Desenvolvido pela Phigames, Recompile tem uma proposta diferente: Você controla um programa, aqueles mesmos de computador, e precisa consertar um mainframe por dentro.
Esta ideia um tanto quanto peculiar é inserido em um game de ação e plataforma 3D, em um mundo completamente digital. Afinal, estamos de fato dentro de um computador.
Lançado em agosto de 2021, Recompile está disponível para PC, PS5 e Xbox Series S|X.
História
Em Recompile você vai controlar um sistema ou programa consciente que tem a missão de salvar um mainframe. Neste, funciona uma inteligência artificial chamada de Hypervisor. Mas, depois de um tempo, ele perde o controle (alô revolta das máquinas), trazendo caos nos sistemas da máquina.
Contudo, sua missão não será fácil já que o mainframe considera você uma ameaça e vai tentar destrui-lo a qualquer custo. Ademais, a parte mais interessante da trama é que aparentemente a revolta da IA Hypervision colocou a sobrevivência de um grupo de cientistas em xeque.
Esta história é contada através de textos coletáveis durante o jogo, sendo mais um incentivo para explorar os cenários. Além disso, outros assuntos mais profundos são abordados nesses textos, como a natureza das IA.
O Jogo
O protagonista de Recompile tem forma humanoide e em seu controle deve-se explorar os cenários resolvendo desafios de plataforma, puzzles e enfrentar inimigos. No decorrer do gameplay, o programa recebe “upgrades”, que liberam novas habilidades, como investidas e um salto duplo extremamente importante.
A progressão entre os cenários é linear, contudo, há certa liberdade na ordem em que podemos completar alguns objetivos neles para então avançar. Enquanto isso, alguns trechos só podem ser acessados adquirindo determinadas habilidades.
Ao enfrentar inimigos, Recompile se transforma em um jogo de tiro em terceira pessoa. Nosso programa tem à disposição diferentes armas, adquiridas como upgrades, assim como as habilidades. Por exemplo, uma pistola e uma escopeta, cada uma com suas próprias vantagens e desvantagens.
Porém, enfrentar inimigos pode ser frustrante. A mira do jogo é péssima e a precisão das armas é terrível. Além disso, enquanto está mirando o personagem se move feito uma tartaruga. Enquanto isso, os inimigos são ágeis, aumentando ainda mais a sensação de impotência ao entrar em batalha.
Cada área tem um chefe no final. E se as batalhas contra os repetitivos inimigos já eram chatas, contra os Boss é ainda pior. Recompile falha no balanceamento dos embates, os chefes são ainda mais rápidos e matam com um único acerto. E não, o game não era para ser um Soulslike.
Um Hacker
O grande diferencial na jogabilidade é a possibilidade hackear certos elementos. A partir de um momento será possível parar o mundo e alterar o comportamento de elementos dos cenários. Por exemplo, esta mecânica é muito útil em combates, onde podemos transformar inimigos em aliados por um tempo ou destruí-los com um comando.
Hackear também pode ajudar a resolver alguns dos puzzles espelhados pelo mainframe. Mas a sensação é de que o sistema foi pouco explorado, afinal seu uso é limitado. Ele é mais útil em combate, e ainda sim em determinados momentos nem isso salva as falhas deste ponto.
Aspectos Técnicos
Recompile roda liso e com perfeição no Xbox Series S, os loadings são praticamente instantâneos, mesmo após as várias mortes durante o gameplay.
Os gráficos, dentro da sua proposta são bem satisfatórios. Não há serrilhados muito evidentes, nem quedas de quadro, apesar de ter alguns momentos de alta velocidade no gameplay. Em compensação, há poucos momentos com muitos inimigos na tela, o que ajuda a manter as coisas rodando bem.
Os sons do jogo e e trilha sonora foram extremante bem pensados pela desenvolvedora para combinar com o ambiente digital. Temos vários sons “binários” durante o jogo, o que é muito legal. Até o sons dos tiros é levemente modificado para parecer algo mais digital.
Outro ponto é a falta de localização para o português, nem mesmo legendas. Sendo assim, o jogo fica realmente mais complicado para quem não entende inglês, além de perder todo o contexto da história do Hypervisor.
Erro no sistema
Recompile poderia ser um jogo memorável, contudo são muitos deslizes que acumulados atrapalham muito a experiência.
Além dos problemas do combate, os controles são bastante imprecisos e isso não é bom, já que em muitas partes de escalada seria necessária uma precisão maior do protagonista. Por exemplo, é frequente precisar saltar entre plataformas, o problema é que, além de serem pequenas, algumas plataformas se movimentavam.
Una a isso um controle impreciso e o resultado é: Muitas quedas e irritação. Além disso, o personagem é frágil ao cair de alturas medianas, o que deixa os erros ainda mais punitivos. Essa parte é um verdadeiro teste de paciência.
Visual
Recompile tem uma ambientação única, já que imagina como seria um mundo digital. O protagonista, por exemplo, é feito de inúmeros cubos brilhantes. Partes do cenário só ficam sólidas quando nos aproximamos, como se fosse um glitche de instabilidade do mainframe.
Contudo, alguns cenários são bastante escuros e quase não há contraste entre os objetos, tornando a movimentação difícil, especialmente durante os saltos. E o mapa, apesar de ter uma ideia diferente de apresentação, não ajuda, já que não representa os cenários 3D e não indica com exatidão aonde esta.
Algo que pode causar grandes problemas é o efeito estroboscópico do jogo. A iluminação dos personagens e alguns cenários se contrapõem e causam o efeito. Como é de conhecimento, pessoas fotossensíveis podem apresentar até convulsões devido a este efeito.
Durante minha experiência, em mais de um momento, tive de parar de jogar porque estava sentindo bastante dor de cabeça. Isso não é uma regra, mas com certeza vai afetar alguns.
Conclusão
A ideia principal é bem interessante, mas, infelizmente, Recompile falha na execução de algumas ideias, e isso compromete o jogo como um todo.
O mundo digital imaginado dentro do mainframe é bom. No entanto, os problemas na precisão dos controles, o combate e a mecânica de hackear mal aproveitada tornam Recompile um título nada marcante.