Introdução
World’s End Club é um jogo que mistura gênero de Plataforma com Visual Novel, que apresenta uma história cheia de surpresas e reviravoltas, porém falha em dar algo de interessante para o jogador fazer, e cujas escolhas não carregam nenhum peso.
Este jogo foi lançado originalmente para Apple Arcade no dia 4 de setembro de 2020, mas que agora está saindo para Nintendo Switch, no dia 28 de maio de 2021. Apesar de ser o primeiro jogo do jovem estúdio Too Kyo Games, conta com o talento de veteranos da indústria, como Kazutaka Kodaka, criador da série Danganronpa, e Kotaro Uchikoshi, escritor da série Zero Escape. Além disso, foi publicado pela Nis America.
Pela participação de dois profissionais experientes na criação de Visual Novels, esperei por uma história com personagens coloridos e cativantes, além de acontecimentos interessantes e empolgantes. No começo, até tive essa impressão, porém, conforme as horas avançavam, ainda estava esperando a história engatar.
Para falar da história, terei que dar alguns spoilers do início de World’s End Club. Mas, é preciso para poder explicar os problemas que encontrei aqui.
O Jogo da Eliminação
World’s End Club começa com uma viagem de ônibus pelo Japão, interrompida pela queda de um meteoro. Nesta viagem, estavam nossos heróis, um grupo de crianças da mesma escola, e membros do “Go-Getters Club”. A explosão causada pelo meteoro atinge este grupo de amigos. Porém, todos acordam em um parque de diversões subaquático abandonado, sem nenhum ferimento e sem saber como foram parar ali.
Antes de entenderem bem o que está acontecendo, são recebidos pela Pielope, um robô com aparência de Pierrô, que lhes explica as regras do jogo. Pois, agora eles estão presos e precisam participar de um “Jogo da Eliminação” para conseguirem escapar deste lugar. Cada um, carrega uma pulseira com um nome e uma tarefa. Quem completar sua tarefa primeiro, ganha o jogo e recebe a chave da saída. Porém, a pulseira carrega a tarefa de outra pessoa. Aqueles que falharem, morrerão.
Regras simples e diretas, que promete muitos dramas e traições. Levando em conta que os responsáveis pelo projeto são craques em fazer jogos com essa temática, é bastante empolgante.
Mas, isso é apenas um prólogo de pouco menos de uma hora antes do jogo principal, que não tem nada disso que citei.

No Fim do Mundo
Mais rápido do que eu gostaria, esta parte da história é resolvida. As traições e reviravoltas acontecem de forma bastante rápida, e o jogo é resolvido num piscar de olhos. No final, a vida de ninguém estava em risco, e todos escapam ilesos para a superfície.
Mas, o mundo não está tão ileso quanto eles. Logo na primeira cidade, a encontram abandonada, coberta de plantas e destruída. Sem ninguém por perto e nenhum meio de se comunicar com o mundo, estes amigos decidem embarcar em uma viagem em direção a Tokyo. Mas, esta se encontra a 1.200 KM de distância. E é aqui que está o grosso da história. Uma viagem pelo Japão, visitando diferentes cidades, e enfrentando diversos perigos pelo caminho.
Várias perguntas precisam de resposta. O que aconteceu com o mundo, e onde estão todas as pessoas? Como eles foram parar naquele parque subaquático, e qual a importância do jogo? O que são aquelas naves espaciais em formato de X no céu, e por quê apenas 3 dos 10 personagens conseguem vê-las?
São vários por quês, mas a pergunta que mais me incomodou nesta aventura foi: por quê eu não consigo me importar?

Por quê não funciona?
World’s End Club tem uma fórmula que deveria ser pelo menos interessante. Tem o mistério, tem personagens com personalidades variadas, e é uma viagem pelo país. Porém, apesar de ter as peças, elas parecem não se encaixar.
Primeiro, devo falar da apresentação do jogo. Ele funciona 90% do tempo como uma visual novel, e 10% como um jogo sidescroller de plataforma. Portanto, grande parte do seu tempo de jogo será lendo as conversas dos personagens. Isso não é um problema. Se a história é interessante, e os personagens divertidos, então ler as suas aventuras, tendo uma cutscene ocasionalmente, ainda traria uma experiência positiva.
Falando sobre os personagens, temos 12 pessoas neste grupo.
Você, jogador, é representado por um deles, um garoto chamado Reycho. Um protagonista mudo que não interage com ninguém do grupo, apenas reage ao que acontece. Em alguns raros momentos, eles te chamam para tomar alguma decisão, que não afeta nada na história.
Sobre os outros 11, apenas dois ou três tem algum aprofundamento. Os outros são estereótipos que pouco se desenvolvem. Em especial, devo citar Mowchan, um garoto cuja função no grupo é ser o gordo.
Covarde, fisicamente inútil, reclamão e irrelevante para a história. Sua única função é falar de comida. Literalmente todas as cenas que envolvem este personagem, é dele falando de comida. Para convencê-lo a ir para alguma cidade, os colegas comentam de todas as delícias encontradas por lá. Enquanto os outros conversam sobre os acontecimentos mais recentes, ou falam do seu relacionamento com outro personagem, Mowchan reclama da falta de ingredientes, ou comemora ter encontrado algo bom para comer.
Além do personagem “gordofóbico”, a maioria dos personagens também se resume a uma palavra. Por exemplo, a patricinha, o nerd, o chato. Logo, é difícil amar estes personagens quando há tão pouco para falar sobre eles.
Destes, os mais bem desenvolvidos são os mais velhos da turma, Aniki e Pai, pois eles carregam algum traço de desenvolvimento e drama pessoal para o grupo.
Também dá para jogar
Finalizando, devo lembrar que o World’s End Club também tem 10% de gameplay. Nestas cenas, você assume o controle de um dos personagens, e deve resolver uma pequena sequência de puzzles usando seu poder único. Ao longo da aventura, cada personagem descobre um poder interior. Do Reycho, é o super arremesso. Já do Mowchan, é o poder de virar pedra. Enquanto isso, a Pai cria um escudo protetor a sua volta.
Com estes poderes, o personagem consegue superar algum obstáculo, ou enfrentar um monstro. Mas, tais sequências são simplistas demais. Estes puzzles são curtos e pouco desafiadores. Quando há um desafio, ele acaba sendo irritante, já que existe uma combinação de personagens que morrem facilmente, com telas de Game Over que demoram muito tempo para sumir.

Fora estas curtas sequências, o jogo também pede para você tomar decisões em certos pontos. Porém, a maioria delas não afeta a história de forma significativa, já que é possível voltar para um ponto anterior e ver como é o outro caminho. Assim, um dos pontos interessantes em visual novels, as decisões, é minimizado aqui.
Conclusão
World’s End Club tem os ingredientes certos para ser uma história divertida. Por exemplo, ele apresenta um visual bem bonito, uma trilha sonora divertida, e as peças para uma trama empolgante. Mas, seus personagens fracos azedam essa mistura. Especialmente quando um personagem existe só para fazer piadas de gordo.
Assim sendo, acredito que World’s End Club está na mídia errada. Em resumo, esta história não precisa de um jogador. Tanto que, Reycho, nosso personagem, basicamente não existe para os outros.
Então, para mim, esta história funcionaria muito melhor como um anime. Afinal, sua arte já é de anime e sua estrutura é dividida em episódios. Assim, poderia mostrar melhor as emoções dos personagens, ter cenas de ação melhores, e talvez apresentar uma história mais empolgante.
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*Chave cedida para análise