Mas então, o que que é o Game Pass?
A trajetória do Game Pass é muito peculiar quando pensamos um pouco. O serviço por assinatura veio ao mundo oficialmente em 2017 e, sem nenhum comentário direto da Microsoft, substituiu todos os demais serviços no Xbox.
Vejam, caso você tenha algum Xbox – ou mesmo um PC – há uma considerável chance de você ter o Game Pass. E, caso não tenha, recomendo que considere ter. Raramente um serviço “opcional” consegue ascender ao ponto de ser insubstituível do objeto que o carrega.
Possuir uma assinatura “Live Gold” (a qual permite jogar online) sempre foi algo que nunca se mostrou essencial para aproveitar o console. Afinal de contas, caso você não jogue online, não é preciso pagar por um serviço que oferece exatamente isso.
Contudo, é argumentável que tal assinatura passou a ser completamente irrelevante. Visto que, ao possuir o serviço Game Pass, a Live Gold vem embutida. Isso, aliado com o fato de também incluir a ferramenta “Xcloud”, que possibilita fazer streaming de jogos pelo celular, torna a oferta do referido serviço cada vez mais irrecusável.
Mas o quê o Game Pass oferece? Simples, jogos.
Não muito diferente do que ocorre com plataformas como Netflix, Disney+ e Amazon Prime, o serviço oferece a assinantes um imenso catálogo de jogos os quais têm total liberdade para baixar e jogar. O único ponto de tensão é que jogos feitos por desenvolvedoras da Microsoft são os únicos que jamais deixam o acervo, enquanto os demais estão disponíveis por prazos limitados, variando de alguns meses até mesmo anos.
Com 18 milhões de assinaturas (alcançou tal número em janeiro de 2021), o serviço é incontestavelmente um sucesso. Tamanha é sua notoriedade que é considerado parte essencial da experiência Xbox, tendo iniciativas como a disponibilidade de alguns de seus jogos – o que inclui todos das desenvolvedoras da Microsoft – na data de seu lançamento.
Todavia, mais do que uma opção maneira com um nome legal, o serviço mudou e continua a mudar a cara da indústria. Trazendo maneiras surpreendentes de jogar e desenvolver jogos, o Game Pass pode não ser a totalidade do futuro dos Videogames, mas será uma considerável parte dele.

Acessibilidade financeira.
Jogos são caros. Não, não “eram” caros ou “estão” caros. Videogames sempre foram um ramo da arte particularmente caro e, se o quadro atual não mudar, continuarão sendo por um bom tempo.
Eu não sei você, lindíssima pessoa lendo este artigo, mas eu não sou feito de dinheiro. Particularmente, acho inconcebível gastar R$ 350,00 em um jogo que não venha com um livro de artes, uma miniatura, CD (ou vinil, pois sou chique) de trilha sonora E algum item de vestuário, a exemplo da curiosamente pequena mochila da edição especial de Resistance 3. Excelente jogo, por sinal.
Claro, caso VOCÊ possa – e esteja tranquila com o ato de – arcar com tal custo, não há problema algum. Não queremos aqui julgar ninguém.
Contudo, é inegável que o alto custo dos jogos é um fator consideravelmente proibitivo quanto a quem pode ter acesso a um jogo. E é exatamente nesse ponto que o Game Pass brilha, principalmente no Brasil.
Com os custos de um jogo chegando aos previamente mencionados R$ 350,00, uma considerável parcela da população simplesmente não poderia ter acesso a esse ramo do entretenimento. Agora, mude essa quantia para uma anualidade a qual custa, no pior cenário, R$ 450,00 (podendo sair por R$ 250,00) e oferece mais de uma centena de jogos.
Obviamente, não se torna um valor que magicamente todos podem arcar. Porém, é inegável que é muito mais favorável para uma considerável parte do público. Parte essa que não teria como continuar apreciando o ramo da arte que tanto ama em condições diversas.
É importante tocar na tecla de como o combo Xbox Series S junto com o Game Pass garantiu que não só muito mais pessoas pudessem adentrar na nova geração de uma maneira financeiramente viável, como também as permitiu fazer isso com uma invejável biblioteca de jogos.
Agora, se o Game Pass permite que alguém economize dinheiro, ele também consegue garantir que alguém consiga dinheiro?

Game Pass e o suporte para a inovação e experimentação
Vamos fazer um exercício de criatividade. Imagine que você trabalhe fazendo jogos. Obviamente, você ama o que faz. Porém, também não pode esquecer que o sucesso financeiro de seu jogo é determinante sobre o fato de você ter o que comer e ter uma cama para dormir.
Diante disso, você prefere arriscar seu futuro fazendo um jogo experimental artístico ou vai produzir um jogo de tiro genérico, mas sabe que trará dinheiro e atenção? Pois é, uma escolha bem difícil.
Jogos são caros para comprar, mas também são caros para serem feitos. Diante disso, fazer algo diferente e ousado é sempre um risco. Ainda que histórias de sucesso como Undertale e Hades sejam inspiradoras, para cada jogo de sucesso há dezenas que não têm uma chance.
E esse é um outro aspecto da qualidade do Game Pass. A forma como jogos recebem o suporte financeiro da Microsoft varia de caso a caso, adequando-se às necessidades de suas respectivas desenvolvedoras.
Em algumas situações, calculam o lucro no número de vezes que um jogo é baixado. Já em outras, a desenvolvedora recebe o dinheiro na forma de um único pagamento antes do jogo entrar no serviço. Há até mesmo situações nas quais a Microsoft financia o desenvolvimento e lançamento da obra, em troca de estar disponível no acervo na data de seu lançamento.
Essa garantia de retorno financeiro permite que quem cria jogos possa se sentir mais confortável na hora de produzir. Vejamos o caso de The Medium.
Ele é um jogo de horror. Contudo, ao invés de ser similar a obras como Resident Evil e Silent Hill, nas quais o combate faz parte considerável da experiência, The Medium está mais próximo dos jogos de aventura Point n’ Click. Dessa forma, além de serem – em regra – desprovidos de combate, têm um foco maior na história e quebra-cabeças.
Sejamos sinceros, alguém que teria um orçamento limitado, iria preferir gastar R$ 150,00 em um jogo experimental, não tendo certeza de que irá gostar, ou em um Call Of Duty da vida?
Nesse caso, o Game Pass passa por cima completamente da barreira financeira. Mesmo alguém que nunca tentaria o jogo em um cenário que tivesse de comprá-lo poderia dar uma chance a ele, uma vez que a única barreira que o serviço necessita que essa pessoa ultrapasse é a dela ser curiosa o suficiente para experimentar a obra.

Uma segunda chance para determinados jogos.
Esse é um tópico que merece um artigo só para si, porém é interessante abordá-lo aqui. Você conhece Fallout 76? Para quem não sabe, o jogo é uma considerável tentativa de levar a franquia para o cenário online. Tendo como um dos principais feitos a façanha de unir críticos e fãs na opinião de que era muito ruim.
Escolhas de design, a (quase) ausência de uma trama e atitudes de seus responsáveis na interação com a comunidade colocaram uma (merecida) luz negativa sobre a obra. Todavia, ela não ficou parada no tempo.
Inúmeras atualizações não só corrigiram as péssimas escolhas de design, como também acrescentaram verdadeiras campanhas ao jogo, com personagens, tramas, escolhas e consequências.
Contudo, é um pouco difícil convencer alguém a pagar uns R$ 100,00 para dar uma chance a um jogo que, tempos atrás, possuía inúmeros defeitos. Mas, vejam só, esse jogo está no Game Pass.
Como faz parte do acervo, uma jogadora interessada em dar uma chance não precisa investir dinheiro algum para verificar se as melhorias aplicadas conseguiram salvar o jogo. E falando de experiência própria, salvaram sim.
E isso não é algo relacionado apenas com Fallout 76. Jogos como No Man’s Sky e Wolfenstein The YoungBlood foram capazes de lapidar seus sistemas e adicionar conteúdos valiosos para melhorar as suas experiências, as quais eram, originalmente, de qualidade questionável.
Fato curioso: Fallout 76 foi tão azarento que um capacete vendido como merchandising do jogo teve de ser recolhido pois atraia mofo com tremenda facilidade. Legal, né?

O futuro da indústria com o Game Pass.
Seria, de certa forma, covarde apresentar um texto sobre o Game Pass sem falar nas incertezas e válidas críticas. E como somos mocinhas e mocinhos corajosos (e bonitos), vamos em frente sem medo.
Inicialmente, é válido questionar os ricos que podem ser trazidos caso, no futuro, algo vier exclusivamente para o serviço. Nessa situação, o questionamento de “você realmente tem propriedade sobre seus jogos?” iria para um novo patamar.
Na atualidade, ao comprar um jogo pelos serviços de um console e grande parte dos disponíveis para PC, não se compra verdadeiramente o jogo. Surpreendentemente, compra-se uma licença para ter acesso a ele.
Exemplo: quando compra um jogo na Steam, você não recebe um instalador para o arquivo do jogo ser só seu. Você recebe a possibilidade de baixá-lo e jogá-lo pela Steam, isso também é verdade para os consoles.
É argumentável que, caso jogos passassem a existir unicamente no serviço, esse problema seria ainda mais aprofundado, pois nem mesmo a licença seria da usuária.
Outro ponto: haveria a possibilidade de uma desenvolvedora ser obrigada a utilizar o Game Pass para ter visibilidade no mercado de jogos. Sendo, de outra forma, o seu jogo perdido no emaranhado de outros lançamentos e não recebendo a devida atenção. Podendo chegar, em um cenário mais crítico, em uma realidade na qual o jogo, para estar presente no console, seja obrigado a se disponibilizar no Game Pass.
Há o questionamento da manutenção do valor. Enquanto hoje em dia é consideravelmente acessível, quem pode dizer se, alguns anos no futuro, o valor venha a subir de uma forma que o torne mais uma vez proibitivo e faça com que as pessoas tenham de escolher entre pagar mais caro ou perder seus jogos?
Por fim, temos o hipotético fim das lojas físicas. Com a facilidade prática e econômica de ter seus jogos pelo Game Pass, há a noção de não existir mais motivos de se ter uma versão física. Resultando na inviabilidade financeira das lojas reais.
Todavia, não podemos esquecer de que todos esses pontos não passam de suposições.
Desde sua criação em 2017, o serviço não veio a substituir nada (com exceção de Live Gold, falamos dela previamente), apenas agregou. O Game Pass, para alguns, passou a ser mais uma alternativa sobre como irão consumir jogos.
Contudo, para muitos, ele é a única porta de entrada para o mundo dos videogames. Seu preço, ao longo dos anos, manteve-se justo e seu acervo sempre extenso. E quando dizemos “para muitos”, não estamos falando unicamente de jogadoras.
Diversas desenvolvedoras cujas ideias para jogos seriam arriscadas demais para tentar no mercado convencional encontraram no Game Pass uma forma de garantir um bom retorno financeiro e alcance para suas criações.
Até mesmo empresas que antes desdenharam a ideia passaram a adotar uma forma dela. A Sony, ao lançar o Playstation 5, disponibilizou uma modesta, porém considerável biblioteca de jogos para os assinantes de seu serviço que permite jogar online.
Ainda que seja polêmica, este singelo colaborador partilha a opinião de que os preços proibitivos dos jogos da Nintendo é o que afasta grande parte de potenciais jogadores/compradores (incluindo ele mesmo) do excelente switch e de seus fantásticos jogos. Nesse cenário, um serviço similar ao Game Pass atrairia, incontestavelmente, muitas pessoas ao console.
Assim sendo, é incontestável o impacto e relevância do Game Pass (PEGA, falei o nome do artigo!) para a indústria de jogos. Seja disponibilizando um grande acervo para pessoas que não poderiam arcar com jogos individualmente ou garantindo o suporte financeiro a desenvolvedores com ideias arriscadas, o Game Pass revolucionou a forma como muitos jogam videogame.
E assim, ele tem TitanFall 2 em seu acervo. Não tem como ser ruim dessa forma.
Eu já utilizei o Game Pass algumas vezes em ocasiões de promoção, é inegável muitas das vantagens que ele traz, mas eu pessoalmente sou bem crítico a forma como ele opera em cima de consumismo e não de melhoria de preços. Como se trata de uma assinatura mensal, caso você queira fazer valer o gasto, jogar o máximo possível no mês se torna mandatório, se forem vários títulos, melhor ainda. Para ser justo, esse é um problema inerente a todo esse setor de conteúdo sob demanda.
Ele também não traz uma inclusão real, já que os jogos continuam caros e os preços de consoles nem se fala, ainda mais se pensarmos no cenário do Brasil atual, com pobreza extrema crescendo, desemprego, inflação e pandemia. É no máximo uma saída de curto prazo para quem tem alguma condição financeira e de manter um console ou bom computador.
No final quem eu vejo mais ganhando mesmo é a Microsoft mesmo, que atrela a ela uma base de usuários crescente, que cada vez mais é dependente para jogar e que no futuro fica a mercê da empresa, já que não é dona do que joga. No fim, aquele velho sonho das empresas de acabar de vez com a mídia física e a propriedade do jogador sobre o jogo, dá mais um passo.