Introdução
Horizon Zero Dawn pode chamar a atenção com suas lutas épicas contra máquinas gigantes, e foi o que me atraiu pro game! Mas o que eu não esperava era me impressionar tanto com Aloy, uma humana tão simples perto das grandiosas máquinas.
Certamente Horizon Zero Dawn não é perfeito, na verdade há muitos defeitos em seu universo vazio, com poucos personagens interessantes e até mesmo um início lento que pode demorar para cativar jogadores mais ansiosos.
Porém, não quero falar de seus defeitos, meu objetivo é discutir como a Guerrilla Games conseguiu misturar uma mecânica clássica do mundo dos videogames, com a narrativa do jogo. Mecânica essa que é normalmente subestimada e utilizada para oferecer recompensas vazias de forma porca para o jogador.
Narrativa e mecânica
A narrativa dentro de um jogo é de extrema importância, dependendo de como ela é guiada o jogador pode acabar ficando confuso ou até mesmo se desanimar com o jogo. O que nos leva ao fato dos videogames apresentarem diferentes formas de guiar uma narrativa.
Se observarmos The Last of Us Part 2, é possível perceber a forma como cada inimigo morto tem peso, o que reforça a ambientação do jogo, além de conversar diretamente com a sua história. Contudo a Naughty Dog ainda utiliza uma narrativa clássica, que não entrega o futuro da história nas mãos do jogador e controla os acontecimentos com cutscenes.
Por outro lado, Chrono Trigger é outro jogo que brinca com a narrativa, misturando ela com sua principal mecânica: a viagem no tempo. O Dream Team criou um mundo sem informações dadas, que deixa o próprio jogador descobrir através da exploração. Lembro de ter reações bem características a cada informação que recebia ao conversar com os NPCs do jogo, sem comentar dos seus diversos finais.
Ok, mas o que isso tem a ver com Horizon Zero Dawn? Tudo! Assim que recebi o controle de Aloy em minhas mãos, senti o peso do desconhecido. A protagonista não sabia nada sobre seu passado e nem sobre o mundo em que vive. Tudo que restava era seu futuro. E é aí que a exploração entra em ação.
Uma narrativa incrustada na exploração

O universo de Zero Dawn se passa em um cenário pós-apocalíptico, no qual os seres humanos vivos sabem muito pouco sobre o que realmente gerou o estado atual da humanidade.
Ou seja, conversar com NPCs não será suficiente para entender o passado. Será preciso usar a principal arma de Aloy: a curiosidade. Entender o que são as grandes máquinas e o que há nas ruínas espalhadas pelo mapa é o primeiro passo para obter respostas.
Então a jornada começa e a cada ruína do passado podemos encontrar três tipos principais de informações: textos, áudios e hologramas. Sendo apenas os hologramas obrigatórios, pois eles nos apontam os principais lugares que devemos ir. Porém, é nos textos e áudios que obtemos os fragmentos do passado que nos ajudam a entender o que aconteceu com nossos ancestrais.
Foi questão de tempo até que áudios e textos se tornassem mais importantes que itens e equipamentos para mim. A necessidade de saber mais me levou a verificar cada canto do mapa. Sem perceber eu já era mais que só um jogador preocupado com minhas missões, me tornei um historiador, vasculhando os segredos do passado.
Aloy: aventureira e historiadora

Aloy despertou em mim a vontade de largar o controle, pegar minha mochila e sair explorar o mundo. Ver uma mulher cheia de dúvidas, mas que não se deixa abater por elas, me fez pensar em como levo minha própria vida.
Consumo, consumo e consumo. Onde está a prática? Quando vou sair da inércia e viver de verdade? Esses são questionamentos que fiz para mim mesmo durante minha jogatina.
Portanto, Aloy é aventureira e historiadora, ela não cansa! Ela tem “fome” de mais! E isso me impactou, senti a necessidade de aprender e entender sobre o mundo que está à minha volta, seja no jogo ou na vida real.
Curiosamente, em uma das missões de Horizon Zero Dawn nós somos apresentados ao que futuramente se tornaria o segundo jogo da franquia (Horizon Forbidden West). Durante essa missão, se você for um bom explorador vai encontrar um texto com uma série de comentários sobre um tal de “Oeste Perdido”.

Lembro de ler sobre esse novo ambiente e me sentir quase que convidado a explorar e entender mais sobre ele, foi aí que entendi que Zero Dawn é sobre horizontes, é sobre conhecer, é sobre impacto.
Qual o preço do conhecimento?

Por fim, quando achei que não poderia me impressionar mais com Horizon. Me deparo com a apresentação do personagem Sylens, ele é uma personalidade que mesmo tendo muito conhecimento e, assim como Aloy, apresenta certa “fome” por algo mais. Sua vontade de aprender é genuína, mas sua mente não parece saber como gerenciar informações tão poderosas. Isso tudo acaba o confundindo mais do que o ensinando.
Portanto, depois do conhecimento ser tão glorificado durante toda a jornada, Aloy se prova moralmente fiel aos seus sentimentos, entendendo que o conhecimento tem limite e que ela não iria cometer o mesmo erro de seus antepassados e afundar no ego de querer saber mais e mais. Ela entende que além de pensar, é preciso sentir!
Aloy, não quer só saber sobre sua origem, ela também se importa com outros personagens, ela é curiosa, mas em momento algum deixa de ser humana.
Acho que a Dra. Sobeck tinha razão: “Não adianta ser inteligente se você não tornar o mundo melhor”.