Introdução
Continuando com nossos reviews da coletânea da série Nioh, vamos falar sobre Nioh 2, a sequência que conseguiu aperfeiçoar a fórmula iniciada pelo primeiro, trazendo ajustes de gameplay, gráficos, história e (não menos importante) interface. Desenvolvido pela Team Ninja e publicado pela Koei Tecmo, foi lançado em um pacote com o primeiro jogo, além todas as suas DLCs. Chega para PS5 no dia 5 de fevereiro, no pacote The Nioh Collection.
Leia a nossa análise do primeiro jogo clicando aqui.
É Mais Nioh, mas melhor Nioh?
Assim como toda continuação, Nioh 2 tem um ponto de partida fácil, mas deve responder a algumas perguntas difíceis. Sendo o segundo jogo, ele tem a vantagem de poder se apoiar em toda a construção de mundo e mecânicas do primeiro. Assim, pode-se dizer que o seu trabalho é mais “de boas”, já que fãs do primeiro vão querer jogar a continuação para repetir a experiência que eles tanto gostaram.
Porém, não é só isso que nós, jogadores, esperamos de uma continuação. Não, ela deve ir além. A parte difícil de uma continuação é nos mostrar que, mesmo que o primeiro jogo da série tenha sido bom, ele podia ser melhor.
Assim, fico feliz em dizer que Nioh 2 alcança este feito. Corrigindo diversas falhas do primeiro, aquelas fáceis de se achar, e até problemas que você nem sequer sabia existirem, ele entrega uma experiência mais agradável e completa que o primeiro, e igualmente desafiadora.
Meio humano, Meio Yokai, Inteiro Nioh 2
Nossa história começa no passado, em um flashback da infância de nosso protagonista. Sendo fruto do amor entre uma mulher Yokai e um homem humano, ele viu sua mãe ser assassinada por um misterioso homem com um cajado. Pouco antes de morrer, ela lhe entrega uma adaga mágica, que te permite escapar deste homem. Tal adaga tem o poder de despertar sua metade Yokai, te conferindo imensos poderes e habilidades.
Metade homem e metade Yokai, nosso herói parte em uma viagem pelo país, caçando monstros de forma estilosa e criando uma reputação como um grande matador de demônios. Seu nome é Dante Hyde! Brincadeiras à parte, esta história, na verdade, se passa cerca de 50 anos antes do primeiro jogo, durante o período Sengoku da história japonesa. Portanto, ele usa de batalhas, localizações e personalidades históricas para desenvolver sua trama.

Mais História
Aqui podemos ver um dos pontos em que a continuação supera o primeiro jogo. Esta história, apesar de ainda ser relativamente confusa, consegue nos apresentar personagens bem mais cativantes, e isso que desta vez jogamos com um protagonista mudo. Muito do que acontece aqui, depende de termos um conhecimento da história do período, de seus conflitos e de seus atores. Dessa forma, o jogo consegue instigar uma curiosidade por este período histórico, mas não faz um bom trabalho em explicar o que está acontecendo.
Como personagens de destaque, temos nosso “sidekick” Tokichiro, com sua personalidade enérgica e engraçada. Nobunaga Oda, aquele que viria a conquistar boa parte do Japão, abrindo caminho para a unificação do país e que age como nosso general durante as cutscenes. E Mumyo, a caçadora de Yokais, dona de um medalhão que parece ressoar com a adaga do protagonista, e que nos acompanhará por quase toda a história.
Outra parte que merece destaque, é que agora podemos personalizar a aparência de nosso herói. Se você não gostava de jogar como um inglês loiro e bonitão, pode criar do jeito que você quiser. Assim, decida a cor e estilo de cabelo, tatuagens, cicatrizes e estilo de chifres. Sim, você não leu errado. Ele pode se transformar em Yokai, e podemos trocar alguns detalhes desta forma monstruosa.
Jogabilidade Refinada
Apesar de seu combate não ter mudado muito, foi o suficiente para sentir uma diferença para melhor. Seu combate continua rápido e mortal, mantendo as características de incentivo à experimentação do primeiro. Como é típico de um jogo do estilo “SoulsLike”, o gerenciamento de stamina, chamada de Ki, é uma das suas grandes preocupações durante a luta. Ficar sem Ki significa que você não pode defender ou esquivar, ficando completamente indefeso contra golpes inimigos.
Um dos diferenciais de Nioh em relação a outros SoulsLike, é o seu “Pulso de Ki”. Sempre que o protagonista ataca, pequenas luzes azuis giram por um tempo em torno dele. Se você apertar R1 no momento certo, consumirá essas luzes, o que recupera parte do Ki gasto. Este pulso também ativa alguns efeitos especiais, se liberados na árvore de habilidades. Esta é uma técnica muito importante de se aprender a executar sempre, e adiciona mais uma camada de jogabilidade ao seu combate.
Em Nioh, seu personagem pode usar 3 poses de combate: alta, média e baixa, cada uma com sua vantagem e desvantagem. Primeiramente, a pose alta usa ataques mais lentos e pesados, causando grande dano à vida e ao ki inimigo. Já a postura baixa é focada em golpes mais rápidos e fracos, que te permitem esquivar com mais facilidade. Por último, a postura média atinge um equilíbrio entre dano e velocidade, além de aumentar a sua defesa.
Como dito acima, seu combate é idêntico ao primeiro, porém ainda passa a sensação de ser superior, e isso se dá a uma animação do seu personagem ser mais rápida e bem trabalhada.
Evolução e Experimentação
Ao derrotar inimigos, você recebe amrita, os pontos de experiência deste jogo, que podem ser gastos em santuários para comprar pontos de atributo. Mas, a evolução do personagem não se resume apenas a pontos de experiência, mas também a pontos de habilidades com armas.
As armas em Nioh possuem um nível de afinidade que vai subindo conforme seu personagem a usa, até um certo limite. É basicamente um level para cada arma. Além de fortalecê-la, essa afinidade também ajuda a evoluir a sua maestria com o tipo de arma em questão, que se traduz em pontos para gastar na respectiva árvore de habilidades. Portanto, o jogo te incentiva a não ficar muito tempo usando a mesma arma.
Há diversas árvores para você explorar e evoluir, uma para cada arma, além de uma árvore para habilidades de samurai, de ninja, de magia e de “Mestiço” (já explico sobre isso). Seu personagem recebe pontos de samurai simplesmente por evoluir seu level. Já pontos de ninja e magia são ganhos conforme você usa equipamentos próprios para elas. Por exemplo, utilizar bombas ou Kunais evolui sua habilidade ninja, enquanto invocar bolas de fogo e Buffs para seu personagem, aumenta seu conhecimento em magia.
Um pequeno porém
Infelizmente, este é um ponto que não concordo com algumas mudanças feitas. Primeiramente, o grande diferencial do combate de Nioh está em seu incentivo à experimentação. Sua mecânica de afinidade recompensa o jogador por utilizar as mais diferentes armas e não ter medo de testar alguma que ele não esteja acostumado.
Porém, parte desta experimentação fica prejudicada em Nioh 2, pois agora os pontos de habilidade são ganhos para a arma que você está usando, e não podem ser gastos livremente. Isso causa um efeito indesejado de que armas pouco usadas acabam ficando fracas, o que também incentiva o jogador continuar sempre com o mesmo estilo de arma, para chegar mais longe na árvore.
Por exemplo, minha árvore de Katanas e lanças já estão com cerca de metade das habilidades desbloqueadas, enquanto Tonfa (cassetete ninja) está completamente vazia. Portanto, há um desincentivo a usar esta arma tão defasada.

Usando seu lado Sombrio
Enfim chegamos à principal diferença entre os dois jogos. Nosso protagonista tem o poder de usar seu lado Yokai e ficar bem mais poderoso por um curto tempo. Mas, o primeiro Nioh tinha uma mecânica similar, em que William invocava seu espírito guardião, para também ficar mais poderoso por um tempo, então o que mudou?
Pois, mudou muito, já que esta versão é uma evolução muito maior do que apenas temática, e envolve muito mais mecânicas que o primeiro. A principal mudança está na personalização de seus espírito-guardiões com as chamadas “Almessências”. Todo monstro do jogo pode dropar a sua essência ao morrer. Até duas essências podem ser equipadas em seu espírito-guardião, e trazem consigo um aumento no ataque e defesa base do personagem, além de um número de diferentes buffs. Estes podem ser melhorias a seus status, uma quantidade maior de experiência ganho, etc.
Almessências repetidas podem ser fundidas e fortalecidas. Como elas têm um level associado, almessências de monstros mais fortes também dão bônus melhores. Além disso, coletar estas almas dá pontos de experiência para o seu nível de “Mestiço” e pontos de habilidade para gastar na respectiva árvore. Esta árvore aumenta a força e duração da sua transformação em Yokai, além de liberar novas habilidades.
Mas não para por aí. Como estas essências vêm dos monstros do jogo, você também pode usar as suas habilidades únicas, que replicam o comportamento do monstro. Tais habilidades são poderosas e podem te salvar em momentos de aperto. Então é mais uma coisa a se considerar ao escolher o que equipar, e como personalizar seu personagem.
Mais personalização ainda
Para terminar a personalização de seu lado Yokai, falta escolher qual tipo você quer ser. Há três tipos de Yokais para se transformar: Brutamontes, Fera e Fantasma. O tipo que você se transformará depende do espírito-guardião equipado. Cada um tem um estilo de combate e muda a forma como você luta.
Primeiramente, o Brutamontes é pesado e armado de um grande porrete de fogo. Em seguida, o Fera é rápido e equipado com adagas. Por último, o Fantasma utiliza foices giratórias, com um alcance maior que os outros. É importante saber as diferenças e aprender como cada forma luta para tirar o máximo de proveito de sua curta duração.
Revide Impetuoso
Além do estilo de luta, cada forma difere no seu uso do “Revide Impetuoso”. Algo que faltava no primeiro Nioh era uma forma de realizar o famoso parry nos oponentes, onde você rebate um golpe inimigo, deixando-o aberto a um contra-ataque.
Em Nioh 2, você utiliza sua forma Yokai para realizar este revide e só funciona com certos ataques inimigos. Tais ataques são anunciados por uma aura vermelha que sai do oponente, e de um efeito sonoro. Você pode usar este revide a qualquer momento, pois seu personagem se transforma em Yokai por um instante para realizar a técnica.
Como é normal desta mecânica, é preciso acertar o momento de usá-la. É uma técnica de “alto risco, alta recompensa”, pois quando feita do jeito certo, cancela o golpe e todo dano que você tomaria, além de drenar uma grande quantidade de Ki do oponente. Porém, se errar, seu personagem recebe toda a força do ataque, mais poderoso que o normal.

O Brutamontes dá um golpe frontal de curto alcance que realiza o revide se acertar o oponente. Esta é a forma mais lenta mas a mais fácil de se acertar, pois basta atingir o oponente.
Já a forma Fera realiza uma esquiva, deixando uma trilha no caminho, que dura menos de meio segundo. O Revide acontece se o ataque inimigo atingir esta trilha. Assim, esta forma também funciona como uma esquiva emergencial.
Por último, a forma Fantasma cria um escudo a sua volta que bloqueia o golpe. É a forma mais próxima de como funcionaria um parry do Dark Souls, já que você deve bloquer o ataque assim que ele te atingir.
Mais Melhorias
Repetindo o feito do primeiro, Nioh 2 está extremamente bonito nesta versão de PS5. Com loadings instantâneos, resolução em 4K e 60 fps constantes, a beleza visual deste jogo é clara desde o começo.
Seus cenários estão bem mais interessantes que o primeiro, onde podemos visitar vilarejos, castelos, templos ocultos. Mas, o mais importante, é a grande variedade de monstros e criaturas para enfrentar. Esta era a maior reclamação que eu tive do primeiro, onde a repetição de inimigos afetava bastante a sensação de avanço na história.
Outra grande mudança, foi na interface. Aqui, pequenas mudanças de cores e alguns detalhes, fizeram uma grande diferença em deixar os paineis de itens bem mais bonitos. Mas, a maior diferença foi com a árvor de habilidades. No primeiro, estas habilidades eram apresentadas de uma forma bem sem graça e confusa. Agora, a apresentação está muito melhor organizado, além de estar bem mais interessante de se olhar, por se parecer com uma mandala, cheia de pontos para você liberar e evoluir o personagem.

Por fim, a trilha sonora também recebeu uma atenção maior, ficando muito mais empolgante, épica e até atmosférica. Pois, desta vez, algumas localidades apresentam uma música ambiente para acompanhar suas aventuras. Além disso, toda vez que sua vida fica baixa durante uma luta, começa a tocar uma trilha de “quase morte”, que só para quando você se derrota os monstros à sua volta.
Portanto, você não passará várias horas em silêncio até chegar em uma batalha de boss. Em minha opinião, isso ajuda em criar o clima da região e a deixar a jogabilidade mais agradável.
Conclusão
Nioh 2 é um bom exemplo de uma continuação que consegue usar tudo o que fez o primeiro jogo ser bom, e melhorar. Assim, este jogo eleva a fórmula do original a um patamar acima, trazendo este jogo a ficar quase no mesmo nível de jogos da From Software em termos de Soulslike. Pessoalmente, ainda falta um mundo e histórias marcantes para chegar lá.
Sua versão da fórmula apresenta um jogo com combate bem rápido e um grande foco em loot e escolha de equipamentos. Isso é bom, pois te dá a sensação de estar sempre evoluindo e ficando mais forte. Mas pode ser ruim também, pois as batalhas podem se tornar mais fáceis ou difíceis, dependendo de sua sorte para encontrar os itens certos.
Esta versão de Playstation 5 se aproveita de todas as vantagens que comentei do primeiro, com resolução 4K e loadings ultra rápidos. Portanto, é a versão definitiva para os fãs da série, e de jogos no estilo SoulsLike.
*Chave cedida para análise