Introdução
Loop Hero é um RPG roguelike por turnos desenvolvido pela Four Quarters e publicado pela Devolver Digital. Disponível apenas para PC, a obra é produzida pelos mesmos criadores de Please, Don’t Touch Anything e por isso já podíamos esperar algo criativo e de qualidade.
Primeiramente é importante mencionar que o jogo não é um RPG tradicional onde o jogador controla todas as ações do personagem principal. Dito isso, recomendo que mergulhe fundo no mundo esquecido de Loop Hero, sem medo.
Contos da memória
Um mundo devastado e colocado em um ciclo atemporal por um Lich e um herói que claramente não sabe de mais nada… Ou pelo menos, acha que não sabe. Esse é o cenário apresentado para o jogador no início do jogo.
Ao mesmo tempo que Loop Hero introduz seu mundo construído por raras memórias, ele ensina as mecânicas básicas logo no início e solta o jogador para explorar por conta própria. Uma alusão ao sentimento de nosso herói, que sente lembrar de algo, mas nunca sabe o que é. Nós somos familiarizados com os recursos do jogo, mas não exatamente com a maneira que funcionam.
Portanto, é de se imaginar que a história da obra não se resume aos diálogos e o que está escrito neles, mas sim em toda a jornada percorrida pelo herói junto do jogador. Cada expedição é um novo conto, uma história sobre a fuga bem sucedida ou então sobre a morte trágica.
Além da história de cada jogador, o enredo é sobre um guerreiro que quer salvar o mundo, o mais clichê de todos, mas até nesse ponto a Four Quarters abordou de maneira inteligente. Um mundo devastado e afundado no esquecimento com diálogos divertidos e objetivos mantêm a procura por respostas empolgantes.

Um RPG diferente
O video-game permite representar o mesmo estilo de diferentes maneiras, sejam positivas ou negativas. Essa versatilidade é importante para a evolução da indústria e promove jogos marcantes e inovadores. Loop Hero é uma dessas obras que marcam, com mecânicas muito comuns e simples, mas bem aplicadas.
Bem como games idle ganharam muita força nos últimos anos, o gênero roguelike também é explorado exaustivamente, inclusive pelos criadores de jogos indie. E é justamente sobre esses dois gêneros que Loop hero se trata, onde une a repetição dos estilos em uma obra dinâmica e agradável.
Sendo assim, a obra não permite que o jogador controle o herói nem suas ações no combate. Tanto a movimentação quanto a luta são feitas de maneira automática, a única opção que resta para o jogador é pausar quando lhe for conveniente. Pode não parecer, mas pausar é crucial em Loop Hero, já que é o único modo de controlar quando as ações irão acontecer.

Meu baralho, minha fase
Tratando-se de um jogo roguelike, as tentativas de avançar na história são várias e todas diferentes. O sistema de baralho dentro do jogo serve para o jogador construir a fase na qual ele está jogando. A fase começa sem nenhuma construção e o jogador precisa usa-las para montar o cenário e progredir.
Existem diferentes tipos de cartas: campos que geram monstros, que dão melhorias para o personagem ou pioram status de todas as criaturas, monumentos que oferecem algum efeito especial nas áreas ao redor, entre outras. O jogador tem chance de receber uma ou mais cartas aleatórias após derrotar um monstro.
Ou seja, você começa apenas com uma caverna limpa e com monstros fracos e vai construindo sua fase da maneira que achar melhor. Essa construção está diretamente ligada as builds que o jogador pode fazer, aumentando a variedade das mesmas.
Por fim, quanto maior o número de cartas colocadas, mais perto ficamos de invocar o chefe da fase. Por isso, as cartas devem ser colocadas com calma e inteligência, visto que apenas jogá-las no campo pode ser mais prejudicial do que favorável.

Itemização e Build
Se somos nós quem construímos a masmorra em que jogamos, também nos cabe montar a build do nosso personagem. E o que define ela é a classe que decidimos jogar e também os itens que o jogo nos dá após abater monstros.
Falando das classes, elas diferem nos itens que podem ser equipados, nos atributos iniciais e os modificadores dos itens dropados. Por exemplo, é possível fazer um cavaleiro com velocidade de ataque e vampirismo, já o ladino é mais difícil conseguir roubo de vida por não conseguir vampirismo nos itens que dropa.
Contudo, a aleatoriedade faz as coisas ficarem mais difíceis. Às vezes, começamos a construir o mapa para ajudar em alguma build específica e os itens que compõem ela não dropam, ou então o contrário, temos bons equipamentos, mas as cartas não ajudam.
Essa dança incessante transforma o jogo, entrega uma dinâmica muito interessante e faz o jogador ficar o tempo inteiro envolvido com a construção do mapa e a troca dos equipamentos. Por isso, a ideia de fazer o combate e a movimentação ser automática foi bem inteligente.

Uma vila para construir
Durante as jornadas do herói, recolhemos materiais e utilizamos eles na construção de uma base. É aqui onde conseguimos montar uma vila que vai nos prover novas habilidades, cartas e possibilidades.
Construir uma ferraria permite começar as expedições com equipamentos básicos, já a fazenda gera recurso de comida a cada expedição. São diversas edificações que podem ser construídas e garantem diferentes melhorias.
Além desses recursos, cada edifício colocado na base fornece uma carta nova para adicionarmos no baralho. Sendo assim, nós podemos modificar nosso baralho antes de irmos para uma expedição e extrair o melhor desempenho dele baseado em um estilo de jogo desejado.
É possível também upar essas propriedades e isso faz com que elas entreguem ainda mais benefícios para o jogador, mas não é simples fazer. É necessário farmar os recursos e, quanto maior for o conhecimento do jogo, mais eficaz vai ser farmar.

Arte e Som
É impossível jogar Loop Hero e não se sentir em um game dos anos 90. A arte é especial, remetendo aos jogos mais antigos tanto no estilo quanto na simplicidade e carrega um tom moderno no desenho e colorização.
Uma pixel art digna de admiração e exaltação, mesmo que simples. Com exceção da fonte pixelada, todas as informações são claras e legíveis. A fonte é o único problema que eu encontrei no jogo, de verdade. Existem três opções de fonte: uma pixelada, outra em HD e uma para disléxicos. O problema é que a fonte pixelada não é de fácil leitura e as outras duas quebram a imersão em um jogo totalmente pixelado, mas nada que afete muito a experiência.
Enfim, a parte sonora é um espetáculo a parte. Com sons em 8-bits marcantes e pontuais, Loop Hero oferece uma experiência audiovisual magnífica como um todo. As músicas são muito bem compostas e produzidas, encaixam perfeitamente na jogatina. Nesse quesito, não há o que reclamar.

Experiência no Switch (Por Nana)
A experiência de Loop Hero no portátil da Nintendo é extremamente satisfatória, pois além de ter um bom desempenho, podemos jogar em qualquer lugar. Entretanto, os controles no PC são mais simples de usar pelo uso do mouse para realizar a ação, mas isso não chegou impactar negativamente minha experiência, sendo esse facilmente um dos melhores jogos indies do ano.
Conclusão
Loop Hero é definitivamente o melhor que joguei esse ano, com uma jogabilidade totalmente inovadora e empolgante, o jogo entrega uma experiência inédita para o jogador mais veterano em RPG’s. Além da inovação, os sistemas criados para que o jogo funcionasse dessa forma são muito bem projetados e executados, não tive problema com nenhum bug durante toda minha jogatina. Artisticamente o jogo não deve nada, ele consegue ligar o tema principal do jogo com a estética de forma intrínseca e também anima com sua trilha sonora. É uma surpresa das boas, ouso dizer que é obrigatório para todos os amantes de RPG.
*Chave concedida para análise.