Introdução
Embora nunca tivesse jogado nada da série, quando tive a chance de analisar Ninja Gaiden: Masters Collection eu não pensei duas vezes. Um jogo no mesmo estilo do meu amado Devil May Cry e que muita gente fala bem, não tem erro. Talvez se eu não soubesse da fama que o jogo carrega meu choque tivesse sido menor.
Lançado no dia 10 de junho para Playstation 4, Nintendo Switch, Xbox One e PC, a coleção traz os três últimos títulos da série: Ninja Gaiden Sigma (2006), Ninja Gaiden Sigma 2 (2009) e Ninja Gaiden 3: Razor’s Edge (2012).
Antes de tudo
Primeiramente vou dar destaque para a data de lançamento dos jogos. No início eu não pensei que isso fosse ser relevante, afinal, é um remaster e a empresa tem a oportunidade de melhorar o produto original para coloca-lo de volta ao mercado. Porém, isso não foi feito.
O mais afetado pela sua data de lançamento original é o Ninja Gaiden Sigma, pois são quinze anos desde então. A jogabilidade é imprecisa em diversos aspectos e atrapalha a fluidez, sem contar que existem diversos aspectos que deixam sua jornada mais lenta. Vou detalhar mais a frente na sessão destinada ao jogo.
Já o segundo, é o meu favorito dessa coleção. Ele não está datado, dando para jogar tranquilamente sem estresse e melhora todos os pontos do jogo passado. Além de tornar o jogo mais acessível no quesito de dificuldade, ele aprimora os gráficos, cutscenes e possui melhorias na interface.
Por fim, o terceiro. Sem dúvidas ele é o superior aos seus antecessores nos gráficos e na jogabilidade. Razor’s Edge traz um pouco da dificuldade do primeiro jogo com a jogabilidade melhorada do segundo. Porém, a obra tem alguns problemas que vou explicar em sua sessão específica.
Agora sim! Sobre a série
Bom, como eu disse na introdução, o jogo é do mesmo gênero que Devil May Cry, ou seja, um Hack and Slash (não sei qual a melhor tradução para isso hehe). Nesse gênero o que vale é o combate corpo a corpo. Os combos são a chave para o sucesso, por isso, você é recompensado por emendar um atrás do outro. Você ganha mais pontos que te permitem comprar algo, talvez te colocam em um rank ou só por estética mesmo.
Ou seja, importante é fazer combos. Assim sendo, é bem fácil encontrar vídeos no Youtube que mostram combos infinitos e que destroem os adversários de maneira estilosa. Contudo, é preciso treinar bastante e memorizar as sequências para não falhar no meio de uma delas.
Outro aspecto relevante é a história. Os três jogos a trabalham bem e fazem com que o jogador queria saber mais sobre a cada novo capítulo. Nada de muito diferente, mas é objetiva e cativante. Além de trazerem personagens interessantes, tudo que é necessário saber está na obra.
Outro ponto legal é que cada um desses jogos traz pelo menos uma heroína diferente jogável. Controla-las traz uma dinâmica diferente para o game. Porém, infelizmente, todas elas possuem pouca roupa e/ou uma roupa apertada e peitos grandes. O típico esteriótipo de personagens femininas.

Ninja Gaiden Sigma
Fazia tempo que eu não jogava nada tão difícil quanto esse aqui. É com certeza o mais difícil da coleção, não só pelo game design como também pela jogabilidade que não envelheceu bem. Durante os últimos anos eu me acostumei a jogar na dificuldade difícil devido à dificuldade geral dos jogos terem diminuído com o tempo. Sendo assim, logo que comecei minha jornada no difícil, eu precisei recomeçar no modo normal.
Inconstâncias
Pensei que meu histórico com jogos hack’n slash fosse me ajudar, doce ilusão. A obra não tem piedade com o jogador e, se comparado com os jogos atuais, beira o injusto. Com exceção dos chefes, os inimigos sempre estão em maior número e isso acarreta momentos que eles atacam sem parar. Para contornar esse problema, temos o contra-ataque. Porém, por diversas vezes eu não conseguia usar, sem entender se era erro meu ou uma espécie de tempo de recarga.
Assim como a inconstância do contra-ataque, outros pontos também sofrem. A movimentação de Ryu também não é precisa, tem um delay entre seu comando e a ação dele. Em uma determinada parte do jogo, precisamos voltar o caminho e subir algumas plataformas. Cara, essa foi a pior experiência de movimentação que eu tive, nenhum comando foi constante e isso me frustrou demais. Penso que fiquei uns 10 a 15 minutos para conseguir passar uma simples parte de plataforma.
Outros problemas
É provável que morrer vai te deixar bem triste, isso porque quando acontece o jogo fica em câmera lenta até aparecer o “Game Over”. Nas primeiras três vezes isso é legal, depois é insuportável. Sério, eu nunca fiquei tão irritado com um jogo por conta da morte, parece que ele zomba da sua cara. E, como eu disse, o jogo é difícil, então você vai morrer diversas vezes.
Não apenas isso, como também o botão de ação ser o mesmo de atacar com armas à distância. Eu perdi as contas de quantas vezes fui usar o botão de ação e o jogo não registrou minha movimentação até o objeto e fez com que eu gastasse uma ou até mesmo duas cargas das minhas armas.
A reutilização de mapas é muito grande. Sério, eu cansei de me ver no mesmo lugar, diversas vezes e em momentos diferentes. Os lugares eram idênticos, nada mudava, nem uma parede quebrada a mais. Mesmo com esse problema, o jogo apresenta uma boa quantidade de cenários.
Por fim, as cutscenes. Jogos antigos não costumavam salvar o progresso a todo momento, e com este não é diferente. Sempre que morremos as cinemáticas acontecem novamente. Mesmo que dê para cortar depois de um tempo de começar, perdemos tempo até isso acontecer.

Agora a parte boa!
No entanto, a obra se destaca em trazer elementos divertidos e desafiadores. Não é tão fácil derrotar seus inimigos comuns quanto é em Devil May Cry, todas as fases possuem um chefe para derrotar, entre outras coisas. Sem dúvida existe uma luta com a jogabilidade no início, mas depois que você domina tudo flui bem.
Com o intuito de agregar ainda mais profundidade no game, o protagonista pode utilizar diversas armas. Cada uma delas possui um estilo de golpes diferentes e podem ser usadas em ocasiões distintas. Hora ou outra eu utilizava de armas diferentes para derrotar certo inimigo, mas eu me foquei mais na Dragon Sword. Consegui zerar o jogo sem problemas maiores, o que é possível de ser feito com qualquer arma.
Além das armas, também existem os ninpou (ou magias, se preferir). São técnicas mágicas que nos permitem dar uma grande quantidade de dano nos inimigos de uma vez só. Apesar de não serem muitas opções, usei todas elas, pois todas realmente funcionam melhor em ocasiões específicas. Ou então, você pode decidir a que combina melhor com seu estilo.
A história também é interessante. Afinal, ela te prende desde o início e conduz de forma leve e sempre adiciona novos elementos impactantes. Em nenhum momento eu me senti cansado ou desinteressado pelo enredo. Ele é simples, mas muito bem trabalhado e explorado.
Apesar de eu ter tido dificuldade em terminar o jogo por todos os aspectos técnicos que envelheceram mal, eu me diverti. Mesmo com as imprecisões dos comandos a jogabilidade é fluida quando precisa ser.

Ninja Gaiden Sigma 2
Como já foi dito, para mim, o melhor da coleção. Ele é uma evolução clara do primeiro título. Todos os aspectos negativos que eu comentei no primeiro jogo são consertados e aprimorados. Desde o momento da morte até a movimentação imprecisa, tudo.
Além disso, ele traz melhoras em muitos aspectos. A interface é mais clara, objetiva e fácil de usar, até porque ela pausa o jogo ao fundo enquanto você busca o item que quer. As cinemáticas são de melhor qualidade, tanto em gráficos quanto na dublagem. Os cenários também são bem mais ricos e exploráveis do que antes.
A jogabilidade foi quem mais ganhou com a sequência. Controlar Ryu está mais fácil e intuitivo do que era, a diversidade das armas continua. Contudo, a dificuldade do jogo abaixou. Diria que a melhora na jogabilidade ajuda nisso, mas a inteligência artificial é um pouco mais piedosa.
Embora o jogo tenha melhorado em questões técnicas, ele não trouxe nada de inovador para a série. Continua contando a história através de capítulos e a reutilização de mapas ainda existe, mas é menor que o primeiro.
A história te fisga logo no início, ainda mais porque depois do primeiro jogo você já tem familiaridade com os personagens.
Ou seja, é uma sequência que aprimora tudo de seu antecessor, mas não entrega nenhuma novidade.

Ninja Gaiden 3: Razor’s Edge
Caso me dissessem que eu estava em um lançamento de um filme de ação eu acreditaria, sério. Somente uma palavra pode definir esse jogo: frenético.
Luz, camera, ação!
De fato, esse é o título que mais se parece com um filme. Ele utiliza de muitas cinemáticas e conversas entre os personagens in-game. Além disso, os quick-time events (eventos que precisamos apertar um botão de forma rápida) estão presentes em boa parte da obra. Quando eles acontecem, a câmera se movimenta para enquadrar Ryu da melhor forma possível e isso lembra ainda mais um filme de ação.
Outro aspecto que me desagrada aqui é a presença de um exército com aviões e helicópteros. Não sei para vocês, mas a temática de ninja não combina com armas de fogo e muito menos tanques de guerra enormes. Por mais que toda a série traga esses dois mundos unidos e ainda por cima com demônios, todo o game design do terceiro deixa isso em evidência.
Porém, tirando esse problema maior, o jogo é divertido. Posso dizer com segurança que ele se desapega dos anteriores no quesito de dificuldade e tática no meio da luta. Por exemplo, no primeiro chefe eu não tive nenhum problema, morri uma ou duas vezes porque estava jogando sem pensar e somente atacando. Os próprios chefes possuem checkpoints no meio das lutas, deixando para trás todo o legado da franquia.
Com certeza Razor’s Edge é o que possui a jogabilidade mais fluida entre os três, com combo mais fáceis de realizar e controlar. Outros recursos são adicionados que ajudam nisso, como a “furia de sangue”, que te permite executar dois inimigos de maneira rápida e invulnerável.
Uma mudança repentina
Assim como os outros, a história consegue te fazer ficar intrigado logo no início e a desenvolve de maneira bem construída.
É claro que o jogo tomou outra direção aqui. Mais ação, sangue, movimentação de câmera, inimigos e cenários. A própria estética do game mudou. Sua interface, ambientação e iluminação. Por mais que o personagem principal (e outros) se mantém, a essência do jogo mudou.
Quando comecei a jogar o Sigma eu me sentia nos tempos de playstation 2, me bateu uma nostalgia de devil may cry 1 e 3. Em Sigma 2 era clara a evolução da obra e fique satisfeito, era exatamente aquilo que eu esperava de uma sequência. Já o terceiro… Bem, não é exatamente o que eu esperava, tem seus acertos e continua com o Ryu cortando inimigos, mas agora não sinto mais a vontade que tinha em ajudar o herói.

Conclusão
Ninja Gaiden: Master Collection é exatamente aquilo que eu esperava da série. O primeiro jogo é muito bom, mas esbarra nas suas limitações técnicas da época que hoje atrapalham. A sua continuação é ótima, melhorando todos os aspectos do primeiro e adicionando novas tecnologias. Já o terceiro jogo é divertido, mas nada além disso. A movimentação da câmera evoluiu do primeiro até o terceiro, algo extremamente importante em jogos do gênero. Os gráficos ficaram bonitos para uma coleção de remasters e as músicas do jogo são bem divertidas. Nos dois primeiros jogos carregam um ar mais sombrio e no terceiro algo mais comum em filmes de ação. A experiência foi positiva, no final de tudo. Mesmo com as inconstância do primeiro jogo até a perda de identidade no terceiro.