Compreendendo o que o jogo quer dizer.
Existem inúmeras maneiras de tornar um jogo mais difícil. Uma desenvolvedora pode simplesmente aumentar o dano que a pessoa jogando recebe, tornar os inimigos mais resistentes e só. Contudo um destaque maior deve ser dado aos jogos que fazem com que você, ao jogar, passe a ter um maior domínio das mecânicas do jogo.
O que queremos dizer aqui com “dominar mecânicas” é um maior entendimento e intimidade com o que o jogo apresenta e exige de quem o joga. Veja só, frase digna de ensaios sobre jogos no Youtube.
Vale ressaltar que não é defendido uma lógica que trata jogo difícil como sinônimo de jogo bom ou melhor. Porém, quando mesmo jogando no modo mais fácil ou no mais difícil uma obra consegue manter (e aprimorar) a experiência apresentada, merece destaque.
Para ficar ainda mais claro o que estamos querendo comentar, vamos imaginar um jogo. Pegue então algo estilo Devil May Cry, cujo combate é baseado em golpes de longa e curta distância, tendo ênfase em combos e estilo.
Um excelente cenário em um jogo assim seria um que, conforme você aumente a dificuldade, mais você deve interagir com os combos e nuances do combate. Todavia, imagine que, ao aumentar a dificuldade, desequilibre todo o sistema. Colocando adversários muito resistentes e seu personagem ficando muito fraco, fazendo com que a única maneira viável de jogar seja ficar no canto da tela e atirando. Pois é, deixou de ser divertido.
Dito isso e lembrando que a melhor forma de explicar algo é com exemplos, por que não analisar um jogo que não consegue manter a sua qualidade e identidade em suas muitas dificuldades?

A desnecessariamente difícil trilogia de Nathan Drake.
Sejamos honestos, você conhece Uncharted. A saga inquestionavelmente épica de Nathan Drake é um dos sinônimos do console da Sony. A qual, junto com a franquia “irmã”, The Last of Us, é um dos melhores motivos para se ter um Playstation.
Infelizmente, nem tudo é perfeito. Vejam, o sistema de combate presente na trilogia original é perfeitamente funcional e extremamente divertido. Ele combina elementos de tiro sobre cobertura – igual à outra série que iremos abordar mais adiante – com um aspecto mais acrobático, o qual remete a filmes como Indiana Jones e A múmia.
Porém o problema nasce quando elevamos a dificuldade. Claro, o impacto da elevação não é tão imediatamente grande ao passar da opção “normal” para a “difícil”, tanto que este é o modo recomendado por este simples colaborador. Porém, já inicia a redução do acervo de técnicas que não significam derrota imediata.
Ao se aventurar nas maiores dificuldades oferecidas, os comicamente numerosos adversários recebem uma absurda quantia de saúde e passam a causar muito dano. Qualquer estratégia que não envolva se agachar por trás de uma cobertura e vez ou outra dar alguns tiros está fadada ao fracasso. Dessa forma, o jogo ativamente pune quem tentar ter um domínio das mecânicas presentes nele e força o jogador a adotar um estilo de jogabilidade menos dinâmico.
Assim sendo, quanto maior a dificuldade selecionada, menos o jogador, efetivamente, joga Uncharted.
Mas nem tudo são más notícias. Com o aprendizado vindo com o tempo e com a criação de uma nova franquia (The Last Of Us), os desenvolvedores conseguiram lapidar o sistema existente. Elevando a saga para um maior patamar de qualidade.
Com isso, Uncharted 4 e, principalmente, The Lost Legacy, acabaram sendo excelentes jogos de ação, os quais fazem um ótimo uso das mecânicas presentes. Além de usarem ganchos para se locomoverem, o que é ótimo, pois todo e qualquer jogo ficaria melhor com um gancho.
Agora, indo para o lado verde da força, iremos analisar como uma outra franquia consegue se adequar com os desafios. Pois se a trilogia original de Uncharted fica cada vez mais parecida com Gears Of War conforme a dificuldade aumenta, nada melhor do que ver como o próprio Gear of War lida com isso.

Estratégia, ação e o domínio das mecânicas em Gears Of War.
Por ser essa pessoa objetivamente maneira, você também deve conhecer Gears of War. A franquia de combate estratégico da Microsoft é, assim como Uncharted para Playstation, um dos motivos para se ter um Xbox.
Mas o que é possível você não saber, é que no manual de instruções da versão física para computador (nossa, tudo nessa frase é velho), há um texto escrito pelo criador da série, Cliff Bleszinski.
Nesse pequeno comentário, o criador partilha sua visão sobre a franquia. Sua criação veio do objetivo de proporcionar uma experiência de combate estratégico similar a jogos como Rainbow Six, porém que se movesse de forma mais rápida.
E essa é uma das razões por trás da qualidade da saga. Em todos os jogos, o combate é tão visceral quanto é estratégico.
Por mais que o jogador controle personagens gigantescos portando armas igualmente gigantescas, a chave para a vitória está em posicionamento consciente durante o combate, procurar constantemente formas de flanquear os adversários e reconhecer o momento certo para avançar e recuar.
Pode parecer surpreendente para uma pessoa não familiarizada com a série, mas a saga tem considerável semelhança com jogos táticos no estilo X-COM. Tanto que, ao produzir Gears Tatics, um jogo da franquia com um enfoque maior na estratégia, tal adaptação conseguiu ser bem-feita e bem recebida.
Em razão das escolhas de design da obra, quanto maior a dificuldade selecionada, melhor a jogadora deve jogar. Ao selecionar um desafio mais elevado, o domínio das mecânicas que já estavam presentes no nível “fácil” será essencial para o sucesso.
Isso tudo aliado ao fato de a inteligência artificial dos adversários ser de excelente qualidade. Eles constantemente usam cobertura, evitam levar dano e tomam conta de seus camaradas, em outras palavras, seus adversários querem ganhar tanto quanto você.
Todos esses aspectos colaboram para trazer uma experiência que consegue manter sua essência em qualquer dificuldade selecionada. Fazendo então que aquilo que o jogador aprendeu em um nível mais amigável seja válido nos mais exigentes.
É importante lembrar, mais uma vez, que nada é perfeito. O primeiro jogo da franquia, por exemplo, sofre de dois defeitos graves. Ele é o único com uma inteligência artificial ruim para seus companheiros, fazendo com que você necessite constantemente “tomar conta deles”. Isso sem mencionar que a mecânica de ressuscitar aliados, essencial para o progresso, não funciona para quem está jogando quando em partida solo.
Vale ressaltar que tais defeitos estão presentes na versão remasterizada da obra, a qual lançou naquela que hoje é a geração passada (Xbox One). Como dizemos no âmbito jurídico, a Coalition peidou na farofa.
Porém, mais uma vez, essa é a única mancha em uma excelente franquia de jogos, os quais são todos (até o primeiro mesmo) fortemente recomendados por este colaborador. Contudo, vale lembrar que Gears of War não é o único jogo a “fazer dificuldade” corretamente.

Domínio de mecânicas em outros jogos.
Uma desenvolvedora que merece bem mais crédito do que recebe é a Respawn. Pode ter apenas dois jogos Single Player em seu repertório, mas os antigos membros da Infinite Ward (sim, de Call Of Duty), sabem elaborar jogos com mecânicas refinadas.
A destreza e o domínio das mecânicas de combate são essenciais em suas obras, estas sendo TitanFall – Principalmente o 2º – e Jedi: Fallen Order. Os jogos conseguem ser extremamente convidativas em suas dificuldades mais baixas, porém jamais injustos em suas mais elevadas. Sendo um tantinho chato, no caso do Fallen Order, tem uns chefes opcionais mais complicados, porém são opcionais por um motivo…
Para finalizar, seria um crime não mencionar a nova saga de DOOM. Os jogos utilizam sistemas de combate que permitem à jogadora, sendo mais agressiva, manter-se constantemente com saúde e munição. Isso se traduz em um loop de jogabilidade o qual, quanto mais difícil o jogo estiver, mais agressivo você deve ser.
Contudo, falar de DOOM é coisa para outro tópico, de difícil (HUMOR E PIADAS) abordagem no presente artigo. Ah, e só para lembrar, não há nada de errado em dar crédito a si mesmo por jogar no modo difícil. Mas se você é o tipo de pessoa que ridiculariza quem joga no fácil, você fede, isso é um fato científico. E contra fatos não há argumentos.