
Curious Expedition 2 é um jogo roguelike de narrativa baseado em turnos com características de RPG e gerenciamento de recursos. Criado pela desenvolvedora indie Maschinen-Mensch e lançado no dia 28 de janeiro de 2021 para PC na plataforma Steam. O jogo sairá para Playstation 4, Xbox One e Nintendo Switch, mas não se sabe quando.
É perceptível que o jogo se inspira em alguns sucessos do mercado como Darkest Dungeon e Civilization, cada um sendo usado como referência para um aspecto do jogo.
Comparando expedições
Ao opor o primeiro projeto da produtora com o segundo, é possível ver diferenças. Embora o primeiro tenha sido bem recebido pela comunidade, ele possui uma direção de arte e trilha sonora bem simples, algumas mecânicas confusas e a interface de usuário é muito básica.
A sequência da obra aprimora os aspectos ditos anteriormente. A direção de arte optou por desenhos feitos à mão e cores pastéis, a trilha sonora ganhou mais força e a interface funciona bem.
Curious Expedition 2 é uma evolução bem feita de seu antecessor. Ele mantém sua base e dá aos jogadores uma experiência mais sofisticada do que a primeira. Portanto, para quem jogou e gostou da primeira obra, a segunda é um prato cheio.

História
A história de Curious Expedition 2 se inicia na expedição tutorial. No controle de Victoria Malin, uma diretora de exposição, você descobre uma máquina feita de uma tecnologia estranha. Porém, após esta pequena expedição, Victoria precisa voltar para Paris.
Disposta a continuar suas explorações, ela precisa recrutar pessoas de confiança para liderar as missões em que não pode estar. É neste momento que o jogo realmente começa.
Assim que você escolhe o personagem que mais se adapta ao seu estilo de jogo, você parte para diversas fases a fim de explorar o mundo. Assim sendo, você precisa completar uma sequência de excursões para alcançar uma missão principal.
São quatro atos para a história fechar. Os dois primeiros atos são formados por duas missões extras e a terceira é a principal. Nos dois últimos atos, são necessárias três expedições além da central.
Dessa forma, a narrativa caminha de maneira equilibrada e encaixa bem no gênero do jogo. Como resultado, temos uma história que intriga, envolve o jogador e funciona bem. Contudo, não apresenta nenhuma inovação de roteiro.

O que há nas expedições
Curious Expedition 2 é baseado em um tabuleiro, dividido em casas hexagonais. Lembra os jogos da série Civilization. Cada hexágono representa um tipo de bioma que pode ser mais difícil ou fácil andar sob.
O contraste no bioma é importante na hora do planejamento. Pois, eles influenciam na quantidade de sanidade gasta para movimentação no mapa. A sanidade é um dos muitos recursos (e o mais importante) que existem no jogo.
Uma vez que os mapas são gerados de forma procedural, todos são únicos. Ou seja, cada mapa possui características diferentes. Seja na disposição dos biomas, na cultura dos povos nativos, nos eventos que acontecem por ali, entre outros.
Apesar disso, conforme avança no jogo, as repetições aparecem em todos estes aspectos. Porém, não estraga a experiência de forma alguma. Afinal, em cada expedição você estará em apuros e objetivos diferentes.

Explorando o mundo
Como um jogo roguelike, o aspecto da jogabilidade em Curious Expedition 2 pesa bastante. Um rpg narrativo que se sustenta através da gestão de recursos. Parece simples, mas há muito conteúdo embutido nesta definição. Bem como gerir os suprimentos da missão, é necessário vencer combates e ter boa relação com as tribos nativas.
Além de planejar cada movimento pelo mapa enquanto pensa no próximo passo, é necessário prestar atenção nos arredores que também se movem. Sejam animais selvagens que atacam, tribos que chegam até você ou possíveis alterações geológicas. Portanto, tudo deve ser analisado antes de a ação ser tomada.
Recursos
Acima de tudo no jogo, temos a gestão de recursos. Sem uma boa manutenção, a morte chegará rapidamente.
Antes de partir para uma nova expedição, temos uma quantia de dinheiro para gastar com os suprimentos. Temos que escolher entre comida, armas, armaduras, acessórios, poções, entre outros. Cada um destes te oferece um benefício. Portanto, ao optar por um, você deixa de ganhar o benefício do outro.
Essa mecânica gera uma gangorra interessante. Te obriga a criar um modo de jogar diferente (ou não) para cada missão e seus objetivos. Escolher comida ao invés de poção vai te prover sanidade no lugar de garantia de sucesso em desafios.
Cada personagem que compõe seu grupo possui uma quantia de carga máxima. Seu inventário é limitado à soma dessa quantia dos heróis. Entretanto, existe uma classe de animais cargueiros que ajudam nesse aspecto.

Trocas
As trocas são muito importantes no game. Elas deixam você alterar a maneira de jogar no meio da missão.
Por exemplo, você está com muita comida e perto do fim da missão. Você pode optar por trocar essa comida por troféus que vão garantir pontuação mais alta no final da expedição. Ou então, sua sanidade está baixa e é necessário aumenta-la, sendo assim, a troca de qualquer coisa por comida é válida.
Ao mesmo tempo que elas podem te salvar fisiologicamente, é possível doar para tribos nativas e ganhar mais respeito dela, permitindo que elas te ajudem em certas ocasiões.
Entretanto, as negociações devem ser boa para ambos os lados. Existe uma barra que mede o equilíbrio da troca. Além disso, existe uma mecânica de flutuação de valores. Em momentos diferentes, o mesmo item pode ter até 3 preços: o mais barato, o padrão e o mais caro.
Combate
É um pouco diferente dos rpg’s tradicionais que possuem habilidades e ataques pré determinados. Aqui, dados lançados à sorte podem ser combinados para obter efeitos especiais. Assim como em todo o jogo, a mecânica que decide sucesso ou fracasso são os dados.
Estes são compostos por 3 cores: vermelho, azul, verde. Todas elas possuem habilidades ofensivas, defensivas ou então bençãos e maldições. É possível utilizar um dado da mesma cor para aumentar a força de uma habilidade naquele turno. Contudo, os dados possuem faces consideradas nulas, as brancas.
Isso torna o combate imprevisível… até certo ponto. A mecânica é interessante e funciona bem. Porém, ao upar os personagens, as faces brancas somem, dando lugar a mais habilidades já existentes nos dados, o que diminui a imprevisibilidade.
Os dados também decidem os desafios no mapa. Cada cor representa um tipo de desafio: os azuis, de inteligência; os verdes, de destreza; os vermelhos, de força. Assim sendo, é importante ter na equipe o máximo de cores possível, para que tenha chance em todo desafio que aparecer.

Decisões
O que mais se faz em Curious Expedition 2 é decidir. Seja o que for: quais dados utilizar no combate, se irá ou não fazer um desafio, se explora aquela parte do mapa ou não, etc.
Todas as decisões possuem reflexos no jogo. Elas podem te beneficiar muito ou te prejudicar muito. Às vezes, ao gerenciar mal seus recursos, uma reação em cadeia pode acontecer no grupo e te forçar a tomar decisões prejudiciais. O cuidado para cada ação é importantíssimo para que isso não ocorra.
Dessa forma, é seguro dizer que o jogo pode ser frustrante nesse aspecto. Uma falta de atenção pode colocar sua missão inteira em cheque ou até mesmo acabar com ela, matando todos os personagens. Mas o gênero roguelike é isso, cada decisão importa muito.
Dificuldade
É seguro dizer que o jogo propõe uma dificuldade equilibrada. Nas três opções, elas fazem jus ao que propõem.
A dificuldade do jogo é definida de três maneiras: a dificuldade básica, a de missões e a de morte. A dificuldade básica influência no jogo como um todo, balanceando a questão dos recursos de acordo com o nível. Já a dificuldade da missão decide o objetivo, tamanho do mapa e coisas do gênero. A de morte define o que acontece ao morrer: se você volta ao estado antes da missão, se o jogador perderá o ato que foi jogado ou então se perderá a campanha como um todo.
Apesar disso, entender o jogo não é tão difícil quanto parece. A obra explica muito bem os conceitos aplicados e auxilia dando as informações necessárias.
Financiamento
Para enfatizar o gênero do jogo, existem três organizações que são responsáveis por financiar as expedições. Cada uma delas tem especialidades distintas e te ajudam nas expedições.
Terminar missões financiadas evolui seu nível com a instituição. Isso libera novos personagens, itens e equipamentos da mesma. É interessante explorar e evoluir sua relação com todas elas, para ter mais opções no futuro.
Além de liberar novos conteúdos, cada organização tem um serviço disponível para o jogador. Evoluir personagens, melhorar equipamentos ou curar doenças e vícios. Estes serviços são essenciais para uma progressão mais fácil no jogo.

Estilos de jogo
Como todo bom RPG, a variação de estilos de jogo de Curious Expedition 2 é robusta. Com diversas classes para montar sua tripulação, é possível surfar entre expedições mais combatentes ou então mais diplomáticas.
A possibilidade de unir os equipamentos, itens disponíveis e as classes acaba trazendo uma boa variedade que agrada todo tipo de jogador. Porém, conforme o jogo progrediu, consegui encontrar uma formação que me fez muito forte e usei somente ela desde então. Conseguia atropelar os combates e também resolver quase todos os desafios sem muita dificuldade.
Direção de Arte e Trilha Sonora
Como um jogo baseado em narrativa, ele usa e abusa das cenas estáticas onde apenas os personagens se movimentam através de animações de marionete. Isso não é um problema, porém diversas vezes eu entrei em uma aldeia e os meus personagens apareceram andando de costas, no maoir estilo “moonwalk”. As animações “duras” e repetitivas não atrapalham, mas também não agregam, elas cumprem seu papel.
A paleta de cor escolhida foi certeira. Cores pastéis que remetem diretamente à época em que o jogo se passa, no final do século 19. Apesar disso, a desenvolvedora criou lindos mapas e cenários que embelezam a jogatina e não cansam os olhos.
Enfim, a trilha sonora não tem muito destaque. Ela é divertida e conversa com o ambiente, independente de onde esteja. Os sons dos itens sendo usados e do combate são básicos, mas funcionam. No começo eu me empolguei com a trilha, mas com o passar do jogo se tornou repetitiva e perdeu o brilho.

Conclusão
Curious Expedition 2 é uma sequência muito bem feita. Evoluiu os aspectos do primeiro jogo e trouxe novas abordagens para a série. Embora o jogo não apresente uma história super envolvente, ela é competente. Na parte artística, a escolha da paleta de cores pastel foi certeira e conversa com o momento histórico que o jogo se passa e a trilha sonora faz sua função. A jogabilidade é boa e fluida, com aspectos interessantes que te envolvem, fazendo mergulhar no jogo de maneira natural. Certamente, a experiência que tive em encontrar uma maneira de jogar que atropelasse o jogo pode acontecer com outro jogadores, mas isso não é tão problemático. Afinal, a experiência proporcionada pela obra é boa e agradável. Com certeza é um jogo que deve ser experimentado por quem gosta do gênero roguelike.
*Chave concedida para análise