Introdução
Enfim, após uma longa espera (não diremos quem estava em grande ansiedade por este lançamento – JAMAIS!), chegou Eastward tanto para PC Windows via Steam e Nintendo Switch. Foi lançado dia 17 de Setembro de 2021 pela Chucklefish Ltd com a produção feita pelo estúdio chinês Pixpil, em Shanghai.
Eastward é um JRPG/ARPG 2D com lindos gráficos em pixelart e um nível de animação de sprites incrível. Ainda mais, com direito a abertura animada a la Studio Ghibli, conceito que também se reflete in-game. Desse modo, ele também segue uma linha retrô com visão cima-baixo lembrando grandes clássicos como Chrono Trigger, Zelda e a franquia Mana.
Aliás, para aproveitar o ensejo, temos outros textos sobre JRPGs e ARPGs em nosso site. Confira!
Sendo assim, o famoso minerador John e sua “quase” filha adotada Sam são banidos de seu lar na ilha subterrânea Potcrock em direção à superfície. Vários povos do mundo passaram a viver abaixo da crosta terrestre devido à contaminação do ar com substâncias tóxicas de origem não conhecida. A partir daí, John e Sam partem de sua região não tão amistosa para descobrir as origens da menina e o que causou a distopia em todo o mundo.
A aventura distópica
Em mais um dia de trabalho duro, John, um renomado minerador visto quase como um herói de sua profissão, descobre uma menina de origem incerta mantida viva em uma câmara de sustentação. Assim, desde então a dupla vive quase como uma família de pai e filha, já que John cuida da menina, que batizou de Sam, desde que a achou.


Sobretudo, uma substância tóxica afetou o ar de todo o mundo. Agora, devido a esse desastre, diversos povoados e cidades existem abaixo da superfície que, apesar dos desafios impostos pelo cenário, tem se mantido viva. Assim, um destes lugares se chama Ilha Potcrock, onde vivem John e Sam em seu trailer.

Com o tempo poderes misteriosos tem surgido em Sam, o que afeta não só sua vida individual como a social também. Com isso, a situação lhe rende apelidos como bruxa ou coisa parecida.
John se vê obrigado a resolver uns problemas de infestação de lesmas nas minas onde trabalha, não só para salvar colegas de profissão como para salvar Sam. Inesperadamente, dentre idas e vindas no dia a dia em Potcrock e por eventos de Sam na escola, o herói minerador acaba tendo que adentrar em um setor proibido de seu lar. A Terra Proibida.

Terra Proibida – Charon – Mundo da superfície.
De acordo com a Terra Proibida, consiste em um distrito abandonado que era mantido em segredo pelo prefeito de Potcrock, o Senhor Hoffman. Logo após John salvar Sam de uma máquina que dispara entulhos, ele sofre uma ferida grave. O povo da cidade o resgata com ajuda de Sam, mas Hoffman fica sabendo da invasão ao local secreto.

Sendo assim, o prefeito resolve banir da cidade John, Sam, e o artista extraordinário Jasper, que surge como ajudante e amigo da dupla. Desse modo, o trio recebe a punição de entrar em Charon que é o nome do trem para a superfície. Contudo, existe um temor por trás dos lugares onde o trem passa ao levar pessoas de Potcrock, tudo inventado por Mr. Hoffman.

O Céu azul
A seguir, com a vida de John e Sam em Potcrock se tornando impossível, não há outra opção exceto a de descobrir o que causou as mazelas do mundo abaixo do céu azul. Por isso a dupla, com Jasper à tira-colo por enquanto, partirá de modo forçado para a superfície em busca do desconhecido.
Nesse meio tempo, tentarão desvendar onde Sam nasceu, viajando para outras cidades com paisagens verdejantes e pessoas de costumes bastante diferentes, e encontrarão novos amigos que irão ajudá-los na jornada.

Gameplay na distopia
Certamente que Eastward é um misto de emoções muito positivas. Você começa com uma bela animação mostrando alguns lances de quando John encontrou Sam, bem como algumas das cidades presentes no jogo, dentre elas Potcrock.


Dessa maneira, nos primeiros momentos na cidade o ambiente se assemelha ao futuro em ruínas de Chrono Trigger, passando uma certa sensação de morbidade e abandono.

Quando o jogo apresenta as mecânicas, conceitos de ação-RPG de Zelda e Secret of Mana vem à tona. John utiliza uma frigideira que é dita de ser super resistente e poderosa. Ele pode atacar seguidas vezes como pode lançar um golpe concentrado mais forte. Esses movimentos não só são usados no combate, como também para empurrar ou lançar pequenos objetos ou criaturas.

Então, a segunda arma que se tem acesso logo após alguns momentos de jogo é a bomba que, como em Zelda, tem funções cruciais. Dentre elas, destruir paredes e dispositivos, detonar objetos voláteis e derrotar inimigos normais tanto quanto alguns chefes de dungeons. Unindo a panela na mecânica, é possível lançar a bomba por cima de lugares inacessíveis para conseguir ativar botões ou máquinas para abrir caminhos trancados.


Outras armas se tornam disponíveis ao avançar no jogo, como a pistola Bang-Bang e o lança-chamas, algumas delas servindo também para interagir com o cenário além de atacar monstros.

É muito bom cozinhar em jogos
Que tal batatas fritas? E uma salada de frutas? Assim como uma receita famosa feita do fruto Sandrupe, muito popular em Eastward, o Sandrupe Pasta?

Assim, existem 35 receitas para se descobrir testando ingredientes em diversas combinações. As misturas, você escolhe e daí um caça-níqueis surge para decidir o que vai dar de resultado naquele cozido. Teste bastante, sem medo! Ainda mais, cada comida tem um efeito padrão de recuperar vida, mas algumas fornecem status temporários como proteção a dano e aumento de força.


Os ingredientes são pegos durante o jogo, a princípio em lojas específicas como mercados.
Ademais, por onde John e Sam viajarem, haverão fogões para se cozinhar acessíveis em lugares diversos. Cozinhar em Eastward é a qualquer hora e lugar, e muito divertido.
O que mais da jogabilidade?
Desde que temos lojas, vale ressaltar que existem não apenas mercados com itens para cozinhar ou comidas para recuperar vida, mas também lugar para comprar munição, bombas e upgrades.

Em alguns mercados é possível comprar upgrades para a mochila, aumentando um espaço a mais para itens a cada compra feita. Em relação às armas, temos o Empório de Johnny. Este vende upgrades e refills para bombas tanto quanto para munição das armas, embora estes upgrades necessitem de peças coletadas no jogo, além do custo dinheiro (sal é a unidade monetária).

Outra coisa interessante são as máquinas de bolas da sorte do Pixcenter. Enquanto o jogador explora, vai encontrar tokens usáveis para a máquina ganhando em troca miniaturas dos monstros presentes no principal minigame de Eastward, citado a seguir.

Dragon Quest é você?
Em se tratando do principal mini-game, ele se chama Earth Born em que toda a comunidade em Potcrock, a princípio, ou é super fã ou pelo menos conhece o furor do povo com o joguinho. Ele é jogado em arcades espalhados pelo mundo, liberado após comprar o cartucho na lojinha da cidade.

Earth Born foi muito inspirado nos títulos de Dragon Quest para Nes 8-bits. Decerto que os principais conceitos estão presentes nele. A história fala de uma torre que alcançava os céus. Assim, seu rei fez um pacto com um demônio e aprisionou sua filha que sofreu e chorou por muito tempo.
Eis que surge um herói cavaleiro místico, que busca junto de seus aliados derrotar o grande demônio que ameaça o mundo dos humanos, e salvar a princesa aprisionada.
Como era de se esperar, o combate se baseia em turnos. Portanto, o jogador escolhe as ações dos heróis para então executá-las junto com os ataques inimigos. Os personagens ganham novas habilidades como magias e golpes especiais a medida em que avançam de nível.

O mapa é explorável quadro a quadro, em quatro direções cardeais como nos Zeldas clássicos, começando da taverna inicial. Nela, o jogador consegue serviços de compra de itens, reviver aliados caídos em batalha e recuperar HP de todos. Contudo, se o grupo inteiro for vencido, o jogador terá que começar tudo de novo desde o primeiro nível.

Visuais inacreditáveis
Certamente que o visual dos cenários receberam um trabalho detalhado em cada elemento visível. Sem dúvida, é um dos melhores gráficos em pixel art já feitos de toda a história dos videogames, sem exageros.
Apesar de um layout animado e colorido, muitos dos lugares mostrados são críveis. Ou seja, lugares em ruínas, abandonados, cavernas e minas tanto quanto florestas, campos e cidades transmitem o peso narrativo do por quê de estarem ali.

A quantidade de quadros animados dos sprites são tão imensos que cada figura que surge na tela, parece estar viva pela tamanha fluidez de seus gestos. Os efeitos visuais são lindos, a iluminação é super bem calculada com as sombras muito bem distribuídas.
De fato que o conceito baseado nas animações do Studio Ghibli promovem todo um charme que atrai profundamente. Isso transborda em todos os personagens dando-os mais destaque, desde os principais como também os NPCs mais importantes e os mais comuns. Dessa forma, é impossível não se apaixonar mais e mais por cada um que aparece quanto mais o jogo avança.
Mas que trilha!
Segundo Joel Corelitz, compositor de Eastward, ao se referir a música em um de seus trabalhos em jogos: “A música não é só um ruído de fundo, é parte do mundo, é parte de como você se sente, como o personagem se sente. Nós não queríamos que esses elementos fossem separados, e sim fizessem parte de uma experiência única.” Essa afirmação foi trazida em um artigo de 2012 do site Mix sobre o artista.

Logo, Joel é produtor, engenheiro sonoro e como compositor, é conhecido por seus trabalhos em The Unfinished Swan e Death Stranding. Em Eastward ele prova seu argumento na prática, na qual a essência do que está ocorrendo no jogo se manifesta em sincronia com as músicas.
Como resultado, são diversas faixas construídas não só para vilarejos, cidades e dungeons, bem como para as diversas seções presentes nestes lugares. Muitas vezes surgem músicas exclusivas em uma loja, uma casa ou uma construção qualquer que promove uma sensação de que o próprio jogador adentrou no recinto junto com o personagem.
Desde faixas alegres e cômicas em momentos de humor, sequências de tensão e crise como nos combates e conflitos com os vilões do enredo, Corelitz assume bem seu papel. Nesse sentido, é como se fosse um mastermind sonoro que manipula as emoções do jogador, dependendo do momento em que a história se encontra.
Grandes clássicos dos games e Studio Ghibli

Com certeza, o título nasceu de grandes legados deixados por jogos famosos da indústria de games, em princípio com contato direto a títulos como Zelda A Link to the Past, Chrono Trigger e Secret of Mana. Quem jogou estes três, verá Eastward como se ele emulasse suas raízes todas ao mesmo tempo, cada easter egg em ocasiões distintas de maneira bem explícita.
Em síntese, os combates, puzzles e o uso de itens bebem muito de Zelda do mesmo modo que da franquia Mana. Já o carisma dos personagens, animações dos sprites e o cenário do jogo, paisagens, vilarejos e algumas dungeons em sua maioria trazem à tona os ambientes de C.Trigger.
Por fim, não podemos deixar de comentar sobre as grandes inspirações nas grandes produções da fábrica de sonhos visuais, o Studio Ghibli. De início, logo pela abertura do jogo, que para os fãs do Studio logo lembrarão de obras como O Castelo no Céu (1986), Meu Amigo Totoro (1988) ou Nausicaä do Vale do Vento (1984 – pré-Ghibli, com os direitos adquiridos pelo estúdio anos depois).

Outra referência se encontra logo na primeira cidade de Potcrock, que o jogador ao explorar o lugar, poderá encontrar um senhor dono de uma lojinha chamado Miruku Miyazaki. Decerto que o sobrenome pertence à principal figura por trás dos grandes sucessos do Studio Ghibli.
Hayao Miyazaki é diretor, produtor, autor, animador e roteirista de diversas produções visuais e literárias de grande sucesso pelo mundo todo.

Conclui-se mais um épico RPG
Custou um tempo razoável para que Eastward chegasse em nossas mãos, e não foi à toa. Conforme o jogo avança, cada setor novo, distrito, uma dungeon ou novo vilarejo apresenta uma interface bem distinta da anterior. Nitidamente, houve um cuidado de não apenas reavivar o passado dos games, mas trazer o jogo para os dias de hoje.
Há diversão nos diálogos, são coerentes e adicionam muito para o lore de Eastward. Em outras palavras, está sempre acontecendo algo durante o gameplay, e mesmo quando os eventos entram em pausa até que se alcance o próximo marco, existem coisas a fazer.
É possível cozinhar, trocar seus tokens por bonecos em que gera uma expectativa sobre qual irá cair da máquina. Bem como o minigame Earth Born e outros onde John precisa gerenciar um curral de porcos-balões (???), por exemplo.
Acima de tudo, vou me permitir quebrar a quarta parede já que não costumo redigir em primeira pessoa em meus textos. Com isso, venho dizer o quanto eu esperei por esse jogo.
Ao mesmo tempo, desejei uma nova experiência nesse estilo, que me fizesse voltar ao momento onde eu, ainda um jovem mancebo com meu Super Nes, jogava pela primeira vez Chrono Trigger ou Final Fantasy VI.
Então, só tenho a agradecer ao site Garota no Controle, em destaque à nossa líder Nana, a chance de testar em primeira mão esse memorável título, Eastward. Parabéns à Pixpil e à Chuckefish pelo grandioso trabalho no jogo.
*Chave concedida para análise