Introdução
Não é difícil escutar uma história sobre como uma criança mudou a vida de um adulto, muitas vezes por seu modo ingênuo e puro de enxergar o mundo. Crown Trick traz essa analogia, onde uma humana inocente precisa fazer uma parceria com uma entidade. Através de uma parceria simbiótica, a garota e a coroa se unem para resolver os mistérios do Reino do Pesadelo.
Acima de tudo, o jogo é do gênero Roguelike e traz consigo uma parte mais estratégica se comparado a outros produtos do mesmo gênero. A NEXT Studios consegue unir muito bem os dois tipos de roguelike mais populares hoje em dia: o Hack n Slash e o combate por turnos com cartas.
Lançado antes, dia 16 de outubro de 2020, para PC (via Steam) e Nintendo Switch, chegou a hora do Playstation 4 e Xbox One receberem suas versões de Crown Trick. A Team17 junto da NEXT Studios entregaram o jogo para as novas plataformas no dia 7 de setembro de 2021.
Reino do Pesadelo
Apesar de nenhuma página de venda do jogo citar elementos da história, devo dizer que ela me surpreendeu. É provável que, por essa falta de informação nas páginas, eu não tenha criado expectativa sobre ela.
Em resumo, toda a aventura se passa no Reino do Pesadelo, que por sua vez, é resultado de uma doença (ou maldição, como alguns acreditam). Essa doença faz com que aqueles que tem medo, cedo ou tarde, fiquem presos em seus piores pesadelos para sempre. Apenas os que são mentalmente fortes e treinados conseguem controlar os próprios sonhos.
Além da premissa ser legal, Crown Trick trabalha com poucos NPC’s e desenvolve uma história para cada um deles. O desenvolvimento de cada um tem personalidade e traz questões para refletir além de uma simples história para entreter. Eu não esperava nada além de dar umas porradas em monstros aleatórios, mas eu me peguei refletindo após conversas com esses NPC’s.
Mesmo com um enredo simples e esperado, a obra consegue tocar o jogador e fazer seus personagens serem mais humanos do que o esperado. Seja uma senhora que trabalhava para um doutor cientista apaixonado ou para uma órfã cuidada por bruxas, o diálogo é sempre interessante.

Roguelike em turnos
Embora o gênero tenha saturado com os muito jogos lançados para a categoria nos últimos tempos, é possível ver que algumas obras ganham mais destaques do que outras com a mesma jogabilidade. Por exemplo Slay the Spire, é um dos primeiros roguelike baseado em um baralho de cartas que entrou no mercado. Ele se destacou por sua qualidade e inovação no modo de jogar. Ou seja, ao invés de sair batendo em monstros sem parar para respirar, colocou o aspecto estratégico em primeiro lugar.
Isso faz com que o jogador se sinta em um novo ambiente, mesmo que, no fundo, a engrenagem que movimenta o game seja a mesmo. Existem diversos exemplos de Roguelike que fizeram sucesso e cada um tem os seus méritos, e não é diferente com Crown Trick.
Não é justo dizer que o jogo inovou e criou uma nova maneira de jogar Roguelike, afinal, já existiam outros que possuem a mesma fórmula, como por exemplo, The Enchanted Cave 2. Inclusive, o mesmo nem é um jogo recente, apesar de ter sido lançado na Steam há pouco. Ele já fazia sucesso na época do Kongragate, um famoso site que reunia diversos jogos em flash.
Porém, é justo dizer que Crown Trick resgatou esse estilo baseado em 1 ação = 1 turno e adicionou sistemas de roguelike atuais para criar um jogo tático, difícil e fluido. As mecânicas criadas para sustentar uma variedade de possíveis jogadas são simples, mas funcionam de maneira perfeita.
*Aqui vão outras duas análises de mais Roguelike para vocês: Legend of Keepers e Loop Hero.

O combate
Bem como qualquer obra do gênero, todos os elementos do jogo são pensados em torno do combate. Como fazer para que o momento mais importante seja, de fato, divertido e desafiador ao mesmo tempo? Com certeza essa dúvida pairou na cabeça dos devs durante todo o processo de desenvolvimento, visto que as lutas são realmente gostosas de jogar.
Como recursos ativos, nós temos uma arma para ataques básicos, dois familiares para usar magias e os itens. Já para os recursos passivos, existem a passiva da própria arma e também relíquias que nos dão poderes relevantes. São com esses aspectos que nós construímos a build de cada partida.
Além disso, o salto é outra mecânica muito legal e permite que o jogador arrisque mais nas jogadas, criando um sistema de risco x benefício interessante. Isto é, no início nós temos três cargas desse pulo e existe apenas uma maneira de conseguir mais cargas dele no meio da batalha. Nós precisamos quebrar a defesa dos inimigos em sequência. Então, caso você arrisque uma jogada utilizando todas essas cargas e não conseguir elas de volta, a luta fica bem mais difícil.
Já que comentei sobre a quebra de defesa, vamos falar sobre ela. Cada inimigo possui uma resistência contra os seus ataques e, quando esse número é reduzido a zero, ele fica atordoado por alguns turnos. Após esses turnos, ele retorna com a defesa original e é possível quebra-la novamente. Esse sistema te motiva a criar a melhor sequência possível com seus ataques para quebrar a defesa do maior número de inimigos.

Os familiares e As armas
Sem dúvidas, esses dois são os que fazer a jogabilidade acontecer. Com uma diversidade bem alta de armas e seus efeitos, os familiares também entregam na variedade das magias. É quase que imprescindível você utilizar uma arma que combine com suas magias, caso contrário, você pode encontrar problemas.
Por padrão, tem as armas de longo alcance e as de curto alcance. Rifles, manoplas, pistolas ou cajados são de longo alcance, variando de duas até quatro casas de distância. Já a espada, machado ou adagas são de curto alcance, o que muda é que a espada atinge algumas casas na frente de Elle, a adaga ataca duas vezes, e assim por diante. Além disso, as armas têm variações, então existem diversos rifles com diferentes efeitos passivos, por exemplo.
Por outro lado, os familiares são divididos em elementos e pelo estilo das habilidades. Do elemento de água existe um que controla mais o terreno e consegue invocar um aliado, como também tem outro focado em debuffar os inimigos e dar mais dano. Em suma, dá para dizer que eles são segmentados dessa forma: para controlar o ambiente de longe e causar efeitos elementais nos inimigos e outros que focam em causar mais dano em um número menor de adversários.
Como citei acima, uma parte bem explorada pelo jogo é a combinação dos elementos. Quando um entra em contato com o outro, causa uma reação diferente e instantânea. Ou seja, caso haja uma barril de água perto dos monstros e nós utilizemos uma magia de raio nele, ele irá quebrar e derramar água eletrocutada ao redor, paralisando os inimigos. Brincar com essas interações é muito divertido e importante.

Os chefes
Mais importante do que as batalhas são… as batalhas contra os chefes! Claro! E as de Crown Trick não deixam a desejar. Muito pelo contrário, elas me surpreenderam pela complexidade e criatividade em cada uma delas. Afinal, cada uma é bem diferente da outra, como deve ser, mas as mecânicas utilizadas é o que torna legal. Cada chefe ataca de uma maneira e você deve adequar a sua movimentação no campo por conta disso.
Bem como nosso próprio personagem evolui conforme o avançamos, as batalhas também o fazem. No início lutamos apenas contra uma bruxa, mas depois somos obrigados a enfrentar as três juntas, e assim vai. Precisamos progredir com o jogo em todos os aspectos, isso é o que mais me motivou a jogar.
Assim como, em certo momento, um dos chefes perguntou de qual forma eu iria querer lutar contra ele, se seria na força ou na inteligência. Isso me pegou de surpresa, afinal, eu nunca respondera uma pergunta dessa, os chefes sempre são de uma maneira e pronto. E isso faz realmente sentido, visto que as lutas mudam de forma drástica de uma para a outra. Eu me dei melhor lutando contra ele no modo força, mas talvez você consiga através da inteligência. É uma forma de deixar o jogo mais acessível e exaltar uma qualidade do jogador.
Os upgrades disponíveis
Nesse aspecto, o jogo não muda muito (na verdade, quase nada) com relação aos demais do gênero.
Temos quatro NPC’s que servem para um tipo de melhoria cada. Melhorar a qualidade das armas e suas probabilidades, a eficiência do frasco de elixir e outros itens de recuperação, como renderá nosso dinheiro e fragmentos de alma (que usamos para pagar essas melhorias) e os itens. Mais a frente, uma árvore com relação aos familiares também fica disponível, mas sem nenhuma profundidade.
Aqui eu senti que pudesse ser mais profundo, principalmente a parte dos familiares. Quando eu vi, pensei que pudesse ser diferentes maneiras das magias agirem ou coisas do tipo, mas, na verdade, eram apenas upgrades para os atributos da heroína e armas novas.

Conclusão
Vale deixar registrado que o jogo tem alguns erros na tradução para português-brasileiro, deixando alguns itens confusos. Mas, são facilmente corrigidos com uma possível futura atualização.
Crown Trick é um ótimo jogo do gênero Roguelike e dá mais visibilidade para os jogos do estilo dele, baseado em cada ação é um turno. Com uma variedade de builds bem grande, eu já joguei com muitas delas e me diverti com todas, sem exceção. Tem para todos os tipos jogadores, sério, acredite em mim. Os gráficos são bem bonitos e a trilha sonora também faz o seu papel, sendo a melhor música a da tela do menu (sério, eu amo ela). Sobre a dificuldade, eu não senti que ela seja muito alta, diversos chefes eu derrotei logo na primeira vez que os enfrentei, mas já encontrei outros que me deram um belo trabalho. No geral, eu fiquei muito contente com a experiência que vivi e não vejo a hora de poder voltar para o Reino dos Pesadelos mais uma vez.
*Chave concedida para análise no Playstation 4