Introdução
Já pararam para se perguntar, o que faz um clássico ser um clássico? Talvez a legitimidade que possui, para atribuir e definir padrões que são repassados de tempo em tempo, através do desenrolar do… tempo. Assim, pensar sobre o legado de System Shock, é uma tarefa difícil, pois muito mudou e se transformou, desde seu lançamento.
O período dos anos 80 e 90, foi curioso no sentido de ascensão tecnológica, talvez seja pelo imaginário estar numa perspectiva de flutuação. Pense bem, nascer numa era onde Alien e Star Wars coexistiam, deveria ser extremamente excitante.
Assim, nascia System Shock em 1994, pelas mãos da conclamada Looking Glass Studios, a empresa que possuiria, algumas das mentes mais influentes da indústria de games, desenvolveria um clássico atemporal. Assim, carregando uma pesada influência pela série ”Ultima”, System Shock nascia para brilhar.
Vale ressaltar que, o sucesso de System Shock se deve principalmente à um mundo curioso e imaginativo, para o futuro. Talvez, System Shock possui uma das melhores atmosferas cyberpunk dos jogos, até hoje. Nesse artigo, conversaremos sobre a importância que o título de 94, possui na indústria, e definiremos ”O legado de System Shock” (que é bem extenso, por sinal). E, também, discutiremos sobre o que esperar do remake em produção, pela NightDive Studios.
Uma data curiosa

É válido notar que o título era muito diferente do que tínhamos para época, ao passo que tentamos definir o que é System Shock. Como antes dito, a data de lançamento do título é curiosa, pois, em 1994 não existia nada parecido com o game.
Talvez a série Ultima poderia se aproximar nesse sentido, mas já veríamos a definição de elementos consagrados por parte de System Shock, mais tarde, também utilizados por jogos como Super Metroid e Symphony of the Night.
A leitura que temos de System Shock, é de uma obra sci-fi com uma densa e imersiva atmosfera cyberpunk, que esculpe definitivamente, o gênero ”immersive sim” para a indústria de jogos. Immersive Sims, consistem na produção de narrativas atmosféricas imersivas, onde o game design é aliado da imaginação do player.
O Game Design
System Shock se destaca na criação de seu game design inteligente. Oferecendo variadas formas de resolver os problemas propostos, o título acaba por se distanciar de conceitos scriptados e lineares, portanto, fornecendo uma liberdade muito gostosa de experimentar.
Desafiando a lógica do jogador, e estimulando a criatividade do mesmo para o avanço, System Shock não tem medo de inovar ao encorporar estereótipos da época, no processo de storytelling. Mesmo que arcaíco, e tendo seus problemas resolvidos na sequência de 99, System Shock dá uma aula de game design.
Mesmo com certas ferramentas e mecânicas, que definitivamente não envelheceram bem, System Shock ainda possui o ”básico” que tu pode esperar, de um cult consagrado. De uma atmosfera recheada com sons que transmitem um tom de ”insegurança”, para sequências de tiroteio tático em corredores desolados, tudo ainda é muito bom. O legado e importância de System Shock, se ilustra na medida que o mesmo, define regras e conceitos importantes para a indústria.
Portanto, vale ressaltar que um dos fatores mais importantes da obra, é a sua trama. Trabalhando em volta de conceitos, do avanço tecnológico e precarização da vida humana, System Shock faz severas críticas ao capitalismo corporativo, que dominaria o mundo anos depois. E a forma que o faz, veremos a seguir.
A narrativa imersiva e inovadora
Se distanciando de gambiarras pragmáticas, usada frequentemente nos storytellings de RPGs da época, o design e writing de System Shock, rodou em volta de solucionar um simples problema: como se afastar, de storytellings massivos e chatos?
A solução foi simples e elegante: System Shock seria o primeiro jogo, a usar ”áudios” para a narração da história. Some isso, com a construção dos cenários e da atmosfera, e a inteligente jogada de linguagem visual, e temos uma história imersiva e única. Com ajuda da magnífica trilha sonora de Tim Rises, System Shock criava uma das mais únicas atmosferas cyberpunks da indústria.
Os chamados ”audio-diaries”, seriam tão influentes e importantes para a indústria, que até hoje títulos que sucedem espiritualmente o clássico, usam e abusam da ideia inovadora. Assim, o fato de System Shock não ter de fato nenhum NPC em sua trama, não acaba sendo um ponto negativo.
O que esperar?
Através desse texto, foi importante notar os tamanhos méritos que System Shock alcançou, num recorte de tempo onde nada disso existia. Sua influência é gigante, e jogos como Bioshock, Deus Ex e Prey, apenas levam adiante o imenso legado que System Shock possui. O jogo transpira elementos de sua época, elementos que até hoje são definidores de muitos gêneros, tais como os sci-fi. System Shock DEFINE sacadas que Immersive Sims, devem passar adiante.

O remake dirigido e produzido pela NightDive, por mais que mude de fato (por consequência da evolução gráfica) a direção de arte, ainda mantém os elementos chaves do clássico. O objetivo, nada mais é de reinterpretar um clássico, na sua mais devida essência.
E sinceramente? Esse é o devido tratamento que um título como System Shock, pode receber. Podemos segurar os ânimos por hora, mesmo que atualmente vivemos num período de revival de séries antigas, acredito que o remake de System Shock, está em boas mãos.
Afinal, devemos esperar grandes e belíssimas coisas, de uma empresa que se dedica exclusivamente, a ressuscitar tesouros antigos na indústria de jogos digitais. Se a NightDive Studios, conseguiu remasterizar System Shock 1 e 2, ela é a única que pode nos trazer um remake digno.