Um desafio difícil, mas comprado
Se você dissesse para o Otávio de 7 anos atrás, que teríamos um remake de Final Fantasy 7 Remake, ele provavelmente perderia o fôlego de tanto rir. Ainda mais, dizer para ele que em 7 anos, ele escreveria uma análise sobre FF7 Remake… muita piada para ele.
Mas, a verdade é que estamos aqui, em 2021, e o Otávio pôde ter a possibilidade e oportunidade de, não só presenciar, mas jogar um REMAKE de FF7. Já discutimos recentemente, sobre o legado e a importância de FF7 para a indústria, e agora, iremos para uma ”bizoiada” de perto na reimaginação.
Lançado no dia 20 de Abril de 2020, como um exclusivo (temporário) do PlayStation 4, a obra foi desenvolvida e distribuída pela Square-Enix. A ilustre desenvolvedora da série de JPRGs mais famosa do mundo, já prometeu que estará disponível (não se sabe quando) para as outras plataformas.
História: parecido, mas não igual
Ok, calma, eu não vou dar spoiler da história do jogo (mesmo que tenha mais de 20 anos de idade), mas temos pontos muito importantes para destacar aqui. Final Fantasy 7 Remake, definitivamente é uma reimaginação de muitos conceitos que marcaram o roteiro do original.
Muita coisa está igual, e muita coisa está… diferente e renovada. A direção de Nomura, antes apenas o designer das personagens originais, toma rumos muitos curiosos, e ruins. Vale a pena destacar que, tecnicamente falando, o Remake encerra por volta de um pouco antes, do primeiro disco do original encerrar.
O conteúdo desnecessário
Então, existe muito conteúdo novo e existe muito conteúdo filler. “Como assim filler?” você me pergunta, e eu vou te responder: coisas para fazer o jogo render. Não me entenda mal, existe uma linha muito tênue entre conteúdos secundários muito bem escritos e desenvolvidos, que podem ser vistos em ”Fallout: New Vegas” e ”Dragon Age: Origins”, e existem os famosos ”shit-to-do” que encontramos aqui e em tantos outros RPGs. Basicamente, são objetivos opcionais, que são mais uma encheção de linguiça do que propriamente um conteúdo necessário. Mal escritos, mal desenvolvidos e principalmente, mal executados. As side-quests do remake de FF7, são chatas e desnecessárias.
Como por exemplo, logo no início nos deparamos com uma porrada de missões secundárias, que possuem um intuito de… guiar o jogador. Entenda guiar, no sentido de orientar e salientar mecânicas básicas que encontrará através do restante do jogo. O único agravante, é que num total elas rendem facilmente duas horas de conteúdo filler. Até mesmo uma side-quest de 30 minutos, onde o objetivo é caçar gatinhos pelo mapa, poderia ter sido projetada de forma mais natural, se mostra ser um conteúdo facilmente ”passável.”
Num modo geral, as side-quests de FF7R não se sustentam como um conteúdo interessante. Passam a ser monótomas e entediantes, independente da fase ou capítulo que esteja, e nada memoráveis.
E a parte boa?
Porém, nem tudo é isso. De certa forma, muitos rumos diferentes foram tomados na campanha principal, rumos que me impressionaram. Existe uma dedicação muito mais poética e bonita, no desenvolvimento de personagens secundárias, que no original, não tinham nenhum desenvolvimento. Personagens secundários, como os próprios ”novatos” da Avalanche, possuem um desenvolvimento muito mais limpo e interessante.
A personagem Jessie por exemplo, passa a ter um arco totalmente dedicado a seu desenvolvimento e background. Salientando até mesmo, o desenvolvimento de uma química (ui ui) com nosso garanhão Claudião.
Concluindo, a história principal (agora sustentada com esse novo conteúdo, já esperado de um remake) continua mágica, fantasiosa e elegante. Portanto, some isso com os rumos políticos que já existiam no original, e temos uma história que no fim, agrada muito.

Não existem mais polígonos, o jogo está ruim?
Já se passaram 24 anos desde o lançamento de Final Fantasy 7, e é óbvio que a tecnologia, evoluiu muito nesse tempo. Consequentemente, a direção de arte mudou, e o formato da criatividade foi ”renovado”. Assim, temos um jogo que mantém a sua essência, e eleva o que já era impressionante, para níveis mais bonitos.
Mesmo que igual, mas diferente, a essência de Final Fantasy está ali. Assuntos do clássico foram preservados, e o legado de Final Fantasy 7 vive. É notável perceber, que a Square-Enix, mesmo tendo adotado o formato ”episódico” para essa reimaginação, também adotará um formato de repensar certos conceitos da direção original.
Isso é realmente necessário?
A análise de Final Fantasy 7:Remake, não precisava ter (obrigatoriamente), uma parte dedicada na análise da trilha sonora. Não me leve a mal, é que não tem o que analisar aqui. Assim, é incrível, nostálgica, bem articulada, e bem reinterpretada, não há nada para se dizer ou criticar, na verdade, é o mínimo que eu espero do um remake de um jogo com uma soundtrack tão linda.
Como eu mesmo disse, é o mínimo a esperar de um jogo que possui uma OST tão marcante e, principalmente, influente no que diz respeito aos gêneros de tramas cyberpunks fantasiosas. A reinterpretação das sonoridades, já arcaicas da década de 90, são muito bem modernizadas nessa reimaginação.
Assim chegamos na porrada
Final Fantasy 7 clássico era um turn-based JPRG, um RPG de combate por turno. Provavelmente, por questões de tendência do mercado, o remake tomou outro rumo. Portanto, na versão dirigida por Nomura, toma-se o rumo de um action JRPG, modelo já visto nos títulos mais recentes da série. Mesmo que diferente, ainda é possível retornar ao estilo de turno, só que de forma mais simplificada e fácil. Aconselharia muito a continuar no modelo de ação, já que tudo foi feito em volta dele.
Então, vamos, lá, o que dizer do combate de Final Fantasy 7 Remake? Basicamente um balé visualmente impressionante, mas caótico. Assumindo um modelo de troca de personagens de forma dinâmica e, adotando um combate ultra veloz, exigindo um pensamento tático do jogador, FF7R falha em ter um ”refinamento” final para seu combate.
Mesmo que, com um arsenal muito vasto de possibilidades, armas e matérias (mecânica de magia do game original), tudo acaba se tornando obsoleto no final. Por mais que exista, de fato, uma vasta gama de estilos de gameplay diferentes para cada personagem, no fim você perceberá que uma se destacará mais do que a outra. Talvez um problema muito grave, para um RPG que tenta disponibilizar mais possibilidades de gameplay e estratégia.
Por exemplo, a nossa querida e amada Tifa, possui uma gama de acessórios e luvas, para diversificar sua gameplay (que eu diria que é a mais prazerosa de se jogar), mas no fim, você se verá fazendo a mesma Tifa suporte e curandeira, em virtude do jogo não saber equilibrar esses tipos de gameplay.
O desbalanceamento e as esponjas de dano
Junte isso com confrontos com um design questionável e, em certas partes que deveriam exigir uma estratégia do jogador, o combate acaba por se tornar apenas um amassa botão, em inimigos com uma barra de HP enorme. Muitas vezes, você se deparará com boss fights longas (bota longo nisso), onde a estratégia vai pro ralo, pois, o inimigo terá o triplo, se não, o quadruplo da vida que você achava que ele teria.
Isso acaba sendo um problema muito alarmante, pois o sentimento de progressão e curva de aprendizagem, acabam por sofrer a pior. Muitas vezes me questionei se eu estava jogando errado, mas no fim, eram só os inimigos que possuíam uma quantidade exorbitante de HP.
Portanto, além disso, encher os capangas da Shinra de porrada, acaba sendo um desafio complicado, porque geralmente a câmera do jogo também será um de seus inimigos. Perdi as contas, de quantas vezes fiquei perdido no campo de batalha, por conta de uma má projeção da câmera, culminando em muita frustração em boss fights e confrontos básicos.
Um mais do mesmo

Enquanto escrevo essa análise, Final Fantasy 7 Clássico já completou seus 24 anos, no dia 31 de Janeiro desse mesmo ano. Chega a ser engraçado, novamente, pensar que estou conseguindo viver a época desse remake. Mas, confesso que me decepcionei muito quanto a natureza das direções que o jogo tomou.
Mesmo que muitos argumentem que, só pelo fato da Square Enix, ter se interessado no desenvolvimento da reimaginação, já é uma vitória e um marco para a franquia, eu diria que não. Muito falta para que esse remake marque a franquia da mesma forma que o original. Nada muito espetacular foi feito para mexer com as estruturas da indústria, muito menos para mudar permanentemente a direção da franquia em sí.
No que se diz num show de intuições e impressionantes exibições gráficas coordenadas, Final Fantasy 7 Remake é mestre. Porém, falha no quesito de renovar a atmosfera de seu legado, nada impressionante como Resident Evil 2 Remake, por exemplo, que oferece uma boa carga de nostalgia e modernidade, para um título originalmente de 98.
O que esperar do futuro?
Final Fantasy 7 Remake se encerra prometendo que haverá mais. Mas haverá mais o que exatamente? Ao terminar o jogo, senti muita paixão na execução dessa atrapalhada reimaginação. Muitos conceitos estão ainda embrionários e precisam de mais trabalho, principalmente na escrita de side-quests.
Porém, a sensação ainda é mágica e gostosa, e o sentimento de carinho persiste pelas personagens maravilhosas, criadas pelo complicado, mas glamuroso, Tetsuya Nomura. Por mais que sua direção tenha tomado rumos que não agradaram a toda fanbase, é nítido notar que uma parcela, assim como eu, gostou de aspectos de sua reinterpretação.
Essa análise de Final Fantasy 7: Remake, é muito mais uma evidência de que trabalhar em algo com um legado tão vasto, é dificílimo. O que podemos esperar das próximas partes? Bem, difícil dizer, mas eu acredito que podemos esperar algo novo e diferente de fato, algo similar ao que vimos no remake de Resident Evil 2.
Espero muito que os erros apontados, sejam revistos e repensados, e que no fim, as próximas partes sejam não apenas boas, mas perfeitas. Porque é isso que algo como Final Fantasy 7 merece.