Introdução
Fuga é um jogo que põe frente-a-frente a inocência e esperança das crianças, com os horrores da guerra. De um lado, um jogo sobre amizade e família, de outro, um RPG com batalhas tensas e bastante estratégicas.
Desenvolvido e publicado pela CyberConnect2, Fuga foi lançado no dia 28 de julho para PC, Switch, Playstation e Xbox.
A Guerra
O mundo deste jogo é bem-parecido com o nosso, com algumas pequenas diferenças. Dentre as diferenças, estão que as pessoas são cães e gatos antropomórficos, vivendo em continentes flutuantes. Porém, ele se assemelha ao nosso pelo fato de um país muito parecido com a França está sendo invadido por um país muito parecido com a Alemanha Nazista.
Esta história começa quando o exército do império Berman ataca uma pequena cidade rural no interior de Gasco. Com ordens diretas do seu general, os soldados capturam todos os moradores da cidade, e os levam como prisioneiros. Porém, um grupo de crianças consegue escapar, ao receber uma misteriosa mensagem em um rádio. A mensagem, implorava para que elas se abrigassem em um conjunto de cavernas próxima da vila, um local considerado sagrado pelos moradores, e cuja entrada é proibida.
Chegando lá, qual não foi a surpresa das crianças ao encontrar uma máquina de guerra gigantesca, escondida entre as rochas. Guiados pela voz, as crianças entram no tanque, e botam ele para funcionar, a primeira vez em sabe-se lá quantos anos (ou séculos). Assim, elas estão armadas para enfrentar o inimigo, mas será que estarão preparadas psicologicamente para o que deve ser feito em uma guerra?
O Tanque
Este grande tanque tem o nome de Taranis. Ele será um dos protagonistas em Fuga, junto com as crianças. O Taranis serve tanto para moradia, quanto para combate.
Assim, o jogo se divide em basicamente duas partes. Primeiramente, ele age como um gerenciador, onde você deve cuidar das necessidades das crianças, fazer melhorias nas salas e armamentos do tanque, e ainda lidar com o relacionamento entre as crianças. A seguir, vem a questão das batalhas, e como as crianças utilizam o tanque nos combates.
Cuidando das crianças
Um dos aspectos mais importantes nessa fase do jogo é garantir que as crianças estão bem dispostas, e prontas para superar os desafios à frente. Além disso, é importante garantir que o relacionamento entre eles esteja saudável, já que aqui o poder da amizade é algo concreto. Digo isso, pois quanto melhor o relacionamento entre as crianças, mais poderosos os especiais são na batalha.
Embora seja uma máquina de guerra, o Taranis também vem equipado com uma cozinha, uma fazenda, várias camas, e até uma máquina de lavar. Na fazenda, podemos plantar diversas frutas e legumes, além de criar galinhas e ovelhas. Dessa forma, temos ingredientes para usar a cozinha. Aqui, preparamos alimentos que conferem bônus aos status das crianças, que ajudam durante a fase de batalhas. Fora isso, elas podem descansar nas camas para ganhar experiência, ou lavar roupas juntos para ganhar mais nível de amizade.
Conforme avançamos, também juntamos itens usados para melhorar as instalações do Taranis, e fortalecer suas armas. Porém, como estes materiais são bastante limitados, é preciso decidir o que priorizar. Será que é melhor aumentar o poder da armadura do Taranis, ou dar um upgrade na cozinha e liberar refeições mais fortes?
Por fim, outro ponto a se considerar, é que você conta com um número limitado de Action Points por fase. Se quiser cozinhar, deve gastar alguns AP. O mesmo vale para fazer upgrades, e qualquer outra atividade no Taranis. Assim, é preciso planejar muito bem como gastar cada ponto, que pode fazer diferença no longo.
O Poder da Amizade
Enquanto isso, você também pode botar as crianças para conversar, e assim fortalecer suas amizades. Cada dupla de crianças tem o seu próprio nível de relacionamento. Este relacionamento se aprofunda quando elas conversam durante a fase de cuidado, ou quando elas batalham juntas. Em certos níveis, podemos companhar um “Link Event”, uma pequena cutscene entre as crianças, e mostra como o seu relacionamente está evoluindo.
Estes Link Events costumam girar em torno de temas “mundanos”, digamos assim. São assuntos do dia-a-dia, ou envolverem o interesse delas. Por exemplo, o evento entre o Malt e a Hanna se foca em como os dois se sentem os responsáveis pelo grupo, por serem os mais velhos. Mas, também mostra romance florescendo entre os dois. Para ver como essa história termina, é preciso evoluir sua amizade até o nível mais alto.
Além da história, a amizade é importante durante as batalhas também. Pois, as crianças são colocadas em dupla no tanque, e a amizade entre elas determina o nível de poder. Com pelo menos nível 2 de relacionamento, a dupla pode usar um poder especial chamado “Link Attack”. Este, é um ataque com um dano muito alto para todos os inimigos, mas que também tem um efeito secundário, dependendo da criança. Por exemplo, o Link Attack da Hanna cura o Taranis, enquanto o Link Attack do Socks tem chance de causar status negativos no oponente.
O Poder das Armas de Fogo
O Taranis pode ser equipado com 3 tipos de armas, em 3 espaços diferentes. Cada criança vem associada a um tipo de arma, onde você equipa nos espaços do Taranis. Assim, temos o canhão, o lança-granada, e as metralhadoras, em ordem do mais forte e lento, para o mais fraco e veloz.
Em cada espaço, você irá equipar duas crianças. Uma para ser o atirador, outra para ser o suporte. O suporte traz consigo uma melhoria passivo, seja ele um aumento no ataque, ou curar um pouco de vida a cada rodada. Já o atirador é responsável por atacar e usar habilidades.
As batalhas ocorrem por turnos, mas cuja ordem e determinada pela velocidade dos personagens. No topo da tela é possível ver uma linha do tempo com a ordem da ação de cada um. Essa informação é importante, pois é possível manipular a ordem que as coisas acontecem.
Todos os inimigos têm uma fraqueza para alguma arma. Se atingidos por um ataque desse tipo, sua ação é adiada. Controlar quando o inimigo ataca é essencial para saber quando é sua vez de atacar ou de defender.
Fora isso, cada criança tem um conjunto de habilidades, que pode diminuir as defesas inimigas, fortalecer aliados, ou apenas explodir o oponente de maneiras diferentes.
Já as batalhas acontecem de forma determinada pelo caminho que o Taranis percorre no capítulo. Isto é, o tanque se move sozinho, mas você pode escolher por qual caminho ele irá passar. Em bifurcações, você pode escolher ir pela rota segura, ou por uma rota mais perigosa. As seguras, oferecem inimigos mais fracos, mas que dão menos experiência e itens. Já as perigosas, são mais desafiadoras, mas também te darão maiores recompensas.
O Poder da Alma
Apesar de muito poderoso, o Taranis não é invencível. Em momentos de crise, uma arma secreta é ativada; O Canhão da Alma.
Esta é uma arma devastadora, capaz de reduzir qualquer inimigo a poeira com um único disparo. Porém, o preço a se pagar pode ser caro demais, pois este canhão só pode ser ativado utilizando a energia vital de uma pessoa. Isto é, para usá-lo, é preciso sacrificar uma das crianças.
Os efeitos do seu uso são bem aparentes. É uma carta na manga que pode facilitar muito as batalhas, porém, tematicamente, não é algo que você se sentirá inclinado a fazer. Estas crianças já passam por tanta coisa ruim na história, que usá-las como uma bala viva parece cruel. Infelizmente, também será necessária, dependendo de qual caminho você pegar na história.
Um Conto sobre família e Guerras
Pessoalmente, eu gostei bastante da história de Fuga, apesar de sentir que sua premissa inicial não se manteve tão boa durante toda a experiência. Explico.
Fuga tem uma temática pesada, apesar de seu visual de anime, e animais falantes como protagonistas. São famílias separadas pela guerra, destruição e morte por todo lado. E já no começo, ele nos obriga a usar o Canhão da Alma. É um momento tenso, onde temos de escolher qual das crianças será a primeira a morrer. É uma cena impactante e que cria uma grande expectativa pelo resto da história.
Porém, julgo que demorou muito para outro momento tão impactante como esse aparecer. Pois, nos capítulos seguintes, apesar das crianças se envolverem na guerra, e terem suas dúvidas e dilemas sobre isso, o clima era muito mais leve. A sensação que tive, é que o primeiro capítulo nos apresentou uma história dramática sobre guerra, onde tragédias acontecerão, enquanto nos capítulos seguintes ela perde esse drama e temos a certeza de um eventual final feliz.
Mas, tudo muda no final, onde a história volta para este tom mais trágico e dramático, e já não temos mais tanta certeza assim de um final feliz.
Músicas e Arte
A trilha sonora de Fuga merece muitos elogios, tanto na originalidade, quanto na habilidade de criar um clima. É difícil encontrar uma música tão cativante assim na primeira vez que você ouve, mas é o que aconteceu aqui na trilha sonora de Fuga. A música que toca enquanto exploramos o Taranis gruda logo na primeira vez que ouvi, me peguei cantarolando durante o dia, longe do jogo. Já as músicas de batalha são ótimas para empolgar no combate, bem difícil, por sinal.
Mas, a música de alguns Boss são muito memoráveis, e são bem diferentes do que se esperaria de uma música de batalha. Geralmente, o que esperamos é algo épico, bombástico, feito para pôr seu sangue para ferver e se preparar para o confronto. Porém, o que temos aqui reforça o tom melancólico da história. Pois, o combate não acontece por um desejo heroico das crianças. É uma infelicidade inevitável de quem tenta as impedir de se reunir com suas famílias.
Já a arte de Fuga tem muitos altos e alguns baixos. As ilustrações que acompanham a história, o final de cada capítulo, e o design de personagens, são belíssimos. Uma das recompensas por avançar na história, é pode liberar estas artes.
Porém, durante o jogo os gráficos já não chegam no mesmo nível. Os cenários são bastante simples, assim como o modelo 3D das crianças e do Taranis. Já os inimigos, apesar de um design bem distinto para cada um, são em pouco número. Mesmo sendo um jogo curto, a variedade de inimigos é baixa, então é inevitável sentir que há uma certa repetição nos confrontos.
Conclusão
Fuga: Melodies Of Steel é um ótimo jogo, com uma das melhores OST de um jogo indie do ano. Seu combate é bastante diferente do convencional, levando a diferentes estratégias e formas de se lidar com os inimigos. A história é muito boa, apesar de ter seus altos e baixos. Porém, o pacote completo delas entrega uma experiência memorável, capaz até de arrancar algumas lágrimas.