Retrace: Memories of Death tem uma proposta tão explícita que o seu título já entrega: retraçar suas memórias para alcançar finais diferentes.
Mas, ele também é um exemplo do que acontece quando essa mecânica não é abordada da maneira correta.
Desenvolvido pela eastasiasoft e Spider Lily Studio, ele foi lançado em 21 de fevereiro de 2021 para PS4, Switch e XONE.
O passeio que deu errado
Qual é o melhor programa para se fazer com os amigos reunidos? Ir em um tour de locais assombrados é claro! Mas, não é isso que Freya e seus amigos fazem em Retrace: Memories of Death.
O plano era esse. Porém tudo começa a dar errado quando Owen, Lucas, Freya e Mia se reúnem no ponto de ônibus. O chão começa a tremer e você tem que fazer uma escolha: a mão de qual dos seus amigos você segura?
É depois dessa breve introdução que Retrace começa e você logo entende a proposta do jogo. Ela é, literalmente, sobre retraçar suas escolhas e alcançar o final verdadeiro.
Dependendo de quem você escolhe no começo, Freya acorda em cômodos diferentes de uma mesmo lugar. Uma espécie de escape room com direito a uma capela, uma sala de estar e até mesmo uma masmorra.
Seu objetivo agora é resolver os puzzles, encontrar seus amigos e escapar! Mas nada vem fácil em jogos assim, não é mesmo?
E como citado acima, você terá que retraçar seus passos em rotas diferentes para desbloquear todos os finais necessários para descobrir a verdade!
Por que Freya e seus amigos foram parar ali? Que lugar é esse? Como escapar? Quando que Lucas e Owen vão finalmente namorar? E quem é Claire, a misteriosa garota de vestido branco?!!!
Essas são algumas das perguntas que Retrace apresenta ao jogador. Muitas delas são respondidas ao longo das rotas, mas outras infelizmente não tem uma explicação aprofundada.
Ao terminar Retrace, você tem a sensação de que tudo foi resolvido fácil demais. Ele é um jogo curto, mas só se você sabe para onde ir.

Se encontrar para se perder!
Em Retrace, é fácil se perder e até mesmo refazer rotas já completadas. A sensação de avançar na história é que ela tem uma linearidade não-linear.
Isso mesmo! Você não leu errado e eu explico.
Só existe um único objetivo no jogo: sair daquele lugar com todos os seus amigos vivos. E você sabe que vai ter que fazer diversas rotas que vão completar umas às outras.
Mas o jogo não te dá uma ordem certa nos acontecimentos. E isso acaba deixando a história confusa.
Em uma das rotas, um dos amigos de Freya se sacrifica para proteger Lucas. Você, controlando a protagonista, deveria encontrar o corpo desse amigo antes de falar com Lucas. Entretanto, eu acabei invertendo a ordem.
O jogo não me impediu de encontrar Lucas antes, e os diálogos que seguem esse encontro já assumem que eu encontrei o corpo!
Já cheguei em pontos chave da história em que um personagem aparecia no diálogo, mas ele não estava presente no ambiente.
São detalhes assim que deixam Retrace confuso e perdido na sua própria história.

Retraçando as memórias
Embora confuso, Retrace é bem simples de jogar. Você controla Freya, interage com os personagens e ambientes e faz escolhas em certos diálogos.
Entretanto, o que realmente diferencia o jogo de uma visual novel clássica ou um jogo de puzzle pixelado é justamente a sua proposta principal: o replay das rotas.
Ao total, existem 6 finais que você necessariamente tem que fazer. São dois para cada um dos três amigos de Freya.
O mais divertido de Retrace é ver como Freya começa a atender suas próprias escolhas nas rotas e como evitar que seus amigos morram.
Mas, novamente, a liberdade que o jogo te dá acaba mais atrapalhando do que ajudando. Muitas escolhas não ficam claras e alguns finais obrigatórios não são óbvios.
Entretanto, o jeito que o jogo aborda isso é bem didático. Depois que você faz um final, Freya tem um encontro com Matema. Uma criatura sobrenatural que lhe explica toda a mecânica de retraçar suas escolhas.
Ela fica em uma realidade separada com 5 pedestais. Cada um deles representa uma parte da história na qual você pode recomeçar e fazer diferente.
Quando você faz os 6 finais, só resta um pedestal. E é ele que vai te levar aos finais verdadeiros do jogo.
Uma mecânica inovadora, porém, muito repetitiva. Na maioria das vezes, você vai precisar passar por diálogos e puzzles que já resolveu antes.
Um outro grande problema encontrado na gameplay é que muitas vezes, eu precisava realizar uma ação em uma rota. Mas, se eu voltasse no ambiente em que ela deveria ser feita, o jogo não me deixava realiza-la.
Ou seja, eu precisava voltar para o começo e refazer mais coisas do que o pretendido.

Arte e trilha sonora
Com seus elementos de visual novel, Retrace traz retratos dos personagens nos diálogos e ilustrações para acontecimentos importantes.
Com a sua atmosfera misteriosa, os retratos lembram bastante algo saído de um filme do Tim Burton. Ou seja, combina muito!
Na hora de jogar, tudo é pixelado. É engraçado quando você percebe que, por mais que seja um estilo simples, o jogo não funcionaria tão bem com outro estilo de gráficos.
Um fato curioso da arte de retrace é que você pode ligar ou desligar o ‘gore’ do jogo.
Quanto a sua trilha sonora, ela infelizmente não é memorável. Isso não quer dizer que ela é ruim hein!
Mas, ela só não te faz prestar atenção nela. É o tipo de trilha que vai ajudar na ambientação do jogo, mas para por aí.

(Re)faça!
Retrace: Memories of Death tem uma proposta muito interessante de fazer e refazer caminhos para poder salvar seus amigos.
Embora muitos diálogos sejam repetidos, existe ali todo um desenvolvimento dos próprios personagens e dos seus relacionamentos.
Ponto positivo para a representatividade também! Nenhum hétero à vista, a natureza está se curando!
Ao fim, Retrace tem bons personagens e uma boa proposta, mas acaba se perdendo em sua própria mecânica.
*Chave cedida para análise
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