Eu estou começando a escrever esse texto imediatamente após terminar NieR: Automata. Eu até faria uma review, mas o site já tem uma excelentíssima, e eu tinha que falar sobre esse jogo. Então, tudo bem, um artigo.
Mas o que eu podia falar sobre o jogo, que já não tenha sido dito? Afinal estamos falando de um dos maiores lançamentos da indústria e um jogo que já foi comentado por muita gente. Não tem um aspecto desse jogo que eu pudesse destilar, que alguém já não tenha feito antes. O que eu posso fazer, então?
Metacritic e reviews
Vivemos na era das notas. Uma das coisas mais aguardadas no lançamento de um jogo é ver qual a nota que ele recebeu no Metacritic, plataforma que compila notas de vários sites de review. No momento, a nota de NieR: Automata no Metacritic é 88. Lendo algumas das reviews, elas louvam o game como uma obra prima e então quantificam a experiência em uma nota. Normalmente um 9, ou um 10. Em alguns casos, um 8.
Mas afinal, como funcionam sistemas de notas? Você quantifica em um número o valor de um jogo, normalmente em comparação com outros jogos parecidos. Uma review de um novo Call of Duty certamente vai levar em conta seus predecessores, se é pior ou melhor, e também em comparação com o seu concorrente de maior peso, o Battlefield.
Atualmente, a indústria valoriza muito as notas que se recebem Metacritic. É um parâmetro de comparação pesado, e inclusive o diretor de Days Gone afirmou recentemente numa entrevista que a própria Sony parece se importar mais com a nota compilada para o site do que com as próprias vendas do jogo.
Eu mesmo sou obrigado a admitir que eu gosto bastante de dar notas para games, e também ver as notas que os outros dão. Mas sabendo disso, eu reconheço que o sistema é falho, e é sobre isso que eu quero falar nesse texto, além do próprio jogo em si, claro.
Originalidade de NieR
Mas o que acontece quando você cria uma experiência tão única, que simplesmente não dá pra comparar com mais nada? Qual parâmetro de nota você dá para um jogo completamente original? Essa foi a dificuldade que eu senti depois de terminar os cinco finais de NieR. Tentei destilar a experiência em palavras, mas não consegui.
Claro, ainda podemos compará-lo com outros jogos. Ele ainda é um hack and slash desenvolvido pela Platinum Games. Podemos comparar com outros do gênero e outros do estúdio. Podemos comparar com outros RPGs que oferecem escolhas. E se comparassémos com outros jogos… bullet hell? Ok, definitivamente NieR é estranho. Seus fatores individuais podem ser comparados, mas não a soma do todo. É uma experiência que brilha com originalidade.
Com certeza podemos compará-lo com as outras obras do Yoko Taro, seu diretor criativo. Algo que eu não posso fazer, já que essa foi minha porta de entrada pra série NieR e Drakengard. Então voltamos a estaca zero. Eu ainda não tenho com o que comparar.
No final das contas, o que NieR Automata me mostrou foi uma certa futilidade de usar reviews e notas para se julgar uma experiência. Definitivamente eu não achei o jogo perfeito, tenho algumas críticas pessoais, mas como eu posso julgá-lo por isso? Ele ainda é extremamente redondo e bem original, então, eu sinto que ele merece um 10 automaticamente só pela originalidade.
Mas eu não poderia dar um 10, por conta dos problemas que eu tive com os sistemas de RPG e a repetitividade da rota B. E aí? O que eu faço agora?
Como dar nota?
Ao final do dia, nessa realidade onde tudo que importa são notas do Metacritic, acho que não tem maneira melhor de se guiar para um jogo do que simplesmente… jogar. As experiências são únicas á cada pessoa e cada ser humano vai ter uma experiência diferente com cada gênero diferente. Especialmente com aqui, que possui várias variações de história, finais alternativos.
Entre problemas com a sexualização inerente ao jogo e problemas no gameplay, ao final do dia minha experiência com NieR foi bem normal, e um pouco acima da média talvez. Eu acho que o termo review para esse texto seria muito definitivo, seria muito… objetivo. Esse é o problema de análises, eu acho.
Não estou pedindo para você simplesmente parar de consumir reviews. Ora, esse é um site de análises, e eu ainda adoro análises. Mas ao final, eu acho importante existir um contraponto ao sistema de notas, um contraponto de artigos e vídeos onde as pessoas compartilham a experiência, de modo mais íntimo, que tiveram com um jogo. Às vezes as análises podem ser muito objetivas, esse tipo de artigo mais intimista seria um contraponto ideal para a parte mais subjetiva de se olhar um jogo.
Então tudo bem, com isso em mente, o que mais eu tenho para falar sobre NieR Automata?
Conclusões
Ás vezes, há algumas experiências que eu não gosto muito, mas não consigo tirar da cabeça. Isso costuma acontecer bastante comigo, e NieR se encaixa nisso perfeitamente. Eu gostei da experiência: não o bastante para considerá-lá uma obra perfeita, mas eu gostei. Ainda tendo alguns problemas e ter terminado com a sensação de que faltava algo, ele grudou comigo.
E não tem como não grudar. Como eu já falei e reforço bastante esse ponto aqui: Essa é uma das experiências mais únicas que um videogame pode oferecer, e eu com certeza recomendaria para qualquer pessoa que ama videogames como uma mídia no geral. Há tanto que se pode fazer em um jogo, e eu acho que ás vezes eles ficam muito limitados pelas convenções padronizadas da indústria.
Por isso, me dá um quentinho no coração ver um lançamento AAA trazendo algo tão autoral. Uma obra que vem para quebrar a quarta parede, desafiar as convenções de gameplay, trazendo quatro tipos de jogabilidade únicos, um sistema de replay que altera o jogo a cada vez que você rejoga, múltiplas campanhas e finais alternativos que respondem á muitas ações aparentemente inofensivas do jogador. E tudo isso combinado com uma proposta bem original e uma narrativa digna de arrancar lágrimas de qualquer jogador.
Após jogar, eu definitivamente coloco Yoko Taro ao lado de Fumito Ueda, Hideo Kojima e Hidetaka Miyazaki como um dos grandes visionários da indústria de games. É um jogo que merece muitas notas e reviews positivas, mas que também merece ser comentado além da objetividade, analisado por si só. Que bom que esse artigo não é uma review, então.