Introdução
O ano era 1985. Ghosts ‘n Goblins aparecia nos arcades (inclusive presente em Capcom Arcade Stadium). Ação frenética e desafio intenso faziam as pessoas gastarem mais e mais fichas para tentar ver o final. Ainda em 1985, presenciávamos, além da dificuldade absurda, vários elementos não comuns como a variedade de armas e inimigos; sistema de dano baseado na armadura. Ou seja, no primeiro ataque sofrido, Arthur (nosso protagonista) perdia a armadura e ficava só de cueca para enfrentar hordas infinitas de inimigo. No próximo acerto recebido, virava esqueleto e morria.
O tempo passou e Ghosts ‘n Goblins se tornou referência gamer cult de dificuldade. Dessa forma, simbolizando que só os mais destemidos conseguiam terminar o jogo. Em consequência disso, vieram os speedrunners terminando o jogo em tempos curtíssimos. Capcom percebeu que chegou a hora de lançar seu clássico com roupa para as novas gerações. Um remake que agradaria velhos jogadores e atrairia novos. Assim nasce Ghosts ‘n Goblins Ressurrection.
Lançado para Playstation 4 em 01/06/21. Também disponível para Xbox One, Nintendo Switch, Microsoft Windows.
O clássico medieval
A história é contada da seguinte forma:
Há muito tempo…
Nosso conto começa numa terra distante, cuja beleza é sem par,
O cavaleiro, Arthur, e a princesa ao sol do meio-dia a se banhar.
…mas, de repente, algo mudou, e a cidade por chamas foi tomada,
uma nuvem de escuridão emergiu, e o palácio a nuvem devorava.
A sombra se estende, até chegar à divina Árvore Umbral.
Sua cor desbota, seu vigor é drenado pelos poderes do mal.
E, com o caos forjado, o Lorde Demônio executou o seu plano.
Com Arthur distraído, a princesa foi levada pelo tirano.
De pronto, Arthur veste sua armadura, para salvar sua donzela.
Ao Reino Demoníaco ele parte; aos seus inimigos, resta cautela.
Fonte: Playstation Store
Enfrentando as Trevas
Ghost ‘n Goblins Ressurrection é uma mistura do clássico de 1985 e seu sucessor de 1988, Ghouls ‘n Ghosts. Isso acontece porque o jogador tem a liberdade de escolher os caminhos de ambos os jogos. Por exemplo, caso tenha dificuldades de passar da primeira fase de Ghost ‘n Goblins, é possível mudar para a primeira fase Ghouls ‘n Ghosts. Também, ao passar da fase, pode escolher se vai continuar no caminho do jogo de 1985 ou 1988. Ainda, há a possibilidade de alternar. A escolha é sua.
Outra novidade presente no título é a possibilidade de escolher a dificuldade. Antigamente só tinha a dificuldade difícil. O nome das dificuldades são: Page, Squire, Knight e Legend. Na primeira, o jogador tem à disposição vidas infinitas, uma suposta invencibilidade que te faz ainda amargar com as plataformas. Além de permitir que a armadura se quebre aos poucos e não apenas com um golpe. Já nas seguintes, segue o sistema tradicional de dano alterando apenas a frequência e a quantidade de inimigos (boa sorte aí para jogar na dificuldade Legend).
Podemos dizer que Ghost ‘n Goblins Ressurrection representa bem o seu legado em tempos atuais. Apesar de todo o desespero, há novas ferramentas para lhe ajudar nessa empreitada de salvar a princesa. Os checkpoints estão bem localizados. Assim, dando uma melhor oportunidade de decorar e aprender o caminho. Entre as fases, existe o sistema Magic Metronome. Este sistema consiste em uma árvore de habilidades em que você pode comprar magias, técnicas e habilidades para usar durante o game. Também, o jogador pode voltar a uma fase já terminada para tentar melhorar sua performance e pegar colecionáveis não obtidos em uma primeira ocasião.

Derrotando o mal
A Capcom manteve a jogabilidade original de 1985. Assim, Arthur continua desengonçado, com limitação de movimentos para tornar sua vida mais miserável. A Capcom já fez isso com o remake do primeiro Resident Evil. Ou seja, manteve a jogabilidade original e acrescentou alguns elementos para diversificar o jogo um pouco mais. O mesmo ocorre aqui. Os jogadores antigos sentirão certa familiaridade com o jogo por essas mecânicas clássicas. Entretanto, isso pode afastar novos jogadores.
Os controles respondem bem. Entretanto, essa “forma antiga” de jogar pode ofuscar isso. Afinal, “pular errado” vai aparecer com bastante frequência no seu gameplay. Em adição, há a opção de tiro automático. Entretanto, não se iluda. Isso pode te atrapalhar mais do que ajudar. Enquanto Arthur está atirando em uma determinada posição, ele não muda até que pare de atirar. Ou seja, ao segurar o botão turbo para atirar, o jogador pode tentar dar aquele pulo maroto para fugir do inimigo, mas o personagem não sairá do chão. Dessa forma, levando aquele dano que conduzirá à morte.
Os chefes possuem agora novos padrões para derrotar. Assim, as batalhas ficam mais emocionantes e diferentes. Dessa forma, os antigões, terão de aprender novas formas para enfrentar os mesmos chefes. No entanto, insisto, ficou apenas mais interessante de se jogar. Um fator bastante positivo.

História antiga, livro novo
Quando a Capcom anunciou Ghost ‘n Goblins Ressurrection, fiquei surpreso ao saber que usaria RE Engine. Por isso, eu esperava ver o Leon vestido de cavaleiro medieval atirando lanças em zumbis de Raccoon City. Contudo, o trabalho apresentado foi algo totalmente diferente. Algo muito bonito. Pois, o jogador tem na sua TV uma verdadeira obra de arte. O visual consegue manter a carecterização clássica com visual novo. A sensação do jogador é que está abrindo um livro de pop-up. Isso contribui para atmosfera da história de salvar princesa em apuros.
Os efeitos sonoros e músicas dos jogos também possuem suas qualidades. Certamente, não há do que reclamar. Somando o som ao visual, o jogador tem como resultado uma combinação artística digna de admiração.

Sem pulo duplo
Sabemos que o título foi “atualizado” para os novos consoles. Mas, com muita tristeza, eu falo que Ghost ‘n Goblins Ressurrection não levou o título de jogo 10/10. Por um lado, não há motivo para queixa. Em contrapartida, jogadores novatos podem sentir desconforto em jogar algo com uma mecânica de mais de 30 anos. E quando falamos mecânica, falamos da maneira com que Arthur se move. Além de determinar se isso deixa a experiência mais frustrante ou não.
Como dito anteriormente, os controles funcionarão bem. Se apertar o botão de pulo, Arthur pulará. Contudo, não do jeito que você precisa. E tudo isso pela simples razão que foi projetado para isso. Comumente, em jogos de plataforma, quando o jogador faz um pulo neutro, no alto, ele pode alterar levemente a direção. Em Ghost ‘n Goblins Ressurrection não funciona assim. Ou você pula para frente ou pula neutro. Consequentemente, tornando o momento de adaptação do jogo mais frustrante.
Nosso cavaleiro Arthur não tem sossego. Isso já sabemos. Entretanto, aqui, o jogador, mesmo um veterano, talvez sinta a necessidade jogar na dificuldade mais fácil para se adaptar o jogo. O que fere o orgulho de muita gente.

O beijo da princesa
Ghost ‘n Goblins Ressurrection traz todo o desafio dos anos 80 com um visual de 2021. Uma verdadeira obra de arte. Pois, além de manter a dificuldade clássica, adiciona com novas ferramentas. Dessa forma, deixando tudo com mais possibilidades. Para os jogadores clássicos, um título indispensável. Para os novos, uma oportunidade ver o que os tios dos games sofriam nos fliperamas sem a aparência de jogo velho.
Sabemos que você tem uma curiosidade: Realmente precisa terminar o jogo uma segunda vez para ver o final verdadeiro? Então, só saberá jogando, meu consagrado.
*Análise realizada em PS4 FAT com chave cedida