The Silver Case 2425 é a coletânea do clássico The Silver Case lançado em 1999 para Playstation e sua sequência mobile 25th Ward.
Ele foi desenvolvido pela Grasshopper Manufacture e publicado pela NIS America. A coletânea chegou para o Nintendo Switch em 6 de julho de 2021.
Ward 24
Embora dê nome ao jogo, o chamado Silver Case não é exatamente o foco principal da história.
Após um evento traumático, o protagonista (que você pode escolher o nome) passa a trabalhar na Divisão de Crimes Hediondos da Ward 24.
Esta região, reconhecida em 1980 e que abrigava cidadãos escolhidos por diversos critérios, toma um choque ao conhecer o criminoso Kamui.
Protagonista do Silver Case (o caso mesmo e não o jogo), seu nome ficou famoso pelos seus crimes brutais. E agora em 1999, existe essa sensação no ar de que esse criminoso vai voltar.
Acompanhe os casos na Divisão de Crimes Hediondos na Ward 24 e investigue criminosos que podem ter ou não, relação com Kamui. Mas, acima de tudo, desvende o mistério do Silver Case.
E quando terminar, pode ainda assumir o papel de outro personagem: Tokio Morishima. Nos Placebo Reports, você assume o papel deste jornalista que acompanha de perto a investigação da Divisão de Crimes Hediondos.

Muito além da investigação
The Silver Case constrói muito bem sua narrativa misteriosa. O jogo é dividido por casos e, por muitas vezes, pode parecer uma simples visual novel policial.
Porém, cada caso possui sua própria peculiaridade. Os personagens envolvidos têm sempre personalidades distintas, o que deixa tudo mais interessante.
E o fato de que alguns casos possuem relação com o Kamui, só deixa a narrativa ainda melhor de se acompanhar.
Inclusive, é muito importante que você não perca nenhum diálogo! Todos eles são cruciais não só para construir a personalidade dos personagens de apoio como também oferece informações importantes sobre o caso investigado e o próprio Silver Case.
O jogo sabe balancear muito bem sua leitura, afinal nenhum diálogo está ali de graça.
Quebra de imersão
Entretanto, enquanto sua narrativa é bem construída em relação aos outros personagens, o jogo peca na hora de te introduzir como protagonista.
Um detalhe bem pequeno, mas que me incomodou, foi o fato de que você pode dar um nome para o seu personagem. Porém, isso não vai afetar nada na história.
Todos os diálogos que ocorrem diretamente com ele são “invisíveis”. Ou seja, um personagem faz uma pergunta e logo depois comenta sobre sua resposta.
Não existem linhas de diálogo para você. Não existe a possibilidade de escolher e nem ler qual foi sua resposta. O que quebra um pouco a imersão.
Outro detalhe que incomoda é a personagem Hachisuka. Ela é uma detetive da Divisão de Crimes Hediondos e em um determinado caso, ela se desentende com seu parceiro e tira uns dias de folga.
Ao final do caso, ela retorna para a Divisão e coloca a culpa do seu comportamento estranho e “histérico” na sua menstruação.
A história dá a entender que todas as suas reclamações foram invalidadas pela sua condição. E logo em seguida tudo volta ao normal.
Mesmo que seja um jogo antigo, esse tipo de escrita para personagens femininas não deve ser levado levianamente.

Desvende o mistério
Mesmo com seus defeitos, The Silver Case oferece uma história rica com personagens bem escritos (exceto a moça ali). De início, a narrativa é confusa com diversos detalhes jogados no seu colo. Porém aos poucos, tudo vai se encaixando.
Uma clássica história de mistério, com plot twists chocantes e boas horas de entretenimento.
Ward 25
Lançado em 2005, The 25th Ward é a sequência direta de The Silver Case. Diferente do seu antecessor, nele você interpretará diversos personagens em três situações distintas.
E, estranhamente, a sombra do temido Kamui ainda assombra os personagens da Ward 25, uma espécie de sucessora bem-sucedida da Ward 24.

Prepare-se para ler
Embora o formato seja parecido, The Silver Case não é classificado como uma visual novel, mas sim como o que SUDA51 chamou de ‘film window’.
Devido ao baixo orçamento, a saída do estúdio foi criar o jogo em janelas. Ou seja, os diálogos aparecem uma janela, com a ilustração dos personagens em outra janela. E até mesmo as cutscenes não ocupam a tela toda, mas sim uma janela.
Além disso, o jogo mistura cutscenes animadas com live action. O que dá ainda mais uma identidade diferenciada.
Mas, não se engane! O foco principal ainda são os diálogos escritos. Então prepare-se para ler muito! E, infelizmente, em inglês.
Exploração delimitada
Mesmo com muitas horas de diálogo, The Silver Case também possui seus momentos de exploração!
O jogo é bem didático quanto a isso, inclusive. Logo no começo, os personagens te explicam como explorar o mapa. Mas, você vai demorar um pouco para se acostumar com os controles.
Na tela, existem pontos luminosos que indicam onde você pode andar e onde estão os lugares que possuem interação.
Existem quatro comandos básicos: contato, movimento, sistema e implementar.
Quando você seleciona a opção de movimento, pode andar com seu personagem pelo mapa. Mas só nos espaços previamente delimitados e indicados pelos pontos luminosos.
Ao chegar próximo de um ponto de interesse, pode selecionar a opção ‘contato’. Novos diálogos serão revelados e normalmente é assim que você segue a história.
A opção de sistema é onde é possível salvar e mexer nas configurações.
E por último, ao selecionar ‘implementar’, você usa objetos para interagir nos pontos de interesse.
É um pouco complicado no começo, principalmente para se acostumar com a troca dos comandos. Mas, você logo se acostuma.

Como jogar na sua sequência
Já no 25th Ward, a gameplay sofreu leves mudanças. Na hora de mover o personagem, não existem mais direcionais na tela e sim as opções do mapa para onde você deseja ir.
As opções de ‘olhar’ e ‘falar’ foram adicionadas também. Por ter sido lançado alguns anos depois, não é de surpreender que a gameplay tenha mudado.
Não diria que ficou mais fácil em si. Mas ela é certamente mais fácil de entender.
Inovando em 1999
The Silver Case certamente trouxe um novo olhar para as visual novels no longínquo ano 1999. No seu formato film window, SUDA51 traz uma nova dinâmica para o que seria apenas uma leitura com ilustrações.
Seja com suas ilustrações, cutscenes animadas ou live action, esse jeito de abordar o jogo com janelas traz diversas maneiras de abordar os enquadramentos.
É como se a história fosse contada por janelas de documentos que você abre no seu computador, por exemplo.
Sem falar que a própria história do jogo aborda temas pesados como o poder policial e o que faz um indivíduo cometer crimes.
Arte e trilha sonora
O estilo film window é boa parte da identidade visual de The Silver Case.
Mas, além disso, suas ilustrações também ganham muito destaque. O traço que desenha os personagens é bem único e passa até mesmo uma atmosfera macabra.
O tipo de traço que poderia ser facilmente de um mangá de mistério/terror. Ou seja, combina muito bem!
Quanto ao estilo do lado de fora das janelas, cada caso que você começa, ele muda de acordo com a atmosfera que quer transmitir.
Inclusive, essa parte e os menus do jogo lembram muito um computador antigo. O que, provavelmente era o novo na época.
O único defeito nesse quesito são as cutscenes que claramente continuam nos gráficos de 1999. Mesmo no estilo janela, dá para perceber que os gráficos ainda estão embaçados.
No 25th Ward, a única mudança significativa na arte é nas ilustrações dos personagens. Enquanto o primeiro jogo tem ilustrações coloridas, seu sucessor já aposta no contraste do preto e branco.
E quanto a trilha sonora, apenas elogios! Com uma pegada bem anos 2000, a música sabe exatamente quando ser dramática ou animada. Ou até mesmo quando não há necessidade de trilha sonora.
A música dá bastante ritmo para a leitura, sem deixar perder o foco ou que fique muito chato.

The Silver Case
Em conclusão, The Silver Case 2425 é uma excelente porta de entrada para quem quer conhecer melhor uma visual novel.
Mesmo com alguns elementos extremamente datados, ele ainda oferece uma excelente história. Com personagens envolventes e uma trama que não parece que vai se resolver. Mas resolve. E o resultado é surpreendente.
*Chave cedida para análise.
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