Introdução
Em dias normais, preparo o meu grupo de heróis para explorar uma masmorra. Às vezes, por ser o objetivo principal, outras vezes, somente por diversão e itens novos. Em Legend of Keepers, eu preparo minha masmorra para impedir que os protagonistas recebam a glória.
Lançado no dia 29 de abril de 2021 para PC, a obra tem em seu DNA gêneros consolidados e que andam sempre juntos, como RPG em turnos e Roguelite. Não é a primeira criação da Goblinz Studio, mas a mesma já possui experiências com o estilo de estratégia e RPG.
O outro lado da moeda
Primeiramente, o que mais me chamou a atenção em Legend of Keepers foi essa troca de lado. Uma sensação de “o que pode sair disso” me contagiou, afinal, estou do lado dos monstros e terei que agir como um, seja lá como for.
Por que as criaturas estão lá? Elas têm alguma motivação ou propósito? O que será que pensam? Essas e outras questões do gênero surgiram para mim quando vi o final de Shadow of the Colossus e algumas teorias sobre ele. Acredito que tenha sido a primeira vez em que pensei nos monstros como heróis, contudo, de outro time.
Foi a partir desse ponto que comecei a me identificar mais com vilões e antagonistas, que antes eram apenas um personagem chato e que atrapalha o grupo principal. Por trás de todo bom inimigo, existe uma boa história, algo que o motiva a fazer o “mau”. Não é atoa que o jogo que mais amo hoje é The Last of Us 2.
Entretanto, a obra não trata sobre nada disso. É somente sobre controlar os monstros ao invés dos heróis. E não que isso seja ruim, pelo contrário, ao que o jogo se propõe a fazer, ele faz bem. Nesse sentido, Legend of Keepers é muito mais sobre estratégia e RPG do que sobre os monstros.
Mesmo assim, a obra cria um contexto para que tudo seja crível. Todos no jogo (exceto os heróis, claro) fazem parte de uma empresa cujo objetivo é defender os tesouros. Ou seja, você, mesmo no papel de um Chefe, é apenas um contratado para fazer o trabalho sujo. Matar, afugentar, contratar monstros, decidir o que fazer para melhor proteger aquela masmorra, tudo isso cabe a você.

Iniciando a defesa
Já que é para defender o tesouro, que façamos da melhor forma possível. Primeiramente nós escolhemos qual chefe iremos ser. No momento, existem três opções, sendo duas delas liberadas mais adiante. Inclusive, já existe uma DLC prevista para esse ano, que adicionará mais conteúdo, incluindo um novo chefão.
Conforme o boss que escolhermos jogar, existem missões específicas para cada um deles. Essas missões servem como uma introdução. Apresentará os monstros e armadilhas disponíveis para aquele chefe e também estilos diferentes de jogo. Particularmente, gostei disso.
As primeiras jornadas te preparam para dois modos liberados após o término da quinta missão. Esses modos são o Infinito e Ascensão, onde o jogo realmente acontece. O modo Infinito é de sobrevivência, você joga até quando morrer, sem segredos. Já no modo Ascensão, você sofre penalidades conforme avança, tornando o jogo mais desafiador ainda. Por exemplo, ao invés de o seu grupo ser composto por três monstros, será feito com apenas dois.
Por fim, antes de iniciar em algum dos modos falados acima, você é quem decide seus monstros e armadilhas iniciais. Com um orçamento limitado, você consegue decidir se abre mão de um monstro mais forte para ter armadilhas, ou se prefere garantir a vitória na batalha e pegar monstros mais fortes.

Nas masmorras
Agora a parte onde o bicho pega! Literalmente, caso você vença. Brincadeiras a parte, é aqui o que realmente importa.
São nas dungeons que veremos nossa estratégia em ação. Tanto no posicionamento dos monstros e armadilhas quanto nas escolhas feitas nas semanas entre as defesas (explico na próxima sessão do texto). Os heróis que chegam para nos enfrentar são aleatórios, não dá para saber antes, o que dificulta na decisão de onde deixar cada monstro.
As masmorras são divididas em salas, sendo duas para armadilhas, duas para monstros, uma para um ataque especial do chefe e, por fim, a do boss. Existem mais salas que são adicionadas conforme o jogo avança e que entregam uma complexidade maior. Por exemplo, com a adição de uma sala de desastre que te ajuda, ou então uma sala de descanso para os heróis.
Não saber quais guerreiros iremos enfrentar complica um pouco. Afinal, precisamos definir antes de ir para a masmorra o grupo de monstros que estarão disponíveis para cada sala. São seis espaços nesse grupo e podemos colocar apenas três. Ou seja, é importante definir uma estratégia para cada parte.
Nós derrotamos os heróis de duas maneiras: reduzindo à zero a vida ou a moral deles. Cada monstro possui três habilidades, sendo passivas ou ativas. Alguns são focados em dar dano de moral, outros, dano na vida, ou então um pouco de perda nos dois. Nos resta decidir se tentaremos afugentar os guerreiros ou então mata-los.

O combate
Mesmo que existam outras partes da masmorra que nos ajude a derrotar os campeões, o combate é com certeza a mais impactante. Seja com nossos monstros ou a luta final contra o nós, o chefão.
Apesar de ser um combate tático, ele é bem objetivo. É bem difícil uma luta durar mais que quatro ou cinco turnos. A medida que nossos monstros evoluem, os nossos inimigos também crescem. Daí, além de contar com um pouco de sorte, é resolver na porrada.
Cada campeão também possui três habilidades, mas diferente das criaturas, eles possuem um golpe e duas passivas. O golpe pode ter como alvo o primeiro monstro, o último ou afetar todos. É de extrema importância focar nisso, pois existem resistências para ambos os lados. Portanto, caso você enfrente um grupo que tenha ataque somente no primeiro alvo, é interessante colocar os monstros com maiores resistências aos danos causados na frente e o dano maior no fundo.
Por não ser possível saber qual grupo iremos enfrentar na masmorra, é sempre uma surpresa e um exercício de adaptação. Às vezes eu me planejei para afugentar meus inimigos, causando dano na moral deles, mas daí um dos grupos que chegam na dungeon são resistentes ao dano na moral. É necessário ter jogo de corpo nessas situações.

As semanas
Legend of Keepers não trata apenas de lutar nas masmorras. Como dito antes, é uma empresa que as defende! Por isso, o jogo incluiu uma mecânica de semanas que nos permite melhorar nosso time. Ao iniciar um jogo, começamos na semana 1, normalmente com a opção de mercador, treinamento e evento. Nós podemos escolher apenas uma opção por semana e elas são aleatórias, apesar de conseguirmos enxergar as duas próximas semanas.
O mercador nos permite comprar novos monstros e armadilhas, já o treinamento melhora uma criatura. Os eventos são diversos, eles vão de benefícios até prejuízos. Alguns é possível ignorar, outros não, é realmente na base da sorte. Existem outros acontecimentos que afetam o jogo, mas não cabe citar todos aqui.
Existem três recursos para trabalhar: ouro, sangue e lágrimas. O ouro é obtido de diversas maneiras (em eventos, saqueamentos, etc.). O sangue é obtido ao matar os heróis e, as lágrimas, quando os afugentamos. Ambos também são adquiridos em eventos. Algumas das opções na semana usam esses recursos como moeda, como, por exemplo, o exercício. Ele permite que nosso chefão fique mais forte se pagarmos com lágrimas, sangue e/ou moedas.
Essa parte é fundamental para criar a nossa estratégia, se iremos focar em deixar os monstros fortes, ou então o chefão. É um gerenciamento de recursos importante e que deve ser levado a sério.

Arte e Trilha Sonora
Devo admitir que eu tenho uma queda por pixel art e tenho ficado feliz com os resultados alcançados pelos novos jogos. Cada vez mais detalhadas e bem animadas, embelezam os jogos e conseguem transmitir uma identidade própria. Em Legend of Keepers não é diferente.
O desenho dos heróis e das criaturas são muito bem feitos. Os campeões possuem estágios e são bem coerentes com suas formas primitivas. Já os monstros, não mudam de visual quando passam de nível, mas isso não é ruim. As animações de ataques e seus efeitos sonoros também são bem produzidos, conseguem deixar o jogador imerso. Outro ponto positivo são os diversos cenários que o jogo possui devido ao leque de masmorras e também de chefes disponíveis para jogar.
Já na parte musical, a obra não tem um brilho, mas também não é ruim. Ela cumpre seu papel e possui apenas uma música que é realmente marcante, que é a masmorra de nível máximo, onde um dos heróis é uma espécie de chefe. As demais músicas trabalham para ambientar o jogador em uma caverna ou algo do tipo.

Conclusão
Legend of Keepers não traz muita inovação para o mercado, ele apenas olha por outra perspectiva e aplica conceitos interessantes, mas não necessariamente inovadores. Com uma pixel art detalhada, bonita, bem animada e uma trilha sonora regular, o destaque fica mesmo para a jogabilidade e desafio. Pensar em uma estratégia, executa-la e ver que deu certo é gratificante. O jogo não é difícil, mas exige atenção a todos os detalhes, pois se um deles passar despercebido, pode causar sua queda. Jogar com os monstros é legal e te permite fazer coisas que como heróis não poderia, o que traz um toque único para a obra. Apesar de trazer um modo diferente de montar suas estratégias que não é direto te mostrando os benefícios e malefícios na cara, Legend of Keepers é simples, dinâmico e divertido, tudo o que eu jogo como esse precisa ser.