Introdução
Chernobylite se inspira no acidente de Chernobyl que aconteceu em abril de 1986 em uma usina localizada em Pripiat, na Ucrânia soviética. Este desastre ocorreu após um dos reatores da usina explodir, causando um incêndio que espalhou radiação por toda a região próxima. Está tragédia fez com que cidades próximas da local ficassem inabitáveis, pois, o nível de radiação até os dias de hoje é altíssimo, o que pode causar doenças graves nas pessoas que se exponham por muito tempo ao ar contaminado.
Por ser um desastre marcante na história, já foram produzidas diversas obras apresentando esta tragédia. O mais recente, é a mini série da HBO chamada de Chernobyl. Portanto, Chernobylite é mais uma narrativa que usa como cenário este evento marcante.
O game tem a proposta de ser um survival horror, sendo que o foco é a coleta de recursos e sobrevivência. Além disso, a obra promete apresentar uma narrativa intrigante e misteriosa. Assim sendo, será que está combinação de elementos funciona ou acaba sendo ofuscada por escolhas ousadas mas pouco eficazes? Hora de sabermos em mais uma análise do Garota no Controle.
Chernobylite foi desenvolvido pela The Farm 51 e lançado no dia 28 de setembro para Xbox One, Xbox Series X|S, PlayStation 4 e PlayStation 5. O título também está disponível no PC, via Steam.
O desaparecimento de Tatyana
O game começa apresentando uma pequena introdução narrando o acidente de Chernobyl. Portanto, como a narrativa do título usa de fundo a veríssima tragédia, é importante contar o básico sobre o ocorrido. Assim sendo, é exatamente isto que acontece, temos um resumo sobre o acontecimento e logo em seguida a introdução de uma personagem importante.
Durante o desastre em Chernobyl, uma mulher chamada Tatyana desapareceu misteriosamente. Ela era noiva de Igor, um dos soldados que estava em ação no dia do acidente na usina.
Portanto, anos depois do desaparecimento, o noivo de Tatyana começa a ter estranhos pesadelos envolvendo sua mulher e Chernobyl. Um dos seus pesadelos é apresentado logo no começo do título. Portanto, este sonho envolve Igor andando em uma estranha floresta seguindo sua noiva.
Entretanto, por mais que ele tente, não consegue alcança-la. Além disso, em determinado momento, estranhas criaturas verdes aparecem e começam a atacar o protagonista. Portanto, ele deve usar uma arma que misteriosamente apareceu em suas mãos (mundo dos sonhos né?) e atirar em todos eles. Depois de um tempo confrontando os inimigos, Igor será nocauteado e acordará do seu pesadelo. Assim sendo, ele reflete sobre o ocorrido e decide que chegou a hora de tentar entender o significado desses sonhos.
Portanto, ele junta uma pequena equipe de companheiros e decide ir até Chernobyl para descobrir o motivo de suas visões.
Uma terra devastada pela radiação
Após está introdução, o gameplay começa com Igor e seus companheiros adentrando a terra devastada pela radiação. Neste momento inicial, já é possível notar a atmosfera melancólica que Chernobylite apresenta. Assim sendo, este elemento logo atiçou minha curiosidade sobre os próximos passos que a narrativa iria tomar. Portanto, logo depois que chegamos na usina, os personagens se deparam com alguns soldados protegendo o local.
O jogador recebe então um pequeno tutorial de furtividade, basicamente, é só passar por trás dos inimigos que eles não avistam o protagonista. Entretanto, o mais interessante é que o título já estabelece uma mecânica de escolhas. Assim sendo, o player pode passar por este local tanto em furtivo como atacando todo mundo.

Após avançarmos, Igor e os seus camaradas conseguem se infiltrar na base e chegam em uma sala de controle. Neste momento, o protagonista começa a ouvir vozes de Tatyana em sua cabeça dizendo que eles não devem adentrar mais naquele local. Assim sendo, Igor obviamente decide fazer o contrário do que a voz diz e avança mais naquela misteriosa usina.
Logo, os personagens encontram um estranho tipo de objeto radiativo que pode manipular o espaço e o tempo. Entretanto, quando estavam prestes a tocar no item, um homem com roupas radiativas aparece e mata um dos companheiros de Igor. Em uma atitude desesperada, ele abre um portal usando a estranha pedra recém encontrada e consegue escapar do local.
Portanto, após isso ele acorda novamente na floresta de Chernobyl perdido e ainda em choque com tudo que aconteceu. Assim sendo, o jogador deve buscar respostas, encontrar Tatyana e se vingar do misterioso assassino.
Uma história que poderia ser melhor
Chernobylite apresenta diversos conceitos narrativos interessantes. O título trabalha com viagem no tempo, efeito borboleta e até mesmo realidades paralelas. Entretanto, nenhum destes elementos é bem trabalhado aqui. Infelizmente, os conceitos citados acima são apenas usados como uma justificativa para o uso de manipulação da realidade no gameplay.
Assim sendo, a viagem no tempo basicamente só serve para voltarmos em um cenário pós morte e tentar fazer as coisas de forma diferente. Claro, existem sim momentos chaves de escolhas e que a manipulação de realidade é mais presente. Porém, no sentido narrativo, estes elementos não recebem uma profundidade necessária para imergir o jogador, o que acaba tornando estas características rasas. Portanto, em vários momentos do game eu esperava um aprofundamento maior e isso nunca chegou, nem mesmo na reta final, o que foi altamente decepcionante.

Além disso, temos a questão do desaparecimento de Tatyana. Diferente do elemento sobrenatural do game, o desfecho apresentado em relação a noiva do protagonista acaba se destacando por ser imprevisível e até mesmo reflexivo. Assim sendo, este fator acabou me agradando bastante ao decorrer da história, ao contrário do elemento sobrenatural.
Um gameplay de exploração e sobrevivência
A parte central da jogabilidade de Chernobylite irá envolver exploração e construção de base. Assim sendo, o gameplay é em primeira pessoa, sendo que o jogador deverá explorar cada local novo que adentrar no game, sempre em busca de recursos como munição, armas, plantas para o craft de comida e itens medicinais e claro, itens para a customização da base.

Assim sendo, o título apresenta um sistema no qual o jogador terá uma central de operações que poderá customizar como bem entender. Portanto, é possível construir uma mesa de construção de armas, armaduras e até mesmo detalhes mais cosméticos e de decoração.
Todos estes recursos deverão ser obtidos ao decorrer das diferentes missões que adentraremos na campanha. Além disso, em cada missão que o jogador se aventurar, será possível levar companheiros. Estes camaradas podem ser recrutados em diferentes locais específicos na jornada.
Portanto, o ciclo por assim dizer é basicamente selecionar uma missão, ir até o local em busca de recursos e informações, voltar, personalizar a base e repetir tudo novamente. Além disso, durante os momentos de exploração, o jogador terá que se preocupar com os níveis de radiação dos locais.
Logo, o protagonista terá acesso a um aparelho que mede a toxidade do ambiente e ao mesmo tempo, também pode ser usado para soltar um pequeno pulso que destaca em amarelo alguns itens no ambiente.
Um combate que cumpre seu propósito
O combate em Chernobylite não foge muito do que se espera de um FPS. no geral, o combate é usando armas de fogo, sendo que temos acesso a pistolas, metralhadoras e espingardas ao decorrer da jornada. Além disso, o jogador também pode seguir um estilo de gameplay mais furtivo, o que acaba sendo vantajoso em ambientes com muitos inimigos.
Durante a jornada em Chernobylite, o protagonista terá que lidar com diversos tipos de inimigos. Sendo eles tanto humanos quanto monstros. No geral, as criaturas acabam tendo uma variação modesta, o que as vezes faz o jogador sentir que está sempre enfrentando os mesmos inimigos. Felizmente, na minha experiência este fator não me incomodou, pois os momentos de combate são bem espalhados no título.
Viagem no tempo e realidades paralelas
Como dito anteriormente, Chernobylite apresenta um sistema de viagem no tempo e realidades paralelas. Sem entregar muito, posso dizer que este sistema tem a principal função de alterarmos planos que não funcionaram. Para exemplificar, logo no começo do game, temos que invadir uma base que esta cheia de inimigos. A primeira tentativa acaba não sendo efetiva, pois nosso parceiro se recusa a nos acompanhar nesta infiltração.

Assim sendo, coletamos informações durante a run na fase e ao morrermos, vamos para um mundo alternativo no qual podemos mudar alguns eventos recentes. Portanto, neste local sobrenatural, podemos voltar em uma seção especifica e alterar algo do passado. Com isso, são abertas novas oportunidades para que o jogador possa progredir no game.
Embora pareça algo complicado inicialmente, no geral este recurso acaba sendo bem simples, sendo que esta simplicidade em um aspecto tão complexo e abrangente acaba sendo decepcionante.
Trilha Sonora
A trilha do game foca em tons melancólicos e tristes. Pois, o objetivo principal da música aqui é representar o desespero do personagem naquele local e sua luta constante por sobrevivência. Assim sendo, nem mesmo em momentos de confrontos este aspecto muda, sendo que ele é ainda mais impactante graças aos grunhidos arrepiantes dos monstros. O som emitido pelas armas e pelos diferentes ambientes no game são impressionantes, pois conseguem emergir o jogador naquele ambiente com maestria.
Um visual atmosférico e melancólico
Chernobylite consegue passar a sensação de desespero que o protagonista se encontra naquele local. Pois, a cada local que adentramos, seja ele uma usina, floresta densa ou casa abandonada, sempre é presente aquele vazio no ambiente. Portanto, em conjunto com a excelente trilha sonora, o player vai se sentindo cada vez mais oprimido e sufocado pela ambientação de Chernobyl, em uma sensação única, como se realmente estivesse sendo infectado por toda a tristeza e tragédia daquele local.

Infelizmente, nem tudo é perfeito. Pois, toda está imersão que citei acima acaba sendo quebrada quando vamos para o universo paralelo. Assim sendo, este elemento sobrenatural acaba se destacando demais em nível fantástico, o que prejudica a verossimilhança.
Outro fator que foi altamente prejudicial na experiência foi o efeito de sensação de movimento da câmera usado no game. Este elemento faz com que sempre que o jogador mova a câmera para olhar ao redor, um efeito borre os objetos próximos. Este fator prejudicou muito a minha jogatina, sendo que eu tive fortes dores de cabeça em diversos momentos. Além disso, não existe uma opção de desativar este recurso, o que acaba tornando a situação ainda mais complexa.
Desempenho
Minha gameplay foi no Xbox Series S. Entretanto, a versão em execução no console era a do Xbox One em retrocompatibilidade. Assim sendo, os gráficos são interessantes e bonitos, em especial nos momentos noturnos, porém o FPS é travado em 30. No geral, o game se mantém fluido na maior parte do tempo, sendo que quedas de framerate acontecem em cenários com muitos efeitos visuais, como explosões e nos locais do mundo alternativo.
Conclusão
Chernobylite é uma obra que apresenta conceitos interessantes. Infelizmente, o game tenta introduzir muitos elementos complexos e acaba não se aprofundando em nenhum deles. Por outro lado, o forte aspecto de jogabilidade de sobrevivência acaba tornando o jogo divertido e variado, principalmente para os jogadores que gostam de adentrar em mundos imersivos e atmosféricos.
Por fim, Chernobylite é um ótimo jogo de sobrevivência, que poderia ter sido melhor trabalhado em seus elementos narrativos e sobrenaturais.
*Chave cedida para análise no Xbox