Introdução
The Medium é um Thriller sobrenatural sobre uma mulher com poderes mediúnicos, capaz de enxergar o mundo espiritual. O estúdio polonês, Bloober Team, responsável pelos já famosos Layers of Fear e Observer, assina este ambicioso projeto, exclusivo para os consoles Xbox Series X|S e PC, lançado no dia 28 de janeiro direto no Game Pass.
Tudo começa com uma garota morta
Marienne é uma mulher com um dom especial, o de existir em dois planos diferentes, o nosso mundo mortal normal, e o mundo dos espíritos. Nossa história começa na Polônia, em 1999, logo após a morte de seu pai adotivo, Jack. Dono de uma casa funerária, foi o lugar onde Marienne pode refinar suas habilidades e ajudar almas perdidas a seguir em frente.
Porém, antes mesmo de conseguir iniciar o luto por seu pai, ela recebe uma ligação misteriosa de um homem implorando por sua ajuda em um remoto hotel abandonado no meio da floresta. Apesar de, num primeiro momento, não acreditar no homem, algo que ele diz desperta uma curiosidade profunda em sua alma: “Eu sei o que você é. Eu sei sobre o seu passado.”
Em resumo, Marienne nunca conheceu seus pais biológicos. Suas lembranças mais antigas são de uma cama de hospital, após sobreviver a um incêndio que queimou mais de 30% de seu corpo. Logo após sair, seus poderes despertaram e ela passou a ver coisas e pessoas que os outros não conseguiam. Portanto, a possibilidade de alguém ter mais informações sobre seus poderes a instigou a ir atrás deste homem misterioso.
Assim, nossa Medium parte para o hotel Niwa, localizado em uma região remota das florestas da Polônia. No entanto, este é um lugar abandonado a muitos anos, e que é fonte de diversas lendas urbanas, envolvendo demônios, possessões e um massacre.
Conforme adentra neste lugar sombrio, Marienne usará seus poderes para se comunicar com os espíritos presentes neste Hotel, enquanto busca desvendar seu passado e encontrar o paradeiro do homem misterioso. Contudo, esta não será uma tarefa fácil, pois uma criatura terrível se esgueira por seus corredores.
Narrativa de Outro Mundo
A história de The Medium é um de seus pontos fortes. Com uma trama e personagens memoráveis, ele conseguiu me prender desde a primeira cena com o mundo espiritual. Porém, devo avisar que esta é uma história que traz temáticas bem pesadas, pois, no final das contas, é uma tragédia.
Além disso, ele consegue apresentar seus mistérios em um ritmo bom, não se prendendo demais em uma única cena ou estendendo seus puzzles. Você está sempre tendo progresso na história, seja descobrindo mais um pedaço da história do hotel, ou de algum detalhe sobre a Tristeza, o espírito de uma menina que você encontra e te acompanha por boa parte da trama.

Seu final, porém, teve um desfecho ambíguo. Isso é geralmente uma coisa boa, pois te faz pensar sobre a história por mais tempo após fechar o jogo. Mas neste caso, as indagações que ficaram não foram boas, pois passei mais tempo pensando se faria sentido ter este tipo de final.
Puzzles em Duas Realidades
Certamente, o grande diferencial deste jogo está em seu mundo dividido. Mas esta também é a característica que explica o porquê deste jogo ser exclusivo para a nova geração. Marienne consegue se transportar entre os dois mundos de forma instantânea. E em muitos pontos do jogo, você verá a tela dividida, mostrando ambas as realidades simultaneamente.
Estas realidades compartilham de um espaço similar, isto é, paredes e corredores são iguais. Porém, alguns detalhes podem diferir, como uma porta existir no mundo real, mas não no mundo espiritual. Isso leva a diferentes tipos de problemas para resolver.

Geralmente, os puzzles envolvem o conceito de “Tranca e chave”. Portanto, nossa heroína irá se deparar com diversos obstáculos (trancas) que exigem um item para poder passar (chave). Esses obstáculos podem ser simples portas, e você deve procurar a chave, como também coisas mais estranhas, como buscar o rosto de um espírito perdido que barra o seu avanço.
Poderes Mediúnicos
Enquanto está no mundo espiritual, nossa Medium tem alguns poderes na manga, que ajudam a resolver os puzzles e a se proteger de perigos. Em certos pontos, você pode energizar a personagem com energia espiritual para liberar seus poderes.
O primeiro poder é uma explosão de energia, usada para carregar itens que dependem de eletricidade no mundo real. O outro é um escudo espiritual, que protege Marienne das revoadas de “besouros fantasmas” que podem matar seu espírito.
Já o terceiro poder, é o de desprender o espírito do corpo. Normalmente, você irá controlar as duas versões de Marienne ao mesmo tempo. Porém, alguns puzzles exigem que você abandone o corpo físico para controlar apenas o espírito dela. Isso é geralmente usado quando o caminho está bloqueado no mundo real, mas é preciso de um item que se encontra adiante no mundo espiritual.
Todos eles têm uma limitação de uso. Tanto a explosão, quanto o escudo, gastam a energia de Marienne, e precisam ser recarregados, enquanto a projeção espiritual tem um tempo limite antes de o espírito ser forçado a voltar ao corpo.
Leve Terror
Apesar de toda a ambientação envolvendo um Hotel assombrado, espíritos e monstros, The Medium não é exatamente um jogo de terror, pois tende mais ao suspense sobrenatural. Mesmo tendo como inspiração os antigos Silent Hill e Resident Evil, estas são usadas mais para criar a ambientação do que para dar medo.
Um dos motivos para isso é a falta de “pressão” imposta no jogador. A personagem não está em perigo constante, nem temos munição e itens de cura limitados. Há sim, o risco dela morrer, porém, só em pontos específicos que o jogo faz questão de te avisar quando você está em perigo, e quanto está de volta em segurança.
Por exemplo, a falta de um combate acaba tornando a fuga dos monstros mais um dos puzzles do jogo. Em alguns momentos, você deverá passar por ele em uma breve sessão de Stealth. Já em outros, deve resolver um puzzle para conseguir atacá-lo e o espantar para que consiga avançar. Mas, como dito acima, são momentos raros e que não carregam uma sensação de urgência ou de perigo.
Portanto, a falta de um risco presente na trama tira boa parte da tensão do jogo. Mas, devo esclarecer que isso não diminui a experiência, pois o foco fica na história e o drama que ela traz, não em sustos baratos e jump scares.
Mundo Sombrio
Embora os mundos ocupem o mesmo espaço físico, ambos não poderiam ser mais diferentes. Enquanto o mundo real é escuro, com cores frias e a arquitetura brutalista típica das construções da era soviética, o mundo dos espíritos é muito mais iluminado e de cores quentes.
Essa dualidade é ainda mais acentuada com o design deste mundo dos espíritos. Este, foi criado baseado nas obras do artista surrealista polonês Zdzisław Beksiński (não consigo pronunciar isso). É um mundo com uma aparência doente, cheia de fungos crescendo pelo chão e paredes, com insetos correndo e se aglomerando, protuberâncias similares a ossos, e uma perpétua névoa amarela que embaça sua visão.

É impressionante o quanto este mundo é curioso e diferente do que se tem por aí. A ideia de se ter um mundo paralelo idêntico ao real não é nova, já que Silent Hill serviu como uma das inspirações para a criação de The Medium. Porém, ele conseguiu adicionar uma identidade própria a seu mundo paralelo, que também destoa daquele mundo escuro e amedrontador de Silent Hill para apresentar algo com uma aura muito mais triste e melancólica.
Cheio de Inpirações
Reforçando a atmosfera, temos aqui outra ligação com Silent Hill. Akira Yamaoka, compositor de vários jogos da série, emprestou seu talento para The Medium, compondo parte de suas músicas. Com uma trilha sonora principalmente ambiental, ela consegue te fisgar e trazer para dentro deste mundo, guiando suas sensações de desconforto e tristeza.
Outra grande inspiração do jogo, desta vez em Resident Evil, é sua câmera estática, típica da era PS1. Isso traz uma experiência bem diferente, rara de se encontrar hoje em dia. Mas, enquanto isso carrega consigo uma novidade, também carrega seus poréns. Como não temos controle da câmera, podem existir momentos que ela não se comporta como você esperava, ou acaba escondendo algo que você deveria interagir ou pegar.
Inegavelmente, é um mundo ricamente detalhado, tanto o real quanto espiritual. Sobretudo, são cenários que passam uma sensação angustiante e depressiva, que combina com a história e reflete suas temáticas sobre dor e perda.

Desafio Técnico
Mostrar simultaneamente dois mundos completamente diferentes foi um grande desafio para os desenvolvedores de The Medium. Este é, também, o porquê deste jogo ser exclusivo da nova geração. Porém, a inovação que ele traz com essa nova perspectiva é um grande frescor para os jogos de terror.
Poder observar dois mundos simultaneamente, e ainda identificar onde estão as diferenças para resolver os puzzles, é algo nunca visto, pelo menos não neste nível. Porém, ele também veio com alguns pontos negativos. Jogando no Xbox Series S, é notável o quanto o sistema estava no seu limite.
Foi bem comum o framerate do jogo ter quedas para baixo dos 30 fps, especialmente nas últimas cenas. Problemas de textura demorar para carregar foram constantes, acontecendo em praticamente toda troca de câmera.
Felizmente, estes problemas não foram o suficiente para impactar tão negativamente a experiência, apesar de ser algo difícil de se ignorar.
Conclusão
The Medium é um jogo que apresenta uma mecânica única, a de você ver dois mundos em simultâneo. Isso já serviria para destaca-lo do resto, porém, ele tem muito mais a oferecer. Sua história te prende desde o começo até o final. Seus mundos, real e espiritual, são cheios de detalhes e méritos próprios. De um lado, temos um mundo real delapidado e frio, do outro, temos um mundo espiritual bizarro e desconfortável.
O gameplay do jogo é básico, sendo focado na exploração e resolução de puzzles. A falta de um combate e perigo constantes, tiram bastante da parte de terror e medo que esta ambientação poderia gerar. Mas, no final, isso apenas fortalece o jogo, que pode se focar mais na história trágica que ele pretender contar.
* Chave cedida para análise