Introdução
Hoje trouxemos Sword of the Necromancer para análise. O jogo é um action-RPG dungeon crawler com elementos de roguelike procedural. O jogo tem referências a The Legend of Zelda nas mecânicas e Shadow of the Colossus no enredo.
O jogador assume o controle de Tama, uma ex-salteadora, através da cripta do necromante. Munida da espada do Necromante, a protagonista busca reviver sua amada Koko.
Com efeito de reverter este destino cruel, a heroína fará qualquer acordo com um ser obscuro, o Necromante, criador da arma mágica, não se importando com os riscos à sua vida.
Além do mais, a espada do necromante é capaz de reviver inimigos mortos para que auxiliem na jornada, sob o controle da portadora da misteriosa espada. Salvo a importância desta, há também a possibilidade de se conseguir equipamentos, itens usáveis como poções, porém de forma totalmente randômica.
Sword of the Necromancer foi desenvolvido por Grimorio of Games e distribuído por ambos estúdios JanduSoft e Game Seer Ventures.
O título já está disponível desde Dezembro de 2020 para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X, Nintendo Switch. O lançamento para PCs foi na data de 28 de Janeiro de 2021.
História
Quem lidera o plot é Tama, uma ex-ladina que recebeu a missão de escoltar a sacerdotisa Koko em sua viagem pelo continente onde vive. Sobre o passado dela, ela já fez parte de uma quadrilha. Foi espiã, ladra, escolta, mas garante para sua protegida que nunca matou, nem mesmo seu bando.
Segundo ela, pelo menos por enquanto.
No decorrer da viagem algo de terrível acontece, acarretando na morte de Koko. Os motivos de sua morte ficam sob mistério. Apesar do fato, o que fica destacado é o impacto que isso causa em Tama.
Enquanto o jogo progride, mais interações entre as duas são reveladas, na forma de lembranças onde mostram a criação de um sentimento de afeto entre elas. Tama reconhece que nunca tinha sido tratada tão bem como antes por alguém. Ser respeitada como uma ser humana era tudo que sempre quis.
Como era de se esperar, com todo o amor que se desenvolveu, a perda repentina da vida de Koko força Tama a tomar decisões drásticas. Trazer sua amada de volta à vida, não importa o preço que tiver que pagar.
Sabendo da existência de uma maneira de realizar este feito, a ex-ladra parte para a sombria e temida Cripta do Necromante. Lá jaz um artefato lendário conhecido como a Espada do Necromante que, segundo a lenda, tem o poder de trazer de volta vidas perdidas.
Heresia por necromancia
Sobre as origens desse artefato, isso remete ao passado. Um indivíduo acusado de heresia se isola no subterrâneo de alguma região do continente, onde lá criou sua morada. Lá praticou seus experimentos utilizando-se de conhecimentos mágicos de ocultismo, desafiando as leis da natureza e a vontade dos deuses.
Enfim, após diversas tentativas, ele alcança seu objetivo. Assim ele cria um instrumento que batizou de a Espada do Necromante, por onde o usuário seria capaz de reviver qualquer ser vivo. Necromante foi como o criador passou a ser conhecido, seu nome verdadeiro se perdendo nos anais da história.
Logo, tempos depois de sua morte, relatos de sua criação continuam vivos. Sua morada se tornou uma cripta, que por diversos experimentos mágicos praticados no local, se encontra infestada de monstros obscuros de origens desconhecidas.
Com o passar dos anos, vários curiosos e ambiciosos tentaram descobrir os segredos da espada do necromante. Consequentemente, aqueles em busca do item místico, e o que mais se encontra guardado nas profundezas da Cripta, nenhum desses destemidos saqueadores de tumba retornaram vivos.
Resta saber se Tama conseguirá realizar o que ninguém mais conseguiu. Sobreviver à Cripta do Necromante e utilizar a espada de um modo que consiga trazer sua amada Koko de volta ao mundo dos vivos.

Quebra de paradigmas
Durante a apresentação, o enredo parecia mais um cliché, apesar de usar um anime bem estiloso. O vídeo mostra alguém com grande habilidade de combate vencendo inimigos com facilidade, por algum motivo supostamente já contado outras vezes.
Surpreendentemente, o fato é que não se resume a isso. Assim descobre-se uma bela história de amor, dentro do que é mostrado nos intervalos entre os andares da dungeon.
A história é contada em textos, recitados através de uma ótima direção de dublagem, trazendo muita vida e propósito para as duas protagonistas, e também para o necromante.
Sobretudo, é animador de se ver cada vez mais a presença de contos que incluem personagens não-binários. O clima dos diálogos entre Tama e Koko são tão naturais que gera a dúvida, porque ainda hoje é tão difícil ver histórias como essa, que incluam mais o público feminino, inclusive dos grupos LGTBQI+?

Por outro lado, mesmo com tamanha importância do enredo, infelizmente o jogo em si não ajuda muito. O jogador terá sérios obstáculos em descobrir como a história se desenrola mais adiante. Veremos o por quê na sessão a seguir.
Jogável?
De acordo com gênero, existem games que mostram relevância em seu produto final. Em contrapartida, existem aqueles que não alcançam aquilo que se espera, e a recepção acaba não sendo satisfatória.
Sendo assim, há esperança de que o jogo agrade fãs de ação, RPG e roguelike. Como foi dito antes, a história é muito promissora, e motiva o jogador a querer saber o que acontecerá. Além disso, carrega nas mecânicas algumas boas referências tanto a Zelda como Diablo dentre outros com presença forte de dungeon crawling.

Mas vamos aos fatos. Decerto Sword of the Necromancer tem uma ótima resposta de comandos. Estes se baseiam, além da movimentação 360º pelo analógico, nos 4 principais botões de ação.
Dos 4, 1 é restrito para a utilização da espada do necromante para atacar os inimigos. À princípio os outros 3 podem ser usados com itens consumíveis (poções de cura ou força temporária), equipar acessórios (anéis ou gemas com bônus em atributos) e armas (ataque adicional melee ou ranged).
Mortos vivos que morrem e desaparecem
Além disso, invocar criaturas mortas são a chave para o combate. Todo monstro morto pode ser revivido pelo comando cancelar. Ao reviver, a criatura ocupa o espaço de um dos comandos de ação, podendo ser invocada e dispensada a qualquer momento.
Porventura um monstro controlado morra, ele desaparece do espaço de comando. O jogador o perde para sempre independente do estado de evolução (rank) em que esteja.
Comandos adicionais são esquiva e dash, realizados no mesmo botão. Tama desliza recuando apenas pressionando. Ao se movimentar e pressionar, realiza um dash para alcançar inimigos em fuga ou saltar abismos.
Agora sobre a Cripta do Necromante per se. A geração das salas é acontece de forma procedural, toda vez que se entra na dungeon. Ou seja, ocorrem tanto mudanças na arrumação delas e dos corredores, como na distribuição dos monstros e posição do portão do guardião do andar.
O mesmo ocorre com caixas, jarros, alguns baús carregando poções, mas também equipamentos e eventualmente a chave para o portão do guardião.
Em sua maioria, há pouca variação de monstros por andar, pois apenas se repetem com atributos maiores ou outras cores representando elementos.
Elementos como fogo e gelo são formas de se explorar vantagens e fraquezas, tanto dos monstros invocados quanto dos inimigos.

“In-jogabilidade” diriam as más línguas
Primeiramente, todo jogo roguelike ou com características do gênero, possui a incerteza de como os inimigos irão se apresentar, quais itens aparecerão e a configuração das salas.
Infelizmente, este é um exemplo de título que carrega características extremamente punitivas, e até injustas. Por exemplo, cortar pela metade o total de níveis alcançados ao morrer. Isso sem falar também na perda de todos os equipamentos, sem chance de recuperá-los.
Em resumo, a mecânica de morte do Sword of the Necromancer é extremamente frustrante.
Tomou doril o equipamento sumiu

Nesse meio tempo percebe-se o limite de equipamentos. Isto é, não existe uma bolsa de itens para troca enquanto se joga. O baú de inventário, quando acessível, tem um número de espaços para guardar itens não usados caso o jogador consiga mantê-los.
Surgem duas opções ao vencer todo guardião.
Primeiramente, com o teletransporte o jogador pode retornar para a sala do altar fora da dungeon. Lá pode acessar tanto o baú de inventário, como ativar a função coop com o uso de uma poção disponível na sala do altar (Flask of Homunculus).

Ademais, se a opção for teletransporte, terá que começar a dungeon do início novamente, sem volta. Porém, o ponto positivo é que isso não acarreta a perda de equipamentos e níveis, podendo também sair do jogo se assim preferir, pelo portão principal da Cripta.
Em seguida, o acesso ao baú de inventário na dungeon acontece após o guardião. Porém, obrigatoriamente o jogador terá que seguir em frente sem save ou checkpoint. Mecânica cansativa e desnecessária, diga-se de passagem.
Portanto, não existe garantias de nada que se faça durante o jogo. Todo o progresso se perde facilmente com um mero erro bobo durante qualquer combate, independente com qual criatura seja.
Trilha sonora
De acordo com o acervo de músicas, são bem tocantes e profundas. As faixas combinam com os momentos de travessia da dungeon.
Conforme Tama progride pelo andar, a música tocada muda caso esteja explorando ou quando surgem inimigos. Monstros espalhados pelas salas trazem uma música mais tensa. A exploração revela um som aventuresco. Já nos guardiões dos andares a trilha se torna crítica e ameaçadora.
Mas, de novo, o jogo sofre com a jogabilidade e com isso as músicas tornam-se repetitivas. Isso vem da necessidade de entrar nos mesmos andares diversas vezes. Infelizmente perde-se um belo acervo por saturação.
Artisticamente falando

A qualidade artística é significativa no anime de apresentação de Sword of the Necromancer. Durante o jogo também há referência aos desenhos japoneses, porém num estilo retrô de jogos de gerações passadas. Algo semelhante já foi visto frequentemente em outros jogos, então não há muito o que dizer.
Os sprites de movimento são bem detalhados. Tanto Tama como os monstros mostram uma gama de movimentos diferenciados. Os efeitos visuais de ataques e magias são impactantes, mas com uma pegada cartunesca bem bonita, combinando bem com a temática espada e magia.
Conclusão
Certamente, Sword of the Necromancer é um jogo com uma bela premissa. Tama e Koko são um par romântico muito interessante e digamos necessária para um momento onde precisamos tanto de representatividade.
Por outro lado, decisões no gameplay foram a pá de cal para um grande desperdício de aventura que parecia ser tão vibrante. Nota-se uma dedicação para se entregar um título bem polido artisticamente, sonoramente e historicamente.
Contudo, o jogo pune o jogador severamente e definitivamente por pequenos erros. Todavia, qualquer chance de diversão rapidamente é substituída por uma profunda frustração.
*Chave concedida para análise