Introdução
A vida é sobre uma viagem. O que nós fazemos enquanto estamos vivos e por onde andamos. Agora, o que seria de nós ter que viajar para conquistar a vida? Death’s Door é sobre tal jornada, um pequeno corvo em busca de recuperar sua vida eterna.
Produzido pela Acid Nerve (a mesma empresa do Tital Souls) e distribuído pela Devolver, Death’s Door lançou dia 20 de julho para PC e Xbox One e Series. Certamente mais experiente após Titan Souls, a produtora mantém o DNA de lutas contra chefes e nos apresenta um mundo cheio de inimigos, quebra-cabeças e vida.
História
O trabalho de ceifar as almas dos mortos e manter o equilíbrio entre a vida e a morte pode parecer monótono, e provavelmente é. Mas, os corvos não brincam em serviço e o fazem com muito zelo. Após um velho corvo roubar nossa alma ceifada, o que nos resta é tentar recupera-la.
Apesar de existirem diferenças anatômicas entre os corvos, todos são saudáveis, exceto aquele que perde a alma designada para ceifar. Afinal, quando uma alma é perdida, o tempo começa a agir sobre o pobre pássaro. Dessa maneira, um corvo perdeu sua alma há muito tempo e, na busca por ela, acabou roubando a nossa presa.
Como nós queremos apenas seguir com nosso trabalho, corremos atrás dele. Finalmente ele nos explica que sua alma entrou por uma porta diferente das outras e que precisa abrir ela. Porém, para isso, uma quantidade muito grande de almas é necessária, por isso ele roubou a nossa. Não nos resta outra escolha senão ajuda-lo a abrir essa porta.
Para isso, devemos derrotar três criaturas que possuem almas gigantes. Durante essa jornada nós conhecemos personagens cativantes e um mundo muito bem trabalhado. Cada cenário possui seus problemas e soluções, cada personagem pontos negativos e positivos.
No final, todo o tempo que gastei em Death’s Door foi muito gostoso e eu nem via passar. Embora nosso herói não fale uma palavra sequer, ele demonstra seu carisma através de ações e reações. O enredo é simples, objetivo e amplificado pelo design do mundo que faz tudo parecer mais épico do que realmente é.

Inovação (ou a falta dela)
Antes de tudo é importante destacar que a obra não traz nenhuma inovação para o gênero. Controlamos um personagem que tem um padrão de golpes específico, adquirimos poderes conforme avançamos que nos permitem acessar áreas até então bloqueadas e assim vai. O título possui tudo o que um jogo de ação de aventura precisa ter, mas passa longe em trazer novidade para suas mecânicas.
De fato, existem armas diferentes que entregam uma diferente forma de jogar, mas, sendo sincero, me decepcionei um pouco com elas. São cinco armas no total. Elas mudam pouca coisa de uma para a outra e não possuem uma vantagem clara contra certos inimigos. Por exemplo, a adaga poderia ser muito mais eficiente contra monstros mais lentos. Talvez até sejam, mas o trabalho de abrir o menu, trocar de arma e voltar para o jogo não vale a pena.
A mecânica que mais varia a jogabilidade é a de melhorar os atributos. O jogo os divide em força, destreza, velocidade e magia. Gastamos almas que recolhemos no caminho para melhorar cada atributo e eles nos melhoram pontos únicos. A força aumenta o dano causado, já a destreza aumenta nossa velocidade de ataque. Mesmo assim, é possível ficar matando monstros para melhorar todos eles no máximo. Pode demorar, mas é possível.

Jogabilidade
Embora Death’s Door não inove, ele faz tudo o que pretende com maestria. Como eu já disse, eu ficava totalmente imerso no mundo enquanto jogava, fosse explorando ou indo em direção ao objetivo. Cada lugar do mapa foi feito com carinho e dedicação. Apesar de não ter inovações, tudo no jogo funciona bem e tem uma razão de estar ali.
Os comandos são bem intuitivos e fáceis de memorizar, ainda mais para quem tem familiaridade com esse estilo de jogo. Para atacar, temos a opção de bater corpo a corpo ou à distância. O golpe de longe é considerado uma magia e, para usar, é preciso gastar ao menos um ponto de nossa barra mágica. Isso entra para equilibrar e fazer necessário o uso do ataque corporal.
Os mapas são muito bem construídos e guiam o jogador de forma perfeita, já que toda parte tem algo único e marcante. Death’s Door não traz mapa, então a memória do jogador tem que funcionar. Mesmo que cada lugar seja marcante, pode ser difícil para muitos memorizar qual área é ligada com outra. Por mais que a falta de uma orientação não ter sido problema para mim, sei que isso pode ser um problema para outros.
Os monstros são variados e, alguns, reutilizados. Algumas criaturas aparecem no início, meio e fim. Porém, seus padrões de ataque e parte da sua aparência também mudam conforme a região. Os inimigos estão ligados diretamente com a dificuldade do jogo, pois evoluem na mesma proporção. O início é bem tranquilo e, conforme avançamos, tudo fica mais complexo, incluindo os monstros, os segredos do mapa, a movimentação pelo terreno, etc.

Os chefes
A especialidade da casa! Pelo menos, foi com um jogo no estilo boss rush que a Acid Nerve fez sucesso.
É impossível não ver que toda criatura no mundo de Death’s Door é um protótipo de chefe. Todos eles possuem um padrão de ataque e movimentação, assim como os chefes. Não são como no Dark Souls que, apesar de existir um padrão, hora ou outra é quebrado. Aqui eles seguem um roteiro, mas isso não indica que seja fácil. Como disse na sessão anterior, a dificuldade é bem nivelada e monstros do início são bem mais fáceis do que os do final.
Portanto, é de se esperar que o jogo tenha bastante lutas com mini chefes e chefes. E de fato, é assim que funciona.
Os mini chefes estão espalhados pelo mundo. Seja ele um obstáculo obrigatório para conseguir avançar ou um guardião escondido em alguma parte do cenário. Nós estamos constantemente enfrentando hordas de criaturas ou monstros únicos e fortes. E, além disso, todas essas lutas são satisfatórias, sem exceção.
Desde mini chefes até o último chefão do jogo, as lutas são consistentes. Não existe um movimento errado do inimigo, ele sempre vai atacar da mesma forma. Os chefes possuem estágios na batalha onde eles têm o ataque potencializado. Por exemplo, ao invés de lançar somente um projétil, ele lança uma bomba junto.
Eu não tive dificuldade em nenhuma luta do jogo. Salvo engano, o máximo de vezes que eu morri tentando passar de uma batalha foram por volta de cinco. Justamente pelos padrões serem tão evidentes. Porém, eu estou acostumado com jogos do gênero, então pode ser que você tenha pouca experiência e encontre dificuldade, porque todas as lutas são bem construídas.

Direção de Arte
Sem dúvida, o resultado atingido nesse quesito é ótimo. Desde o primeiro passo que damos em Death’s Door até o último é impactante e faz sentido. O trabalho dos artistas em desenhar um mundo gigante que, ao mesmo tempo, é pequeno, foi fenomenal. Com isso eu quero dizer que a obra passa a sensação de que existe muito mais além do que nos foi mostrado.
O design do jogo é bem feito, desde o conceito dos personagens e do mundo até a execução da obra toda. Afinal, o mundo é interligado por portas, então sair do ponto A e ir até o ponto B é bem rápido, mesmo não existindo a famosa viagem rápida. A modelagem 3D é simples, mas eficiente. Talvez o monstro mais detalhado seja o castelo que enfrentamos logo no início, mas cada um deles tem o design necessário para o impacto no jogo.
A trilha sonora é um show a parte (com o perdão do trocadilho). É toda instrumental e varia bastante. Cada parte do mundo tem sua música que serve como o encaixe perfeito para tudo. Não existe uma melodia que cause estranhamento, seja pela sua composição ou por estar no lugar errado. Por diversas vezes eu me peguei andando pelo cenário só para escutar ainda mais a música.
Eu quero compartilhar um presente que Death’s Door me deu. A penúltima luta de chefe do jogo é linda, com certeza a luta mais bela que eu já joguei. Ela me causou um caos de sentimentos, misturando felicidade, tranquilidade, desespero, aflição, pena… Eu só não queria que ela terminasse, enquanto eu precisava que acabasse.

Conclusão
Talvez meu texto tenha ficado com um teor negativo, mas eu juro que não é. Eu realmente amei jogar Death’s Door! O mundo é vivo, coerente e interessante. A jogabilidade é responsiva, simples e gostosa. As criaturas bem feitas e desafiadoras. Os cenários muito bem construídos sendo completados pela música maravilhosa que os acompanham. Os pontos que coloquei no texto mostram que o jogo não se propõe em ser algo inovador, e sim, algo bom. Death’s Door me trouxe a sensação de jogar uma obra completa, algo raro atualmente. Não consigo ficar sem indicar esse título para você, de verdade. Ele funciona para todo tipo de jogador, seja o mais novato ou o mais experiente, o que ele entrega é amor, carinho e felicidade.