Solidão. Em algum momento você já sentiu que estava realmente sozinho? The Longing é um jogo que aborda este sentimento por 400 dias.
Desenvolvido pelo Studio Seufz e distribuído pela Application Systems Heidelberg Software. Ele foi lançado em 2020 para PC e chegou agora em 2021 para Switch.
Era uma vez um rei…
Dentro de uma caverna, sem saber exatamente onde, existe um rei de pedra. Em seu reino, sobrou apenas um súdito: um pequeno ser escuro.
Seu reino já foi próspero. Mas agora não sobrou nada. Bom, quase nada. Apenas corredores vazios que remetem à grandeza de outrora e a Sombra.
Para o seu último súdito, o Rei anuncia uma soneca de 400 dias. Ele precisa recuperar as energias. E é assim que The Longing começa.
Uma sombra sozinha em um lugar enorme. Sem outra escolha a não ser esperar por seu Rei.
Andando por cavernas vazias
O que fazer quando você mora em uma caverna e tem 400 dias para gastar? Você sai para explorar!
Antes de qualquer coisa, eu quero já deixar claro que The Longing é lento. Muito lento. Seu personagem, a Sombra anda muito devagar.
Então, se você não gosta quando isso acontece, talvez The Longing não é para você.
Mas, o que ele faz além de andar devagar?
Bom, o jogo não tem um objetivo além de ‘espere 400 dias’. Mas, nós sabemos que isso é muito tempo. Muito tempo para se passar sozinho. Por isso, a Sombra possui um quarto.
Nele, tem uma lareira e uma prateleira com livros. Tem também uma poltrona confortável e uma mesa com papéis para desenhar.
A partir disso, várias opções começam a surgir para que a Sombra ocupe o próprio tempo. Ela pode desenhar e decorar as paredes da sua caverna. Também pode sentar e relaxar na poltrona. Ou até mesmo ler um livro.
Entretanto, seus recursos são finitos. Por isso, você deve leva-la para explorar os corredores sinuosos da caverna.
Lembra quando eu falei que The Longing é lento? É nessa parte da exploração que você vai sentir muito isso. O personagem anda beeeeeeem devagar. E a caverna é bem grande.
O sentimento de cansaço pode chegar rápido. Mas não se preocupe, você tem 400 dias para explorar tudo!
E o próprio jogo oferece mecânicas para te ajudar. A primeira delas é a opção de colocar o personagem para andar sozinho.
Ele vai escolher um caminho e andar até que você o diga para parar. Ou até encontrar um beco sem saída. Ao longo do caminho, você também tem a opção de coletar objetos no chão.

Criando um lar
Essa parte é importante. As coisas encontradas nas cavernas são inúmeras. Pode ser carvão, usados para desenhar ou acender a lareira. Folhas de papel, também para essa mesma finalidade. Também podem ser encontrados livros para aumentar sua coleção.
E o melhor de tudo isso é que, quanto mais você coleta recursos para deixar seu quarto mais confortável, mais rápido o tempo passa.
Em uma das minhas andanças eu até encontrei uma nascente de água, que se tornou uma fonte decorativa no quarto.
É sempre interessante ver que tipo de sala pode ser encontrada nas explorações.
The Longing também possui um sistema de salvamento. Então se você achou um corredor interessante e quer explorar depois, pode salvar o caminho.
A Sombra também consegue voltar sozinha para o seu quarto.
Então, o jogo cria uma rotina para você: sair para explorar e coletar recursos. Voltar para o quarto e ocupar o tempo.

400 dias
Existem jogos que foram feitos para durar 10h, 30h, 50h e até mesmo mais de 100h. Mas, ao contrário deles, The Longing traz esse formato único de jogar por 400 dias.
Ao iniciar o jogo, você tem duas opções: explorar por algum tempo, se entediar e esquecer da Sombra.
Ou, a melhor opção: jogar um pouquinho por dia. Descobrir que tipo de segredos aquela caverna guarda. Desobedecer às ordens do seu Rei. Fazer diversas pinturas ou até mesmo deixar a Sombra lendo algum livro.
Como dito antes, quanto mais você explora e decora o quarto da Sombra, mais rápido o tempo passa. No fim, não são exatamente 400 dias. Mas algo próximo.
É o tipo de jogo que pode ser deixado de fundo. Enquanto a Sombra anda por aí, você pode se distrair com outra coisa.
Mas, é interessante ver sua relação com a solidão e com os objetos à sua volta. Por mais lento que seja, The Longing consegue te cativar pela empatia.

Ouça o eco dos passos
A arte de The Longing é um dos melhores aspectos do jogo. Com um traço fino, parece que todo ambiente foi desenhado à mão.
O que, se pararmos para pensar, é o que aconteceu mesmo.
Visto que existem apenas dois personagens, o design em si não chama atenção. O destaque fica todo para os ambientes.
Embora a maior parte deles seja vazio, sem muitos detalhes. Existem cavernas grandes e cavernas pequenas. E todas só acrescentam ao sentimento de solidão, que domina o jogo.
Com a trilha sonora não é diferente. A música que toca é constante e se mantém praticamente em todos os cenários. Os efeitos sonoros também adicionam no quesito solidão.
Barulho de passos, goteira, ecos. Tudo está ali para te lembrar que a Sombra está sozinha.

Anseio
The Longing é um jogo para aqueles que tem paciência e não se importam de jogar enquanto realizam outras tarefas.
Sua proposta de 400 dias pode espantar de início. Entretanto, o jogo é uma homenagem àqueles que possuem uma relação próxima à solidão.
Por isso, seus ambientes vazios e os monólogos constantes da Sombra sobre sua situação, a sensação de estar sozinho é transmitida para quem joga.
Porém, se parar para pensar, a Sombra não está realmente sozinha. Isto é, ela tem você.
Além do sentimento de solidão, The Longing desperta o sentimento de companheirismo. Ao longo dos dias, eu não conseguia sair do jogo sem sentir uma pontada de culpa. Afinal, eu vou deixar aquela Sombra sozinha!
Ao fim, não é um jogo para todo mundo. Mas, se você procura algo tranquilo e com significado, ele é para você.
*Chave cedida para análise.
Gostou da análise? O Garota no Controle tem muito mais!
É bizarro que eu continue voltando esporadicamente a The Longing. Mesmo tendo publicado a análise um dia depois desta, minha opinião não diverge muito e vi (e ouvi) muita gente julgando pelo trailer, pela proposta ouvida. Claro que não é para todo mundo, porém existe uma certa crueldade em ver essa mensagem atravessada distanciar o público. Os finais são incríveis, enquanto angústia e lentidão são justificadas. (link da minha análise no campo website)