Para entender Inside, precisamos falar de seu antecessor Limbo
Antes de falarmos de Inside, precisamos entender qual o contexto que ele se encontra. O jogo é desenvolvido pelo estúdio Dinamarques Playdead, que teve como sucesso o jogo Limbo, lançado em 2010. Limbo foi um marco para os jogos Indie pela sua qualidade, atenção aos mínimos detalhes e pela sua ambição, apesar de parecer simples para quem não conhece o game tão a fundo.
Limbo foi um sucesso de crítica na época, deixando muita gente ansiosa por uma possível sequência, ou por um novo jogo da Playdead. Se passaram 6 anos e pouco se foi falado durante o período. Mas após longa espera, Inside foi lançado em junho de 2016, com uma proposta de ser um ainda mais ambicioso e misterioso que seu antecessor Limbo.
Inside é muito semelhante a Limbo. É um jogo singleplayer com visão em terceira pessoa 2.5D, ou seja, com elementos de plataforma em 2D e cenários 3D. Além disso, controlamos um simples garoto, lutando pela sua sobrevivência em um mundo misterioso.
Apesar das semelhanças, Limbo conta a história de um menino que está a procura de sua irmã, enquanto Inside conta a história de um mundo distópico e todas as consequências que esse mundo enfrenta após eventos misteriosos.
Essa análise contêm spoilers de Limbo e de Inside
O jogo começa, os mistérios e as teorias também.
Inside começa com um garoto a noite em uma floresta fugindo de um grupo de caçadores. Certamente são de uma empresa ou alguma organização do governo. Os mistérios começam aí, pois essa organização não está simplesmente caçando o garoto. No início da campanha, se somos pegos, não somos apenas capturados. Somos mortos a tiros a sangue-frio, com ataques de cachorros, ou até afogados, caso estejamos em trechos com água. No começo da jornada não entendemos o porque somos mortos, mas chega a ser chocante uma criança ser morta de forma tão fria e explícita e por não ser comum os videogames mostrarem crianças sendo mortas como se fosse algo normal.
Então, a partir desses primeiros minutos de gameplay, já podemos criar várias teorias a partir desses fragmentos de mundo que recebemos. Após o primeiro trecho de fuga, encontramos um porco na entrada de uma fazenda, infectado por vermes parasitas, o deixando agressivo. Outro ponto é que ao longo do jogo, nos deparamos com pessoas em estado catatônico, algo semelhante ao estado vegetativo.
Assim, se ligarmos os dois pontos apresentados, podemos teorizar que os humanos se infectaram através dos animais, por contato ou por consumo de carne. A organização que está atrás do garoto, provavelmente é a responsável por recolher essas pessoas infectadas. Vemos durante a campanha alguns lugares onde vários humanos em estado catatônico estão sendo concentrados. Provavelmente o menino está sendo caçado por saber de alguma informação importante ou algo que não sabemos ao certo.
Outra evidência dessa teoria é que há muita coisa escondida por trás dessa organização. Durante a jornada encontramos um capacete usado para controlar essas pessoas que estão vegetando. Isso pode dizer que a infecção pode ter sido intencional, com um proposito maior.
Gameplay
Gameplay é bem simples, podemos andar, empurrar e puxar itens, podemos nadar, correr, e escalar. Igualmente a Limbo, Inside consiste em fugir de inimigos e resolver puzzles para avançar na jornada. Apesar do gameplay ser simples, ele é executado com muita maestria, tudo funciona muito bem. Tanto jogabilidade, gráficos, o áudio (que ajuda a criar uma atmosfera perturbadora) e ambientação fazem com que a experiência seja completa e inesquecível.
Os puzzles não são tão difíceis. Em Limbo, os puzzles são bem mais desafiadores do que os de Inside. Inclusive, após jogar Limbo, jogar Inside foi um pouco mais fácil. Afinal, os puzzles são bem similares, eles se resumem em arrastar itens na ordem correta, controlar pessoas para chegar no próximo objetivo e passar por áreas sem ser vistos por inimigos. Apesar dos puzzles não serem tão difíceis, cada um deles conta um pouco sobre a história e sobre o lugar que estamos.
A ambientação é bem bonita e detalhada. Em certos momentos, podemos interagir com alguns itens, ver seus detalhe e como eles interagem com o mundo. Principalmente, quando destruímos alguma parte do cenário, podemos ver no detalhe o impacto da destruição no cenário. Os efeitos de luz e as sombras também contribuem para que o clima sombrio prevaleça. Além de nos auxiliar em alguns momentos para avançar no jogo, como, por exemplo, em uma parte em que lâmpadas se movem e ficam mais claras no local correto de prosseguir.

Diálogos e a duração da campanha
Inside não tem diálogos, isso nos faz dar atenção total a todos os detalhes que ele nos mostra, pois, nada nos é apresentado sem um propósito. Assim, cada descoberta, nova área, fragmentos de história que descobrimos e cada puzzle que resolvemos é extremamente gratificante e recompensador. Elas nos ajudam a construir a história da forma que quisermos. Inside não traz mecânicas de gameplay muito complexas, então essas descobertas, aliadas a duração do jogo não ser tão grande, evitam com que ele fique cansativo ou enjoativo.
Na primeira vez que zerei, a campanha demorou cerca de 5 horas. Mas acredito que seja possível zerar em menos tempo. Quis aproveitar o jogo nos mínimos detalhes, apreciando o máximo, por isso demorei um pouco mais que o padrão. Ele tem 2 finais, um deles só é desbloqueado se conseguirmos pegar todos os coletáveis, assim a campanha se estende por mais algumas horas. Na segunda jogatina é possível terminar-lo em 2 horas tranquilamente. Portanto, Inside não é curto. Ele tem a duração perfeita por tudo o que ele apresenta.

Precisamos falar sobre as animações
A animação do personagem recebeu uma atenção especial da Playdead no desenvolvimento de Inside. Certamente é um dos pontos altos do game. Através da qualidade das animações do personagem e da física, conseguimos sentir as expressões de um personagem de uma forma que a falta de diálogos não faça falta. Dessa forma, as animações e expressões nos fazem sentir perfeitamente o medo e a tensão do personagem mesmo ele ter rosto.
Expectativas e o futuro
Inside é um indie ambicioso e teve um grande tempo de desenvolvimento, mas com um retorno que atendeu todas as expectativas que os fãs de Limbo já esperavam. Aprendemos mais sobre o universo apesentado pela primeira vez em Limbo. E o mais incrível é que quanto mais informação sobre o mundo que o jogo nos apresenta, mais ele nos deixa curioso e com vontade de querer saber mais. Isso é mérito total da Playdead.
Eu não acompanhava a indústria dos games em 2010 quando Limbo foi lançado então não peguei o hype do público para um próximo lançamento da Playdead. Após o lançamento de Inside, consigo ver como o público aguarda uma nova sequência ou um novo jogo da desenvolvedora. Isso deixa evidente que Inside é um jogo essencial para todos. Hoje ele é muito mais acessível, sempre aparece em promoção e já foi oferecido gratuitamente pela Epic Games Store. Então se você quer pagar barato em um dos melhores jogos indies já feitos, Inside é um prato cheio.