Introdução
No mundo dos jogos eletrônicos, as diferenças regionais impactam diretamente em quais jogos alguém pode conhecer dependendo da parte do mundo que mora. Dada essa diferença, muitos jogos têm sua classificação relacionada a seu local de origem. Por isso, devido a sua singularidade, existe uma expressão para determinar um tipo de jogo que possui características da terra do sol nascente: jogos japoneses.
O que é um jogo japonês?
Jogo japonês é um jogo como qualquer outro. Porém, possui características que agrada, e muito, o público de sua terra natal. Então, há jogos japoneses de aventura, ação, RPG, luta e mais outros diversos tipos. O ponto crucial de diferença é que os elementos que compõem o jogo são bem familiares ao povo oriental. Não apenas em visual, mas em temática, ambientação, referências, etc.
Geralmente, esses jogos não possuem a intenção de serem exclusivos do outro lado mundo. Em contrapartida, por vários fatores, o público ocidental acaba não conhecendo esses jogos. Dessa forma, perdemos várias pérolas orientais por não chegarem a este lado do mundo.
Existem vários fatores que explicam isso. Tentaremos conversar sobre alguns deles. Não quer dizer que apenas esses motivos interferem. Às vezes, pode ser apenas um deles ou uma junção de razões.
Diferenças culturais
Colocando de forma bem simples, a cultura de cada país é diferente. Ou seja, o que pode ser interessante em algum lugar, pode não o ser em outro. Por exemplo, dependendo da região que o leitor mora, pode achar estranho comer açaí salgado.
Com isso, temos nosso primeiro exemplo: Sonic – The Hedgehog. Sonic foi criado para ganhar o mercado Estado Unidense. Ele possui características de personagens bem populares no ocidente como ser mais despojado, rebelde e convencido. Porém, esse perfil não agrada muito o público japonês. O qual tinha preferências por coisas mais kawai (fofinhas). Inclusive, nos fliperamas da SEGA no Japão, quase não há referências ao ouriço azul.

Dificuldade dos jogos
Os jogos japoneses possuem fama de serem mais difíceis. Salvas algumas exceções, quando um jogo é feito por uma empresa japonesa para ganhar o mercado ocidental, ele ganha um pouco mais de acessibilidade.
A continuação de Super Mario Bros teve duas versões em razão da dificuldade. O motivo é que o jogo japonês seria difícil demais para o público norte americano. Assim, aproveitando a popularidade do bigodudo, a Nintendo lançou outra versão Super Marios Bros 2 utilizando a base de um outro jogo: Yume Kōjō: Doki Doki, alterando apenas os sprites.
Dessa forma, a versão americana do segundo jogo do Mario ficou conhecido no oriente como Super Mario Bros USA. Do outro lado, a versão japonesa ficou conhecida no ocidente como Super Mario Bros – Lost Levels. As duas versões ficaram disponíveis para todos os públicos a primeira vez na coletânea Mario All-Stars para Super Nintendo.

Licença de propriedades
Exibir um anime fora do Japão tem um custo alto. Afinal, quem paga a licença terá um retorno econômico. Geralmente, essas licenças vão além da exibição. Estão relacionadas à venda de produtos oficiais como bonecos, colecionáveis, etc. Assim, quem paga pela licença de uma série se torna o “dono” dela na região. No Brasil, temos um caso emblemático: Cavaleiros do Zodíaco.
A extinta TV Manchete conseguiu os direitos de exibição do anime série Cavaleiros do Zodíaco. Não apenas disso, mas de venda de produtos relacionados também. Para outro canal poder exibir, tinha de esperar o direito de exibição da TV falida acabar ou comprar dela o direito. Isso, falando de forma resumida.
Dessa forma, quando alguém vai desenvolver um jogo baseado em um anime, tem que pagar pela permissão de utilização de imagens dos personagens e tudo mais. Assim, quando uma série é transmitida em outro país, a desenvolvedora ou Publisher tem de pagar para os detentores dos direitos de exibição do anime daquela região para lançar o jogo ali. O que deixa o custo de produção mais caro.
Em 2008, lançou um jogo bom, mas sem muita repercussão e alcance: Tatsunoko vs. Capcom: Cross Generation of Heroes e Ultimate All Stars. O jogo incluiu personagens pouco conhecidos no ocidente além de ser exclusivo para o Nintendo Wii e arcade.
O jogo quase não saiu das terras nipônicas devido ao licenciamento de personagens. Tatsunoko Production, dona dos direitos de todos os personagens, pôde facilmente liberar as licenças dos personagens no Japão. Enquanto no ocidente, as licenças estavam divididas em várias empresas: Saban Entertainment, Inc., Urban Vision Entertainment, Inc., FUNimation Entertainment, Time Warner, Inc e outras. Isso dificultou a entrada do jogo e resultou em exclusão de personagem: Hakushon Daimaou, vindo do anime de mesmo nome.
Mercado
As pessoas que são da época do cartucho podem confirmar: jogos baseados em anime dificilmente tinham tradução para o inglês ou qualquer outra língua ocidental. Isso ocorria porque muitos animes ficavam restritos ao Japão e talvez não havia retorno financeiro em localizar um produto baseado em personagens que pouca ou nenhuma gente conhecia.
Além do problema das licenças, há o custo das traduções. Afinal, tradução é algo mais complexo de que apenas passar palavras de uma língua para outra. Exige adaptar regionalidades e expressões para que façam sentido ao público da outra língua. Tudo isso tem um custo. Afinal, contratar profissionais dentro ou fora do país de origem do jogo não sai barato. Além do quê, os desenvolvedores precisam substituir os textos originais pelos traduzidos. Muitas vezes, esse trabalho é terceirizado. Assim, corresponde a um custo maior de produção. Isso faz os desenvolvedores pensarem um pouco mais se vale à pena internacionalizar um jogo.
Há também aqueles jogos que não possuem um público expressivo no lado ocidental do planeta. Sabemos que japoneses jogam de tudo e um pouco mais. Entretanto, alguns gêneros não fazem muito sucesso fora de terras japonesas. Por exemplo, as Visual Novels. Ainda que recentemente alguns títulos sejam traduzidos e vindo para o ocidente, não chega a ser um número expressivo em relação ao que é produzido lá.
Outra questão que dificulta o acesso aos jogos japoneses é o das desenvolvedoras pequenas. Porque, considerando tudo o que foi falado até aqui sobre custos, tradução e etc, as pequenas desenvolvedoras japonesas arriscam em um mercado que conhecem. Por essa razão, o jogo fica restrito ao público japonês.

Ainda bem que há as Publishers
Game Publishers são aquelas empresas que ficam com a parte de divulgar e distribuir os jogos em determinadas regiões. Dessa forma, elas têm um papel fundamental em deixar jogos japoneses mais conhecidos no mundo. Em resumo, elas são um elo de ligação entre os lados ocidental e oriental.
De forma curta, o papel de uma Publisher funciona da seguinte forma: elas analisam o mercado consumidor de um país. Em seguida, veem se há viabilidade de lançar determinados jogos em determinadas regiões. Por fim, realizam o contrato com as desenvolvedoras.
Por injetarem uma boa quantia de dinheiro, elas escolhem cuidadosamente qual jogo oriental pode ter maior aceitação no mercado ocidental. Como recompensa, ficam com parte dos lucros.
Nós já mencionamos a PQube no site, mas existem várias outras Publishes, por exemplo, a Atlus e até a própria SEGA. Graças essas empresas, tivemos acessos a jogos que ficariam isolados do outro lado do mundo. Evidentemente, gostaríamos de mais jogos, mas hoje entendemos que as coisas não são tão simples.
Conclusão
Joguinhos japoneses são legais e curtimos bastante. Por isso, é uma pena que ainda não tenhamos acesso a várias pérolas orientais. Seja pela barreira da língua ou por oportunidade de pôr as mãos em um jogo desses. Ainda bem que bem que existem as Game Publishers. Pois elas conseguem ocidentalizar esses jogos para possamos nos divertir.
Referências
1up.com; Quora; Producaodejogos; GarotasGeeks; UOL; Wikipedia; PTanime; arara.me; crieseusjogos