Introdução
Streets of Rage comemora 30 anos de existência. Em 02 de agosto de 1991 surge um jogo que viria a ter o status de clássico. Confesso aqui que minha história com os games tem uma passagem bem forte por essa franquia que nos permite descer o sarrafo em bandidos ao som de uma excelente trilha sonora.

Começando do começo
Em 1992, aos 8 anos, um menininho foi a uma locadora de games pela primeira vez. Por ser a primeira vez, não sabia que o escolher. A oportunidade de jogar tantos jogos e apenas uma escolha o deixava maravilhado. Ele escuta alguém falar de um tal “briga de rua”. “É esse mesmo” pensa o garoto. Então, o funcionário encaminha o menino para uma TV e videogame livres. Há o encaixe do cartucho e começa ali aquela musiquinha que o acompanharia anos à frente.
Essa é a minha história sobre o meu primeiro contato com uma locadora de games e o jogo beat’n up. Pode ser a de muitas pessoas, de muitos garotinhos e garotinhas. Também, podemos lembrar que tudo era novidade em 30 anos atrás. Talvez, o que pareça ser simples e ridículo, antes era novo e inovador. E Streets of Rage pode não ter criado o gênero, mas criou sua própria personalidade e marca no estilo de jogo.
Arcade em casa
Não falamos aqui do console mais poderoso de todos os tempos: NEO GEO. Mas sim, de um gênero que era praticamente sinônimo de fliperama: beat’n up. Em dezembro de 1989 surgiu um dos mais marcantes títulos da Capcom, Final Fight. Em 1990, o console do bigodudo recebe um port do sucesso dos arcades. Porém, houve decepção. A versão caseira do briga de rua da Capcom chegou cheia de cortes faltando estágios e até mesmo personagens selecionáveis. Evidentemente, quem alimentou as expectativas, as teve esmagadas com tamanha falta de aproximação da versão do arcade.
A SEGA estava de olho nesse movimento. Lembrando que a empresa do ouriço azul sempre foi líder em fliperamas. Assim, seus consoles geralmente serviam para fazer port dos seus jogos de arcade. O mais novo hardware da geração, Mega Drive, era ideal para trazer de forma mais fiel a experiência das casas de jogo. Por essa razão, fez algo meio que inédito. Resolveu lançar um jogo diretamente para seu console.
A intenção da japonesa era trazer uma experiência de fliperama para casa. Deu certo. Ainda que não tivesse um gameplay tão refinado quanto do concorrente da Capcom, Streets of Rage foi inovador. Imagine você, uma criança dos anos 90 vendo pela primeira vez um carro de polícia chegando com tudo, saindo um policial dando um tiro de bazuca e limpando a tela de inimigos. Também, havia a oportunidade de segurar os inimigos para seu coleguinha bater neles. Não satisfeito, ainda poderia arremessar seu parceiro para atingir os bandidos.
Outra característica emblemática da série foi a música. Usando o que o Mega Drive poderia oferecer, Yuzo Koshiro trouxe uma trilha sensacional inspirada pelo que havia de melhor da música eletrônica da época. Eu ainda vou organizar uma balada que só toque a OST dessa série.

O bom se torna ótimo
Em 1992 chega o título da série considerado como o melhor: Streets of Rage 2. Ainda que tenha adotado uma jogabilidade mais parecida com Final Fight, o briga de rua da SEGA manteve sua identidade. O carro de polícia foi trocado por golpes especiais. Agora, os inimigos possuem barra de vida visíveis, possibilitando ver quanto falta para ser definitivamente derrotado.

Havia também uma distinção maior entre os personagens. Assim, o gameplay fica mais variado e aumenta o fator replay. Porém, as mudanças foram além. Os gráficos ficaram mais bonitos e caso você tenha ficado “bom demais no jogo”, com um código, pode desbloquear a dificuldade MANIA. Apenas para os mais fortes. Dessa forma, o cartucho renderia horas e horas de jogatina. Apesar de ter uma jogabilidade arcade, terminar em uma jogada, Streets of Rage 2 seguia a premissa do primeiro título. Ou seja, prover diferentes desafios no mesmo jogo aumentando o fator diversão.
O nem tão bom assim
Streets of Rage 3 nos trouxe um banho de água morna. Nem foi frio, só não foi quente. O terceiro título, que tinha tudo para encerrar a trilogia de forma épica, não teve qualidade correspondente aos seus predecessores. Apesar de Yuzo Koshiro ser a mente por trás das músicas, elas decepcionaram. Destaque para a música do cenário da boate que parece um amontoado de barulho.
Evidentemente o jogo não é ruim. Certamente, suas qualidades superam os defeitos. Por exemplo, a jogabilidade melhorou, mais finais alternativos, diversidade de desafios (sair fugindo de um trator foi bem legal) e salas secretas com bônus. Porém, não tinha o mesmo carisma.
Sem dar spoilers, mas o jogador não sabe contra o que está brigando. O novo personagem não tem carisma e houve certos exageros no roteiro como a inclusão de robôs. O que rende uma das fases mais chatas do jogo. Mas esses pontos negativos não ficariam tão evidentes se não fosse a época em que o jogo foi lançado. A SEGA já estava encaminhando seu Saturn e não tava dando tanta atenção para seu console 16-bit. O orçamento não foi tão grande quanto o dos anteriores e o resultado já sabem.
Podemos dizer que fizeram o melhor com o que tinham. E o que tinham não era muito. Além do que, a pouca visibilidade contribuiu para o esquecimento. Eu tive a sorte de comprar em uma locadora falida um cartucho original japonês desse jogo. Aliás, a versão do sol nascente não sofreu os cortes que a versão do Tio Sam teve.

Retorno dos donos da rua
Abril de 2020 está registrado no meu coração. Pois, nesse mês iluminado veio o quarto jogo da série de briga de rua da SEGA. Não vou negar, estava meio desconfiado. Afinal, não foi nem a SEGA quem fez, mas um estúdio até então desconhecido para mim: DOTEMU.
Agora o bagulho ficou loko. Trouxe finalmente o trio original de volta, dois novos personagens e 12 fases de pura adrenalina. Um novo sistema de combo, Boss Rush e uma história excelente. Como se não pudesse ficar melhor, mas ficou, neste ano, no mês de aniversário de 30 anos dessa série veio o DLC trazendo mais personagens e o novo modo sobrevivência, que é viciante.
Streets of Rage 4 trouxe diversos elementos que despertam a criança interior dos tiozões de plantão. Inclusive a possibilidade jogar com as versões antigas dos personagens. Assim, podemos ver a Blaze Fielding em todo seu esplendor de 1991 para cá. Porém, houve quem não gostasse do jogo dizendo que não respeitou às origens. Mas foi minoria. Ele nem ganharia versão física, mas o sucesso foi tão grande que meses depois foi lançada com direito a chaveiro e artbook.

O legado da treta
Há 30 anos Streets of Rage me cativa e a várias pessoas no mundo. Com inúmeras coletâneas da SEGA, sua memória permanece viva. Também, o quarto game deu uma “atualizada” para as novas gerações. Espero que a SEGA mantenha esse espírito vivo por mais gerações adiantes.