Na mente de Yoko Taro, um cara esquisito e visionário.
Então, Nier. Você viu algumas pessoas comentando sobre como Nier: Automata é um dos melhores jogos já feitos. Você viu o anúncio do impronunciável Nier Replicant ver. 1.22474487139… (sim, incluindo reticências) e achou interessante. Mas uma dúvida continua gritando em sua mente: “Mas que porcaria é Nier e quem é esse tal de Yoko Taro?”.
É uma obra que, entendendo seu criador, fica um pouco mais fácil entender a razão dela ser como ela é. Yoko Taro é um diretor e roteirista de jogos, não muito diferente de tantos outros autores. Acontece que ele é o que podemos chamar de não ortodoxo. Tanto quanto a ele como profissional, como pelas obras que cria.
Ele se mostra como um profissional excêntrico, andando por aí usando um capacete que nada mais é do que a cabeça de um de seus personagens. Ao mesmo tempo, ele se mostra como uma pessoa tímida e, de certa forma, um tanto insegura.

O que nos levaria a perguntar em que ponto o YOKO TARO exagerado e cômico termina e tem início o Yoko Taro que só costuma beber em casa e gosta de escrever sobre temas que fazem parte da vida, mas outras obras não costumam abordar.
Defendo a ideia de que os dois são partes integrais e essenciais da mesma pessoa. Caso retire uma parte, o todo ficaria menor. Pode parecer esquisito dedicar esse tempinho para falar sobre o criador, porém o que foi dito sobre ele vale perfeitamente para seus jogos.
Suas obras são geniais, elevando o conceito do que um jogo pode fazer e abordar. Ao mesmo tempo, não temem ser muito, mas muito bobas. E assim como seu criador, caso elas deixassem de lado a seriedade dos temas ou a estupidez de piadinhas tolas, elas seriam algo menor. Elas seriam menos inspiradoras e bem menos divertidas.

Nier indo além de Nier.
Vai soar bizarro, mas Nier não começa em Nier. Por mais que você possa, tranquilamente, jogar unicamente o primeiro jogo da franquia e se dar por satisfeita. A trama do universo construído se inicia muito antes, em uma época antiga e pouco registrada. Uma época conhecida como Playstation 2.
Inicia em Drakengard, que é um jogo Hack n’ Slash lançado em 2003, com uma jogabilidade que remete a uma versão mais contida de Dynasty Warriors (e o popular Hyrule Warriors). Tendo menos adversários e mecânicas não tão profundas.
Contudo, o que o fez ser tão querido por seus fãs foi sua história. A trama, que superficialmente é um épico medieval, aborda temas extremamente sombrios com uma qualidade invejável. Sem deixar de lado, obviamente, pontos cômicos e absurdos.
Junto com o já conhecido sistema de múltiplos finais, o jogo culmina (sem entrar em muitas revelações) com um embate estiloso sobre os céus de uma metrópole atual.
De alguma forma, com exceção do 2º Drakengard (feito por outro pessoal) todos os jogos se conectam. E essa conectividade vai muito além de “Oba, referências!”. Personagens que transcendem de um jogo para outro carregam histórias e mudanças, sendo afetados pelo tempo, esse grande devorador de coisas.
Pessoas mudam, lugares mudam e, logicamente, o mundo muda também. E antes que nos esqueçamos, a ordem dos jogos: Drakengard 3, Drakengard (1), Nier e Nier Automata.
“Poxa!”, você grita aos ventos, “cadê o meu Nier Replicant ver. 1.22474487139…!?”.
Bom, o Nier Repli… quer saber, o de agora em diante chamado Nier 2021 é uma nova versão do primeiro Nier (2010). Só que não é tão simples assim.
Existem duas edições da obra original, a Replicant e a Gestalt. São essencialmente o mesmo jogo, com a diferença na forma física do protagonista e sua relação com a personagem Yonah.
Na Gestalt, a qual foi vendida internacionalmente, o protagonista é mais velho e Yonah é sua filha. Já em Replicant, vendido unicamente no Japão, ele é visivelmente mais novo e Yonah é sua irmã. Pois bem, Nier Replicant (de 2021, não irei repetir o título completo), é uma nova versão da edição 2010 de mesmo nome. Porém, dessa vez, terá um lançamento mundial e com mais conteúdo.
Bem simples, não é?

Nier indo além de videogames.
Tem um cara – aparentemente – muito simpático, chamado Henry Jenkins. Ele é o responsável por cunhar o conceito de transmídia (do inglês, “transmedia”). Esse termo consiste na arte de contar uma história cuja totalidade vai além da mídia que atualmente a contém. A exemplo de uma história que começa em um filme, vai para um jogo e culmina em um quadrinho (pode ver mais sobre isso nesse linkzinho aqui).
A franquia Nier/Drakengard faz isso de uma forma única, e faz muito bem. Você pode não saber, mas entre Drakengard e o primeiro Nier há um Drama CD (uma história contada por meio de áudio) e um série de histórias curtas.
Elevando o conceito um pouco mais, entre Nier 2010 e Automata, temos mais alguns excelentes contos curtos e, acredite ou não, uma peça teatral musical. Sim, você leu certo.
O que é particularmente interessante é que você não precisa ler, ver e/ou ouvir nada disso. Todos esses elementos (até mesmo os jogos) são inteiramente opcionais. Cada obra individual consegue se manter de pé independentemente das outras.
Cada conto é único. Claro, alguns são mais ousados em sua forma de ser do que outros, a exemplo dos jogos, porém todos trazem algo bacana e relevante. Você pode separar um mês inteiro de sua valiosa vida para consumir tudo e qualquer coisa relacionada a franquia, será um mês bem gasto.
Assim como você pode querer unicamente jogar os jogos com Nier no título. Vai valer a pena.
Em um oceano de contos, cada história tem o seu valor.
O fato de que cada peça do grande universo transmídia tem qualidades o suficiente para ser algo individual é refletido nos jogos. Os personagens são construídos com tanto zelo que o fato de alguns serem secundários é uma mera questão de ponto de vista. Vale lembrar que Nier Automata aborda fortemente esse tema.
E esse é um dos pontos que faz a franquia ser o que ela é e, por consequência, ser tão querida como ela é. As histórias apresentadas aqui são feitas de uma forma muito única, com humor e honestidade dificilmente encontrados em outros lugares.
Elas não almejam agradar toda e qualquer pessoa. Porém, caso deseje ver um conto verdadeiramente especial, vale a pena jogar a franquia, assim como ler, ver e ouvir.