Universos cyberpunk sempre apresentaram narrativas interessantes. Cidades cheias de Neon, corporações corruptas e sociedades dominadas pelo consumo e tecnologia. Desde o lançamento de Neuromancer em 1984, o mundo futurista distópico se destaca em diversas áreas da cultura pop. Tivemos filmes como Blade Runner e até mesmo mais recentemente o controverso game Cyberpunk 2077.
O mais recente jogo que aborda está temática é The Ascent. O título foi desenvolvido pela Neon Giant e lançado no dia 29 de julho para Xbox One, Xbox Series X|S e PC, via Steam e Microsoft Store.
O game é um RPG de ação que pode ser jogado em cooperativo e promete apresentar um mundo cyberpunk em que o jogador terá que sobreviver ao domínio de uma corporação na sociedade. Assim sendo, chegou a hora de vermos se o título consegue se destacar em meio a este gênero tão peculiar.
A criação do personagem
The Ascent começa não muito diferente de outros jogos do gênero RPG. Somos apresentados a uma tela de criação de personagem, na qual devemos escolher a aparência e as habilidades iniciais. As opções de personalização são bem limitadas inicialmente, entretanto é possível muda-las ao decorrer do game. Pois, teremos acesso a diversos equipamentos ao decorrer da campanha.

As habilidades iniciais que podemos escolher acabam sendo limitadas a apenas algumas opções de mais defesa e dano. Portanto, após criarmos o nosso personagem, finalmente estaremos prontos para adentrar nesse novo mundo cyberpunk.
A primeira missão
Após termos criado o protagonista, o objetivo é irmos conversar com um NPC para pegarmos nossa primeira missão. Durante o percurso temos uma liberdade de exploração razoável, na qual é possível encontrarmos itens adicionais. Isso inclui peças de armadura, equipamentos e até mesmo armas. Assim sendo, o recomendado é sempre dar uma boa olhada pelo cenário antes de progredir até o objetivo principal.
Portanto, ao encontrarmos o personagem que devemos interagir, temos um pequeno dialogo explicando do porque devemos cumprir aquela missão. Logo em seguida, aprendemos uma habilidade de hackear, skill está que permite abrirmos portões e áreas que estão bloqueadas.
Embora seja uma habilidade interessante, infelizmente ele acaba não sendo muito explorada. Sendo que, normalmente só a usamos em momentos específicos para abrirmos determinados locais.
Assim sendo, avançamos um pouco mais pelo cenário e encontramos nossos primeiros inimigos. Eles são algumas criaturas cibernéticas que irão atacar o protagonista sempre que ele for avistado. Este momento serve como um tutorial de combate, que inicialmente parece meio complexo, entretanto é questão de costume.
Depois de lutarmos algumas vezes contra estas criaturas, voltamos ao NPC que nos deu a missão e recebemos nossa recompensa. Basicamente, este será o padrão de todas as missões de The Ascent. Iremos falar com um personagem, ele irá nos apresentar o objetivo e uma pequena explicação do porque aquilo é importante. Após isso, vamos lá e cumprimos a missão, sempre derrotando diversos inimigos pelo caminho. Em seguida, voltamos e pegamos nossa recompensa.
Um mundo sem muito a contar
A parte narrativa de The Ascent é bem simples. No geral, o mundo apresentado aqui se destaca mais pelo seu visual do que pelas histórias contadas. Normalmente, temos diálogos com os NPCs de quests principais que até tentam elaborar uma certa profundida nas coisas.
Entretanto, isto acaba não funcionando, pois a falta de carisma dos personagens torna eles não relacionáveis. Durante toda a campanha do game, eu não consegui me importar com nenhum dos personagens, sendo que até mesmo esquecia o nome deles ao decorrer da jornada. Este ponto poderia ter sido melhor trabalhado, pois carisma e personalidade são muito importantes em qualquer história.
Temos que considerar também o fator que estamos falando de um storyteliing cyberpunk. Assim sendo, no geral o mundo apresentado acabou deixando a desejar. Para exemplificar, temos diversos cenários diferentes no game, desde áreas ricas e de pobreza.
Durante o meu gameplay, eu dificilmente conseguia reparar na influencia negativa das corporações naquela sociedade. Pois, no geral os cenários apresentam os mesmos tipos de personagens que apenas entregam as missões e dão uma justificativa simples. Assim sendo, meu sentimento é que poderia ter sido feito um aprofundamento um pouco melhor nesse sentido.
Claro, eu estou falando na questão narrativa. Pois, se analisarmos a parte visual e dos inimigos, fica obvio que aquela cidade está com sérios problemas. O ponto aqui é que o storytelling poderia ter se aprofundado mais nesta questão.
Missões secundárias que se destacam
Embora as missões principais sejam direto ao ponto, as secundárias foram uma agradável surpresa. Pois, a maioria delas embora siga o padrão citado acima, costuma ter uma pequena narrativa que acaba sendo mais interessante. Uma coisa que eu notei, é que estas missões secundárias conseguem se destacar por serem mais simples em seus conceitos.
Portanto, enquanto uma missão principal apresenta um objetivo grande porém raso, os secundários por justamente serem mais simples, acabam funcionando melhor. Temos por exemplo, um objetivo opcional de resgatar um corpo que foi confiscado em um necrotério.
Em comparação com outras histórias apresentadas na campanha principal, está narrativa acabou se destacando por simplesmente apresentar uma clássica história de corporação querendo apagar os rastros de suas ações.
Assim sendo, quando o game se desprende de sua linha principal e objetivos grandiosos e foca em pequenos arcos com personagens, temos momentos interessantes.
Um gameplay divertido e viciante
O ponto forte do título é o seu gameplay. Temos aqui uma jogabilidade de tiro no estilo top down, ou seja, uma visão de cima do personagem, sendo similar a Diablo. Portanto, durante nossa jornada por este mundo, podemos correr, atirar, lançar granadas, desviar e até mesmo fazer uso de habilidades especiais.
Outro recurso presente são os Decks, skills estas que permitem que o protagonista faça um ataque especial, podendo ser tanto algo ofensivo como ataques de fogo e torretas ou uma skill ofensiva como um escudo de energia.
Portanto, durante o combate devemos atirar nos inimigos e fazer uso de nossas habilidades e armas para abrirmos caminho até o objetivo. No geral, o desafio apresentado acaba sendo bem variado ao decorrer da campanha. Os confrontos em ambientes abertos são mais fáceis, graças ao espaço aberto. Assim sendo, o protagonista pode ficar em constante movimento e atacando a distância.

Entretanto, quando estamos em lugares fechados o combate se torna mais desafiador. Pois, os locais acabam limitando a movimentação frequente, ação está que dá vantagem ao nosso personagem.
Inimigos variados
The Ascent apresenta uma boa variação de inimigos. Temos aqui soldados de corporações, criaturas cibernéticas e até mesmo chefes ocasionais. Cada um destes confrontos que o player enfrenta envolve uma abordagem diferente.
Por exemplo, ao lutar contra soldados com armas o mais recomendado é pegar cover e atirar a distância, sempre com cuidado. Entretanto, ao enfrentar um chefe de fase, está estratégia acaba não sendo eficaz. Assim sendo, a forma de ataque mais vantajosa é ficar em constante movimento e atacar com granadas e habilidades especiais.

Outro ponto positivo em relação aos chefes do game é que eles apresentam um visual ameaçador. Cada vez que eles entram em cena bate aquela sensação que teremos um combate cheio de adrenalina. E normalmente, é exatamente isto que acontece.
Um gerenciamento de inventário divertido
Uma das coisas que eu mais me diverti no game foi o gerenciamento de inventário. Pois, ao decorrer da campanha iremos encontrar novas armas, peças de armadura e acessórios. Cada um destes itens altera o visual do protagonista, sendo que a grande maioria das peças encontradas possuem um look interessante.
Em relação a isso, também é possível alterar as armas e habilidades que iremos usar em combate. Portanto, acaba sendo bem divertido montar combinações diferentes para enfrentar cada cenário em The Ascent.
Também existe um sistema de level de personagem no inventário. Assim sendo, cada vez que upamos de nível podemos distribuir 3 pontos em alguns atributos. Minha dica é focarem em vida e ataque crítico, pois sem estes atributos o game se torna muito desafiador na reta final.
Trilha Sonora
O título apresenta uma trilha sonora característica do gênero. Temos sons ambientes mais suaves que priorizam a imersão durante a exploração. Entretanto, nos momentos de combate uma música mais pesada começa, passando assim um sentimento de adrenalina na hora do combate.
Embora as trilhas sejam muito bem feitas, é notável uma repetição de faixas em muitos momentos do game. Assim sendo, na reta final as músicas não estavam mais passando o mesmo sentimento inicial. Portanto, poderia ter tido uma variedade maior de sons, principalmente nos momentos de confronto.
Em relação ao som das armas e ambientes, também é possível notar que não existe uma grande variação.
Um visual belíssimo e imersivo
Outro ponto forte de The Ascent é o seu visual. Temos aqui uma cidade cyberpunk cheia de Neon, diferentes áreas da cidade, cartazes de propaganda para todos os lados…. estes aspectos que são característicos de mundos cyberpunk. Portanto, o game consegue passar muito bem o sentimento de imersão naquele universo distópico, uma sensação está que até mesmo grandes jogos do gênero não conseguiram passar.

Além disso, temos situações que a beleza do game consegue se destacar ainda mais. Nos momentos de combate, temos grandes explosões que causam um contraste com a cidade. Esta característica se destaca ainda mais quando temos a combinação de chuva, uma luta de chefe e muitas explosões. Durante estes confrontos, o game consegue realmente impressionar.
Desempenho e Bugs
The Ascent apresenta um desempenho muito bom no Xbox Series S. O título roda a 60 FPS em praticamente todo o game e durante a minha experiência não senti nenhuma queda de framerate. Entretanto, o jogo apresenta um problema sério com bugs.
Durante o meu gameplay, tive diversos problemas técnicos envolvendo o progresso. Assim sendo, era comum eu chegar em uma área que deveria começar um diálogo ou um chefe aparecer e isso simplesmente não acontecia. Portanto, era necessário que eu reiniciasse o game para conseguir progredir.
O caso mais sério que eu tive, foi quando nem reiniciar o título funcionou. Então eu tive que reinstalar The Ascent para o bug ser resolvido. A desenvolvedora já informou que lançará atualizações para corrigir estes problemas, entretanto, até o momento que está analise está sendo escrita, os bugs ainda permanecem.
Conclusão
The Ascent é um game divertido e viciante. Embora não apresente uma narrativa muito profunda, o título consegue se destacar com seu gameplay e imersão no mundo cyberpunk.
Entretanto, a presença de bugs que atrapalham o progresso pode frustrar o jogador em alguns momentos. Felizmente, a desenvolvedora promete que estes problemas será corrigidos em breve, o que irá tornar a experiência mais gratificante.
Por fim, eu recomendo o jogo para todos os amantes de um bom shooter top down e que gostam de imergir em um mundo cyberpunk. Pois, nos momentos de ação e imersão, The Ascent realmente se destaca.
*Chave cedida para análise no Xbox