Forged in Shadow Torch
Animais falantes, futuro distópico, robôs, metroidvania e macarrão. Quem não gosta dessas coisas? Pois é, F.I.S.T nos apresenta tudo isso em uma aventura 2D com muita ação e socos para dar e vender.
Lançado em 07/09/2021, sendo desenvolvido pela Shangai TiGames e distribuído pela BiliBili em parceira com a Sony, como um exclusivo temporário de PS4 e PS5. Tratando-se de um jogo de ação e plataforma no estilo metroidvania.
Tudo pelos amigos
A nossa história começa com uma ceninha bem legal de uma gata (parecida com os atores daquela musical, CATS) fugindo de alguns robôs. Depois de muito parkour e correria, ela se vê encurralada por um coelho vestindo uma armadura bem descolada. Então, para escapar ela usa um artefato chamado Spark e explode tudo.
Após esse evento, a cena corta e conhecemos o nosso protagonista, um coelho chamado Rayton (Ray para os íntimos) que era o membro de uma força de elite e que lutou em uma guerra a alguns anos, mas agora encontra-se aposentado e carrancudo. Porém, quando seu amigo Urso é sequestrado pela Legião (os vilões), ele se vê obrigado a usar o seu antigo punho mecânico para salvá-lo e assim, o jogo começa.
Gênero Metroidvania
Primeiramente, preciso explicar, rapidamente, o que é um metroidvania para aqueles que não conhecem. Basicamente é um estilo de jogo que surgiu nos anos 90, onde ocorre a união do design dos jogos da série Metroid, com os da série Castlevania. ‘’Mas essa união consiste em que?’’ você deve estar se perguntando. E a resposta é bem simples: consiste em jogos de ação e aventura, normalmente em sidescrolling (existem 3D também), onde nós temos um mapa interligado, porém ele não está totalmente acessível logo de início, então, para explorarmos temos que encontrar novas habilidades, itens ou armas que nós façam passar daquela parte específica.
Por exemplo, um lugar muito alto que só é possível passarmos com pulo duplo. Então, precisamos andar por outra parte do mapa e depois retornar onde estava bloqueado para, finalmente, progredirmos. Além de elementos de RPG, como fortalecer nosso hp máximo, ou magia, etc.
Punho de ferro
Dito isso, agora vamos ao combate de F.I.S.T. Inicialmente, nós podemos usar o ataque fraco com quadrado e o ataque forte com triângulo, além do dash para frente ou para trás usando o R1 e por fim, a execução que nada mais é do que uma finalização bem estilosa. Podemos usá-la ao apertamos bolinha quando inimigo está fraco. Mas, à medida que os inimigos são derrotados, eles deixam moedas e com elas nós compramos mais habilidades que nos permitem combinar ataques e assim realizar combos bem poderosos.
Porém, vale ressaltar que não temos só o punho mecânico, ou seja, à medida que formos adquirindo novas armas, temos que fortalecer elas também já que cada uma tem uma árvore de habilidades própria. Além disso, gostaria de ressaltar um detalhe muito legal que todas as armas são muito boas de usar, e ainda servem para progredirmos pelo cenário, por exemplo, o punho nos ajuda com algumas portas de metal que só conseguem ser abertas com um ataque carregado (que só desbloqueamos na árvore de habilidade), ou seja, nenhuma se torna inútil, mesmo que você não se adapte ao combate com ela.
Em outra palavras, batalhar em F.I.S.T é bem gratificante, principalmente quando você vai se fortalecendo e percebendo que os inimigos caem com mais facilidade (você fica felizão, não tem jeito), até porquê, uma coisa que esse jogo faz bem é te desafiar, benza deus. Os inimigos possuem um padrão de ataque como em todo jogo, porém, aqui nós somos colocados em situações complicadas. Quando você pisca, está cercado, e isso complica muito. Então prepare-se para morrer tanto nos inimigos, quanto nos chefões (uma menção ao Yokozuna que quase me fez ter um colapso nervoso).
Forte como um coelho
Agora, preciso falar sobre o fortalecimento do Ray. Aqui, nós temos a barra de HP, SP e EP. HP é a nossa barra de vida como a maioria já deve saber. SP é mais ou menos como uma barra de magia convencional, que gastamos ao usarmos ataques especiais (também desbloqueáveis na árvore), mas com a diferença de que ela recarrega a medida que acertamos golpes ou seja, quanto mais agressivo você for, mais vezes poderá usar os ataques especiais. E por fim, a barra de EP que é um pouco mais complexa. De início ela serve como cura, pois temos o suco de cenoura (um coelho tomando suco de cenoura, genial) que recupera uma pequena parcela da nossa vida (sem exagero, é pequena mesmo).
Porém, depois vamos liberando outros itens que podem ser utilizados com essa mesma barra de EP, então fica ao seu critério se quer se curar, usar um item ofensivo, ou defensivo com a barra. E ela só pode ser recuperada com itens pelo cenário, ou executando um inimigo (e pasmem, essa função também é liberada na árvore).
Mas, para a alegria de todos, em F.I.S.T, é possível fortalecer todas as três barras. Existem três itens chamados: HP Extract, SP Essence e EP Compund. E sempre que juntamos três de cada, aumentamos um nível da barra correspondente (bem parecido com os olhos de górgona na saga God of War). Ou seja, explorem bem o mapa e serão recompensados!
A essência do Metroidvania
Ao passo que falamos sobre explorar o mapa, que tal falar sobre o level design? Como eu expliquei lá em cima, esse design interligado dos mapas é a essência de um metroidvania, e F.I.S.T aplica isso com perfeição. Tudo é muito bem feito, tem a sensação de continuidade dos mapas, para não falar daquela sensação de: ‘’Uai como que eu voltei aqui se eu estava lá?’’. Mas, vale ressaltar que é perfeitamente normal ficar perdido. Um amigo meu me disse recentemente que essa é a essência dos metroidvanias e é a mais pura verdade, não tem jeito, uma hora você vai se confundir. Mas são nesses momentos de perdição que a gente encontra upgrades, ou seja, mesmo na hora ruim tem coisa boa.
Vale ressaltar que nós temos save points espalhados no mapa (existe o save automático também), e eles possuem duas funções além de salvar. O repair que serve para recuperar todas as nossas três barras, e upgrade onde nós vamos adquirir todas as habilidades gastando moedas e data disks que nada mais são do que itens que usamos para obter habilidades mais fortes (as mais simples não precisam dos disks), e eles podem ser encontrados matando alguns chefões ou espalhados pelo mapa.
Muito punho, pouco carisma
Mas e a história? Pois é, vamos a ela. F.I.S.T começa bem simples de fato. É só salvar o Urso. Entretanto, surgem alguns flashbacks que nos nos contam mais sobre a época do Ray como soldado, e também vamos conhecendo os seus companheiros do esquadrão. Todavia, ela não me prendeu.
A ideia do vilão é usar a legião (nada mais é do que um exército de robôs chamados de Iron Dogs) para conseguir o Spark, um artefato mágico que foi concedido por seres antigos para que os ‘’furtizens’’ (é um trocadilho para cidadãos peludos, eu amei) de Torch City pudessem se desenvolver e etc. Então, com esse poder, ele vai transformar todos em robôs como ele, para que eles não temam mais nenhum tipo de ameaça. E cabe ao Ray impedir isso.
O enredo, não é de todo ruim. A ideia de um vilão sádico que, por mais que tenha boas intenções ele acaba se perdendo nas suas ações, é bem legal. Mas, o vilão não é tão legal, e o próprio Ray não faz a gente se importar tanto em resolver o problema. Na realidade ele só se mostra incomodado com a situação no final após uma perda, porém antes disso ele estava indo só por ‘’ser a coisa certa’’. Eu mesmo não fiquei nem um pouco motivado a prosseguir pelo enredo, e sim pelo combate. Além da ansiedade em saber quais habilidades e armas me esperavam no futuro.
Colecionáveis misteriosos em um mapa lindo
Por último, queria mencionar alguns detalhes. F.I.S.T possui itens colecionáveis que são bem legais. Existem os pôsteres que ao recolhermos devemos levar para o Urso e ele vai transformar em pintura para nossas armas, e cada uma tem um estilo diferente (tem até uma que faz referência à Dark Souls). Também podemos encontrar Plant Seeds, itens que podemos trocar com um coelhinho por moedas e outros itens (incluindo Data Disks), fora alguns arquivos de áudio para escutarmos e que nos conta sobre a história da Torch City, é bem legal. Por fim, aqui temos alguns Mistery Shards que servem para abrirmos uma porta escondida, e é uma porta bem grande. Eu não sei o que tem atrás dela, mas aposto que vale a pena.
Gostaria de dar uma dica também. Em Joffre Street, nós podemos encontrar um pequeno restaurante que vende macarrão (o mais barato custa 100 moedas), e ao comermos, nós ganhamos algumas barras de vida extra, e vale super a pena. Sempre que possível, passem por lá.
Tal qual o level design é bem feito, a ambientação no quesito visual também tem muito capricho. F.I.S.T tem mapas variados, desde passagens subterrâneas, a trechos embaixo d’água e vilarejos com neve. E tudo é bem feito, tanto na parte de iluminação, quanto na trilha sonora que toca em vários momentos e com um tom sempre bem condizente com a situação, seja uma exploração ou alguma batalha, a música empolga quando é preciso!
Nada que um Patch não resolva
Porém, por mais que os gráficos sejam bonitos e a ambientação seja muito bem feita (foi o que mais me chamou atenção nos trailers), F.I.S.T conta com alguns delay de renderização muito graves. A ponto deu ser obrigado a sair totalmente da área porque ela não carregava por completo. Além disso, ainda ocorreu de uma porta não abrir de forma alguma, simplesmente por não carregar a parte seguinte do mapa. Fui obrigado a desligar o PS4 e tentar de novo, e mesmo assim só consegui passar depois de um tempo.
Também existe uma queda de quadro bem recorrente e alguns travamentos. Por exemplo, se uma porta estiver se abrindo (ou seja, carregando o próximo seguimento do mapa), e você trocar de arma em frente à ela, é muito provável que o jogo congele por um segundo. Mas a maioria dos travamentos são curtos e aleatórios, só esse da porta que consegui identificar.
Lembrando que joguei no PS4, não sei como está no PS5. Além disso, esses detalhes na realidade não atrapalham (só o caso da porta que pensei até em começar outro save). E, por outro lado, uma atualização com certeza resolve esses problemas.
Conclusão
Em síntese, F.I.S.T Forged in Shadow Torch é um metroidvania muito competente no que se propõe. Com um bom level design, uma ambientação caprichada, combate agradável e um senso de progressão bem gratificante, esse indie te diverte e te desafia na mesma medida. Por mais que tenha alguns problemas técnicos e sua história não seja lá muito envolvente, ainda assim, é difícil parar de jogar. Mesmo que você fique perdido e morra várias vezes, não desista desse coelhinho, porque vale a pena.
* Chave cedida para análise