Introdução
É difícil entender o que Blightbound traz para os jogadores de fato. Por um lado, temos diversão e sistemas interessantes, já do outro lado, problemas que diminuem parte dessa diversão. Sem dúvidas, é um jogo que faz um mix com os sentimentos de quem joga.
Blightbound é um RPG de ação com elementos de outros gêneros como: Beat’em Up, Roguelite, MMORPG e até MOBA. Desenvolvido pela Ronimo games e distrubuído pela Devolver Digital, a obra foi lançada para PC, Playstation 4 e Xbox One no dia 27 de julho de 2021.
História
Apesar de o jogo não ter o foco na história, ela existe. Em resumo, um grupo de heróis destruíram o Titã das Sombras no passado e, agora, o inimigo liberou a Praga, uma névoa que corrompe qualquer ser vivo que for exposto a ela. Por isso, existe um refúgio na montanha que abriga diversos novos heróis capazes de enfrentar a Praga.
Porém, não é só isso. Cada herói tem uma história e um objetivo ligado ao mundo. Cabe a você concluir as missões de cada personagem para avançar na sua trama.
Scarlet é uma assassina que está em busca da Fio de sangue, uma adaga que completa a sua própria arma, Fio de Chuva. Ou então, Triss, que também é assasina, tem o objetivo de drenar 500mil pontos de vida dos inimigos. Novos diálogos ficam disponíveis após concluirmos a missão atual de cada personagem, assim nós vamos entendendo cada vez mais os heróis. Contudo, devo admitir que essa parte do jogo ficou bem ofuscada por mim, por diversas razões.
Primeiramente, Blighbound é criado e feito para ser jogado no modo multijogador, portanto, eu joguei com amigos. É bem difícil focar em ler os diálogos do jogo enquanto você vê seus parceiros avançarem no mapa, matando monstros e mudando de cenário te levando junto.
Fica claro que o enredo e as histórias de Blightbound estão ali para fazer o jogo fluir, o que não é algo ruim. Às vezes é a escolha dos desenvolvedores criar um enredo básico para focar em outras partes mais importantes para o jogo, como, por exemplo, a jogabilidade. O pior acontece quando os aspectos mais importantes também tem problemas.

Jogabilidade
Como disse acima, Blightbound é um jogo multijogador. Ou seja, precisamos unir três pessoas para conseguir entrar em uma missão. Embora seja possível jogar com bots, é preciso dizer que a diversão diminui bastante, afinal, eles apenas te seguem e agem de forma bem previsível. Assim como precisa de três jogadores, são necessários três classes para jogar: um guerreiro, um mago e uma assassina.
Não é possível jogar com uma composição diferente dessa, o que é negativo, visto que uma das classes é mais forte do que as outras. Ainda que as classes fossem todas equilibradas, qual o problema de tentar grupos de uma profissão só com diferentes habilidades? Isso traria mais diversidade para o jogo, além de que nenhum jogador se sentiria obrigado a jogar com certa classe.
Enfim, mesmo com estas restrições, o título diverte devido seu esqueleto. Nós somos heróis que vamos fazer missões para adquirir itens, novos personagens, ganhar experiência e dinheiro. O formato adotado pelo estúdio é o que destaca: Beat’em Up. Fazia tempo que eu não jogava nada desse estilo e foi bom reviver essa experiência. Um Beat’em Up com diferentes heróis e builds é bem divertido e tem bastante potencial.
As missões possuem nível de praga, o que mostra qual é a dificuldade dela. Porém, a cada missão concluída (ou não) esses níveis mudam. Então, caso você tente jogar uma missão e falhe, é bem possível que quando for selecionar a próxima, esta esteja em um nível mais baixo. Isto funciona bem, pois força o jogador a ir em diferentes aventuras a todo momento e, por se tratar de um jogo onde precisamos jogar diversas vezes, não fazemos a mesma missão infinitas vezes em sequência.
Isto é, Blightbound consegue trazer um gênero pouco explorado pelo mercado com boas ideias, mas tem alguns reveses na sua execução.

Os heróis, suas habilidades e equipamentos
O maior destaque da obra é com certeza a variedade de builds. Cada classe possui diversos heróis, esses por sua vez são compostos de 3 habilidades ativas e uma passiva. A semelhança com MOBA aparece aqui, já que duas habilidades são de uso comum e a terceira é bem mais forte, mais difícil de conseguir utiliza-la.
A variedade, no entanto, é um pouco maquiada. Isso porque as habilidades se repetem diversas vezes nos personagens, que por sua vez, se diferenciam um do outro na combinação delas. Por exemplo, a Scarlet possui uma habilidade de jogar um chakram que ricocheteia nos inimigos e outra que usa uma bomba de fumaça, já a Triss joga adagas e pula nos inimigos, mas a habilidade mais forte, é igual. Outra assassina, possui a mesma habilidade de jogar adagas e bomba de fumaça, mas a “ultimate” é diferente.
Já os equipamentos são bem interessantes. As armas de cada classe são exclusivas, ou seja, não é possível usar uma adaga no guerreiro, nem uma espada no mago. Porém, existe uma diversidade de armas com efeitos diferentes no mesmo tipo. Assim é possível criar uma assassina baseada em ataque básico ou, então, focada em habilidades.
Além das armas, é possível equipar dois acessórios e, estes, não possuem restrição. Isso é importante porque são muito diversos e nos oferecem atributos e habilidades únicas, abrindo a possibilidade para criar builds exclusivas. Esses equipamentos não são conseguidos apenas nas missões, é possível usar a ferreira para construir novos itens.
Uma diferença que atrapalha a experiência
O maior problema de Blightbound (tirando os crashes que acontecem com certa frequência) é o desbalanceamento dos heróis. Eu joguei como assassina e, em todas as partidas, não me sentia muito útil. Isto é, meu amigo que controlou o mago fazia quase tudo sozinho, e não digo que ele não jogava em equipe, mas o personagem dele era mais completo que os meus.
No caso, a minha heroína ficava invisível e fazia os inimigos irem para onde o guerreiro estava e, nisso, eu perdia o efeito da habilidade. Aí você deve pensar que eu deveria me colocar perto do tanque para usar a magia e bater livre, mas para isso eu precisaria chegar até lá sem ser focado. Além disso, dependendo do grupo de inimigos, fica mais difícil ainda bater.
Enquanto isso, o mago consegue bater de longe e dar bastante dano, seu teleporte é o único dash que atravessa paredes e é a única classe que possui a magia de cura e um escudo em área que anula dano. O próprio guerreiro que na teoria é o tanque possui um escudo que só diminui o dano. Então, por diversas vezes bateu uma sensação de impotência, já que o mago era auto suficiente.
Isso fica ainda mais evidente quando nós pegamos nosso primeiro item lendário. O da assassina dobrava a velocidade de ataque por três segundos após pegar um orbe de mana, o que não acontece a todo momento. Já o do mago fazia com que seu teleporte causasse 1000% do dano da arma. Ou seja, o mago podia usufruir do efeito a todo momento e explodia os inimigos combando a magia de juntar os monstros e usando o dash neles, enquanto eu precisava de um orbe de mana (que só tem uso para o mago) para ter efeito por 3 segundos.

Direção de arte
O visual do jogo é bonito e tem uma atmosfera sombria, trazendo a ambientação perfeita para que o jogo se propõe. As missões são divididas por regiões que são bem diferentes uma da outra, e as fases dentro delas conversam entre si, formando uma grande região com certe diversidade.
Algo que me incomodou foi o design dos heróis. Todos eles são bem iguais. É visível que existe um esqueleto animado e foram feitos personagens presos nesse esqueleto. Com isso, eu quero dizer que a aparência deles mudam pouco, além do fato de que cada classe só tem um gênero. Não existe guerreira, assassino e nem maga. E, no jogo, também não existe uma explicação para isso.
Os inimigos também não possuem variação. A todo momento estamos enfrentando os mesmos monstros e suas variações adaptadas para um chefe. Estes, por sua vez, ganham alguns poderes diferentes do monstro mais fraco, mas nada muito diferente. As batalhas contra os chefes não possuem mecânicas muito elaboradas, normalmente é só surrar o monstrão.
A trilha sonora é bem comum e ganha pouco destaque. Ela preenche bem o espaço dela mas não eleva o status em nenhum momento do jogo.
Conclusão
Blightbound é uma boa ideia pecando em aspectos básicos do jogo. Quando você força os jogadores a jogar de uma certa maneira, deve garantir que a mesma seja balanceada para que ninguém se sinta pior, ou melhor. Além disso, a obra contém muitos bugs pequenos, sejam eles visuais ou que atingem a jogabilidade. Em um desses bugs, eu fiquei preso do lado de fora da parede que denominava o espaço de combate, mas eu era apenas a assassina, então o mago conseguiu fazer o trabalho. Porém, o jogo é bem divertido quando jogado com amigos, ele proporciona desafios legais e boas risadas. O fato de precisar jogar muitas vezes para evoluir e conseguir equipamentos melhores me agrada e é bem feito, o problema é a falta de diversidade nas fases no geral.
Falar de Blightbound sem falar dos crashes é impossível. Na página do jogo, existe uma observação sobre isso que pede para que os jogadores diminuam a qualidade da textura para evitar esse problema. Isso me causa certa indignação, pois mostra que os mesmos sabem do problema mas, aparentemente, não dá para corrigir.
No fim, a minha experiência com Blightbound foi divertida e, ao mesmo tempo, frustrante. O jogo tem bastante potencial caso lance atualizações que equilibrem os personagens, arrume os bugs e lance novas áreas e itens. Atualmente, é difícil garantir que terá uma boa experiência.
*Chave concedida para análise