Os jogos e seus superpoderes
Às vezes alguns jogos entram em nossas vidas e deixam marcas. Mas nem sempre nós entendemos o porque esses jogos nos marcam e o que os tornam tão especiais. Se passou um ano desde que zerei Life is Strange 2, sequencia de um dos jogos com a história mais bonita e impactante já feita, que é o primeiro Life is Strange. E talvez a expectativa de uma sequência ainda melhor tenha feito os fãs não gostarem tanto do segundo jogo e se decepcionarem um pouco com a experiência que foi entregue. No meu caso, toda essa premissa me deixou ainda mais curioso para entender a mensagem que o jogo tinha para me passar.
Life is Strange 2 chegou em minha vida em 2020, um ano após o lançamento de seu último capítulo. A cada capítulo dessa jornada eu me senti mais imerso e encantado com o que estava experienciando. Na época eu não entendi claramente o que me fez sentir todas aquelas emoções, mas depois de quase um ano a mensagem realmente entrou na minha cabeça e quero dividir com vocês o que aprendi.
Nesse texto eu trago 5 coisas que Life is Strange 2 nos ensinou.
Enredo
Life is Strange 2 é um jogo narrativo que foi desenvolvido pelo estúdio francês Dontnod e foi publicado pela Square Enix. O jogo chegou em capítulos, o primeiro sendo lançado em setembro de 2018 e o último em dezembro de 2019. No jogo nós controlamos Sean Diaz, um adolescente de 16 anos e seu irmão mais novo, Daniel, de 9 anos. Ambos são imigrantes mexicanos que vivem em Seattle junto com seu pai Esteban após o abandono da sua mãe Karen. Pela origem mexicana, tanto os filhos Sean e Daniel, quanto Esteban sofrem muito preconceito nos Estados Unidos. Em um desses atos xenofóbicos, o irmão mais velho Sean para proteger seu irmão Daniel, agride um de seus vizinhos. A polícia brevemente chega ao local da briga. No momento que Esteban chega para entender a confusão e o motivo da presença da polícia, é baleado sem motivo algum.
É aí que entra a magia de Life is Strange, ao ver seu pai sendo baleado, Daniel, o filho mais novo provoca uma explosão de energia, ferindo policiais e danificando sua casa. Por serem imigrantes em um país intolerante, os irmãos fogem para a cidade de Puerto Lobos, no México, cidade natal de Esteban. Eles fogem, pois, certamente serão presos e irão se separar, afinal, a única coisa que eles tem a partir de agora são um ao outro. A partir daí, a história dos irmãos passa a ser uma jornada de descobertas, amizade, perdão e amor.
Mas afinal, o que Life is Strange 2 nos ensinou?
O texto contém spoilers.
Ser mais velho não quer dizer que somos melhores em algo
A primeira coisa que aprendi é que em vários momentos, Sean, como irmão mais velho, sentiu-se num papel de pai e instrutor para seu irmão Daniel. Sean tem apenas 16 anos e aparenta ser mais maduro que seu irmão Daniel. Mas ao longo da jornada vemos que ser mais velho não diz muito. Daniel é o irmão que tem superpoderes e isso faz com que ele possa ensinar muito ao seu irmão também, principalmente sobre respeito. Durante a jornada eles percebem que apenas se tratando como iguais eles conseguirão permanecer juntos.
Ser melhor em alguma coisa não quer dizer que não devemos ouvir e respeitar os outros
Embora Daniel ser o único irmão com superpoder, ele é muito novo para lidar com toda essa responsabilidade. Em certos momentos, Daniel esquece todos os problemas que estão enfrentando para ser uma criança. Ele faz amizades e brinca com outras crianças, quer e tenta se divertir, mesmo sabendo que não podem ser vistos e reconhecidos por ninguém.
Nesse momento, Sean tem um papel super importante. Por ter 16 anos, ele sabe a importância de cuidar de seu irmão, de ser mais pé no chão, entender e explicar as consequências para seu irmão mais novo de uma forma que ele possa entender. Como qualquer criança, Daniel tem seus momentos de rebeldia e de raiva. Seus poderes são expostos e sua identidade deixa de ser secreta. Em alguns momentos, Daniel deixa claro ao seu irmão mais velho que não quer mais viver com ele. Deixa claro também que é ele quem está no controle, pois pode resolver tudo usando poder.
Isso ensina que mesmo sendo melhores em algo, devemos ser humildes e ouvir o que os outros têm para nos falar. Em Life is Strange, eles são apenas crianças, mas podemos trazer isso para nossas vidas. Devemos aprender que sempre temos algo a aprender com as pessoas, independentemente se são mais novas ou mais velhas que nós.
Ser tolerante e amar o próximo
Life Is Strange 2 se passa em 2016 nos Estados Unidos, em tempos onde a intolerância é cada vez mais evidente. A cada capítulo vimos os irmãos Diaz sendo repreendidos de alguma forma. Seja por sua nacionalidade, seja por sua cor parda. Vemos também outros personagens que encontramos durante a jornada serem repreendidos pelo seu modo de vida ou por escolhas que eles fazem.
Isso nos ensina que a intolerância e a falta de amor nos afasta cada vez mais. Devemos entender que todos temos diferenças e que devemos aceitá-las, só assim poderemos viver em uma sociedade melhor e mais justa. Parece frases prontas, mas videogames é uma mídia que está em evidência nos dias de hoje. Os videogames são alvos de críticas quando temos péssimos exemplos dentro da indústria, então os games também servem como mídia para passar boas mensagens para as pessoas.
Devemos ajudar mais as pessoas, pois às vezes a ajuda vem de quem menos esperamos
Em um dos capítulos, os irmãos Diaz, conheceram Brody. Este homem é um simples viajante que registra sua jornada em seu próprio blog. Após os três se conhecerem, Daniel e Sean são reconhecidos por uma pessoa com más intenções. E são ajudados por esse humilde jornalista viajante. Além de ajudar na fuga, Brody oferece carona e dá dinheiro para que os irmãos consigam sobreviver por mais tempo na estrada. Brody se torna ainda mais importante para os irmãos quando dá sábios conselhos para Sean sobre como um adulto agiria com o irmão mais novo Daniel.
Life is Strange 2 ensina que devemos ser um Brody com as pessoas. Às vezes pessoas como Sean e Daniel passam em nossas vidas precisando de ajuda e muitas vezes fechamos os olhos. Devemos sim ajudar as pessoas sem querer algo em troca.
Apesas dos nossos problemas, devemos nos permitir a viver e ter novas experiências
Durante a jornada, os irmãos conhecem dois clandestinos, Finn e Cassidy. A partir daí, Sean e Daniel começam a viver em cabanas montadas dentro da floresta a caminho da Califórnia, junto dos novos amigos em uma pequena comunidade. Da mesma forma que Daniel sente vontade de fazer coisas normais como todas as outras crianças, Sean sente vontade de se relacionar com outros adultos. Essa comunidade serve como escape para todos os problemas que Sean está passando junto de seu irmão. Nesse trecho da aventura, Sean se relaciona emocionalmente com Finn ou Cassidy (caso suas escolhas te levarem para esse lado), Sean pode usar drogas e até fazer tatuagens.
Esse capítulo de Life is Strange foi um dos mais importantes para mim. Aqui ficou claro que mesmo com todos os problemas que passamos, devemos nos permitir ter novas experiências, nos relacionar com outras pessoas e ter momentos de felicidade.
A espera de novos sentimentos com Life is Strange: True Colors
Life is Strange: True Colors é o próximo jogo da franquia e será lançado no dia 30 de setembro. Já foi revelado que o poder da protagonista é ouvir o pensamento das outras pessoas. Certamente irei jogar True Colors e espero sentir novas emoções e ser positivamente impactado da mesma forma que Life is Strange 2 me impactou.