SUPERHOT.EXE
Primeiramente, SUPERHOT não é um jogo. É sério, estou te avisando. Não acredita em mim? Tudo bem. Não tentarei mudar sua opinião, e muito menos pretendo dar spoilers dessa experiência maravilhosa. Veja por si só, então:
Nunca fui muito fã de colocar os trailers no começo da análise, mas com SUPERHOT é necessário, pois, sua proposta extremamente única dentro de um tema extremamente saturado criou uma franquia nada fácil de se explicar (SUPERHOT, SUPERHOT VR e SUPERHOT: MIND CONTROL DELETE).
SUPERHOT, criado pela SUPERHOT Team é um shooter em primeira pessoa com estética retro, futurista e digital. A primeira versão do projeto foi criada em 2013 para a 7 Day FPS Game Jam, uma competição para desenvolvedores independentes criarem algo dentro do tema proposto, e com um tempo limite. Essa versão roda em Unity, é gratuita e se encontra jogável até hoje, sendo que você pode jogar clicando aqui! Prometo que você não vai se arrepender.
Claro que essa versão feita em apenas uma semana parece simplória perto do resultado final, lançado no dia 25 de fevereiro de 2016 para PC, Linux, Mac, PS4, XONE e Switch, mas, me lembro muito bem de voltar da escola durante o segundo ensino fundamental, e decidir faltar no dia seguinte apenas para continuar matando caras vermelhos em fases que já havia passado umas 13 vezes. SUPERHOT é viciante, e faz muito tempo que não conheço algo que me prenda tanto quanto ele. Às vezes, gosto de entrar no modo infinito e passar horas lá, quase que hipnotizado pela violência simbólica da gameplay.
Mente é software / Corpos são descartáveis
Tudo bem, então, mas e se eu disse que SUPERHOT não é um jogo, porque estou o tratando como se fosse? Isso, meu amigo, é algo que você precisará descobrir sozinho, jogando a franquia e pensando muito. Mas antes, gostaria de dar um aviso: SUPERHOT possuí história, diferente do que muitos dizem, e seu enredo é cheio de maluquices interessantes sobre o que está acontecendo com nossa tecnologia. Já adianto que, para conseguir respostas, você precisará se debruçar sobre os títulos da franquia, que não se limita apenas às mecânicas difíceis que dominamos aos poucos, saindo de bebês que não sabem andar para ninjas mortais da Matrix, mas sim, em todas as partes da composição.
Em síntese, aqui podemos ver três camadas: a primeira, sendo o piOS (computador do protagonista), a segunda, o SUPERHOT, e a terceira, que encontramos junto dos segredos coletáveis. Você acreditaria se eu te dissesse que o menu de opções é divertido? É sério! SUPERHOT está muito além da sua jogatina insana.
Podemos desfrutar da história, achar segredos, salvar nossos replays e até mesmo curtir jogos arcade! É possível também perceber que SUPERHOT não tem uma trilha-sonora. É, pois é. Mas isso não é um defeito, muito pelo contrário. O design de som é impecável, os efeitos dos menus, a sensação de estar num computador futurista, as vozes distorcidas, o distanciamento do ser humano como espécie… cada pedaço do sistema corroendo sua mente através dos sons de uma matriz infinda e digital! Enfim, já entendeu porque não precisamos de música? Essa sonoplastia agrega muito aos cenários brancos, enquanto nosso personagem é preto obsidiana (mesma cor que as armas), e assim, tudo que precisamos fazer é atirar em qualquer coisa da cor vermelha.
O tempo move quando você se move
Essa frase define por inteiro o game design, e você precisará matar um bilhão de inimigos antes de se sentir enjoado com SUPERHOT. As mecânicas são simples, andar, atirar, pular ou pular desacelerando o tempo, arremessar, parar… Até que começamos a misturar tudo isso, criando um mar de “metamecânicas”. Pular em ziguezague, por exemplo, permite que você não desacelere o tempo e esteja seguro de tiros, exceto quando seu oponente usa uma escopeta! Essas noções criam uma obra densa, quase que competitiva. Sei que é improvável, mas uma versão cooperativa/competitiva de SUPERHOT não seria má ideia!
Poderia dizer que SUPERHOT é um “anti-DOOM”, mas isso não o afasta dessa criação tão engenhosa. Muito pelo contrário, enquanto deslizamos pelos corpos de demônios infernais em DOOM, aqui, o tempo desliza por entre nós conforme um mar de pinturas cubistas se forma através de cadáveres geométricos. Não existe nada parecido com SUPERHOT. A direção de arte utiliza conceitos de fantasmagologia — uma análise do futuro através da ótica regada de passado e nostalgia. Todo o futurismo da obra se sustenta nos anos 80, como o próprio piOS que se assemelha a um MS-DOS, ou até mesmo no caso dos gráficos poligonais, muito mais estéticos que diversos títulos de orçamento triplo A perdidos por aí.
Melhorar suas habilidades enquanto finaliza SUPERHOT várias vezes é uma sensação sem igual, e minha parte favorita são os desafios, desbloqueados após zerarmos. Até hoje, não consegui realizar o último deles: passar por todas as fases sem morrer nenhuma vez! Morreu? Seu progresso é apagado. É a única coisa que impede meu 100%, e acho que está na hora de voltar para o computador e matar caras vermelhos mais uma vez. SUPER. HOT.
SUPERHOT é o shooter mais inovador que joguei em anos
Durante a última geração, tivemos diversos shooters maravilhosos, mas nenhum deles é como SUPERHOT. Não apenas pelas mensagens passadas através da gameplay, mas também pela forma como repensa seu próprio gênero. Por mais que seja curto, dobra e desdobra coisas que antes nos pareciam óbvias, e não são. Além disso, sua vida útil pode ser elevada através da comunidade receptiva e dos desafios, que passam despercebidos por muitos que zeram a campanha. Sonho com um dia em que nosso país esteja em melhores condições, e assim, quando finalmente puder comprar um óculos de realidade virtual, desfrutarei do último pedaço da trilogia.
Me escutem, como alguém que conheceu o projeto há 8 anos e acompanhou todo seu desenvolvimento, só digo uma coisa: SUPERHOT é uma obrigação para todos os fãs do gênero, e ainda vai influenciar muito a indústria. Torço ansiosamente por novos títulos vindos da SUPERHOT Team, e espero que esse universo cyberpunk dure por muito mais tempo! Afinal… SUPERHOT é o shooter mais inovador que joguei em anos.