Introdução
Jogos indie, em sua maioria, procura trazer novas ideias para o mercado. Porém, alguns se inspiram em grandes obras já consagradas e nos entregam um jogo único. Eldest Souls é difícil e misterioso, mas, além disso, traz beleza em gráficos, jogabilidade e música.
Lançado no dia 29 de julho de 2021, a Fallen Flag Studio entrega para os fãs da série souls um prato cheio e delicioso. Está disponível para todos os consoles mais recentes da Sony, Microsoft e Nintendo e também no PC.
História
De repente, um estrondo destrói a lua e seus fragmentos caem sobre a Terra. De uma dessas partes, nasce a humanidade, de outra, os deuses. Inesperadamente, a paz reinou durante anos, até que um Deus maligno interveio e fez com que sua raça conquistasse os humanos.
Posteriormente, a humanidade se rebelou e prendeu os antigos deuses na Cidadela. Mal sabiam eles que esse ato seria o fim. Por muitos anos viveram tranquilos, até que o mesmo Deus maligno que fizera a cabeça dos demais retornasse de seu exílio. Realizando experimentos com os deuses aprisionados, ele espalhou o caos no mundo e fez os humanos perderem as esperanças.
Enfim, a lua que assistia todo esse caos, chorou. De sua última lágrima, nasceu a última esperança.
Essa é a premissa de Eldest Souls, explicada logo no início com uma cena bem rápida. Estamos situados na história de maneira bem simples e direta, assim como todo o jogo. Nós controlamos o herói que precisa derrotar todos os deuses e restaurar a humanidade.
Contudo, conforme andamos pelos cenários, diversos objetos e personagens nos contam as suas histórias e as do mundo. Com poucos minutos eu já me vi imerso na obra, procurando e lendo cada informação em todo o canto. É um enredo que te envolve e te faz querer saber mais, mesmo que agora tudo esteja destruído e abandonado.

Mundo e ambientação
Acima de tudo, a obra tem forte inspiração em Dark Souls, então é de se imaginar que o jogo tenha poucos diálogos e o mundo seja mais obscuro e misterioso. De fato, esses elementos estão presentes em Eldest Souls e, juntos do cenário pós-apocalíptico, fazem você se sentir sozinho.
Essa sensação fica maior quando não existe música de fundo durante a exploração de cenário. Em alguns jogos isso é ruim e podem acarretar problemas, mas aqui não.
Sabe quando dizem que dá para ouvir o silêncio? Então, é exatamente isso. Como se já não fosse o suficiente, a tensão e expectativa de encontrar um deus a qualquer momento faz com que a angústia tome conta.
Visto que estamos sozinhos, nos resta a vontade de encontrar alguém para conversar e buscar mais informações. O problema é que, quando isso acontece, parece que ficamos mais solitários ainda. As falas deles estão distantes, em um tempo que já passou e não volta mais. Isto é, estão muito afetados pelos acontecimentos no mundo e parecem não se importar mais.
Toda essa construção do mundo de Eldest Souls funciona muito bem e transfere o jogador direto para a pele do herói. Ansioso pelo próximo chefe, por mais informação e também para colocar um final nisso tudo, de uma vez por todas.
Eu não consegui me apegar tanto assim ao universo da série Souls, por isso, esse jogo me cativou muito rápido e de forma certeira.

Combate
Eldest Souls é baseado em lutas de chefe. É um jogo do gênero boss-rush (onde só enfrentamos chefes) e, por isso, precisa ter um combate impecável, já que são os bosses que exigem mais atenção e habilidade do jogador. Já adianto que o combate é bem feito e gostoso.
Os comandos são bem básicos e fáceis de memorizar. Temos dois ataques, dois poderes e a esquiva. O ataque básico pode ser carregado e, caso acerte o alvo, enchemos a barra de sede de sangue. Com essa barra carregada é possível desferir o segundo golpe, que causa mais dano, mas usa toda a carga da barra.
A sede de sangue é uma mecânica que torna o jogo mais dinâmico. Ela é inspirada em Bloodborne, onde podemos recuperar vida ao atacar logo após sofrer dano. Ou seja, quando está ativa, todo o dano que causamos cura nossa vida. Isso faz com que a cura seja sempre possível, porém com risco elevado.
A esquiva possui três cargas que são consumidas após a sua utilização. Contudo, caso efetuemos a esquiva perfeita (no momento exato do ataque), recuperamos o uso imediatamente. Esta é outra mecânica que traz dinamismo a obra, já que não existe mais stamina para impôr limite de movimentação.
Chefes
Os donos da festa, ou melhor, do jogo. É inegável que as lutas finais dos jogos são sempre as mais esperadas. Não só pelo desfecho do enredo que elas guardam, como também pelas dinâmicas que apresentam.
Sem dúvida nossos deuses não deixam a desejar. Toda luta tem alguma mecânica diferente que exige raciocínio do jogador. Seja uma arena maior com um boss que vai de uma ponta a outra em um golpe ou uma arena menor onde precisamos pensar cada passo que damos.
Como essa é a parte mais importante do jogo, os desenvolvedores tiveram muito carinho nela, isso é visível. Todos os dez chefes possuem lutas únicas e bem construídas, e o mais importante nelas é que são justas. Já cansei de me deparar com jogos onde os chefes são injustos e não desafiadores.

Árvore de Habilidades
Algo que os criadores de Eldest Souls disseram é que o jogo traz, também, influência de MMORPG’s. Isso fica claro quando, ao derrotarmos um chefe, ganhamos pontos para gastar em uma janela de habilidades.
Essa é com certeza a customização que eu mais senti efeito dentre todos os jogos soulslike que joguei. Ela tem efeito imediato na sua jogabilidade. Todo ponto acrescenta algo interessante para sua build, não existe um momento que você não sabe onde gasta-los.
Além disso, existem três caminhos para seguir. Eu enxergo eles em estilos: um mais rápido, um com maior dano e outro com mais recursos de defesa. Apesar de não existirem atributos para evoluir, como é em Dark Souls, essa árvore de habilidades me permite muito mais opções, até porque podemos redefini-la a qualquer momento.
Como se não fosse o bastante, todo o chefe que derrotamos nos dá um fragmento. Esse fragmento pode ser colocado em diversos lugares da árvore e entrega efeitos diferentes. Dá para colocar o fragmento em qualquer uma das ações disponíveis. Ou seja, temos mais opções ainda de como iremos jogar.
A árvore de habilidades aliada com os recursos que Eldest Souls traz para seu Novo Jogo+ faz com que o fator replay seja alto e muito satisfatório. Por exemplo, a cada novo jogo os chefões ficam mais difíceis. Eles ganham novas habilidades e trazem novas dinâmicas para o jogador desafiar.

Conclusão
Eldest Souls executa com maestria o que propõe. Em um mundo destruído pelos próprios deuses, a única esperança que resta é você. Um game que traz inovações para o gênero soulslike e, utilizando bem da sua influência, cria sua própria identidade.
Os gráficos feitos de pixel art dão um show a parte, com animações bem fluidas e responsivas. Ou seja, além de entregar uma atmosfera perfeita, as indicações no combate são precisas.
A trilha sonora também é incrível. Da parte da exploração, onde os sons são o vento e objetos do mundo até as lutas. Todas as músicas são incríveis, instrumentais e emocionantes que surpreendem com lindos vocais.
Mesmo com alguns bugs que interferiram no meu jogo, nenhum deles aconteceram em algum momento grave. Em certo chefe, quando executava um poder em um determinado momento, meu personagem ficava imóvel. Imagino que, após o lançamento, esses pequenos bugs sejam corrigidos.
Por fim, se você gosta do gênero, Eldest Souls é necessário. Se você não gosta, ele é uma boa porta de entrada. De qualquer maneira, a obra vale a pena ser admirada, tanto no seu audiovisual como no seu polimento.
Chave concedida para análise*