Introdução
Persona 5: Strikers é a inesperada continuação para o RPG de sucesso, Persona 5. Apesar de ser anunciado como uma espécie de spin-off, mudando até o sistema de batalha, esta é uma continuação direta do jogo original, e obrigatório para fãs da série.
Lançado no dia 23 de fevereiro de 2021 para Switch, Playstation e PC, foi publicado pela Atlus e Koei Tecmo, sendo desenvolvido em uma parceria entre a P Studio, desenvolvedora do jogo original, e a Omega Force, famosa pelos jogos da série Dinasty Warriors.
A partir desta combinação inesperada, nasce um dos melhores jogos de RPG de ação dos últimos tempos, que carrega o DNA de ambos os estúdios em uma mistura perfeita. De um lado, temos os personagens, músicas e histórias apaixonantes da P Studio, com suas Personas e referências à psicologia Jungiana. Do outro, temos o gameplay frenético e eletrizante da Omega Force, que te faz sentir membro dos Phantom Thieves e capaz de derrotar tudo e todos.
Revendo velhos amigos
Esta história começa cerca de 6 meses depois do fim de Persona 5. Nossos queridos Phantom Thieves passaram este tempo em paz, cada um cuidando de seus problemas do dia-a-dia. Ann e Ryuji estão com problemas na escola, mas Futaba está indo bem, aprendendo a ser mais sociável. Já Makoto e Haru começaram a faculdade e com grandes planos para o futuro. Enquanto isso, Yusuke continua em busca de sua carreira artística, apesar das dificuldades monetárias que um novato das artes passa.
Por último, o líder do grupo, Joker, voltou para sua cidade natal com a Morgana, e para sua vida normal de antes dos Phantom Thieves. Porém, com as férias de verão chegando, esta turma está cheia de planos para uma grande reunião.
Infelizmente, para eles, nem tudo sairá como o planejado, e suas férias de verão se transformarão em mais uma aventura. Desta vez, estranhos casos de “Mudança de Coração” estão acontecendo por todo o país, similares aos que aconteceram na época que os Phantom Thieves estavam na ativa. Além disso, uma assistente virtual chamada EMMA está fazendo sucesso, sendo um aplicativo obrigatório no celular de todo mundo, dada a sua facilidade de uso e o quanto ela auxilia no dia-a-dia. Ela é quase uma ALEXA turbinada.
Tudo começa a dar errado quando eles são trasportados para o metaverso, e vão parar em uma “Prisão”. Semelhante aos Palácios, a Prisão também é a representação dos pensamentos distorcidos de seu comandante, chamado de Monarca. Porém, o Monarca está roubando os Desejos dos outros, tornando-as zumbis obcecados por esta pessoa.

Caras novas
Mas temos alguns personagens novos nesta história. Pois, dentro das prisões, nossos heróis se deparam com uma personagem curiosa. Sophie, é uma IA que se denomina como a “Companheira da Humanidade”, mas que perdeu toda sua memória. Assim, ela se une aos Phantom Thieves para recuperar suas memórias, e ainda aprender mais sobre o Coração dos seres humanos.
O outro personagem é o policial Zenkichi Hasegawa. Este se torna um aliado sem querer dos Phantom Thieves, os ajudando a investigar os casos de mudança de coração. O problema, é que nossos heróis são os principais suspeitos destes crimes, e podem ser presos a qualquer momento, a não ser que colaborem com Zenkichi.
Portanto, os nossos Phantom Thieves têm uma missão a cumprir antes de curtir suas férias, já que eles não podem deixar esta injustiça impune.

Semelhanças e Diferenças
Apesar de ser caracterizado como um spin-off, Persona 5 Strikers se baseia em muitas coisas do primeiro jogo, incluindo a história e personagens. Assim, ele acaba por ser uma continuação direta e que depende do seu conhecimento deste mundo e personagens para ser bem aproveitado. Se você não tiver jogado o primeiro, não espere que Strikers explique nada para você.
Aliás, isso não fica apenas na história. Em especial, a trilha sonora reutiliza diversas músicas diretamente, faz um remix com outras, mas também apresenta muitas trilhas novas. Para quem as conhece, a experiência se torna muito melhor por poder relembrar estas músicas maravilhosas.
Dito isso, a maior diferença entre os dois jogos está em seu sistema de combate. O primeiro é um RPG por turnos, onde você invoca Personas para combater. Cada Persona e inimigo que você encontra, tem um conjunto de forças e fraquezas elementais. Saber explorar bem esse sistema de elementos é crucial, já que usar o elemento certo pode tornar as batalhas triviais, como também permite que um inimigo fraco te derrote com um combo bem executado. Portanto, o grande desafio do Strikers era o de traduzir este sistema, bastante complexo e estratégico, para um action RPG no estilo Musou.
O resultado final conseguiu alcançar este equilíbrio entre obrigar o jogador a pensar estrategicamente, mas também testar seus reflexos e capacidade de se posicionar no campo de batalha.
Persona Striker é um Musou?
Certamente, quem conhece o estúdio Omega Force sabe do estilo de jogo que eles são famosos por fazer, comumente chamado de Musou. Em resumo, a característica principal de um Musou é o de entregar uma “Power Fantasy” onde o jogador controla um personagem capaz de derrotar exércitos inteiros sozinhos. Por exemplo, no Spin-Off de Zelda, Hyrule Warriors, o Link consegue matar mais de 100 Bokoblins nos primeiros 30 segundos de jogo.
Outra característica marcante, é que suas missões geralmente acontecem em áreas grandes, onde o jogador precisa percorrer todo o campo de batalha para cumprir os objetivos. Estes, vão desde capturar castelos a derrotar chefões. Apesar de enfrentar inúmeros oponentes, são poucos aqueles que têm alguma chance de te derrotar. Geralmente, apenas os chefes representam um perigo real, enquanto o resto do exército pode ser ignorado.
Porém, pouco disso se aplica a Persona 5 Strikers, que segue por uma linha muito mais contida e estratégica. Primeiramente, os mapas não são completamente abertos, mas divididos em sessões menores. As batalhas também acontecem em arenas, que se fecham quando você encontra um monstro. Em segundo lugar, a quantidade de inimigos em tela é muito menor. Ao invés de atropelar centenas de soldados inúteis, você deve combater apenas uma dezena de shadows, sendo que cada um está tentando te matar.
Por último, o uso de fraquezas elementais e magias é muito importante aqui também. Mais do que apenas atacar, você deve saber como tirar vantagem do inimigo e escolher as melhores personas para o combate. Isso é mais uma mudança à fórmula do Musou, cuja ênfase está muito mais nos ataques desenfreados e no famoso “Button Mashing”. Enfim, com todas essas diferenças, Persona 5 Strikers é muito mais próximo de um RPG de ação do que um Musou.
Derrotando Shadows
Começando pela exploração, ela ocorre de forma bastante parecida com o original. Você pode passar pelo cenário sem precisar enfrentar ninguém, usando o modo Stealth do Phantom Thieves. Pois, espalhados pelo cenário, estão locais onde o personagem pode se esconder e evitar detecção. Você também pode usar isto para pegar os inimigos de surpresa, dando uma vantagem na batalha. Do contrário, se você for pego, inicia a batalha em desvantagem.

E falando em iniciar batalha, os monstros não caminham soltos para você batalhar. Ao invés disso, você encontrará poucos Shadows patrulhando a região, e batalhas se iniciam apenas quando vocês se encontram. Isso acontece atacando, usando o Ambush para ganhar vantagem, ou sendo detectado e começando em desvantagem. Assim, uma área do mapa é fechada e monstros aparecem. O objetivo passa a ser derrotar todos para poder voltar à exploração.
Já durante as batalhas, temos o Joker e mais 3 personagens. Cada um tem sua própria Persona, com diferentes habilidades e afinidades elementais, e você pode trocar livremente qual personagem controlar em batalha. Tais habilidades vão desde magias de ataque, passando por Buffs/Debuffs e golpes físicos especiais. Todas elas são reproduções das habilidades já presentes no Persona 5.
Ao contrário da versão original, estas habilidades não atingem inimigos individuais, mas uma área na frente do seu personagem. Assim, é preciso prestar atenção na sua posição na batalha para poder atingir o máximo de monstros possível.
Diversos Combos
A importância de usar os elementos vêm das mecânicas de atordoamento e “All-Out Attack”. Quando seu personagem atinge um inimigo com um elemento que ele é fraco, como fogo ou gelo, ele fica atordoado, e ainda te permite realizar um combo mais forte.
Já o All-Out Attack só pode ser usado quando o “Down Gauge” de um oponente é zerado. Isso é feito abusando da sua fraqueza elemental, e apenas inimigos mais fortes apresentam esta barra. Esta barra é uma sequência de escudos abaixo da barra de vida, que se quebram quando atingido pela fraqueza. O All-Out é um golpe poderoso em área, e atinge muitos inimigos simultaneamente. Em chefes, este golpe também apresenta uma animação própria (muito cool por sinal).
Além das habilidades, cada personagem tem suas próprias armas e combos. Conforme lutam, eles vão liberando novos combos e ataques mais poderosos. Porém, conhecer e usar estes combos não é tão crucial quanto as fraquezas elementais. Geralmente, você pode passar as batalhas usando as magias certas e o “combo de um botão só”.

Por último, a sua “carta na manga” em qualquer batalha, e novidade nesta versão, é a habilidade “Showtime”. Embora poderosa, seu uso é bem limitado, pois, é uma habilidade que precisa ser carregada durante as batalhas. Quanto mais magias e combos fizer, mais rápido ela carrega. Semelhantemente, ao trocar de personagem, você recebe um boost à velocidade de carga deste especial.
Além disso, cada personagem tem sua própria barra de Showtime, que causa um ataque poderoso, atingindo todos os inimigos. Ela pode dizimar os monstros mais fracos, além de atordoar chefes. Portanto, é uma habilidade que muda o rumo da batalha.
Novo Persona, Mesmo Estilo
Inegavelmente, Persona 5 é um dos jogos mais estilosos já feitos. Sua atitude jovem e anárquica se traduz no design de personagens e até em seus menus. Strikers mantém esta tradição, apresentando uma arte e design tão bons quanto os originais, e adicionando mais “atitude” ainda.
Sempre que utilizam de um golpe especial, como o Showtime, a ação para e uma pequena cutscene mostra o golpe sendo executado. Cada personagem tem sua própria pose e frase de efeito durante a animação. Isso contribui para o aspecto “Cool” dos Phantom Thieves e engrandece a experiência.
Fora das batalhas, o jogo conta sua história através de (muitos) diálogos e cutscenes ao estilo anime. E, já que a história se passa em uma viagem pelo país, desta vez podemos visitar diversas cidades e muitos cenários diferentes. A apresentação das Prisões também está muito bem trabalhada, sendo que cada uma apresenta uma temática diferente.

Porém, há um ponto a se reclamar dos gráficos, pelo menos na versão de Switch. Pois, aqui a falta de um anti-aliasing é visível, com o jogo contendo muitos serrilhados. Além disso, o pequeno Draw distance também é algo que incomoda, pois os detalhes dos cenários só aparecem quando estamos quase do seu lado.
Além do visual, a trilha sonora também está cheia de ótimas músicas novas. Em especial, a nova música de batalha Daredevil, é viciante e tem a ótima qualidade de não ser enjoativa, mesmo depois de 50 horas de jogo.
It’s Showtime
Persona 5 Strikers é uma incrível continuação para um dos melhores RPGs de todos os tempos. Apesar de ter um sistema de combate diferente, conseguiu adaptar tudo o que tornou o combate do original viciante. Além disso, trouxe uma história extremamente cativante, que proporciona mais um momento com estes personagens tão carismáticos.
Apesar de todos os seus acertos, senti que foi um jogo que se extendeu mais do que o necessário. Seus últimos capítulos acabam sendo cansativos, com dungeons muito longas e batalhas intermináveis. Porém, o final dessa história vale à pena, e novamente nos deixa com um aperto no coração de ter que deixar estes personagens novamente.
Para finalizar, Persona 5 Strikers é um jogo muito recomendado para que adora Persona, mesmo que não goste do estilo Musou. Com uma arte fantástica, músicas viciantes e jogabilidade divertida, é facilmente um dos melhores Action RPG que já joguei, assim como o original é um dos melhores JRPGs.
* Chave Cedida para análise