Introdução
Faltando pouco tempo para o lançamento de Psychonauts 2, encontrei a desculpa perfeita para finalmente jogar este clássico. Com ideias, cenários e personagens malucos, Psychonauts se mostrou uma experiência memorável. Uma jornada psíquica pelas mentes de monstros, loucos e desajustados.
Este jogo foi lançado em 2005 para Playstation 2 e Xbox, e eventualmente recebeu um port para PC via steam. Também encontra-se disponível no Xbox Game Pass, em uma versão em HD com algumas melhorias de framerate, mas sem Widescreen, infelizmente. Este foi o primeiro jogo lançado pelo estúdio Double Fine, responsável também por Brutal Legends e Costume Quest.
Ra-Ra-Razputin
O herói deste jogo é um jovem chamado Razputin. Ele fugiu de casa para encontrar o acampamento de verão dos Psychonauts. Esta é uma equipe de agentes secretos, que realizam missões contra vilões com poderes psíquicos. Como diz o treinador Orleander, o campo de batalha mais perigoso e traiçoeiro de todos é a sua própria mente.
Este acampamento é um centro de treinamento para jovens recrutas aprenderem a usar seus poderes mentais, e talvez um dia se juntarem aos Psychonauts.
Porém, enquanto está aqui, Raz começa a ter visões de um “Cientista Maluco” com planos para dominar o mundo. Bom, na verdade ele é um Dentista, mas continua maluco e com planos de dominação mundial.
Assim, Raz vai aprender a utilizar todo o poder da sua mente, enquanto se aventura pela psique de diversos personagens, um mais louco que o outro.
Acredito que a característica que mais chama atenção no Psychonauts é o quão criativo e variado ele é. E isso vai desde as mecânicas das fases, ao seu design de personagens e história.
Personagens “Diferentes”
Primeiramente, as crianças com quem Raz interage no acampamento são bem distintas uma das outras. Cada criança tem uma personalidade diferente, e alguma situação cômica relacionada.
Temos, por exemplo, o Dogen, um garotinho doce e inocente, que usa um chapéu de alumínio na cabeça. Este, é um limitador para seus poderes psíquicos, já que ele acidentalmente explodiu a cabeça de uma pessoa. Na verdade, ele acha que isso já aconteceu quatro vezes, mas não tem muita certeza.
Outro bom exemplo é Mikhail, um garoto fazendo intercâmbio da Russia, que gosta muito de apenas quatro coisas: Ursos, Lutas, Ursos Lutadores e Lutar com Ursos. Ele tem certeza de ter visto um urso pelado gigante rondando o acampamento, e quer muito lutar com ele.
Além das crianças, temos os professores, e cada um é responsável por te ensinar a usar alguns dos poderes de Raz. Para isso, você deve entrar na mente deles, visitar o seu mundo psíquico, e lá você aprende a liberar o potencial da mente.
A mente é realmente um lugar maluco, e cada fase do jogo se passa na mente de uma pessoa diferente.
Diferentes Mentes, Diferentes Realidades
Assim como os personagens, os mundos são bem diferenciados, com uma temática e mecânicas diferentes. Todas elas refletem o estado psíquico do seu dono, e revela um pouco sobre seu passado e como ele enxerga o mundo.
Por exemplo, a mente do professor Sasha Nein é um cubo limpo e muito bem organizado, já que ele é alguém obcecado por deixar as coisas em ordem, inclusive seus pensamentos. Já o mundo da professora Vodello é uma grande festa, para refletir sua personalidade mais alegre.
Cada uma delas também tem uma mecânica própria, assim, você não vai passar muito tempo repetindo as mesmas coisas. Voltando ao exemplo anterior, o mundo cúbico de Sasha é focado em lutas contra os Censores, agentes do subconsciente que tentam te expulsar da mente dele. Enquanto isso, o da professora é focado no uso da levitação. Assim, você participa de uma corrida com a Bola de Levitação, e deve flutuar em desafios de plataforma.
A mente esconde muitas coisas
Psychonauts pode ser classificado com um jogo de Aventura 3D com Plataforma e Colecionáveis. Ou seja, para completar uma fase, você deve resolver o problema da mente da pessoa, e derrotar algum trauma que ela apresenta. Para isso, Raz usará de poderes mentais como o Tiro Mental, levitação, invisibilidade e Telecinese. Além disso, ele tem o poder de conjurar alguns braços psíquicos para golpear inimigos. Mas, ir até o final é só um dos objetivos. Espalhados pelo mapa, você encontrará diversos itens para colecionar e chegar ao 100% completo. Entre eles, estão os fragmentos de imaginação, carga emocional e os baús da memória.
Os fragmentos são o equivalente a moedas no jogo, mas cada uma é um desenho relacionado à temática da fase. Elas também ajudam a subir o ranking do personagem, que fortalece seus poderes. A carga emocional são malas tristes que se perderam de sua etiqueta. Portanto, basta encontrar a etiqueta, e levar para a mala correta.
Já os baús de memória são mais interessantes. Estes contém um pequeno “Slideshow” com mais sobre o passado do dono da mente. Este é um colecionável importante de se encontrar, se seu objetivo é entender bem o que está se passando nesta mente.
Transbordando Criatividade e Humor
Reforço o que disse acima, Psychonauts esbanja carisma, humor e criatividade. Sua ideia das fases se passarem na mente das pessoas abre infinitas possibilidades sobre o que é possível fazer, e o jogo usa e abusa dessa liberdade.
É raro encontrar algum jogo com tanta variedade de mecânicas e apresentando uma ideia genial atrás da outra. Em um momento, você está andando por um bairro de subúrbio habitado por agentes secretos do governo. No outro, está em um teatro encenando peças sobre os traumas e glórias da pessoa. Logo em seguida, está andando por um tabuleiro, ajudando o dono da mente a vencer um jogo que ele nunca foi capaz de ganhar, o que o levou à loucura. Tem até uma fase que você se torna uma espécie de Godzilla para atacar uma cidade povoada por peixes antropomórficos, destruindo prédio e esmagando tanques de guerra.
Enquanto isso, os personagens e situações dentro dessas mentes são, ao mesmo tempo, hilários e trágicos. Pois, apesar de o jogo ser bastante engraçado, com um tom de comédia pastelão, também encontra tempo para apresentar alguns temas mais complicados. Por estar na mente, você também tem acesso às inseguranças e medos da pessoa. Até mesmo, pode encontrar em algum canto escondido, uma memória dolorosa que a pessoa preferia deixar para trás.
O design de personagens é bem criativo, mesmo que seja um tanto estranho. Eles geralmente apresentam proporções bem curiosas, com cabeças, olhos e membros de tamanhos bem diferentes do que se esperaria. E isso eu digo como um ponto positivo, já que são instantaneamente memoráveis, de tão estranhos que são. A música também consegue traduzir bem o clima das fases, e te ajuda na imersão. Porém, são poucas as trilhas que realmente se destacam e ficam na cabeça depois.
É um jogo antigo, não se esqueça
As únicas reclamações que tenho sobre o jogo, estão relacionados mais a sua idade. Lembre-se, que ele é um adolescente de 16 anos, mais velho que boa parte dos jogadores de Fortnite. Então, seu gameplay é um tanto travado para os padrões atuais. O pulo do personagem é o pior aspecto do jogo, já que ele parece demorar coisa de meio segundo para pular depois de apertar o botão. Não é um problema, até encontrar alguma sessão de plataforma desafiadora, como na fase final.
Falando nisso, a última fase também é um ponto a se citar como um ponto negativo do jogo. É uma fase bastante difícil e frustrante, cheia de truques baratos para te fazer morrer. Um desafio em auto-controle para não perder o controle, tanto figurativamente, quanto literalmente num súbito encontro com a parede.
A aparência dele também pode incomodar, pelo menos a versão de Xbox. Infelizmente, o port feito aqui não ajusta a resolução do jogo, então duas grandes barras pretas ficam em volta da tela. Pessoalmente, a sensação de estranheza disso passou rápido, então nem considero tanto um problema.
Psychonauts ao Resgate
Psychonauts é um daqueles jogos memoráveis que todos deveriam experimentar. Sua mistura de exploração, plataforma e combate, continua atual até hoje. Suas ideias de explorar a mente humana são bastante criativas. Para quem já jogou Persona, encontrará aqui conceitos parecidos, como o inconsciente coletivo e os “palácios” mentais de cada pessoa.
Não é um jogo longo, mas é impressionante como ele não se contenta em repetir ideias, e cada uma das 12 horas que gastei nele foram proveitosas e divertidas. Pois, Psychonauts é um jogo que nos diverte muito com seus personagens estranhos, seu humor debochado, suas fases e mecânicas diferentes. Agora, basta esperar ansiosamente pela continuação, que já está atrasada em 16 anos.