Introdução
The Pathless é um jogo indie de exploração e aventura, desenvolvido pela Giant Squid e publicado pela Annapurna. Lançado no dia 12 de novembro de 2020 para PCs e Playstation 4 e 5, é o novo jogo dos desenvolvedores do aclamado Abzû, e carrega algumas características deste título.
Dentre estas características, estão o foco na exploração de um ambiente belo e tranquilo, cheio de segredos a se descobrir. Aliando isso a uma trilha sonora bem diferente, com músicas que vão do instrumental, até cantadas com canto gutural mongol, apresenta uma experiência extremamente envolvente e misteriosa, que te fisga desde o começo.
O mundo de The Pathless
A história de The Pathless é contada em duas partes. Na principal, a que acompanhamos durante o jogo, é a da caçadora que chega na ilha dos Espíritos para acabar com a escuridão que se espalha pelo mundo. Armada apenas de um arco e coragem, ela será auxiliada por uma águia em suas explorações.
Mas este não é um animal qualquer, pois é a encarnação da Mãe Águia, a Deusa deste mundo, e mãe dos outros 4 espíritos, corrompidos pelo poder do Deicida. Portanto, para trazer a luz de volta, a Caçadora deve encontrar e purificar a escuridão dos filhos da Mãe Águia, para então enfrentar o Deicida.
Apesar de todo o jogo se passar em uma ilha, ela é dividida em vários platôs com altitudes diferentes, e cada um serve de lar para um dos Espíritos. São eles: Cernos, o alce; Sauro, o lagarto; Nimue, a serpente; Kumo, o urso.
Já a segunda parte, é contada através de memórias que você encontra espalhadas pela ilha. Estas, são vistas como orbes espirituais flutuando próximas de pessoas mortas e contam os últimos pensamentos dela antes de morrer.
É através destas memórias que aprendemos como o homem conhecido como O Abridor de Caminhos se rebelou contra os deuses, angariando seguidores e fiéis. E então, finalmente se tornar o Deicida, corrompendo os Espíritos e a Mãe Águia, trazendo a escuridão para o mundo.
Mas, além da história contada por cutscenes e por textos de memórias, outro elemento ajuda a construir este mundo: a própria ilha. Há história espalhada por todo canto, desde vilarejos abandonados e destruídos, passando por ruínas de templos e até dos cadáveres de exércitos que guerrearam há muito tempo.
Logo, entender a história deste jogo depende demais da exploração, que é também o elemento principal que torna esta experiência especial
Explorando a Ilha
Com o intuito de libertar os deuses da corrupção, você deve ativar os 3 obeliscos presentes em cada região, apagados pelo poder do Deicida. Para isso, é preciso recuperar os talismãs que lhes dão poder. Estes talismãs estão espalhados pela ilha e protegidos por Puzzles. Sendo assim, para encontrá-los, você deve vasculhar cada canto da ilha em busca destes puzzles.
Uma característica marcante da exploração em The Pathless é a falta de um mapa e ícones para te guiar. Ao invés disso, ele aposta em diversos pontos de interesse pela ilha para te ajudar a saber onde está. Dentre estes, estão os mais óbvios como os obeliscos, as construções mais altas de todas, além de diversos templos e vilarejos abandonados.

Além disso, você também tem à disposição a Máscara dos Espíritos, que te permite ver o mundo dos espíritos, e identificar pontos onde a escuridão se acumula. Estes pontos emanam uma aura vermelha, e podem ser vistos à distância. Isso te ajuda bastante a encontrar os talismãs, que emanam as auras mais fortes.
Para explorar a ilha, você pode ir a pé ou voando. A sua companheira águia consegue te carregar durante o voo e planar por grandes distâncias. Ela também tem a habilidade de bater as asas e ganhar altura, porém o número de vezes que ela pode fazer isso é limitado ao seu nível.
Sua Amiga Águia
Para fortalecer sua águia, você deve coletar cristais escondidos pela ilha. Assim como os talismãs, estes cristais estão escondidos por puzzles espalhados por todo canto. Porém, diferente dos talismãs, muitos dos cristais não recebem destaque da máscara dos espíritos, e são puzzles mais simples de resolver, mas, não menos divertidos de se encontrar.

Fortalecer a águia significa que ela poderá bater as asas mais vezes, conseguindo te levar a locais mais altos, ou voar por mais tempo. Em um jogo focado em exploração, esta é uma habilidade imprescindível e que facilita muito suas viagens.
Seu Companheiro Arco
Já a exploração a pé não se resume a você segurar o analógico para cima e esperar o personagem lentamente se arrastar até onde você quer. Não, aqui o movimento depende muito mais de você prestar atenção no ambiente por oportunidades de aumentar a velocidade.
Espalhados por todo canto, estão amuletos que, quando atingidos por uma flecha, te dão alguns segundos de super-velocidade. Assim, enquanto corre, você está ativamente procurando por estes amuletos e atirando flechas neles, de modo a estar sempre em velocidade máxima. Os desenvolvedores foram espertos em colocar um sistema de mira automático que tira a pressão de ter que alinhar seus tiros perfeitamente, te dando mais tempo para se concentrar apenas no caminho.
Isso faz uma diferença enorme em como você lida com a travessia do ambiente. Ter esses micro objetivos para manter sua atenção durante a viagem, torna essa viagem muito mais interessante, e faz você prestar muito mais atenção no ambiente.
Os puzzles escondidos
Boa parte do prazer da exploração em The Pathless vem da sua enorme quantidade de puzzles escondidos, cuja recompensa são os cristais para fortalecer a águia. Porém, diferente da grande maioria dos jogos, estes puzzles não recebem um aviso de que existem, e dependem muito da sua curiosidade para encontrá-los. Logo, pequenos detalhes no ambiente podem evidenciar a existência de algum puzzle escondido.
Por exemplo, se você encontrar uma tocha acessa e uma sequência de tochas vazias, pode ser uma boa ideia atirar uma flecha nessa tocha para acender as outras. Assim como um grupo de borboletas revoando pode indicar o início de uma “corrida” contra o tempo.
Você também pode encontrar diversos baús em locais secretos, lotados destes cristais. Portanto, todo lugar que você explorar, irá encontrar algo para fazer ou tesouro para saquear.
Batalha espiritual
Como a exploração é o grande objetivo do jogo, quase não há batalhas. Dessa forma, você não encontrará nenhum monstro rondando a ilha, ou usará seu arco para lutas. Porém, existe sim um perigo à espreita, pois os espíritos corrompidos criam um turbilhão vermelho de tempestade que desce à ilha de tempos em tempos. Ao entrar na tempestade, você é levado para uma área onde deve cumprir uma missão de “Stealth”.
Logo após entrar na tempestade, a águia é carregada para longe pelo vento, e o espírito corrompido surge para te procurar. Seu olhar lança uma luz, e você não pode se mover enquanto estiver iluminado. Seu objetivo é encontrar a águia novamente enquanto evita ser pego pelo espírito. Caso falhe, o espírito te ataca e você perderá uma parte dos seus cristais.

Já com os Talismãs em mãos, você pode ativar os obeliscos, cuja luz irá prender o Espírito corrompido na tempestade, expondo suas fraquezas e possibilitará que você o enfrente. Porém, a batalha é dividida em duas partes, a caçada e o embate.
Primeiramente, você deverá usar suas habilidades com o arco para correr atrás do espírito, desviando dos seus ataques e atingindo seus pontos fracos, até que ele pare de correr. Por fim, a batalha final ocorre em uma arena, onde você irá novamente atacar seus pontos fracos, para então purificar seu espírito e liberar passagem para próxima região.
“Mas parece Zelda”
A um tempo atrás, a Ubisoft lançou o jogo “Immortals: Fenyx Rising”, cuja análise você pode ler aqui. Na época, muitos o compararam com Zelda. De fato, ele contém alguns elementos parecidos, como uma barra de stamina e a habilidade de escalar. Além disso, o personagem tem poderes semelhantes, como um item magnético usado para mover caixas. Porém, jogar este jogo traz uma experiência muito diferente, sendo mais próxima de outros jogos da Ubisoft, como Assassin’s Creed.
Já em The Pathless temos uma situação oposta. Aqui, tanto a jogabilidade quanto a interface não tem nada de semelhante à Zelda. A personagem não consegue escalar montanhas, nem utiliza poderes para resolver puzzles, nem encontra upgrades para vida. Mesmo assim, ele está muito mais próximo da experiência de um Zelda.

Isto se dá, principalmente, pela sua exploração. Semelhante a Zelda, onde em qualquer canto você pode encontrar uma Korok, em The Pathless o mesmo vale para os cristais. Todavia, não importa em que ponto do mapa você esteja, basta procurar por alguns segundos que encontrará algum puzzle escondido.
Durante as 10 horas que joguei, não passei mais do que alguns poucos minutos sem ver ao longe algum lugar curioso e pensando “será que tem algo escondido ali?”. E a resposta era sempre “Sim”.
O Sem Caminho
Certamente, The Pathless é um grande jogo que captura o esplendor de explorar um lugar novo. Com o seu design, ele te induz a ficar curioso com qualquer coisa diferente que você vê ao longe, e te incentiva a ir lá conferir.
A viagem pela ilha, guiada principalmente pelo arco, é uma forma muito criativa de tornar a travessia algo muito mais divertido e envolvente. Já a águia serve tanto como um “planador”, te ajudando a voar, quanto uma companhia fiel para não te deixar completamente sozinha.
Tanto a apresentação visual, quanto a trilha sonora, são primorosas para ajudar a construir este mundo.Já o canto mongol das suas músicas dão um ar incomum e estrangeiro, passando a sensação de realmente estarmos em um lugar diferente.
Por fim, The Pathless é realmente um grande jogo, com um final bastante grandioso e com uma mensagem bastante positiva que explica o título do jogo, e que te deixará encantado por toda a sua duração.
*Chave cedida para análise